Meu Malvado Favorito escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 29
Menta com Chocolate (2ª fase)




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Afastei o cigarro da boca e o apaguei no cinzeiro a minha frente, na mesa de centro onde eu descansava os pés. Fechei os olhos, voltei a apoiar as costas no sofá e soltei a fumaça, experimentando a sensação que deixara para trás há meses.

Estava na sala de estar do apartamento de Rosalie. Sozinho. Eu não queria voltar para Forks, ou para minha casa. Eu simplesmente não tinha para onde ir. Não havia um único lugar no mundo para mim que não estivesse carregado de lembranças dolorosas.

- Mas eu não quero dormir! – Ouvi Carlie reclamar do quarto, chorosa.

Eu olhei na direção do som, esperando ouvir mais da conversa, mas a resposta de Rosalie para ela foi muito baixa. Levantei e comecei a andar pelo corredor comprido de seu apartamento, torcendo para que não me notassem. Parei na porta entreaberta, olhando para elas por uma pequena fresta. Carlie estava sentada, embaixo das cobertas, abraçando sua boneca. Jacob estava a seus pés, e Rosalie agachara ao seu lado, de costas para mim. Permaneci em silêncio, observando-as.

- Você sabe, quando eu estou triste, ou com medo de alguma coisa, eu peço pro meu anjinho da guarda me proteger. Ele me ajuda a dormir tranquila. – Rosalie disse a ela.

- Ele não vai me proteger. – Carlie rebateu imediatamente. – Eu disse pra ele ficar com a Bella. Ela precisa mais do que eu. Ela tá muito sozinha agora.

Rosalie não respondeu imediatamente, e eu daria qualquer coisa para ver sua expressão naquele momento. A garota levantou em silêncio e sentou na cama também, ficando mais perto de Carlie. – Querida, sua mãe... Ela precisou ir para outro lugar. Nós já conversamos sobre isso. Ela está num lugar especial e melhor.

- Como sabe que é melhor? – Carlie perguntou como se a desafiasse.

- É o que... Dizem. – A voz de Rosalie falhou.

- Como ela pode ficar bem em um lugar onde o papai não está?

Aquela frase me atingiu de uma maneira estranha. Eu recuei, não querendo ouvir mais. Carlie conseguira resumir tudo em uma única pergunta inocente. Eu não acreditava nesse tipo de coisa, não o suficiente para me preocupar sobre como B... Bella estaria. Mas havia um lado pior: Eu estava aqui ainda. Sem ela.

Voltei a sentar no sofá, segurando meu rosto nas mãos. Algumas lágrimas ameaçaram cair, mas eu as segurei imediatamente quando ouvi Rosalie se aproximar. Olhei para ela, forçando um pequeno sorriso quando ela sentou ao meu lado e me abraçou.

- Ela adormeceu. Alice está dormindo no meu quarto. Quer dividir com ela? Eu fico no sofá. – Disse.

- É claro que não, Rosalie, eu fico aqui. Pode ir descansar. – Murmurei. Ela afastou os braços de mim, mas continuou ali, me encarando sem saber o que dizer. – Vamos, Rose, eu vou ficar bem.

- Por que você acha que Jasper fez isso? – Perguntou. – Por que ele mandou você de volta pra cá, sem deixar que ninguém a visse?

- Ele sabia o quanto seria doloroso. Ok, você quer realmente falar sobre isso agora? – Resmunguei.

- Não... Tudo bem, desculpe. – Ela ficou em pé, arrependida. – Boa noite. Qualquer coisa, pode nos acordar. Bom, eu. Alice ficaria bastante irritada.

Pela primeira vez, eu sorri. – Obrigado, Rosalie. Boa noite.

Ela sorriu timidamente e se virou, fechando melhor o robe sob a camisola. Andou pelo corredor até seu quarto, e entrou sem olhar para trás. Eu continuei sentado, encarando o travesseiro e os cobertores dobrados que ela havia deixado pra mim, mas não estava realmente com vontade de me preparar para dormir.

Da porta entreaberta do quarto de hóspedes, saiu Jacob, que já andava normalmente após seu acidente no orfanato. Ele se aproximou saltitante e apoiou o focinho em minha perna, choramingando.

- O que foi? – Sussurrei, acariciando sua cabeça. – Qual é o problema, hein?

Ele ergueu a cabeça de repente e esticou as orelhas, prestando atenção a porta de Carlie. Após algum tempo prestando atenção, voltou para lá, e eu o segui preguiçosamente.

A menina estava sentada novamente, mexendo no cabelo de sua boneca. Seu rosto estava encharcado. Eu não acendi a luz de seu quarto, pois a via perfeitamente com a claridade vinda do corredor. Jacob tomou seu posto de antes, deitado confortavelmente na cama, e eu deixei a porta entreaberta antes de me aproximar também.

Carlie, mesmo percebendo minha presença, não olhou para mim. Eu suspirei longamente sentado ali, e ela mal se mexeu, mas fez questão de dizer baixinho: - Você fede a cigarro.

Eu ri tristemente. Aquela foi a primeira coisa que ela me dissera no dia em que nos conhecemos.

- Desculpe. – Respondi. – Ainda tenho um espaço aqui?

Ela ergueu a cabeça, confusa pela pergunta óbvia, e então se afastou para a parede. Eu retirei meus sapatos e deitei ao seu lado, me cobrindo para ficar mais confortável. Não ganhei mais nenhuma palavra dela por algum tempo, então eu mesmo decidi puxar um assunto que não poderia mais ser evitado.

- Carlie... – Suspirei. - Quando as coisas se acalmarem, eu prometo que nós vamos ficar bem. Vamos para qualquer lugar que você quiser, Chocolate, longe de Forks. Só nós dois. – Murmurei.

Ela ergueu a cabeça por um momento para me olhar, mas então desistiu outra vez, voltando a encarar a boneca. Com um suspiro, abraçou o brinquedo junto ao peito e caiu deitada ao meu lado. Eu a cobri melhor e dei um beijo em sua testa, fechando os olhos (como se realmente fosse conseguir dormir).

- Você acha que a mamãe sente a nossa falta? – Ela murmurou. Eu abri os olhos imediatamente, mas ela não estava olhando pra mim. Sua pergunta era retórica, quase para si mesma. Não consegui responder nada, e então ela continuou. – Sabe, quando eu fui embora do orfanato, lá pro Brasil, a Esme me falou que eu não teria uma mãe, não por enquanto... Mas eu achei uma! – Ela ergueu as sobrancelhas. – Eu achei uma, porque mãe é que nem a gente lê nos livros, mãe faz compras com a gente, brinca, coloca a gente pra dormir e dá bronca às vezes, mas é pro nosso bem!

Algumas lágrimas já molhavam minhas bochechas quando ela terminou de falar. – A Bella faz tudo isso! – Completou. - Mas ela é um pouco diferente, porque nenhuma mamãe sabe proteger que nem ela me protege. - Com uma risada, passei a mão por minhas bochechas, assentindo.

- Acho que... Ela, ao contrário de mim, sempre foi muito legal com você. – Murmurei. – Desculpe por isso.

- Eu não culpo você, papai. – Ela disse num tom de consolo. – Você não sabia como era amar alguém. Você só precisou de um tempinho pra isso!

Eu a abracei e esperei que as lágrimas diminuíssem para que eu pudesse responder sem que minha voz falhasse. Sorri para ela, secando meu rosto outra vez.

- Eu amo você. – Assumi. – Eu nunca vou amar ninguém como eu amo você. E sabe por quê? Porque eu sou só a cobertura de menta. Lembra? E ninguém gosta de cobertura sem o sorvete. E tem que ser de chocolate!

Ela riu, o som que eu mais gostava no mundo. Sorri de volta e a abracei quando a menina deitou a cabeça no meu peito, ainda abraçando sua boneca. Eu fechei meus olhos e adormeci mais cedo do que imaginava conseguir. E, por um segundo, pareceu que não estava faltando nada ali.

(...)

No dia seguinte, todos saíram da cama cedo, o que era inédito para a maioria – a não ser para Carlie, que estava sempre com as pilhas devidamente carregadas. Exatamente às 8 da manhã, eu estava no meio de uma tentativa frustrada de fazê-la comer algo decente. Alice me fizera o favor de beber um grande copo de refrigerante, e a menina começou a perguntar porque não podia fazer isso também.

- Quem é que vivia reclamando sobre comer pizza o tempo todo? – Perguntei, de pé ao seu lado na mesa.

- Eu reclamava porque tava cansada de comer a mesma coisa. Não porque não era saudável! – Carlie se mexeu em sua cadeira, olhando com nojo para o copo de leite a sua frente.

Eu revirei os olhos em resposta a sua esperteza irritante, resistindo a dar um tapa na cabeça de Alice, sentada do meu outro lado. Meu celular vibrou em meu bolso, e eu estranhei, perguntando mentalmente quem diabos ainda era meu amigo e não estava naquele apartamento. Ou era apenas mais algum filho da puta italiano ameaçando me matar. Peguei o aparelho, mas o número na tela não estava registrado em meus contatos.

- Alô? – Eu me afastei da mesa em meu velho hábito estranho de andar enquanto falava ao telefone.

 “Edward?” A voz masculina chamou. “Graças a Deus é o número certo!”

- Jasper? – Franzi a testa. Alice arregalou os olhos para mim na mesma hora. – O quê...?

 “Escute, eu sei... Sei que deve estar com raiva, mas você precisa me escutar.”
Pediu. “Há uma coisa que...”

- Jasper, não quero ser mal educado com você, mas nós realmente não temos mais nada para conversar.

“É importante, cara, escute!”
Ele pediu outra vez.

Quando você acaba de perder a única mulher que realmente amou, é claro que qualquer sinal bobo lhe parece a última esperança que o salvará de tal pesadelo. Eu deixei que falasse, esperando pela notícia impossível que precisava ouvir. Que houvera um engano, que nada disso estava acontecendo.

 “É sobre... Os velórios!”
Ele disse com uma urgência estranha. ”Precisamos organizar tudo isso, Charlie quer você envolvido, e nós não encontramos nenhum familiar de Emmett.” Minhas últimas esperanças desapareceram ali. “Eu estou na casa de Charlie. Você pode vir?”

- É claro. Já estou a caminho. – Suspirei, me despedindo antes de desligar.

- A caminho de onde? – Alice mal esperou eu guardar o celular de volta.

- Precisamos organizar algumas coisas sobre o... – Os olhos de Carlie me encarando com atenção me impediram de falar a palavra. – Enfim, Jasper está me esperando em Forks com o pai dela.

- E você vai? Assim? – Alice ficou em pé. – Ficou maluco? Tá na cara que é uma emboscada, seu imbecil! Deve ter um monte de policiais lá esperando você!

- Alice, pelo amor de Deus, são Jasper e Charlie, eles não vão me prender. – Eu revirei os olhos.

Eu peguei o copo de Alice vazio e o de Carlie, pela metade, levando ambos para a pia da cozinha. Minha filha mal se mexeu, brincando com Jacob, que se apoiava na mesa pedindo um pouco da comida intacta que ela ignorara. Alice me seguiu para a cozinha, ainda reclamando.

- Eu não acredito que vou ter que ir com você nessa maluquice! Eu vou ficar velha encobrindo as merdas que você faz! – Ela gritou, e eu sorri sozinho com tal frase. – Você não lembra da briga que teve com eles? Charlie ficou puto!

- Não o suficiente pra me colocar numa cela por isso. – Eu virei para ela, erguendo as sobrancelhas ao olhar diretamente em seus olhos. Segurei seus ombros enquanto ela bufava. – Carlie viveu semanas com eles, você não lembra? Ele a considera sua neta. Além disso, sei que é um homem de palavra. Não vai acontecer nada. Eu vou, e se você quiser vir, é bem vinda, mas que pelo menos seja em paz.

- Onde vocês vão? – Rosalie parou na porta da cozinha, já devidamente vestida, comendo uma das bolachas que eu deixara na mesa para Carlie.

- Jasper me ligou. – Disse.

- Uh, e Alice está doida para vê-lo, não é? – Rosalie zombou.

- Cala a boca, sua patricinha! – Ela rebateu no tom amigável de sempre. A modelo reprimiu uma risada enquanto ela saia disparada, de volta para seu quarto.

Eu suspirei e olhei para ela amigavelmente. – Ela só está sensível demais. Acho que... Todos estamos. – Murmurei. – Jasper disse que está tendo dificuldades em encontrar os parentes de Emmett. Eu imaginei que iria querer nos ajudar com isso...

Rosalie assentiu, seus olhos voltando ao semblante triste de antes. Foi muito difícil para ela receber a notícia, mas depois de algum tempo ela se tornou a pessoa mais forte presente ali. Eu nunca soube exatamente o que havia acontecido entre os dois. Acho que não se aproximaram o suficiente para seu mundo desabar como o meu, mas ela se importava muito com o cara que a livrou de seu sequestro. Importava-se até demais.

Eu virei, prestes a voltar para a mesa, mas Carlie já estava na porta, me encarando com curiosidade.

- Nós vamos para Forks? Ver o meu avô? – Ela perguntou.

Eu nunca ouvira ela mencionar Charlie dessa maneira, mas muitas coisas aconteceram enquanto estive preso que preferi deixar entre eles. Ela tinha todo o direito de escolher quem quisesse para sua família. Eu mesmo havia feito isso.

- Seu carro ainda está Chicago, não é? – Rosalie me lembrou. – Eu levo vocês.

(...)

Eu parei em frente a porta de Charlie e engoli seco. Nem mesmo consegui erguer minha mão até a campainha. Rosalie, atrás de mim, disse algo que não entendi. Minha mente estava imersa em lembranças. Quando eu trouxe Bella para casa após nossos primeiro encontro fracassado, quando ela e Charlie tramaram uma cena constrangedora lá dentro para se livrarem de mim, quando nossa filha finalmente fez um encontro dar certo e então a levamos ao parquinho que tanto queria. A primeira vez que dormimos juntos... Até mesmo os homens de Aro me atacando bem ali em frente. Tudo parecia tão importante agora.

Quando consegui a coragem para bater na porta, Jasper a abriu. Ele nos lançou um sorriso amplo que eu nunca tinha visto. Aquilo realmente me irritou. Os acontecimentos recentes pareciam fazer bem a ele. Ou talvez fosse a presença de Alice. Infelizmente, não era nada recíproco. Ou ela não admitia, pelo menos.

- Edward! – Ele comemorou algo que eu realmente não entendi. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele estava me puxando pelo braço para atravessarmos a rua. – Eu estava realmente com medo que você não viesse, eu nunca me perdoaria se isso acontecesse, droga! Mas você vai ver que não foi de propósito, quer dizer, ok! A ideia foi minha, e não foi tão genial assim, mas aqui estamos, e uau, estou realmente aliviado!

Eu tentei retrucar, e até pará-lo, mas nada adiantou. Quando percebi, estávamos no último lugar que eu gostaria de frequentar naquele momento: A praça. Onde conheci Bella, onde fiz a tal aposta com Emmett, onde Carlie reviu Esme e Carlisle, onde eu acampei como um idiota até que minha garota finalmente aceitasse sair comigo. Droga, mais e mais lembranças! O que diabos eu estava fazendo ali?

Eu parei de frente para ele, gritando. – Jasper, você pode, pelo amor de Deus, me explicar o que está acontecendo aqui? – As três garotas vinham logo atrás de nós, tão confusas quanto eu. Charlie se juntou a elas com uma expressão tranquila demais.

Jasper segurou meus braços e me obrigou a virar, ficando de costas para todos. E então eu entendi.

Desde a primeira vez que pisei naquele lugar e todas as outras depois, uma única coisa me chamava a atenção, acima de todo o resto: A banca de flores, bem no centro. Ela completava tão bem o ambiente para mim que é como se tivesse crescido diretamente da grama. Não seria nenhuma novidade se ela estivesse ali, vazia, abandonada. Mas a primeira coisa que vi foi um amontoado de vasos e plantas extremamente coloridas. Do lado esquerdo, estava uma barraca, exatamente igual a que eu mesmo usei ali, certa vez. E do direito, a vendedora que trabalhava ali. Ela sorria enquanto atendia um casal de idosos. Suas roupas eram ridículas, mas eu conseguia ver sua alma por trás dos óculos exageradamente grandes.

Carlie soltou um grito quando reconheceu a vendedora, mas alguém provavelmente a segurou. Eu paralisei. Simplesmente fiquei parado. O que diabos era aquilo? Jasper me empurrou com força, e eu fui pra frente, obrigando minhas pernas a me levarem até a garota.

Percebendo minha aproximação, ela virou. Seu sorriso gigantesco se transformou em um suspiro de satisfação, e seus lábios foram prensados um no outro, ainda mostrando um singelo sorriso. Ela não sabia o que dizer. Relutante, dei um passo para frente e toquei sua bochecha, me certificando de que era real. Ela fechou os olhos e inclinou a cabeça com o meu toque. Quando me olhou novamente, eu franzi a testa numa pergunta muda.

- Plano exagerado? – Ela murmurou, e então mordiscou o lábio inferior.

Eu não tinha nada pra dizer. Eu não sabia como perguntar o que ela precisava claramente explicar. Aliás, eu nem sabia se havia uma explicação. Até o momento, não parecia real.

- Não vai perguntar como eu escapei? – Ela perguntou, um pouco preocupada com meu silêncio.

- É você. – Murmurei de volta, fazendo Bella rir.

Tirando os olhos de mim por poucos segundos, ela retirou os óculos. Então pude ver o corte comprido acima de sua sobrancelha e as manchas roxas nas laterais de sua cabeça. Para minha surpresa, ela ergueu a mão até a cabeça e retirou a peruca que eu nem sabia que estava usando. Ela cortara o cabelo até os ombros. Eu demoraria um pouco para me acostumar com isso.

- Eu me afastei o máximo que podia do fogo e fugi. Enquanto tudo caia. Foi desesperador, só quando estava do lado de fora percebi o que havia feito. – Como se seu rosto não estivesse machucado o suficiente, ela ergueu a barra da camiseta para me mostrar a queimadura fraca abaixo do umbigo. Ainda assim, eu fiz uma careta preocupada quando ela cobriu a pele outra vez. - Não demorou muito para me encontrarem, eu ainda estava bem. Mas os polícias não me deixavam falar com você. Eu sabia que não iam me deixar ir embora. – Ela contou, mexendo nos objetos em suas mãos. – Eu sabia que, se encontrassem vocês, nos levariam pra cadeia. Jasper mentiu para que você fosse logo embora.

- Ele viu você. – Murmurei. – Por isso ele falou da bala... Por isso Charlie não estava preocupado.

- Eu só queria vocês a salvo. – Ela disse, erguendo os olhos para mim. – Devia isso a Emmett. Quando eu soube que vocês já estavam num avião de volta, eu fugi. Tive que arrumar outra maldita identidade e mudar alguma coisa na minha cara, porque aqueles policiais idiotas não tem mais nada pra se preocupar além de uma ex-agente que nunca fez mal pra ninguém! Quer dizer, eu sou uma criminosa, Edward? Eu estava tentando salvar a minha filha! Só porque ando com um bando de ladrões não quer dizer que eu seja...

A menção de sua filha me fez agarrar sua cintura imediatamente e puxar sua boca para a minha. Após um segundo de susto, ela relaxou em meus braços, jogando a peruca e os óculos no chão para enroscar os braços em meu pescoço. As pessoas assistindo a cena atrás de nós comemoraram com alguns assobios, mas eu estava alheio demais a eles para simplesmente lhes mostrar o dedo do meio ou algo do tipo.

Meu bom humor estava de volta como num passe de mágica. Até que eu olhasse pra cara de Jasper outra vez.

- Me desculpe por isso. Sei que esses dias devem ter sido difíceis pra vocês... – Ela disse ainda bem próxima a mim.

- É, não foram dos melhores. – Eu franzi a testa com seu comentário óbvio. – E qual é a da barraca?

Ela saiu das pontas dos pés, onde se erguia, e estranhamente ruborizou. – Bom, eu... Não fui pra casa. Quer dizer... Alguma hora você voltaria aqui. E eu estaria esperando. Com a demora, Jasper teve mais um de seus planos e te chamou.

- Ele precisa realmente parar com isso.

- Além do mais, - ela ignorou meu comentário – a casa de Charlie não é exatamente minha. – Eu esperei que ela explicasse melhor, encarando-a, e a garota simplesmente deu os ombros. – Eu vou onde você for.

- Então eu espero que você goste de dormir embaixo de uma ponte, porque não tenho muita perspectiva do que fazer daqui pra frente. – Zombei. – Acontece quando se anda com bandidos.

- Eu adoraria morar na rua com você. – Ela sorriu, erguendo o corpo novamente.

Meu sorriso em resposta foi ainda maior, e ela se aproximou, tentando me beijar outra vez. Eu prensei meus lábios um no outro, e ela se afastou, divertida e confusa ao mesmo tempo. Subi meus lábios até sua orelha, voltando a sorrir. – Tem outra pessoa sentindo muito a sua falta...

Ela se inclinou um pouco para o lado e deu um passo na mesma direção, olhando as pessoas atrás de mim. Seu sorriso era imenso. Manteve as mãos em meus braços, e só então percebi que estava mancando. Não demorou nada para eu ser empurrado por um pequeno furacão que a agarrava; um verdadeiro rio de lágrimas caiu por suas bochechas quando ela se ajoelhou para abraçar sua filha. Fiquei parado ali, observando-as com o que me parecia certa adoração.

- Ah, meu amor, você está bem! – Bella chorou.

- O que aconteceu? Onde você tava? O papai disse que você... – Carlie começou a gritar.

- Eu sei, eu sei, foi tudo um mal entendido. Eu estou aqui agora, não estou? – Ela sorriu, colocando uma mecha do cabelo ruivo da menina atrás de sua orelha. Fungou baixinho antes de continuar. – E eu prometo que nunca mais vou a lugar nenhum. Vamos ficar todos juntos agora. Sem mais estrada pra nós!

- Então não vamos mais ser espiões? – Carlie reclamou, me fazendo rir.

- Nós vamos ser o que você quiser. – Sua mãe sorriu.

- Menos princesas. – Arregalei os olhos, interferindo na conversa. – Não é?

Bella ficou em pé em meio a uma gargalhada, ainda segurando Carlie em seu colo quando veio até mim e beijou demoradamente minha bochecha.

Jasper, Charlie, Rosalie e Alice se aproximaram, finalmente voltando a fazer parte de uma cena tão familiar. Eles eram parte disso, definitivamente. Cada um teve seu momento abraçando Bella; mesmo seu pai e seu amigo que sabiam de tudo desde o começo, e também as duas garotas, que mesmo não sendo tão próximas assim dela, lhe deviam muito de sua vida. E da minha.

E era isso que eu chamava de felicidade.

Porque mesmo com toda a atenção voltada para minha garota, eu nunca me senti tão em casa. Cada um ali colaborou para que eu encontrasse o meu lugar, e eu devia muito a eles. Alice, que abandonou toda a carreira que tinha pela frente para nos ajudar; Rosalie, que encontrou a família que nunca teve em um bando de criminosos; Bella, Charlie e Jasper, que nem por um segundo hesitaram em trair seus companheiros para proteger quem amavam.

Esme, Carlisle e Renée, que sempre me viram como um pai, acima de qualquer merda que eu já havia feito na minha vida. E Emmett, principalmente Emmett, que deu sua vida por uma menininha.

E foi exatamente essa menina a razão de tudo o que nos aconteceu. Porque ela tinha o dom de unir as pessoas, de trazer vida àqueles que já perderam a razão para tudo. Eu continuaria devendo a ela, pelo resto dos meus dias. Tudo o que eu era, tudo o que eu tinha, as pessoas que conheci, que amei, e que me amaram de volta, tudo porque uma monstrinha tagarela foi corajosa o suficiente para derreter meu coração de gelo. Ela enxergou em mim o que ninguém mais seria capaz de ver.

Ainda sendo carregada por Bella, seus olhos de chocolate me encontraram, e a menina voltou ao chão para correr até mim. Eu agachei, sorrindo, e segurei suas mãozinhas quando ela parou bem a minha frente.

- Eu ainda posso mudar a decoração? – Ela perguntou inocentemente.

Eu soltei uma risada alta, olhando ao nosso redor. Eu não me lembrava da última vez que vira pessoas tão felizes juntas. Se ao menos aquela menina soubesse o bem que ela fez a tanta gente...

- Ah, Carlie... – Sorri. – Você pode fazer o que você quiser!

Ela sorriu de volta para mim, jogando os bracinhos em volta do meu pescoço. Eu fiquei em pé e, segurando-a com firmeza em meu colo, virei seu corpo magrelo de ponta cabeça, só para fazê-la rir mais. Bella, nos observando um pouco longe, sorriu abertamente com a cena. Eu fiquei tão hipnotizado com seu olhar que quase esqueci de voltar minha filha para uma posição normal.

E foi assim, como a família bagunçada que Carlie uniu, que nós vivemos felizes para...

Não, não, não, espera aí.

Vocês nunca se perguntaram o que existe depois do “felizes para sempre”? Depois do beijo perfeito, do cenário romântico e daquele momento em que não existe absolutamente nenhuma preocupação? Pois eu estou aqui para lhes contar tudo isso. E acreditem, aquela breve cena – vocês conhecem, a tela preta, a palavra “fim” mandando vocês de volta pra casa – é só começo de muito drama que ninguém quis contar.

Histórias começam a partir de uma mudança. Porque é isso que as pessoas querem ouvir. Ninguém gosta de ficar parado, estagnado em sua rotina. Eu poderia ter gastado páginas e páginas falando sobre a morte de meus pais, meu trabalho para os Volturi, 10 anos de encheção de saco até que finalmente Carlie entrasse em minha vida. Porém, decidi pular para a parte importante, porque quanto mais perto do clímax eu começasse, mais rápido seria para chegar ao fim.

E é depois do fim que as coisas realmente acontecem.

E, ah, eu tenho realmente muito o que contar. Porque quando você cria uma criança com o poder de lhe trazer tanta felicidade, você sente um desejo absurdo de sair gritando todos os mínimos detalhes de sua rotina. E até os momentos ruins são maravilhosos. Mas eu vou ser justo. Tudo o que antecedeu essa história foi resumido, e esses anos após a briga com os Volturi também serão.

Acho que a coisa mais importante que eu devo ressaltar é que Bella não está mais comigo. Mas eu não trato isso como algo triste; ela teve uma vida mais longa e mais feliz do que muita gente. E foi uma criatura teimosa, ativa e exagerada até o último segundo. Seu final não foi triste, e sim real. É claro que isso não tornou as coisas fáceis para mim. E foi por conta disso que Carlie me deu a ideia – acho que a melhor ideia na historia das melhores ideias – de repassar nossa história adiante. Bem, Carlie não é mais exatamente uma criança. Na verdade, ela tem algumas.

Ah, e isso me lembra que eu preciso responder algo que com certeza muitos de vocês estão se perguntando: Bella conseguiu o bebê que sempre quis? Nós poderíamos ter tentado, com certeza, mas eu não sei se ela aguentaria a dor de perder outro filho, caso viesse a acontecer. Eu não tive coragem de arriscar. Não é como se alguma coisa estivesse faltando, de qualquer maneira. Conforme os anos se passaram, até mesmo a adoção de alguém tão pequeno e frágil não seria muito fácil para nós e nosso estilo de vida. Mas tem outra coisa que aconteceu que pode soar como uma surpresa para alguns.

Tudo bem, um resumo não será suficiente para lhes mostrar tudo o que quero, tudo o que me fez sentir o homem mais sortudo da Terra durante anos. Acontece, vocês sabem, quando você encontra a mulher da sua vida. Há mais algumas coisas que vocês precisam saber. Coisas que somente uma alma pura como a de Carlie foi capaz de nos ensinar.

Eu nunca deixaria vocês irem embora com as lamentações de um velho contando seus últimos dias! Além do mais, quem disse que eu também não sou fã de um final-mentiroso-feliz?


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Notas finais do capítulo

Oi gente, Nina aqui. Eu sei que vocês estavam querendo matar a Carol mas vai...o que seria de um final feliz sem um drama no meio né? Huhauhauhauhauhauha.
Bom, esse é o ultimo capítulo de MMF e eu agradeço mais uma vez aos novos leitores e principalmente aos que estão conosco desde The Cullens, vocês não sabem como é bom ter todo esse apoio de vocês.
Pra ficarem mias contentes esse não é bem o fim, ainda teremos um pequeno epíogo com coisas que aconteceram e cenas que idealizamos mas que só se encaixaram no final.
Obrigada a todos, de coração, em breve...quem sabe, não voltamos com mais alguma ideia de fics pra vocês não é?
Grande beijo a todos.
Nina ;)