Meu Malvado Favorito escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 5
Cala a boca, droga, cala a boca!


Notas iniciais do capítulo

Só uma dica rápida, antes de começarem: A leitura fica muito mais interessante com a música tocando. Sério!



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Você, leitor, deve estar pensando: Como aquela garota sem graça pode não gostar de um homem charmoso como eu? Pois é, me pergunto o mesmo! Eu duvido que muitos já tenham se interessado por ela; além de uma língua ridiculamente afiada e uma bunda legalzinha - que só percebemos quando fazemos muita força pra enxergar - ela não tem nenhum atrativo.

Emmett estava certo, merda! Se ela fosse tão sem graça como aparentava, seria fácil levá-la pra cama, e valeria a pena. É, ela não era feia. Mas essa aposta iria me sair caro demais! Um esforço desnecessário, pra no final ela ser só mais uma na minha lista. E nem era das mais gostosas...

- Pizza de novo? – Carlie quase berrou.

- Já vai reclamar? – Resmunguei, sentando ao lado dela no sofá, com o prato em meu colo.

Abaixei para colocar o copo de refrigerante no chão. Quando voltei, ela encarava o seu próprio prato, com a língua pra fora num gesto de nojo.

- Eu só comi pizza nos últimos dois dias! – Ela disse.

Eu rolei os olhos, e dei minha primeira garfada. - Você reclama demais. Aposto que pizza é bem melhor do que a comida daquele orfanato. – Falei de boca cheia.

Carlie bufou. Emmett e Alice vieram com seus pratos e sentaram no outro sofá, olhando a TV.

- Não, porque sempre diziam que a comida de lá era diferente, feita com amor!

Abri a boca e joguei o corpo pra frente, fingindo que ia vomitar. Minha boca estava cheia de pizza mastigada. Encarei a menina, voltando a comer normalmente.

- Me poupe disso, vai! – Falei ainda de boca cheia.

Encarei-a por mais algum tempo, mastigando. Engoli. Carlie me olhou séria por vários segundos, antes de soltar a pergunta. - Você tem quantos anos? 5?

Ela suspirou e balançou a cabeça, arrumando o prato no colo antes de começar a comer. Emmett soltou uma risadinha grave, deixando minha paciência rasa no limite.

- Você vai pra cama cedo hoje. – Alice disse, olhando para sua comida enquanto a cortava. – Começa a escola amanhã.

Às vezes Alice tinha um surto, e seu lado maternal se aflorava. Mas logo passava. Mesmo porque, nem de longe era gentil.

- Está tudo pronto para amanhã. – Emmett avisou, olhando para nós dois. Sabíamos do que falava. Felizmente Carlie não perguntou, porque eu certamente lhe mandaria calar a boca.

Adiantamos o seqüestro um ou dois dias, simplesmente porque não havia razão para esperar. A vítima estava indo para Seattle num vôo noturno, e chegaria pela manhã, como fomos avisados. Não precisaríamos nos preocupar com a pirralha, porque estaria na escola. Nada daria errado.


                                                                (...)


Carlie deu alguns passos, se afastando de mim com a pequena mochila nas costas. Já a frente da porta, olhou para trás e correu na minha direção. Ah, caralho, o que era dessa vez?

- Não sei se consigo fazer isso... – Murmurou.

Respirei fundo, olhando-a com minhas mãos nos bolsos do jeans. Ela ia me atrasar, merda! Todas as outras crianças estavam correndo pra entrar na aula, por que ela tinha que ficar com tanta frescura?

- É só entrar, sentar e fingir prestar atenção no que o professor diz. Não precisa ser nenhum gênio pra ir à escola. Sair dela é outra história, mas... Ah, vá, Carlie! Estou atrasado pro trabalho!

- Pensei que trabalhasse em casa.

- Não tenho tempo para ouvir o que você pensa. Vai! – Dei um tapinha em seu ombro, impulsionando-a pra frente. A menina olhou para trás uma última vez antes de sair andando, devagar. – Te pego às 3 da tarde aqui. E tente não perder outro dente, ouviu?

Dei às costas para a escola e desviei de alguns pirralhos que corriam. Atravessei a rua. Emmett e Alice me esperavam ali, dentro do carro. Compramos um Volvo para nós, cor prata, juntando dinheiro. Eu dei a maior parte então, tecnicamente, era mais meu. Ainda não estava emplacado.

Sentei no banco do passageiro, ouvindo Alice resmungar por ter que ir atrás. “Cala a boca”, esbravejei. Emmett acelerou em silêncio. Eu estiquei o braço e liguei o GPS.

Rosalie Lillian Hale era a modelo mais procurada por fotógrafos, estilistas e produtores de televisão. Aos poucos, tornava-se uma das mulheres mais ricas dos Estados Unidos. Seu agente, por sua vez, era o homem mais ocupado do país. Ela desembarcara em Seattle naquela manhã e, por nossas contas, já era tempo de estar no hotel indicado. Fomos até lá.

(...)

Um seqüestro é sempre difícil. Não façam isso em casa. Os filmes são bastante irreais, saibam disso, porque nenhum bandido fica calmo, ou tem alguma noção do que está fazendo. É como subir num palco sabendo o tema da peça, mas nenhuma fala. Cada passo é improvisado, e as chances de dar errado são muito maiores do que dar certo. Principalmente quando se está contando com dois idiotas.

Poderíamos ter ficado na porta, esperando que a modelo saísse, mas todos veriam a ação. Poderíamos segui-la e agir em seu destino, mas todos veriam a ação. Iriam presenciar o feito, de qualquer forma.

A rua estava vazia. Era um local tranqüilo, talvez fosse isso que tornava o hotel caríssimo tão procurado. Descemos do carro já encapuzados; somente nossos olhos estavam de fora. Estávamos armados, os três. Andamos em silêncio até a porta, que abriu automaticamente.

O saguão enorme estava vazio, a não ser pelo recepcionista e um funcionário que passava. Fui na frente e apontei meu revólver para o homem atrás do balcão. O outro saiu correndo em direção as escadas.

- Erga as mãos! – Ordenei, alto e firme. O homem arregalou os olhos e paralisou. – MANDEI ERGUER AS MÃOS. PARA O ALTO, AGORA!

Os olhos do homem foram para o telefone ao seu lado por um mínimo segundo. O gesto foi o suficiente para eu disparar uma bala em seu peito. Ele caiu para trás, morto.

- Vamos logo! – Emmett chamou e nós o seguimos pelas escadas.

Rosalie estaria no segundo andar, como fomos avisados. Quarto 202. Corremos sem guardar as armas. Assim que encontramos a porta correta, paramos, olhando em volta do corredor – felizmente – vazio. Girei a maçaneta e encontrei a porta trancada.

Alice nos empurrou para trás e abaixou um pouco. Talvez eu tenha deixado escapar esse detalhe, mas ela é especialista em arrombamentos. Quando digo especialista, é que ela realmente consegue abrir qualquer coisa, somente com suas mãos habilidosas.

Mexeu aqui e ali, até que finalmente vimos a porta se abrir, vagarosamente. Olhei de canto para Emmett, sério, e ergui a arma ao entrar. Ele seguiria o plano e ficaria na porta para me dar cobertura.

O quarto parecia mais um apartamento, e estava aparentemente vazio. Meus pés não faziam barulho algum enquanto eu me deslocava, cuidadoso, apontando meu revólver para todos os lados. Alice ficou parada bem no meio da sala, analisando tudo. Esticou a mão e pegou algumas jóias de cima da mesinha de centro, guardando no bolso de trás.

Finalmente, a porta do banheiro abriu, e uma loira escultural saiu dali, só de toalha. Mexia nos cabelos recém-lavados. Eu a encarei, boquiaberto. Ela fez o mesmo, mas não pela mesma razão. Rosalie soltou um grito agudo, insuportável, e Alice arregalou os olhos.

- Cala a boca! – Esbravejou, indo até ela. – DROGA, CALE A BOCA!

- SOCORRO! SOCORRO! – A modelo continuava a gritar, dando alguns pulinhos enquanto segurava a toalha junto ao corpo.

Olhei para trás rapidamente, vendo Emmett desesperado na porta. Os gritos cessaram quando Alice bateu seu revólver na nuca da garota, fazendo-a desmaiar. Guardei minha arma e me apressei para pegá-la no colo.

A fuga não fora tão fácil quando o início do seqüestro.

Os funcionários foram alertados, e pareciam estar por toda parte. Alguns hóspedes gritavam amedrontados dentro de seus quartos. Descemos os poucos lances de escada, Alice a minha frente e Emmett atrás, ambos apontando suas armas para quem quer que aparecesse.

Quando chegamos ao saguão, estava lotado, mas todos abaixaram e protegeram as cabeças ao nos ver. Um homem parou na frente da porta e sacou uma arma, gritando algo sobre ser da polícia, mas Emmett foi mais rápido. Matou-o, com tanta frieza quanto eu fizera a pouco.

Passamos pelo cadáver e corremos na direção do carro; Rosalie fora jogada sob meu ombro como um saco de farinha. Ouvimos alguns homens gritarem, mandando que parássemos.

- VAI, VAI, VAI! – Alice gritou várias vezes enquanto corríamos, jogávamos Rosalie no chão do banco de trás e nos ajeitávamos para sair com o carro. – VAI, MERDA!

Emmett ligou o carro com pressa e esticou a mão para o rádio, ligando-o quase no último volume.

- MAS QUE PORRA É ESSA? – Alice berrou.

- É pra dar mais emoção!


(http://www.youtube.com/watch?v=uN6ocKCRo68
Burn it to the ground – Nickelback)



Emmett pisou fundo. Nós três tiramos as toucas que cobriam todo o rosto. Ouvimos uma sirene de polícia, o que só o fez acelerar mais. Passamos por uma lombada, e todos pularam no carro; minha cabeça bateu no teto.

- Segura ela, Alice! – Esbravejei, esfregando o local dolorido. – Ninguém paga pela liberdade de uma morta.

- Que exagero, cale a boca! AI, EMMETT, PORRA, ACELERA ESSA MERDA!

Olhei pelo retrovisor – duas viaturas nos seguiam.

- Atira! – Emmett disse, segurando firme no volante. O velocímetro chegara a 300 km/h.

- Atirar no que, idiota? Deve ser a prova de balas!

- ATIRA, PORRA!

Eu abaixei o vidro e coloquei parte do corpo para fora. O policial no carro de trás fez o mesmo. Entrei quando vi sua arma ser apontada para mim.

- Ele me viu. – Cerrei os dentes, preparando o revolver em minha mão.

- Atira, ou eu mesmo faço isso enquanto dirijo! – Emmett gritou.

Não fiquei muito satisfeito pelo fato de estar tomando ordens, mas me obriguei a pensar que estava fazendo aquilo por ser o correto – e por eu mesmo ter pensado. Coloquei o braço e o corpo para fora por um segundo, atirando e novamente voltando para dentro. Não acertara ninguém. “Encostem o carro”, o policial disse, ou algo parecido. Emmett acelerou ainda mais, desviando de alguns carros com habilidade.

Um grito conhecido soou, e eu virei para trás. Rosalie estava acordada.

- AI MEU DEUS, AI MEU DEUS, AI MEU DEUS! – Ela gritava sem parar, pulando no banco de trás.

- ALICE, CALA A BOCA DELA! – Ordenei.

- TIRA A MÃO DE MIM! – A modelo surtava, totalmente inquieta ao lado da garota.

- CALA A BOCA DELA OU EU MESMO FAÇO ISSO COM O MEU...

- EMMETT, O SINAL TÁ FECHADO! – Alice gritou.

Nós dois olhamos para frente; vários carros estavam parados, esperando para poderem passar. Estávamos nos aproximando demais por conta da alta velocidade. Emmett pensou rápido e girou o volante para a esquerda, entrando em uma rua qualquer. Vi pelo retrovisor que a polícia fez o mesmo, nos seguindo.

- Droga, vão nos cercar! – Pensei alto.

O mesmo policial colocou a cabeça e o braço pra fora, apontando sua arma. Estava no banco do carona. Consegui fazer o mesmo e atirar no meio de sua testa em questão de segundos. Rosalie gritou mais. O corpo ficou pendurado para fora da janela, e uma terceira viatura apareceu.

- PISA FUNDO NESSA BUCETA! – Gritei.

- Cara... Tem uma modelo internacional só de toalha no meu carro! – Emmett murmurou, pensativo.

Arregalei os olhos quando um pensamento me atingiu: Ela estava vendo nossos rostos.

- Apaga ela de novo! – Ordenei para Alice, que não obedeceu.

A porra da modelo não parava de gritar, como se a estivessem torturando. Eu deveria fazer isso mesmo. Emmett virou mais uma vez o volante, entrando na estrada, em direção à Forks. As viaturas continuavam a nos seguir.

- Fudeu, fudeu, fudeu, fudeu, fudeu... – Emmett começou a falar repetidamente, olhando hipnotizado para a frente. Ergui a cabeça e arregalei meus olhos. Uma barreira de viaturas estava formada, com os carros estacionados de lado, um atrás do outro. Os policiais saíram de lá, parados ao lado da fila de veículos com as armas em mãos.

Todos, inclusive Rosalie, calamos a boca.

- Já era. – Emmett disse.

- Cala a boca. – Fiz uma pausa. – Pisa fundo.

- O QUÊ? – Os dois gritaram. A modelo gemeu em reprovação, quase chorando.

- OBEDECE, EMMETT!

- Vão atirar na gente! – Alice disse.

Eu estiquei o pé e empurrei o dele para longe, pisando eu mesmo no acelerador. O velocímetro ficou louco, atingindo seu limite. Segurei no volante, por cima das mãos de Emmett. Ele gritou todos os palavrões possíveis, batendo na parte de baixo do volante.

Nos aproximamos da barreira em segundos. Nosso carro atingiu exatamente entre os dois do meio, separando-os e amassando a lataria das viaturas (e inclusive do Volvo). Rosalie começou a gritar, e Alice começou a xingá-la, tentando tapar sua boca.

Como Alice previra, atiraram, mas não nos atingiram. Emmett voltou a assumir o controle do volante, e eu novamente me coloquei para fora, apontando a arma. Todas as viaturas que não foram atingidas se juntaram as outras três na perseguição.

Disparei os tiros sem realmente olhar para onde os lançava. Alice começou a atirar no banco de trás, na janela atrás de Emmett, enquanto a modelo permanecia em seu escândalo desnecessário.

Eu e Alice acertamos, um por um, os parceiros que saíam pelas janelas para tentar nos pegar. Os policiais que dirigiam começaram a desacelerar, vendo que nada poderiam fazer. Ainda mais porque haviam pessoas mortas (e machucadas) dentro de seus veículos.

Somente uma viatura continuou a nos perseguir quando começamos a chegar perto de Forks. Não pegávamos o parceiro do motorista de jeito nenhum. A viagem não era longa, mas eu já estava cheio daquele policial persistente e habilidoso.

- Entra! – Emmett gritou. Eu e Alice obedecemos.

Olhei para frente e vi o que planejava. Havia um barranco, no fim da estrada. Deixei o revólver em meu colo e segurei nas laterais do banco, encarando o caminho que faríamos.

Foi rápido. Emmett acelerou mais – como se fosse possível – na direção do precipício, virando com tudo onde nem mais havia chão. A viatura não fez a curva a tempo.

Olhei no retrovisor; não havia mais ninguém.

Emmett continuou por mais alguns metros naquela velocidade e desacelerou quando entramos realmente na cidade. Sorri sozinho. Logo estávamos em nossa vizinhança, e então nossa rua. Vazia, felizmente. Emmett estacionou, e começou a rir.

Virei para trás. Rosalie respirava fundo, sentado no meio do banco, assustada. Alice, ao seu lado, a olhava com desprezo. Eu abri a boca para ordenar que novamente batesse o revolver em sua nuca, mas não foi necessário. A loira desmaiou sozinha. A toalha, para minha infelicidade, continuava intacta em volta de seu corpo.

Nada deu errado.


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Notas finais do capítulo

Essa é a primeira cena de ação que eu escrevo. Espero que tenham aprovado! A fic ainda terá muitas coisas desse tipo, garanto, mas eu queria começar com o pé direito. Aliás, Nickelback é uma das minhas bandas favoritas.Algo que vocês perguntaram demais nos comentários foi "quem será o sequestrado?" e a resposta está aí! Quanto aos famosos clichês de romance entre sequestrador e vítima, não se preocupem, a fic é Beward. Só vou avisar, pra que já fiquem tranquilos... É intrigante como a maioria dos leitores nem mesmo ABREM a fanfic se for de outro ship. Queria saber o porquê...Ah, quero agradecer, a fic está só no 5 capítulo e já temos 40 leitores. Muito obrigada, mesmo! Espero que eu tenha conseguido passar a emoção que queria nesse cap. Continuem acompanhando e comentando. Beijos!