Meu Malvado Favorito escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 4
Perder não é uma opção. Não mesmo!




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Praticamente me arrastei pra fora do quarto, passando as mãos por meu rosto após um longo bocejo. Mal passava das 11 da manhã. O que diabos eu estava fazendo de pé? Caminhei pela sala de olhos fechados e, quando percebi, já estava na cozinha, prestes a trombar com a parede.

Respirei fundo e olhei em volta do ambiente. Só quando passei os olhos pela terceira vez nos armários, vi Carlie ali, em cima de um banquinho. Ah, é. Ela ainda estava ali.

- Olá! – Ela me olhou por cima do ombro, ficando na ponta dos pés ao continuar a procurar o que quer que fosse.

- O que pensa que está fazendo? – Perguntei com o cenho franzido.

- Quero cereal. - Ela finalmente pegou a caixa e pulou novamente para o chão, abrindo a geladeira em busca de leite. Colocou tudo o que precisava em cima da mesa. – Estou acordada desde as 8. Vocês dormem demais.

Fechei os olhos aos poucos, prestes a dormir outra vez. Só então me toquei.

- HEY! Esse cereal é meu! – Minha boca se abriu com indignação.

Ela me olhou rapidamente, misturando tudo em uma tigela. Sentou e deu a primeira colherada. - Podemos dividir. – Deu os ombros.

Fuzilei a menina com o olhar, pegando uma tigela e uma colher para mim. Sentei e me servi, sem nunca deixar de olhá-la, esperando que algum tipo de laser saísse em sua direção se eu me concentrasse o suficiente.

- Sabe, Esme diz que dormir demais faz mal. Se ela diz é porque é verdade. Mas, ah, nem tanto! Uma vez a Claire dormiu só duas horas. Ela estava com insônia, sabe? Então, aí ela ficou péssima o dia todo. Eu tive insônia uma vez, mas era porque estava ansiosa com o passeio que faríamos no dia seguinte. Visitamos o zoológico. Você gosta de animais, né? Eu adoro. Quer dizer, eles são legais. Aquele passeio foi legal. Você gosta de animais?

Soltei a colher e massageei minhas têmporas com os olhos fechados. Mas que porra era aquela? A pirralha já estava tagarelando daquele jeito desde cedo? Ela continuou a falar enquanto eu permanecia em silêncio, apertando minhas têmporas e parte da testa, tentando ignorar sua existência.

- Certo! Carlie... – Espalmei as mãos na mesa e olhei para ela, respirando fundo. – Fique quietinha e coma seu café da manhã, está certo?

Ela ficou um pouco desapontada, mas obedeceu. Eu me surpreendi na maneira doce com que havia falado. Alice estava certa, eu precisava ao menos tentar. Não devia ser tão difícil.

- O que vamos fazer hoje, papai? – Ela perguntou enquanto mastigava.

Percebi os olhos de Carlie atentos aos meus. Fiquei sem reação e abaixei meu rosto.

- Não fale de boca cheia. – Murmurei, mexendo distraído no conteúdo de minha tigela.
Comemos por mais algum tempo em silêncio; às vezes eu a olhava, mas logo desviava meu olhar para o cereal quando percebia que também iria me olhar. Nada mais constrangedor...

Emmett apareceu na porta, abrindo um bocejo digno de um urso e resmungando teatralmente.

- E aí! – Cumprimentou nós dois, dando um tapa em meu ombro. – Dormi muito bem!

Fiz uma careta. Ele virou e me analisou.

- Está de ressaca? – Perguntou.

- Quem me dera.

- Pensei em levar a Carlie pra conhecer o parque aqui perto. – Disse ao sentar conosco.

Vários pensamentos me vieram ao mesmo tempo, como se minha mente viajasse. A porta de casa, a rua, o parque, a banca de flores, e o principal: A florista.

Inclinei meu corpo pra frente, olhando a menina.

- Quer saber o que vamos fazer hoje, Carlie? – Sorri, triunfante.


                                                             (...)


Alice ainda estava dormindo quando saímos. Assim que pisamos na rua, a pirralha saiu correndo, me fazendo praticamente rosnar.

- Quer morrer atropelada, é? – Perguntei, puxando seu braço com uma força desnecessária. Ela se desvencilhou e passou a andar ao meu lado, quietinha. Bufei.

- Não pensei que fosse ficar tão animado. – Emmett murmurou.

- Você vai ver a razão. – Sorri.

O parque não ficava muito longe. Carlie viu o gramado e novamente disparou. Desta vez, nada fiz.

Eu e Emmett paramos próximos a uma arvore, e eu olhei em volta. Sei lá onde aquela peste tinha se metido; não me importava. Eu passei um braço pelos ombros do grandalhão e apontei na direção da banca de flores.

- Ali.

Era um fato universal que homens, mesmo quando desconhecidos, se entendem quando o assunto é mulher. Acho que naquele momento eu pude, finalmente, chamar Emmett de amigo pela primeira vez. Ele esticou o pescoço e franziu a testa.

- O que? – O idiota perguntou.

- A gostosa perto das flores!

- Atrás da nerd esquisitona?

Olhei com mais atenção a garota que via só pela segunda vez na vida; talvez seus óculos fossem realmente um pouco grandes demais...

- Olha direito. Tem que olhar além do que vê, cara... – Eu suspirei.

- Eu estou. Sabe o que eu vejo? Está escrito “virgem” gigantesco na testa dela.

Eu ri, ainda apoiando meu braço nele.

- As quietinhas são as melhores! Vai por mim.

- Você é nojento. Olha pra isso! - Emmett fez uma careta enquanto a analisávamos mais um pouco. – Será possível que você se interessa por qualquer par de coxas que vê? Tem que ser um pouco mais exigente.

Balancei a cabeça, negando. - Você tem que admitir, não é qualquer “par de coxas” embaixo daquelas roupas.

A garota virou um pouco, como se quisesse me ajudar a convencer Emmett. Ele assobiou ao ver a curva de sua bunda, e então riu, me olhando.

- Você é melhor do que eu pensava. Tem um olhar crítico. – Sorri, orgulhoso. - Mas nunca comeria ela.

Tomei aquilo como um desafio, ficando de frente para ele com os braços cruzados.

- Ah, é? Então, me diga... Você gosta de apostas? – Perguntei.

Emmett soltou uma gargalhada estrondosa, imitando minha posição.

- Quais são suas condições?

- A florista vai estar na minha cama em 6 meses, no máximo. Se eu conseguir... – Pensei rapidamente. A risada alta de Carlie ali perto me chamou a atenção. – Se eu conseguir, me livro de qualquer responsabilidade com a menina.

- E se falhar? – Ele sorria de maneira quase sombria, divertindo-se.

- Eu vou cuidar dela em tempo integral. Não vão mais ter que se preocupar com nada que se refira a ela. Eu vou, realmente, me tornar... Pai dela.

Provavelmente estava apostando alto. Mas eu não ia perder. Nunca perdia.d


Apertamos as mãos, ambos sorrindo triunfantes. Acho que na verdade estava apostando comigo mesmo, mas isso iria proporcionar muita diversão a Emmett. Olhei a garota lá atrás, por cima do ombro de Emmett. Precisava de uma boa desculpa pra me aproximar...

- Pai! Pai! – Carlie veio correndo e abraçou minhas pernas como da outra vez. Fiz uma careta. Antes que pudesse afastá-la, uma idéia me ocorreu.

- Carlie! – Abaixei um pouco, sorrindo de maneira falsa. – Fique bem quietinha e venha comigo. Ok? Preciso fazer uma coisa. Só concorde com tudo o que eu disser.

Ela franziu a testa e obedeceu, vindo atrás de mim. Ouvi Emmett rindo atrás de nós. Segurei a mão da menina, relutante, pensando em quais palavras exatamente iria usar.

Nós paramos na frente da banca. A garota estava de costas, mexendo em alguns buquês. Carlie abriu a boca para perguntar algo, e eu a silenciei com um simples “Shh”. A florista ouviu e se virou. Finalmente vi seus olhos de perto; o tom de chocolate combinava com seu cabelo.

- Posso ajudá-los? – Perguntou, a voz incrivelmente doce. Sorriu para a pirralha.

- Eu quero um buquê para minha esposa. Ela está no hospital, acabo de ter nosso segundo filho...
A florista pareceu maravilhada. Isso! Eu sorri, piscando várias vezes ao abraçar Carlie mais perto de mim. Ela resmungou com a força que usei.

- Ah, meus parabéns! – A garota juntou as mãos, nos olhando.

- É. A pequena Carlie aqui está animada para conhecer o novo irmãozinho, não é, meu amor?

A peste processou a pergunta por algum tempo, e então me olhou, cerrando os olhos.d

- Estou? – Perguntou, irônica.

Eu a fuzilei com os olhos. Forcei uma risada e abaixei para beijar sua testa, aproveitando para falar ao pé de seu ouvido. “Te dou 10 dólares.”

- Eu estou! – Ela pulou, olhando para a garota. Eu fiquei em pé novamente com um suspiro. – Ah, sempre quis ter um irmão! – Completou, mergulhando naquela farsa.

- Então, de que tipo de flores a sua esposa gosta? – A vendedora perguntou.


- Rosas... Brancas. – Sorri.

- Ótima escolha! A propósito, ela sabe que anda por aí sem aliança?

Meu sorriso desapareceu. Carlie se encolheu contra mim. A florista respirou fundo e cruzou os braços junto ao peito, após ajeitar os óculos.

- O que quer, afinal? – Perguntou, séria.

- Certo! Hm... – Ri, nervoso, mas ainda bastante sedutor (eu sabia disso). Contornei a situação, e tive uma idéia ainda melhor do que planejava. – Desculpe. Eu só queria alguma razão para me aproximar... E falar com você. Estou sendo sincero; isso é um ponto a meu favor, não é? Então, posso ao menos saber seu nome?

Ela cerrou os olhos. - Foi uma cantada assim que funcionou com a dona desse batom?

Olhei para baixo automaticamente. Uma mancha mínima, de um rosa vibrante, estava no colarinho de minha camisa. De fato, eu a usara na semana passada, na última vez em que vira Tanya. Mas que merda! Além de uma língua afiada, ela era observadora demais. Isso podia ser um problema...

- Espero que, ao menos, a menina seja sua. – Disse.

Carlie olhou para cima, me abraçando. Abri um sorriso amarelo.

- É, sim. Essa é minha filha, Carlie. A propósito, eu sou Edward... – Demorei um segundo para me recordar do sobrenome falso. - Cullen.

Estendi a mão livre para a garota. Ela ignorou meu gesto e se virou, mexendo nas flores. - Isabella. – Murmurou, me olhando por cima do ombro. – Isabella Swan.

Isso! Ela iria ceder. Toquei o ombro de Carlie, num aviso para que se afastasse. A menina hesitou e eu praticamente a empurrei, fazendo com que voltasse a correr com os outros pirralhos como antes.

- Então... – Soltei um pigarro ao continuar. – Bella... Bella! Posso te chamar assim, certo?

- Não.d

- Ótimo. Então... O lance da sinceridade não funcionou. O que eu tenho que fazer para que aceite sair comigo? Um jantar, só isso que peço!

Ela virou novamente de frente pra mim, franzindo a testa e cruzando os braços junto ao peito.

- Me dê um único bom motivo para sair com você.

- Eu sou muito carismático. Bonito, educado...

- Eu disse um.

- Posso levá-la a um restaurante caro, o que certamente você não freqüenta muito.

Bella ergueu as sobrancelhas. - Como disse?

- Não tome como uma ofensa! – Abri um sorriso torto e enrosquei meus dedos em meu cabelo, bagunçando-o. – É só que... Você não aparenta estar acostumada com... Luxo... E...

- Ah, não? O que eu aparento, então? – Ela estava na defensiva, e isso não era nada, nada bom.

- Você é... Simples! Simples é bom.

- Simples. – A moça repetiu entredentes. – Simples, na sua linguagem de troglodita, significa “desarrumada”, suponho.

- Eu não disse isso. – Rebati. Ah, mas eu queria dizer! “Não precisa se arrumar, senhorita Swan. Tire essas peças de roupa horríveis e tudo irá se resolver!” Mordi a língua.

- Era só o que me faltava! – Bella bufou, dando as costas para mim ao andar de um lado para o outro na banca de flores, ora anotando algo em um pequeno caderno, ora checando seus produtos. – Eu não tenho a mínima obrigação de me portar como uma boneca de plástico, para um bando de marmanjos como você aplaudirem. Não sou um enfeite, um brinquedo, ou qualquer coisa que você me julgue. Caso não saiba, algumas mulheres promíscuas bem perto de você cobram para tal feito. Você certamente pode pagar, não é? Não gaste sua saliva comigo, senhor Cullen, pois não conseguirá nada do que pensa.

Minha testa se franziu aos poucos enquanto eu ouvia aquele discursinho feminista. Virgem do caralho! Era só o que me faltava. Se não fosse a saia até o joelho, eu podia jurar que ela nem mesmo se depilava.

Fiquei algum tempo parado, encarando-a. Ela retribuiu meu olhar com seriedade.

- Tenha um bom dia. – Bella resmungou antes de virar outra vez e atender um novo cliente.
Cerrei os punhos, pisando com força enquanto ia na direção de Emmett. Ele gargalhava em algum lugar perto das árvores.



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Notas finais do capítulo

Aí está! Ah, não demoramos tanto assim, vai ): Quero agradecer muuuuito os comentários de vocês, o número de leitores está subindo todos os dias! Se continuar assim, prometo um capítulo por semana. Espero que tenham gostado desse! ^^