Signatum escrita por MilaBravomila


Capítulo 17
Capítulo 16 - Segure minha mão


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!



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A imagem daqueles olhos dourados se foi tão rapidamente quanto veio. Só o que eu sentia era ele me invadindo, me consumindo. Lucius penetrava em meu corpo e em minha alma, simultaneamente, e eu estava em um estado de torpor. O prazer era tão imenso que nada mais do mundo externo me afetava.

Talvez fosse a necessidade da minha alma em acalmar a dele, talvez fosse apenas meu corpo meio humano luxurioso. A verdadeira razão eu não sabia, mas eu era inteiramente de Lucius naquele momento e dentro de mim, eu poderia ser pra sempre. Era como se eu estivesse exatamente onde deveria estar, como se fosse a realização de uma missão, uma jornada.

Lucius acariciou meu rosto e sua mão deslizou para meu cabelo, bagunçando-o, puxando-o. Ele desceu a mão sobre meu corpo, explorando os seios e apertando-os levemente. Acariciou minha barriga, ainda sem deixar o ritmo entre nós diminuir. Então Lucius desceu a mão grande e quente pela minha cintura e apertou de um jeito rude e faminto. Eu gritei e ele me invadiu com força, com tudo. Foi incrível o misto de dor e prazer que senti naquele momento.

- Você é minha... toda minha... me dá a sua pureza, Melanie... faz o que sua alma pede...

Ele sussurrava as palavras com calma, enquanto ainda bombeava sua vitalidade em mim. Sua voz era uma ordem, um pedido urgente que eu não podia ignorar. Aos poucos, senti meu corpo adormecer e um prazer ainda maior tomar conta de mim. Era viciante, tranquilo, gostoso...

De repente, tudo parou. Já não havia mais o corpo de Lucius sobre o meu, dentro de mim, e nem mais a tranquilidade de outrora. Estava frio e eu estava imóvel. Senti como se o peso do dos Céus caíssem sobre a minha cabeça e meu coração.  Desespero e arrependimento se abriram como uma porta, depois que o vigia tinha saído. Eu me senti suja, me senti fraca.

Meu corpo nu começou a sentir as dores que o prazer insano havia camuflado e a vergonha do que fiz me pesava o coração. Senti ao meu lado uma briga se desenrolar, mas eu não tinha forças pra me virar pra ver o que estava acontecendo. Então eu ouvi a voz de Lucius dizer um nome, e aquilo foi o suficiente para me dar forças.

Virei meu rosto para o lado e vi a silhueta perfeita de Miguel e a ponta de sua Gladius, mirada pra baixo. Não precisei olhar pra entender o que tinha acontecido, eu podia sentir que Miguel estava fraco, mas ele tinha me encontrado, tinha vindo atrás de mim e agora, estava lutando contra Lucius.

Com esforço de meu corpo fraco, estiquei a mão esquerda até sentir o metal morno da Gladius dourada e fiz o que Harper me disse pra fazer. Senti o calor e a luz saindo de mim e indo, através da Gladius, pra ele, pra escuridão e o vazio que era Lucius. Então, tudo escureceu.

...

Acordei com o suave toque em minha testa. Abri os olhos e vi que estava em outro lugar. Não mais o quarto luxuoso e marfim, mas ainda era um lugar belo. Um quarto modesto, com cortinas e paredes brancas, além de uma cama grande e macia abaixo de mim.

E havia aqueles olhos, brilhando em um rosto perfeito, me encarando com uma compaixão que não cabia nesse mundo. Eu o encarei de volta e senti uma lágrima escorrer, quente e abundante, sobre meu rosto. Estava envergonhada.

Ele sorriu discretamente e levou um das mãos até meu rosto, secando a lágrima e o caminho salgado que havia deixado.

- Não importa o que aconteceu, não importa o que você pensa agora. Eu só quero que saiba que eu prometi que nunca iria te abandonar e nunca irei. Quero que saiba que você não pode se culpar por nada porque tudo o que você sentiu era mais forte do que você. A escuridão da alma dele chama a pela sua, atrai você de um jeito incontrolável. Eu vou estar com você sempre Melanie, sempre.

Não pude evitar soltar mais uma lágrima, que Miguel não perdeu tempo em secar. Eu estava tão confusa e abalada... Não sabia o que fazer, ou sentir. Ouvi quando ele reclamou um pouco, soltando um quase inaudível grunhido quando se mexeu. Talvez estivesse dolorido pela batalha com Lucius.

- Você está bem? – perguntei com a voz meio embargada. De repente, a saúde dele era mais importante que meus tolos sentimentos.

Miguel sorriu e acenou uma vez, mas algo me disse que era apenas para não me preocupar.

- Descanse um pouco. Não se preocupe, estamos num lugar seguro. Depois que você se recuperar, vamos encontrar Harper e Jules. Eles foram até Qumran.

- O que aconteceu... depois que Lucius me encontrou na igreja? Onde estão os outros guerreiros?

- Eles foram ajudar nas áreas mais afetadas pelos demônios, estão bem. Não importa como Lucius te alcançou, só o que importa é que ele não vai fazer de novo.

Novamente senti um nó na garganta. Miguel tinha feito tanto por mim... eu tinha a  certeza que ele estava escondendo todo o sacrifício que fez para me encontrar. Eu não sabia o que sentir, estava tão arrependida.

- Miguel... me perdoe. – falei baixinho, fechando os olhos bem apertados, com vergonha de encará-lo – Estou tão envergonhada!

Senti mais uma vez sua mão quente, me fazendo um suave carinho na bochecha.

- Não se envergonhe. Melanie, você é linda, é pura, não sabe como controlar seus sentimentos aqui. Você não tem culpa de nada, não podia ter evitado.

- Cada um é responsável por seus atos, Miguel. – falei abrindo os olhos.

As palavras saíram com o peso da franqueza e do reconhecimento. Nada do que Miguel disse podia aliviar a minha dor. Ele se aproximou de mim, e seus olhos eram impossivelmente dourados e benevolentes. Eu vi suas feições tão de perto, que sua perfeição me inebriou.

- E nenhuma criatura abaixo do criador está isenta de fazer a escolha errada.

Dizendo isso ele se levantou e novamente ouvi um resmungo de dor baixo. O sobretudo que vestia fez um gracejo no ar quando ele se virou e começou a andar até uma porta que ficava do outro lado do quarto.

- Vou tomar um banho. Descanse.

Sozinha, deixei as lágrimas escorrerem abundantes. Como eu podia ter feito isso? Como podia ter me entregado a Lucius dessa forma? Eu trai todos os ensinamentos do Pai, fui contra tudo o que me ensinaram. Tudo estava errado. Eu caí em Abyssi para salvar os humanos, mas como eu poderia fazer isso se não salvo nem a mim mesma?

Pensei em Harper e em Jules e em todo os esforços deles e dos outros guerreiros. Pensei em Miguel. Ele, que sempre foi uma figura altiva aos nossos olhos, se mostrou ser totalmente o oposto. A benevolência, a compaixão e a entrega dele me atingiram a um nível que eu não saberia explicar.

Não dava mais. Eu não podia mais agir assim, não podia mais ser assim. Eu tinha vindo com um objetivo e estava disposta a cumpri-lo. Miguel estava ao meu lado, acreditando em mim, se arriscando... não era justo simplesmente me entregar, deixar todo o trabalho em seus ombros, e eu não faria isso.

Ele tinha razão. Humanos, anjos ou demônios, nenhum de nós é perfeito. Eu teria que aceitar que errei, teria que aceitar o fato de que Lucius exercia sobre mim uma atração incrível, que ía muito além da física. Eu teria que aceitar isso e lutar ao máximo contra a minha necessidade de atender ao seu chamado. Eu lutaria com todas as forças por isso. Lutaria por mim, pelos humanos, por Miguel.

Levantei e gemi levemente, sentindo a dor que minha inconsequente escolha me deixou. Mas não seria mais assim. Eu seria uma força a mais nessa batalha, não um empecilho.

Devagar estiquei o corpo, avaliando os danos. Miguel havia me vestido com as roupas que Harper me deu e atentar a esse fato me fez ruborizar. Minhas coxas e cintura doíam bastante e havia partes vermelhas em minha pele. Meus seios estavam doloridos e também minha intimidade. Fora isso, eu estava inteira, graças a Miguel.

Dei um nó nos cabelos e senti a necessidade de ajuda-lo de alguma forma. Ele estava ferido, eu sabia disso, mesmo que ele não quisesse demonstrar. Fui até a porta que dava para o banheiro e encostei o ouvido nela. O chuveiro estava ligado. Isso sim era um objeto maravilhoso.

Devagar girei a maçaneta e abri a porta, sem olhar pra dentro. O vapor e o cheiro suave do sabão me atingiram agradavelmente. Havia um espelho totalmente embaçado do lado esquerdo e um tapete branco no chão a minha frente.

- Miguel? – perguntei com a voz baixa, sem querer assustá-lo.

- Melanie? Tudo bem? O que houve? – a voz preocupada dele saiu e ouvi a água sendo desligada.

Ainda olhando pra baixo, sacudi a cabeça e o tranquilizei.

- Não se preocupe, estou bem. Eu... eu só queria ver como você está. Eu sei que está ferido.

Ele demorou um pouco para responder e ouvi quando puxou a toalha e abriu a porta do box. Mesmo encarando o tapete a meus pés, senti meu rosto ruborizar. Mas também, eu sabia que se dependesse dele, Miguel me esconderia seu sofrimento.

- Não se preocupe, estou bem. – ele disse, como previ.

Devagar levantei o rosto e olhei pra frente. O banheiro era pequeno e bem bonito, basicamente branco com poucos detalhes vermelhos. O vapor ainda pairava no ar e se misturava a um cheiro delicioso que eu sabia que vinha dele.

Miguel estava enrolado na tolha da cintura pra baixo. Seu torso definido e perfeito estava a mostra, onde as gotas de água faziam caminhos lentos e sinuosos por entre os músculos. Mas não pude reparar tanto em sua beleza física, pois outra marca me chamou a atenção. Instantaneamente andei pra frente, indo em sua direção.

Havia uma marca arredondada e relativamente pequena no centro de seu peito, na altura do coração. Era recente e não estava cicatrizada totalmente, mesmo sabendo a velocidade com a qual Miguel podia se recuperar de ferimentos neste plano. O centro estava avermelhado, dando sinais claros de que ainda sangrava.

Do lado direito, havia uma região arroxeada e eu presumi que uma de suas costelas foi seriamente afetada.

Quando me aproximei o suficiente, levantei a mão e delicadamente toquei a região arroxeada abaixo do peito. Senti-o tremer levemente, provavelmente porque minha mão não estava tão quente quanto a temperatura de seu corpo.

- Foi Lucius, não foi? – perguntei, encarando o machucado.

- Isso não importa, já vai passar. – ele disse em tom baixo.

Eu o encarei. Já não queria isso, não queria que ele ficasse cuidando de mim, nem ele nem ninguém. Já era hora de os papéis se inverterem um pouco. Dei um passo pra trás e estiquei a mão que antes o tocava.

- Vem. – eu disse determinada – Me deixa cuidar de você.

Ele me encarou meio indeciso e eu sabia a origem de sua indecisão. Miguel era o senhor dos exércitos, o chefe dos chefes, o maior guerreiro dos Céus. Não, não era orgulho, porque nós, anjos, não sentimos orgulho, era apenas surpresa. Eu imaginava que ele nunca tinha sido cuidado por outra pessoa pelos simples fato de nunca ter precisado e isso o fazia ficar confuso sobre como agir.

- Por favor, Miguel, me deixa te ajudar e retribuir o mínimo o que você fez por mim. Só por essa noite, me deixa cuidar de você.

Senti que o corpo dele tremeu mais uma vez antes de, vagarosamente, estender a mão e aceitar meu convite.


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Notas finais do capítulo

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