Signatum escrita por MilaBravomila


Capítulo 13
Capítulo 12 - Olho por olho


Notas iniciais do capítulo

Gente me enrolei um pouquinho essa semana, por isso soh estou postando hj.

Mil desculpas.

Boa leitura!



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Meu corpo ainda formigava com a sensação de ter Miguel junto a mim. Quando ele me abraçou e deslizou suas mãos por meus braços, eu parei de respirar, sentindo-o de um jeito tão único que meu corpo reclamou quando ele se afastou. Tive que me concentrar ao máximo para seguir suas palavras manter minha mente longe desses pensamentos.

Enquanto treinava, ainda podia sentir seu hálito no meu pescoço, me dizendo para que eu o acompanhasse nos movimentos. Seu toque era bom, gentil, e me fazia querer mais de seu calor e de seus olhos dourados.

Lutamos, e quando ele me imobilizou com as mãos e nos encaramos, eu o vi tão diferente. Senti meu rosto corar quando os olhos dele desviaram até minha boca e eu pude ver o desejo nele. Aquilo me deixou sem ação porque só então eu percebi o quanto o desejava também.

Então aconteceu. Senti aquele chamado dentro de mim, dentro da minha alma. Foi forte e intenso o suficiente para me deixar paralisada. Era ele. Todo o meu corpo respondia ao seu chamado, assim como minha alma.

- Lucius... – sussurrei.

Sem saber exatamente como, vi Miguel se levantar e me levantar junto com ele. Ele estava totalmente em alerta e em segundos estava preparado para o combate, como sempre esteve. Mas então, tão subitamente quanto veio, a sensação foi embora e foi como se eu nunca tivesse sentido Lucius por perto.

- Melanie, o que foi? Está sentindo ele te chamar?

- Não sei... – falei finalmente – Foi como se ele estivesse perto, mas então... se foi.

Encaramo-nos por um tempo e eu não via mais o desejo em seus olhos. Havia, no lugar, preocupação. Miguel chamou os outros guerreiros e fizeram uma busca ao redor da igreja.

Harper ficou comigo, assim como Calabriel e outros dois guerreiros, enquanto Miguel e os outros saíram para vasculhar a área. Meu coração estava descompassado com tantas coisas repentinas. O chamado de Lucius foi tão claro e forte, que naquele pequeno instante eu senti que encontra-lo era minha única razão de viver. Mas passou, completamente.

Já era madrugada e estava bastante frio quando o grupo retornou, sem ter encontrado nenhum sinal de Lucius ou de algum ser das trevas. Então, resolvemos tentar descansar um pouco. Os guerreiros estavam convencidos de que a área estava limpa e eu já não sabia dizer se o que senti foi um chamado ou uma alucinação. Mesmo assim, eles fizeram turnos alternados para vigília, pois, embora não precisássemos dormir profundamente como Harper, nossos corpos precisavam relaxar por algumas horas para se recompor.

Eu ainda me sentia muito confusa e estranha. Seria possível eu ter me confundido ou imaginado a presença de Lucius? Não... eu sabia que não.

Os padres cederam o quarto em que dormiam para que eu e Harper pudéssemos ficar descansando. Em algum nível, eu estava destruída, mas tinha valido a pena o treinamento.

- Você lutou bem hoje a noite. Vi que melhorou bastante.

Encarei Harper, que estava deitada na cama próxima a parede e mantinha os braços cruzados sobre a cabeça. Ela me olhou de forma esquisita quando acrescentou:

- Miguel é um ótimo professor, não é?

- É-é, ele é sim. – gaguejei. As palavras dela me fizeram retornar instantaneamente ao momento em que ele me abraçou pro trás e me fez ficar zonza.

Harper sorriu.

- Não precisa ficar assim, ele é mesmo um gato. Não se culpe.

- O quê? – perguntei sem graça.

Ela riu e voltou a olhar o teto, sem responder. Algum tempo depois ela perguntou:

- Por acaso tá rolando alguma coisa entre vocês?

- O quê? – perguntei sem entender sua pergunta.

- Você e Miguel.

- N-não. – gaguejei, sentindo imediatamente meu rosto esquentar.

- Anjos podem... tipo, namorar, se amar como humanos?

Eu a encarei e ela tinha a expressão curiosa. Parecia que minha resposta era importante pra ela.

- E-eu não sei. Muitas histórias são contadas. Histórias sobre os filhos de Deus que se rebelaram e caíram e como eles foram capazes de se envolver com as mulheres humanas. Mas esse não é o propósito de nossa existência. O Senhor nos fez para que guiássemos e protegêssemos o homem. É isso o que devemos fazer.

Ela parecia curiosa ainda e não ficou completamente satisfeita com minha resposta, mas era a única que eu sabia dar.

- Mas entre vocês nunca acontece nada?

Por que Harper insistia nessas coisas? Essas perguntas me deixavam tão sem jeito.

- Harper, nós não olhamos pra outro irmão de um jeito diferente senão o da ternura. Embora, eu saiba de anjos que tenham se envolvido com outros irmãos, eu não imagino o que isso pode implicar ou mesmo entendo o sentido disso. Nosso propósito de vida não é esse.

- Pode até ser, - ela falou, ainda me encarando – mas Jules me disse uma vez que quando vocês vêm pra junto dos humanos, passam a agir como nós. Isso é verdade?

- Bom, eu sinto... sinto coisas aqui que nunca senti. É como se os sentimentos fossem muito mais fortes e pudessem me controlar em alguns momentos. Nosso dever é guia-los para que sejam mais que apenas seguidores de seus instintos, Harper, para que vejam que existe algo além.

- Bom, não é fácil ser humana, Melanie... mas às vezes... é bom se deixar levar, se é que me entende.

Harper sentou e eu senti uma espécie de felicidade. Apesar das perguntas impertinentes que me fazia, ela conseguia me fazer sentir bem. Era tão confidente... e eu estava com tantas dúvidas.

- Você sente algo quando está com Miguel, não é?

Desviei o olhar, mas foi inevitável um pequeno sorriso.

- Eu... me sinto diferente com ele, só isso. – respondi, voltando a encará-la.

Harper correspondeu meu sorriso e voltou a deitar.

...

Eu estava de pé na porta do quarto em que Melanie e Harper estavam e meu estado era de total alerta. Ainda tremia ao lembrar de Melanie naquela boate com Lucius sem nem ao menos imaginar o perigo que a rodeava. As coisas não estavam boas. Algo de muito estranho estava acontecendo comigo porque eu não conseguia me concentrar direito na missão. Minha mente insistia em ficar voltando a ela, o tempo inteiro, a todo instante.

Isso era um perigo. Minha displicência poderia por em risco a vida de meus irmãos e a dos humanos pelos quais lutávamos, mas dentro de mim, eles não eram mais prioridade.

- Pai, o que está acontecendo?

Perguntei em voz baixa, deixando meu corpo encostar na parede e deslizar até ao chão. Não sentia mais o perigo iminente, então deixei minha Gladius voltar ao seu lugar de origem. Levantei as mãos a frente do rosto. Estas mãos que sempre cumpriram tão bem as missões do Senhor e que eram implacáveis contra os inimigos, estavam fracas desde que sentiram a maciez e a suavidade do corpo de Melanie.

- Quid accidit mihi? * - falei mais uma vez em tom baixo, fechando os olhos.

Deixei minha mente vagar, enquanto meu corpo descansava. Algumas imagens difusas começaram a surgir e se tronavam cada vez mais nítidas a medida em que eu entrava em um estado mais profundo de relaxamento. Isso era bom, mas não me fazia tirar Melanie dos pensamentos, infelizmente. Me vi lutando contra os príncipes do Submundo, naquela batalha sangrenta e terrível, e senti um calafrio ao pensar que se não conseguisse cumprir a missão, eles poderiam sair.

O engraçado – se é que podia dizer isso - era que eu não temia por mim. Eu temia o que eles poderiam fazer aos outros caso eu falhasse, principalmente, o que poderia acontecer a ela. Às vezes, eu queria não ter tanta responsabilidade nas mãos, como agora, ainda mais porque minhas mãos não estavam mais tão centradas como antes.

Então eu senti, infelizmente não a tempo, uma movimentação próxima, e despertei de minha meditação. Quando abri os olhos, dei de cara com um rosto há centímetros do meu e senti, ao mesmo tempo, uma dor lacerante no peito.

Olhei pra baixo e um crucifixo de metal estava cravado em mim. As mãos que o cravaram, o afundaram ainda mais, elevando minha dor ao máximo. Ele sorriu, e seus olhos vermelhos faiscaram de alegria.

- Olho por olho, Miguel.

Lucius afundou totalmente o crucifixo em meu peito. Com esforço, levei minhas mãos ao metal frio, mas não tive forças para removê-lo. Meu corpo reclamava de agonia e minha cabeça girava. A visão começou a escurecer e eu sabia que desmaiaria em segundos.

- Melanie... – falei sem ar, usando a última energia que me restava.

Os olhos vermelhos de Lucius foram a última coisa que vi antes de apagar.


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Notas finais do capítulo

* O que está acontecendo comigo?


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