Meu Malvado Favorito escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 28
Nada vai nos separar (2ª fase)




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Fui vítima de um pequeno dilema quando comecei a narrar essa história. Muitas mudanças me ocorreram, isso é inegável, e em certo ponto eu sentia vergonha do homem que costumava ser. Eu simplesmente não sabia como começar a contar tudo isso. Pelo começo, tenho certeza de que poucos avançariam na história de alguém tão cruel. E pelo fim... Se este é, afinal, o objetivo da história, qual seria o propósito de voltar ao início? O exato meio da narrativa, no tribunal, foi uma saída para lhes mostrar de antemão que eu era um homem culpado, porém arrependido.

Agora, mostrar como tudo isso terminou é inevitável. Se você é do tipo que gosta de finais dignos de novela, com inúmeros casamentos e mulheres grávidas, não está no lugar certo. Porém, se você chegou até aqui após tantas perseguições, sangue e tiroteios, vou presumir que aguentará o que estou prestes a narrar. Talvez, em certos momentos, você sentirá que tudo está acabado, que não há uma saída. Mas acha mesmo que eu perderia o pouco tempo que me resta contando tudo isso, se meu final não fosse absurdamente feliz?

Mas, tudo bem, sem mais adiamentos. Vamos ao que interessa. Lá estávamos nós. Eu, impotente, abraçado a minha filha, que olhava tudo como se a tivessem jogado dentro de seu filme preferido. A nossa frente, o homem que, mesmo sem nunca ter dito uma palavra de ameaça para mim, poderia significar o fim de toda a minha felicidade com minha família. E não posso deixar de mencionar que esse mesmo homem apontava uma arma para a mãe da minha filha, recém-nomeada minha namorada, e sua respectiva mãe, recém-eleita a mulher mais louca do Arizona.

Normalmente, o que qualquer cara faria numa situação dessas? Interferir e salvar sua garota? Carregá-la a salvo para fora dali? Se você acha que sim, volte alguns capítulos nessa história e leia novamente tudo o que eu disse sobre Isabella Swan. Aquela sim era uma garota que odiava não estar no controle. Eu engoli meu orgulho e meu desejo de protegê-la e me mantive imóvel, olhando de uma arma para outra, temendo de onde sairia o primeiro tiro. Mas ambos eram muito experientes e muito cautelosos.

- Então... - Aro disse, olhando nos olhos dela. – eu estava realmente esperando pelo que dia em que iria conhecê-lo.

Somente ao terminar a frase ele voltou a me olhar, sem deixar de prestar atenção em Bella pelo canto dos olhos. É claro que, mesmo que ele se distraísse, ela não atiraria, pois sabia muito bem o quão rápido ele deveria ser em revidar. Deveria. Acho que estávamos lidando com um inimigo imprevisível ali.

Eu retribuí o olhar dele sem saber o que dizer. – Uma ameaça sem fundamento de Santiago e você resolveu colocar toda a polícia atrás de mim. E pensar que confiei em você. – Ele completou, me olhando como se estivesse decepcionado com seu próprio filho. Ele olhou para baixo por um longo tempo, suspirando, e então ergueu a cabeça outra vez, me lançando um sorriso falso que causou arrepios em minha espinha. Lentamente, desviou o braço para o lado, e então sua arma estava em minha direção.

Vi pelo canto dos olhos quando Renée ergueu sua arma também, pronta para ajudar Bella. Ela tremia perto de mim, mas não de medo.

- O que eu faço com você, Edward? Com vocês todos? – Aro deu um passo a frente, com os olhos em chamas. – Você falha completamente em uma de minhas células, mente sobre o paradeiro da vítima, quase revela tudo para uma garota desconhecida, perde o controle sobre uma criança louca para dar a língua nos dentes, vira meus novatos contra mim, dedura 10 anos de trabalho pra polícia, mostra a eles onde eu estou e traz centenas de pessoas pra colocar minha casa abaixo. – Eu engoli em seco quando ele terminou. – Me dê um único bom motivo pra não acabar com você, como já deveria ter feito há muito tempo.

Seu rosto tão sombrio deveria ter me feito suar, gaguejar ou sair correndo. Mas eu continuei ali, olhando tranquilamente para ele. Após alguns segundos, sorri, respondendo calmamente ao seu pedido. – Você vai morrer. – Afirmei.

Ele arregalou os olhos, esperando tudo, menos aquilo. Abaixou a arma e veio até muito perto de mim, me obrigando a empurrar Carlie para trás – bom, ao menos foi uma tentativa, porque a menina, em sua coragem insana, permaneceu com os pés colados no chão, entre nós dois.

- Seu moleque traidor! – Gritou. – Eu deveria saber, quando Caius apareceu com você eu deveria saber que acabaria fodendo tudo! Essas pessoas lá embaixo...

- Vieram para pegá-lo, e você está morrendo de medo. – Rebati com o tom mais arrogante e divertido possível.

Ele grunhiu em resposta como um animal irritado. Ergueu a arma para mim outra vez, bem perto da minha cabeça, e eu vi claramente quando fez menção de apertar o gatilho. Ao invés disso, decidiu que havia uma maneira muito mais dolorida de me atacar: Com a mão livre, puxou Carlie para si pela blusa que usava, esgarçando um pouco o tecido em seu ombro.

Tudo aconteceu rápido demais para que eu tivesse tempo de reagir. Ele mal encostou um dedo na menina e Bella gritou firmemente para que parasse. – Cale a boca! – Aro respondeu imediatamente. Com uma mira perfeita, Bella atingiu a parte interna do pulso de Aro. Ele tentou apertar o gatilho contra Carlie, mas não encontrou força o suficiente no dedo indicador. A arma escorregou de sua mão ensaguentada e foi direto para os dedos curiosos da menina.

Ele olhou para sua mão, e então para Bella, tremendo, sem acreditar que alguém seria capaz de tal insolência. Não satisfeita, a garota baleou sua barriga, deixando-o ainda mais fraco. Debruçado para frente, Aro começou a gritar por reforços. Puxei Carlie de volta para mim e retirei o revólver de sua mão imediatamente. Eu empurrei Renée para a saída e esperei que Bella fosse a minha frente, carregando Carlie. Nós três corremos o máximo que podíamos, voltando rapidamente para a escada.

Guiei-as até o segundo andar, onde eu não sabia o que encontraria, mas era definitivamente melhor do que o térreo e todo o tiroteio que acontecia. Precisamos percorrer um corredor comprido, como os outros, mas desta vez, no final dele, simplesmente não havia final. O chão desabara, em chamas, e podia-se ouvir ainda mais claramente as pessoas lá embaixo. Uma explosão aconteceu no primeiro andar e lançou ainda mais fogo, me fazendo pular para trás.

- Vamos descer antes que isso desabe. – Renée disse, apressada.

Bella pegou minha mão e me puxou para trás. Nós corremos todo o caminho de volta e descemos mais um andar, chegando ao local que eu mais temia. Voltando ao primeiro corredor, perto da porta principal, me voltou a dúvida: Deveria pegar Carlie e simplesmente fugir? Bella parecia pensar o mesmo. Ela me olhou cheia de preocupação, e eu lhe lancei a resposta mais sensata que consegui para o momento. – Não vou embora sem Emmett e Alice.

- Eu espero com a menina aqui. – Renee disse, pegando a mão de Carlie. Ela tinha o rosto um pouco sujo por conta da explosão. Sim, eu tinha todos os motivos do mundo para temer que minha filha ficasse com ela outra vez, mas seus olhos naquele momento estavam tão carregados de sinceridade e compaixão que eu não tive dúvida.

Abaixei, beijando a testa de Carlie, um pouco suja também. – Você fica aqui. Você lembra que prometeu que ia me obedecer, não é? Você fica ali, no armário da escada, e Renée ficará com você. Não saia até que eu volte, entendeu? Eu vou voltar. – Garanti a ela.

Bella abaixou ao meu lado e abraçou a menina, limpando algumas lágrimas que caiam de seus olhos. – Vai ficar tudo bem, Carlie. – Disse.

- Tem fogo lá. – A menina choramingou.

- Nós vamos ficar bem. – Bella assegurou, beijando o topo de sua cabeça ao levantar.

Quando estava prestes a se afastar, Carlie agarrou a cintura de Bella, deitando o rosto em sua barriga. – Você é a melhor mamãe que eu poderia conseguir, Bella-Bell.

Bella olhou para baixo e respirou fundo, impedindo que algumas lágrimas saíssem. Ela acariciou a cabeça da menina e disse que a amava, mas eu já estava correndo para o fim do corredor, tentando puxá-la comigo. De mãos dadas, carregando nossas armas nas mãos livres, nós mergulhamos direto no que muitos escolheriam fugir. E sem ter a mínima ideia de como acabaria. Mas Alice e Emmett mereciam tal esforço.

Mal viramos o corredor e encontramos o inferno. Era impossível ver o chão com tantos corpos caídos, ensanguentados, alguns já em chamas. O cheiro era péssimo. Eu não era do tipo que tinha medo de fogo, mas confesso que avancei muito cautelosamente, sem saber o que encontraria ali. Tentei não soltar a mão de Bella pelo máximo de tempo possível, o que foi últi, porque o tempo todo pedaços de madeira e ferro caíam do teto, e precisávamos ajudar um ao outro para desviar. Não demorou muito para minha respiração ser prejudicada – isso era um alívio pois, ao ver algum homem agonizando no chão, baleado, eu sabia que não teria uma morte muito demorada.

Quando uma mão pequenina agarrou meu braço, eu e Bella viramos para olhar. Alice sorriu vitoriosa, com o rosto coberto de fuligem. – Pegaram ele? – Perguntou.

Eu estava prestes a responder, mas fiquei mais atraído pela quantidade de sangue em sua roupa. – Você se machucou? – Perguntei.

- Não, mas machuquei muitos. – Analisou sua arma tranquilamente. – Vocês viram Emmett?

- Não, nós... Alice, precisamos sair daqui! – Bella arregalou os olhos. – O fogo está aumentando, esse lugar vai ao chão em pouco tempo. Ajude-nos a encontrá-lo e vamos dar o fora daqui!

- E o Aro? – Ela franziu a testa. – Pensei que quisesse acabar com ele ou sei lá o que.

- Ele vai se acabar sozinha quando o prédio desabar. – Reclamei. – Rápido, Alice!

Eu virei para o outro lado, ainda puxando Bella comigo. Mais alguns passos e descobrimos uma grande sala, cuja porta estava destruída. Cerrei os olhos e balancei os braços no ar, tentando enxergar melhor, mas ninguém ali ao menos se parecia com Emmett. Um homem apontou sua arma para mim e eu o matei friamente, num movimento tão rápido e certeiro que me surpreendeu. Balancei a cabeça numa negativa e olhei para a garota ao meu lado, frustrado. – Jasper não planejava isso. Só iríamos prendê-los. Isso é genocídio!

- Eles mesmos provocaram isso. – Ela respondeu, entediada. Ouvimos um grito, e então um homem caiu do andar de cima, desabando outra parte do teto. – Edward, vamos logo com isso. Eu quero ir embora daqui. – Apesar das circunstancias, e de saber que ela nunca sentira tanto medo na vida, falou a frase sem demonstrar nada.

Eu a puxei para meu peito e beijei sua testa, tentando tranquiliza-la. Ela respondeu preparando sua arma e indo na frente, sem soltar minha mão. Continuamos a correr, pelo corredor e novamente por outras salas, mas tudo parecia cada vez mais destruído. Passamos por Jasper, sujo e ensanguentado, mas ainda de pé e tão ativo quanto os outros. Mais a frente, caído morto no chão, estava outro policial. Sem tanta sujeira em seu rosto, confesso que deveria ter sido um homem bonito. Bella comentou monotonamente que aquele era James.

Nunca consegui compreender realmente como o fogo começou. Ninguém entendeu. O lugar se acabou rápido demais por causa dele; provavelmente, se fossem somente policiais e bandidos atirando uns nos outros, o ataque demoraria horas. Mas eu sentia como se tivéssemos entrado no prédio um segundo atrás, e então estávamos ali, desviando de objetos em chamas que caiam sobre nós e dos corpos que tentávamos não pisotear.

O mais triste e mais agravante é que pouquíssimas pessoas tentavam se ajudar. Não eram dois grupos de pessoas, e sim dois ideiais, e cada um ali lutava para proteger algo muito maior do que seus colegas. Um homem baleado era considerado um homem morto. A questão principal era Aro: Salvá-lo ou matá-lo. E o covarde continuava dois andares acima de nós, provavelmente protegido por vários homens dispostos a fazer tudo por ele (ou por seus empregos).

Foi numa sala cheia de janelas enormes que nós encontramos Emmett. Suas roupas estavam rasgadas e seu rosto tinha alguns cortes. Quando nos viu, parou imediatamente o que estava fazendo, franzindo a testa. – Saiam daqui! Onde está Carlie? Vocês precisam ficar com ela! – Gritou conosco.

Eu quase ri com toda a sua preocupação. Não era desnecessária, mas era admirável. Quando estava prestes a responder, precisei parar; calei a boca e acabei com qualquer sorriso que pudesse aparecer em meu rosto. Fiquei imóvel enquanto observava a cena, sem acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Um homem apontou sua arma para Emmett, aproveitando sua distração, e atirou diretamente em seu peito. Eu gritei e arregalei os olhos, sustentando seu olhar enquanto ele caia no chão. Bella, com lágrimas nos olhos, matou o assassino de Emmett, mal saindo do lugar.

Deixei a garota para trás e corri em sua direção, me jogando ao seu lado. Algo explodiu muito perto de nós, e eu puxei sua cabeça para minhas pernas, olhando para ele com meus olhos inundados. – Olhe pra mim. Você vai ficar bem, só olhe pra mim!

Ele franziu a testa, perdendo um pouco o foco de seus olhos, mas então sorriu. – Edward? Foi um prazer destruir o Aro com você.

- Não fale assim, seu idiota! – Eu ri em meios as lágrimas, nervoso. – Nós viemos te buscar! Nós vamos sair daqui!

- Eu não quero sair daqui. – Ele murmurou. – Eu cumpri o meu dever. Vá cumprir o seu. Cuide daquela pestinha por mim.

Ele ergueu uma mão, e eu a segurei, apertando-a. Havia muitas coisas que eu queria dizer, mas era impossível encontrar as palavras. Ele sorriu um pouco mais, e então fechou os olhos, aconchegando a cabeça quase em meus joelhos. – Foi um prazer. – Repetiu, apertando minha mão de volta. E então, afrouxou, sem vida. Eu soltei sua mão devagar, deitando-a em seu peito ensanguentado. Curvei meu corpo para frente, soluçando em seu pescoço.

Algum tempo depois – e eu não sabia por qual milagre eu não tinha levado um tiro enquanto ficava ali – senti a mão de Bella em meu ombro. – Nós precisamos ir. – Sussurrou em meu ouvido, sua voz embargada. Eu olhei para ela, mas demorei para entender o que estava acontecendo. Quando finalmente ela conseguiu me colocar de pé, nos abraçamos, parando de chorar aos poucos. Eu olhei para meu amigo deitado no chão uma última vez. A dor de deixá-lo ali, como todos os outros, me consumiu. Mas eu não aguentaria, nem mesmo com a ajuda de Bella, removê-lo para fora do prédio. Aquela não era hora para sentimentalismo. O fogo tomaria conta de seu corpo, e sua alma iria para um lugar melhor, se você acredita nesse tipo de coisa. Com a maior dificuldade que já tivera até o momento, dei meia-volta em direção aonde minha filha estava, planejando obedecer seu último pedido.

Foi no primeiro corredor que encontramos Alice outra vez. Ela nos apressou, perguntando sobre Emmett e querendo sair logo dali, mas eu não saí do lugar até explicar o que aconteceu a ela. E então foi a primeira vez que vi aquela garota chorar. Ela me abraçou e tentou voltar, mas nós a impedimos, dizendo a ela que seria mais seguro sairmos logo do prédio.

O lugar parecia deserto. Quando avançamos até Emmett, ainda havia alguns homens lutando, mas agora, na volta, ou estavam todos mortos, ou já haviam fugido. Os mais espertos provavelmente saíram correndo dali assim que o teto começou a desabar em suas cabeças. Quando estávamos prestes a correr novamente e virar para onde Carlie estava, ouvimos alguém se aproximar. Ainda um pouco distantes do fim do corredor, nos três viramos, e Bella foi a primeira a atirar.

Ela deu alguns passos para frente, se afastando de nós, e droga, como eu queria que não tivesse feito isso.

Mais algumas balas foram disparadas, mas o homem que lutava com ela era rápido. Um pedaço de madeira em chamas caiu ao seu lado, e a garota assustou, pulando para o lado. Esse foi o momento perfeito para ele atirar diretamente em sua coxa.

Bella caiu no chão com um grito, sem soltar sua arma. Ela ergueu a mão para tentar atirar outra vez e atingi-lo, mas o mesmo caiu morto com um imenso pedaço do teto em cima de seu corpo. Quando eu tentei correr até minha garota, o mesmo aconteceu comigo, e eu me joguei para trás automaticamente. E então o curto espaço do corredor estava bloqueado pelas chamas, e não havia nenhuma maneira de chegar até ela.

- Bella! – Alice gritou, dando um passo na direção do fogo, mas logo recuou.

- Não, não, não! – Eu andei de um lado para o outro, tentando encontrar um pequeno espaço onde pudesse atravessar.

Quase fui atingido novamente, mas Alice me puxou, olhando aflita para as chamas. Nós podíamos ver Bella do outro lado, sentada no chão, mas parecia impossível alcançá-la. Eu tentei outra vez, só conseguindo fazer minhas mãos arderem insanamente. Algumas lágrimas desceram por minhas bochechas enquanto eu me desesperava.

- Edward, dê o fora daqui! Eu vou ficar bem! – Ela disse, ridiculamente tranquila. – Saia! Eu dou meu jeito!

- Eu não... Não mesmo! – Rebati, tentando mais algumas vezes. Chutei um pedaço de madeira no chão, mas não mudou muita coisa, a não ser que a ponta do meu sapato ficou um pouco queimada. – Eu vou tirar você daí! Eu só preciso...

Alice soltou um grito agudo quando a parede ao seu lado fraquejou. Era como se o teto, que não existia mais sob nossas cabeças, virasse cinzas. Um pedaço de madeira, milagrosamente livre do fogo, caiu sob ela, e eu automaticamente me virei para ajudá-la. Ela se jogou em cima de mim, assustada.

– Edward, eu sinto muito, cara, mas precisamos sair daqui! – Alice começou a chorar. A fumaça e o fogo muito perto do meu rosto começaram a me cegar, e minha respiração ficava cada vez mais complicada. Com os olhos fechados e meus pulmões infestados, senti a garota me guiar até a saída. Eu tentei chamar por Bella, mas não sabia mais o que estava acontecendo a minha volta, não sabia mais onde estava. Não sei como consegui acelerar meus pés até a saída, mas finalmente vi a claridade através das minhas pálpebras.

Nós nos jogamos no chão da praça no exato instante em que algo explodiu e toda a estrutura do prédio foi ao chão.

(...)

Os bombeiros chegaram rapidamente. Alguns me ofereceram ajuda, mas assim que eu conseguia ver e respirar normalmente, recusei qualquer assistência. Eu sentei num canto, sozinho, com uma garrafa de água em minhas mãos. Eu a girava, analisando-a, e ainda não havia bebido nada.

Renée tirara Carlie do prédio muito antes de nós conseguirmos sair. Eu já havia visto a menina de longe, cuidada por alguns policiais, e apesar de estar bastante assustada, eu estava mais. Decidi me afastar por alguns minutos.

Eu deveria estar chorando? Eu teria alguma reação, qualquer uma, se ao menos soubesse o que havia acontecido. Até aquele momento, estava perdido, esperando qualquer notícia, boa ou ruim, dos bombeiros que vasculhavam os escombros. A única coisa que eu sabia era que Aro já havia sido encontrado, e grande parte do seu corpo era simplesmente cinzas. Mas ele estava sozinho, e foi facilmente identificado. As pessoas com quem eu me importava estavam misturadas a todos os outros corpos.

Mal percebi quando Alice sentou ao meu lado, me encarando por um bom tempo. Ela abraçou meus ombros e suspirou. – Você não podia fazer nada. Edward? Você é um herói.

- Olhe quantas pessoas morreram por minha causa. – Murmurei, sem olhar para seu rosto.

- E quantas não precisarão sofrer mais, porque Aro está morto. – Ela rebateu. – Não foi tão ruim assim. Muitos corpos foram recuperados, muitas pessoas terão um enterro digno. Logo vão encontrar Emmett. E...

- Bella? – Eu completei, trincando os dentes. – Ela não está morta.

Eu ouvi ela suspirar, ainda abraçada a mim. Eu estava encarando o chão quando alguém se aproximou, e lentamente ergui a cabeça, reconhecendo Jasper com uma expressão terrível e aparência pior ainda. Ele assentiu para Alice, e ela levantou, afagando meu ombro antes de se afastar.

Ele suspirou, colocando as mãos para trás. Demorou muito para falar. – Nós... A encontramos.

- Então? – Perguntei, apressado. – Onde ela está? Eu quero falar com ela. – Fiquei em pé.

- Ela está morta, Edward. – Ele disse, sem emoção.

- O que? Não, é claro que não. Ela escapou. Ela sempre escapa. – Eu ri, nervoso. – Onde ela está, Jasper?

- Eu já disse. Por favor. – Ele suspirou, agora realmente triste. – Por favor, acredite em mim. Pegue sua filha e saia daqui logo, Edward.

Eu franzi a testa, descrente. Comecei a chorar outra vez, em silêncio. Como ele podia ser tão frio com a morte de sua melhor amiga? E onde diabos estavam Charlie e Renée, senão surtando com a morte da própria filha? Eu estava perdendo alguma coisa?

- Está mentindo. – Eu afirmei outra vez.

- Ela morreu cumprindo a promessa que fez. – Ele disse. – Ela era uma policial, e não uma ladra. Tenho certeza que está bem agora. No lugar que deveria. Estou avisando, Edward, pegue a menina e suma.

- Onde está o corpo dela? – Eu chorei um pouco mais, mas mantive a voz firme.

- Está carbonizado. Mas identificaram uma bala alojada em sua perna. – Explicou.

Eu ergui as sobrancelhas, impedindo minha mente de visualizar uma cena tão dolorosa. Ele não tinha como saber que ela havia sido baleada senão vendo o corpo. Não era mentira. Afinal, por que ele mentiria? Eu é que estava ficando louco. Bella estava morta. Estava morta porque eu não consegui agir a tempo. Era minha culpa. Minha droga de culpa!

Eu tapei minha boca, deixando meu corpo cair outra vez no chão. Sentei e coloquei a cabeça entre os joelhos, me permitindo chorar outra vez. Só havia conseguido tantas lágrimas assim uma única vez em minha vida: Quando fui preso e havia perdido tudo. – Eu sinto muito. – Ele murmurou.

Eu não sabia o que estava sentindo. Era impossível de acreditar. Por um momento, minhas lagrimas não eram de tristeza, e sim de raiva. Raiva por ter saído daquele maldito lugar sem ajudá-la, raiva porque Jasper não parecia dar a mínima importância para o que aconteceu, e até mesmo raiva de um dia ter ido falar com aquela florista por causa de uma aposta e ter causado toda essa confusão na vida dela. Era tudo minha droga de culpa! E agora, de que adiantavam os planos que fizemos, nossa casa, a escola de Carlie, tudo o que eu prometi a ela? Aquilo só podia ser algum tipo de punição por estar feliz demais. Eu não merecia tanto.

- Papai? Você está bem? – Ouvi a vozinha me chamar.

Eu ergui a cabeça e arregalei os olhos inchados, demorando para assimilar o que via. Ela franziu a testa, preocupada.

- Carlie. – Sussurrei, continuando imóvel.

- O que aconteceu? Por que está chorando? Cadê a mamãe? – Ela cuspiu as palavras, começando a chorar também.

Eu olhei em volta sem rumo antes de secar meu rosto e me obrigar a ficar em pé. Ela me olhou com os olhos cheios d’água, e aquilo foi de cortar o coração. E como se não bastasse, eu vi, mesmo que não fizesse o menor sentido, os olhos de Bella ali. Eram os mesmos olhos, se é que isso era possível. Eu comecei a andar para a lateral da praça devagar, em busca de uma saída, e apenas estiquei a mão para ela, esperando que a segurasse e me seguisse.

- Onde vamos? – Ela perguntou.

- Vamos pra casa, Carlie. – Respondi, um pouco irritado com suas perguntas. Naquele momento eu só queria que ela calasse a boca. – Na América.

- Mas e a Bella? – Ela choramingou, me seguindo com relutância.

- A Bella não vai com a gente. – Trinquei os dentes.

- Papai! O que está fazendo? – Ela empacou, puxando minha mão. – Não podemos ir embora agora! Temos que achar a Bella! – Ela gritou.

- A BELLA NÃO VAI VOLTAR, CARLIE, SERÁ QUE VOCÊ NÃO ENTENDE? ACABOU! – Eu virei para ela, mais nervoso do que deveria.

Ela deu um passo pra trás, assustada, e então eu percebi o que havia feito. Era como se o monstro tivesse voltado. Eu me arrependi no mesmo segundo em que gritei com ela, ajoelhando a sua frente e voltando a chorar. Puxei-a para um abraço, e ela retribuiu imediatamente.

- Você é a única coisa que eu tenho agora. Você é a coisa mais importante do mundo pra mim, e eu não posso perdê-la. – Chorei. – Somos só nós dois agora, Carlie. Eu sinto muito.

Bastaram aquelas palavras para que ela entendesse. Eu senti suas lagrimas encharcando minha camiseta e a abracei mais forte; fiquei em pé e a segurei em meu colo, tentando reunir forças para sair dali e voltar para casa, sem a mínima noção do que faríamos.

Bella havia nos salvado. De muitas maneiras. Aquela garota impossível era a única responsável por eu ainda ter minha filha em meus braços. Isso só me dava a certeza de que, por ela, eu nunca, nunca, correria o risco de perder nossa menina outra vez.



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Notas finais do capítulo

MUITA HORA NESSA CALMA!!! Antes que tentem jogar pedras na minha janela, quero lembrar a todos que eu ADORO um drama em reta final e em MMF não seria diferente! Não vou entrar em detalhes, só digo que tem muita coisa escondida nas entrelinhas, é só prestarem atenção...
Bem, sim, o próximo capítulo é o último!!! ): MAS além dele ainda prometo um epílogo e alguns extras que eu nunca consegui encaixar na história, mas estão me atormentando para serem escritos.
Em resumo, eu só quero dizer que eu nunca prometi que essa fic seria perfeita, cheia de romance e melação, e acho que todo mundo que chegou até aqui entende isso. Sou a favor de finais felizes, mas cada um tem uma ideia do que é "feliz". A história começou a ser contada por causa da Carlie, e vai girar em torno dela até o fim.
Porém, é como eu já disse: Entrelinhas...