Meu Malvado Favorito escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 31
(Extra 1)


Notas iniciais do capítulo

Essa cena acontece em algum lugar escondidinha no capitulo 6 da primeira fase, Se ela quer guerra, é o que vai ter!. Edward cita rapidamente como andava a relação do trio de bandidos com a menina. Eu não tive como focar isso por lá, mas me arrependeria se não colocasse algo mais detalhado sobre a fofurice da Carlie. Essa ceninha me veio na cabeça do nada e eu me apaixonei. Boa leitura!



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Eu e Alice estávamos jogados no sofá pelo que já parecia algumas horas. Ela estava com o controle em mãos, passando pelos canais com uma expressão tão entediada quanto a minha. Finalmente, parou em um programa ridículo onde os participantes, burros como portas, respondiam perguntas por dinheiro. Bufamos ao mesmo tempo.

Bom, ela realmente não tinha nada pra fazer. Já havíamos calado a boca da modelo no porão e dado a ela qualquer coisa nojenta pra comer, então, sem mais preocupações por algum tempo. Mas eu, ao invés disso, tinha algo muito importante com o que me preocupar: Uma aposta que poderia, finalmente, me livrar da pirralha intrometida que estava acabando com a minha paciência. Se ao menos o alvo não fosse aquela garota tão cheia de si. Merda!

Restavam apenas alguns minutos de descanso ali, eu sabia, porque Emmett já havia saído para buscar a menina na escola. E todos já estavam acostumados com o furacão que era quando ela chegava em casa. Mesmo que levasse centenas de patadas, Carlie continuava na minha cola, implorando para brincarmos juntos e tagarelando sobre seu dia nada relevante. Alice, de vez em quando, tinha alguns surtos maternais e parava pra conversar com ela... Da sua maneira de sempre. E Emmett, aquele grandalhão idiota, foi o único que se derreteu completamente pela criança.

– Papai! – A porta foi aberta de repente, e nós dois olhamos para a menina, sem nos mexer no sofá. – Olha o que o tio Emmett comprou pra mim! – Ela veio até a minha frente e ergueu uma sacola, com um sorriso enorme no rosto.

Eu encarei Emmett, que veio logo atrás, incrédulo. – Comprou um presente pra ela? – Reclamei.

Certamente Carlie não era do tipo que ganhava presentes com frequência; pela sua felicidade, aquele deveria ser o primeiro brinquedo que recebeu exclusivamente para si mesma, sem precisar dividir com outras crianças no orfanato (além da boneca que carregava consigo o tempo todo). Como ele não respondeu, coloquei a mão dentro da sacola e puxei a caixa comprida, lendo o que estava escrito na tampa. – A Floresta Encantada. – Franzi a testa.

– É um jogo de tabuleiro! – Carlie gritou, tirando a mochila das costas e jogando num canto da sala. – Podemos jogar? Podemos? – Ela pulou no lugar.

– Parece muito divertido... – Alice zombou ironicamente, afundando em seu lugar.

– Por favor! Por favorzinho! – A menina continuou a pular, soltando alguns gritos estranhos. – Por favooooor!

– Não vai matar ninguém. – Emmett disse ao se colocar atrás dela, e eu o fuzilei com o olhar no mesmo instante.

Eu olhei para eles, e então para Alice, que parecia votar um gigantesco “NÃO” junto comigo. Mas, ok, eu realmente não sairia machucado de uma partida ridícula de algum jogo infantil. Deveria apenas sentar e enfrentar aquilo. Afinal, eu nunca havia feito absolutamente nada legal por aquela menina, e mesmo com 5 anos de idade ela poderia desconfiar de algo. Eu suspirei e assenti, enquanto aquela desgraça de pirralha saltitava ao meu redor.

Nós sentamos em uma roda no tapete, em frente ao sofá, e Carlie abriu a caixa com uma animação desnecessária. Ela estendeu o tabuleiro exageradamente colorido entre nós, mas a caixa ao seu lado ainda estava cheia de objetos que certamente deveríamos utilizar. – Tá bom, deixa eu explicar como se joga! Eu li as regras enquanto voltávamos pra casa! – Além de tudo, ela ainda estava virando uma nerdzinha. Ótimo. – A princesa Jessica está dando uma festa no castelo dela, bem aqui. – Ela apontou para o desenho no final do percurso do tabuleiro. – E nós somos as princesas convidadas! Quem chegar primeiro, ganha!

– Ganha o quê? – Perguntei, cruzando os braços.

– O jogo! – Ela rebateu.

– Isso não faz sentido, é uma festa, não importa quem chega primeiro. – Revirei os olhos.

– Mas elas precisam passar pela Floresta Encantada! Nunca se sabe o que vão encontrar pelo caminho. Pode ser perigoso! – Carlie explicou.

– Então por que elas não vão todas juntas? – Eu continuei a discussão ridícula.

– Ah, tá legal! – Alice gritou, pegando um pequeno saquinho com peões e distribuindo para nós quatro, sem se importar com as cores. – Vamos logo com isso!

– Espera! Tem mais, olha! – Carlie puxou outra embalagem da caixa, sorrindo. – Todas as princesas tem coroas! Não é mágico?

O saco em sua mão continha 6 coroas de papelão, nas cores dos peões. Ela nos deu as coroas correspondentes aos nossos, e eu – SIM – coloquei aquela merda na minha cabeça. Ótimo. Como se não bastasse, ela nos fez esperar enquanto corria até seu quarto e vestia uma saia exageradamente rosa, combinando com sua coroa. Saltitava pela casa com uma felicidade incontrolável. Certo, Caius não poderia ter me arrumado um menino, pelo menos? Aquela coisinha era tão cheia de frescura!

Assim que voltou e sentou a minha frente, ela guardou os objetos restantes na caixa e entregou dois dados para Emmett, que foi o primeiro a jogar. Ele “era” a princesa Azul. Em sua primeira jogada, tirou 5, e avançou todas as casas de uma vez. – Você encontrou um duende que a ajudou a seguir o caminho correto. Avance duas casas. – Leu pacientemente.

– Eba! Você já começou bem na frente, tio Emmett! – Carlie comemorou por ele.

Eu peguei os dados dele e joguei sem a menor vontade. Tirei apenas 2. Movi meu peão roxo e virei um pouco o rosto para ler. – Por uma coincidência, seu príncipe estava passando pelo local. Ele ofereceu uma carona em seu cavalo branco. Avance 10 casas. – Li e obedeci o jogo, hesitando um pouco. – Cara, por que ele não me leva direto pro castelo logo?

– Quer parar de reclamar? - Alice arrancou os dados da minha mão e os lançou. Tirou 8, e avançou rapidamente com seu peão verde. – Um unicórnio está no caminho. Fique uma rodada sem jogar. MAS QUE PORRA É ESSA? – Ela socou o chão, irritada. – Unicórnio é o caralho! É só eu chutar ele pra longe e continuar!

– Alice, por favor, é só um jogo bobo. – Emmett suspirou.

– Unicórnio no caminho... Que bando de merda... – Ela entregou os dados para Carlie, ainda resmungando sozinha.

A menina os chacoalhou por um longo tempo em suas mãozinhas, e então os deixou cair no tabuleiro. Tirou 9. Andou com seu peão rosa e leu rapidamente. – Você escapou por pouco de um troll gigante. Continue assim!

– Tá, tá, muito corajosa, minha vez! – Emmett disse.

Ele voltou a jogar, recomeçando outra rodada. Nada de importante aconteceu com ele, a não ser algo sobre fadas coloridas em seu caminho. Eu joguei, e novamente, nada. Quando fui passar os dados diretamente para Carlie, a mão de Alice os agarrou. - Ei, é minha vez! – Reclamou.

– Não é, não! Você não joga essa rodada, lembra? – Eu disse.

Ela abriu a boca para retrucar, mas Emmett foi mais rápido. – Tem um unicórnio no meio da passagem!

– Unicórnio a sua bunda! Eu mato esse unicórnio! Não, melhor ainda! – Alice segurou seu peão e o levou diretamente para o castelo. – Eu montei no unicórnio, e ele me levou pra festa! Pronto, ganhei! – Alice gritou para ele.

– Ah, é, é? – Emmett grunhiu. – Pois eu encontrei a casa da bruxa bem aqui. – Ele apontou para um lugar perto de onde seu peão estava. – E roubei a vassoura dela. Agora eu vou voando! – Assim como Alice, ele fez seu peão atravessar o tabuleiro inteiro até a casa final.

– Ei! Isso não vale! – Carlie tentou interferir, mas foi ignorada.

– Ah, mas é claro! – Reclamei. – Então, por que eu não posso usar o meu poder ultra secreto de teletransporte? – Movi meu peão para o final.

– Você não tem isso! – Alice choramingou.

– Se você encontrou uma droga de um unicórnio, eu posso ter super poderes! – Mostrei a língua para ela como uma criança.

– Por que só você? – Emmett reclamou, jogando sua coroa no chão. – Se você pode fazer isso, então eu posso... Ficar invisível!

Carlie soltou um longo suspiro enquanto eu encarava Emmett, cheio de raiva. Ela tapou o rosto e com um grunhido paralisou ali, em silêncio.

– Ótimo! Ótimo, seus idiotas! É uma pena que vocês não sabiam que eu não sou princesa porra nenhuma! – Alice gritou, ficando em pé e jogando sua coroa no chão. - Eu sou uma feiticeira! E vocês... Nunca vão conseguir me deter!

Eu fiquei em pé também, junto com Emmett, esquecendo a coroa em minha cabeça. – E você não sabia que o meu príncipe pode...

Carlie soltou um grito longo e agudo, e nós três paramos a discussão para encará-la. Ela ficou em pé também, bufando com as mãos na cintura reta. – Chega disso! Vocês acabaram com o jogo!

– Tanto faz, eu ganhei. – Alice cruzou os braços, emburrada.

– Você roubou, isso sim! – Emmett gritou, recomeçando a discussão.

Eu revirei os olhos e paralisei ali, esperando enquanto as três vozes se misturavam na briga mais ridícula que eu já havia presenciado. Carlie pulava, tentando chamar atenção apesar da pouca altura, e a coroa rosa saltitava em sua cabeça a ponto de cair. Ela arrumou a saia cheia e cruzou os braços, olhando para mim com raiva, como se esperasse que eu fizesse alguma coisa. Eu abaixei, retirei os peões do tabuleiro e o fechei, subindo em cima dele.

– Não tem mais princesas, não tem mais castelo, não tem mais festa! Chega! – Eu gritei.

Alice e Emmett calaram a boca, cada um emburrado em seu próprio canto. Em silêncio, coloquei todas as peças de volta na caixa, tendo que aguentar a pirralha (ainda vestida de princesa) pulando em volta de mim. Ainda abaixado, ouvi a voz de Alice ao meu lado, soando como uma criança chorosa.

– Tá com inveja porque eu sou uma feiticeira e você é só uma princesa sem graça...

Eu ergui o corpo imediatamente e a fuzilei com os olhos, lentamente amassando a caixa nas mãos e destruindo aquele maldito jogo.



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