Meu Malvado Favorito escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 27
Quem manda aqui sou EU! (2ª fase)




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O Sol forte parecia estar a pino em nossas cabeças – mais um pouco e meu estômago começaria a reclamar. Estávamos em frente ao imenso prédio que era usado, nada discretamente, como esconderijo, e minha irritação já havia chegado num nível perigoso. A polícia afastou todos da região, e agora a praça estava infestada de policiais e quatro pessoas deslocadas tentando ter alguma voz em meio aquilo tudo. E era justamente isso, somado a demora ridícula para invadirmos, que estava me deixando cada vez mais zangado.

Eu não era do tipo que levava ordens. Na verdade, essa era uma das vantagens de trabalhar para Aro: Ele sabia quem eu era, sabia que meu trabalho era bom, e já fazia muitos anos desde que todas as minhas células ficavam sob meu comando. E agora eu tinha que aguentar um almofadinha tentando controlar tudo, Emmett e Alice reclamando na minha orelha como se eu já não estivesse puto o suficiente, e Bella defendendo o protocolo dos policiais.

“Edward, você já parou pra pensar em como o mundo seria se a polícia agisse como bandidos?” Ela perguntou distraidamente. Eu só não respondi o que queria porque ela estava carregando uma arma potente demais.

Não é como se as pessoas dentro do prédio não soubessem que tomaríamos medidas drásticas – na verdade, era exatamente isso que eles queriam. Ignoraram todos os avisos, provavelmente carregando suas armas e armando diversas emboscadas para nós. Felizmente, nós conhecíamos muito bem seus truques, e a cada segundo que passava a imagem de minhas mãos em volta do pescoço de Aro me deixavam mais atento.

Jasper estava prestes a dar a ordem, e eu simplesmente precisaria esperar. Paralisei no meio da praça, observando o prédio como se tentasse entender uma obra de arte. Alice pulou ao meu lado e abraçou meus ombros. Ela começou a tagarelar algo sobre o que iríamos almoçar quando saíssemos de lá, e eu sorri com a ideia tão inocente. Antes que eu pudesse responder, nós dois voltamos nossa atenção para o outro lado da praça, bem longe do prédio dos Volturi e de onde nós estávamos. O pouco espaço livre foi usado por um helicóptero pousando estrondosamente, e logo todos os olhares estavam naquela direção. Pertencia ao FBI, é claro, mas não estávamos esperando reforços. Todos ficaram em silêncio na expectativa de ver quem desceria dali.

Com as hélices ainda ligadas, o primeiro passageiro saltou. Eu demorei um pouco para identificar quem era a mulher; usava uma blusa florida e um chapéu gigantesco como se estivesse em uma viagem de férias. Ela olhou para todos, e então sorriu, acenando para alguém atrás de nós. Alice arregalou os olhos e me soltou, não acreditando no que via.

– Mãe? – Bella estava ao meu lado, de repente. Seu cabelo solto voava em todas as direções, e ela não se importou de tirar alguns fios do rosto. – O que está fazendo aqui?

Ela não parecia demonstrar nenhuma opinião sobre a presença de Renée ali. Sua chegada podia ter sido um pouco exagerada, mas ela havia tido o mesmo treinamento que qualquer agente, e seria de grande ajuda.

Mas é claro que não acabou assim.

Ela não respondeu a pergunta de sua filha – ao invés disso, virou novamente para o helicóptero, erguendo os braços para a porta. E então minha filha desceu, sendo amparada por Renée, que sorria como se estivesse levando a menina para a Disney. Bella respirou fundo como se estivesse tendo um infarto, e eu a teria amparado, se não estivesse pior. Carlie desceu do colo de Renée rapidamente e correu até nós, abraçando meu quadril como se sua vida dependesse disso. Nenhum de nós disse nada.

– MÃE! – Bella gritou quando voltou a si. – VOCÊ ENLOUQUECEU? – Perguntou.

Ela andou até nós, segurando o chapéu na cabeça quando o mesmo ameaçou voar. Eu ainda não havia reagido a tudo aquilo; minha irritação desapareceu ao sentir minha filha me abraçar, mas eu não sabia exatamente qual sentimento a substituiu. Emmett correu até nós e pegou a menina no colo, provavelmente temendo que eu estivesse em estado de choque.

– Bella, é exatamente por coisas assim que seu primeiro relacionamento sério está sendo após os 25 anos de idade. Por que se estressar tanto? – Renée perguntou calmamente.

A garota segurou a ponte do nariz, deixando a mão livre na cintura. – É claro, mamãe, eu tenho certeza de que há uma explicação plausível para isso.

– É claro, querida! Carlie estava com saudade do pai dela. Ligou para mim, dizendo que como eu era do FBI poderia trazê-la. E já fazia muito tempo desde que eu não entrava em algo tão grandioso assim. Ficar enfiada num porão não faz muito bem pros miolos!

Carlie riu com a última palavra que ela disse. Com esse som, eu precisei acordar.

– E Rosalie? – Perguntei cheio de pressa. – Ela deixou isso acontecer?

– Ela não sabe! – Carlie deu os ombros e entortou a cabeça, fazendo seu rabo-de-cavalo se mexer. – Ainda não, eu acho... Eu deixei um bilhete!

O barulho das hélices do helicóptero diminui, nos dando mais paz para conversar. Alguns policiais curiosos atrás de nós se aproximaram, mas desistiram de tentar entender. Bella bufou e puxou sua mãe para o meio de nós dois. – Renée, você chegou ao seu limite! Como pôde trazer uma criança pra cá? O que diabos vamos fazer com ela? Você ficou maluca? – Murmurou.

– Não fale assim com sua mãe! – Reclamou. – Eu ainda neguei que ela trouxesse aquele cachorrinho!

Ela estava prestes a responder, mais nervosa do que deveria, quando Carlie saltou do colo do “tio” e correu de volta para mim. Ela abraçou meu quadril e fez um bico, me olhando um pouco triste. – Papai, você está bravo comigo? – Perguntou num tom de cortar o coração.

– Eu não estou bravo, Carlie, é que... Nós explicamos a você porque não a trouxemos. Você não deveria ter vindo! – Expliquei, agachado a sua frente.

– Mas você falou que se eu precisasse de qualquer coisa era só ligar! E eu decorei os números importantes! E aí liguei...

– Eu não duvido que você decore quantos números quiser, Chocolate. – Eu ri baixinho. – Mas eu dei uma ordem, dizendo que você deveria ficar com Rosalie. E além de me desobedecer, você mentiu pra ela! Sabe como deve estar preocupada?

– Mas ela me levou pra Seattle! Eu queria ter ficado em Chicago pra brincar com a Claire! – Reclamou.

– Depois de tudo que aconteceu no orfanato, você ainda planejava voltar pra lá? – Franzi a testa. – Você pirou ou o quê?

Ela suspirou e abaixou um pouco a cabeça, pensando no assunto. Eu a peguei no colo e fiquei em pé, olhando para Bella.

– O que vamos fazer? – Perguntei.

– Edward, ela não pode ficar aqui. – Alice disse, cruzando os braços tatuados, e todos olhamos para ela.

– O quê? Do que estão falando? – A menina retrucou, quase pulando dos meus braços. – Eu posso, sim! Eu vim pra ajudar vocês!

– Você vai ajudar ficando segura. – Bella disse, olhando de relance para o aglomerado de policiais perto da entrada do prédio. – Renée vai levá-la, e quando acabarmos aqui nos encontramos.

– NEM PENSAR! – Ela gritou, cruzando os braços.

– Qual é, você vai gostar de conhecer a cidade! Pode comprar alguma coisa italiana legal pra mostrar pra Claire! – Emmett tentou incentivar.

– Eu não vou pra nenhuma droga de cidade! Se tentarem me levar daqui, eu vou fugir! – Ela ameaçou.

– Carlie, isso não é jeito de falar! Você quer começar a usar a latinha do palavrão, também? – Eu a repreendi, olhando sério para ela.

Eu coloquei a menina no chão, recusando quando ela esticou os braços para mim novamente. Ela abraçou meu quadril e ficou ali, paralisada. Não demorou muito para seus olhos encherem d’água e ela dar um passo para o lado, abraçando a cintura de Bella com ainda mais força. – Desculpe, mamãe! Eu só estava com saudade de vocês, e pensei que poderia ajudar. Por favor, não me leva pra longe daqui! Eu prometo que fico quietinha e faço tudo o que vocês mandarem!

É claro que eu conhecia aquele filhote de raposa o suficiente para saber que ela não atravessaria um oceano, sabendo que estava fazendo algo errado, sem um plano muito bem elaborado. Bom, naquele momento, ela quase me convenceu. Mas então eu vi um quase sorriso em seus lábios quando Bella suspirou, derrotada. Emmett, Alice e Renee se entreolharam, emocionados com a cena que a menina fazia. Eu revirei os olhos, esperando pela novela mexicana que ela iria tramar.

– Você tem que prometer de verdade que vai nos obedecer. – Bella agachou para olhar em seus olhos. – Você entende que isso é perigoso, não é?

– Eu sei, Bella-Bell, você pode confiar em mim! É só mandar que eu faço! Mas, por favor, me deixa ir lá com vocês! Você disse que nós estávamos todos juntos nessa... – Carlie fez um bico, deixando sua mãe a ponto de chorar.

Bella assentiu, sem saber direito o que fazer, e ficou novamente em pé. Passou as mãos pelo longo cabelo e então bufou, olhando para mim. – Bom, não é como se essa fosse a primeira loucura que eu faço nos últimos meses, não é?

Carlie olhou para mim, esperando que eu aprovasse a ideia também. Certo, não é como se eu não estivesse morrendo de medo daquilo, mas que escolha eu tinha? Ela definitivamente estava falando sério sobre fugir. Tá legal, fazer isso foi uma maluquice – e na hora eu não tinha ideia do que poderia acontecer -, mas... Acho que sem decisões impulsivas metade dessa história não teria existido.

Eu assenti brevemente, e ela deu um pulo no mesmo instante, comemorando. Correu até mim, dizendo “obrigada” incontáveis vezes. Eu esperei que as quatro pessoas a nossa volta estivessem distraídos em suas próprias conversas para me abaixar e rir no ouvido da menina. – Quando voltarmos para casa, você vai direto para uma escola de teatro.

Ela riu de volta e abraçou meu pescoço, segurando firmemente quando a ergui em meu colo mais uma vez.

– Edward, o que... O que é isso? – Eu coloquei minha filha em meus ombros, olhando para Jasper ainda com um sorriso no rosto. Ele abriu passagem em meio aos homens uniformizados, se aproximando de nós, com Charlie o seguindo. – O que ela está fazendo aqui? – Perguntou, assustado.

– Eu vim com a Renee! – Carlie gritou, animada.

– É claro. – Charlie suspirou, olhando para sua ex-mulher. Bella se aproximou de nós e colocou uma mão em minhas costas, olhando para seu pai com uma expressão preocupada. – Você sabe que isso é perigoso demais. – Ele disse.

– Nós assumimos a responsabilidade. Ela já está aqui, não há mais o que fazer, Charlie. Ninguém nem mesmo precisa vê-la, nós vamos levá-la para algum lugar seguro. – Explicou.

– Lugar seguro? Lá dentro? – Jasper rebateu.

– O que? Você acha mesmo que Aro vai dar a cara a tapa tão fácil? – Eu ri, colocando Carlie no chão, a minha frente. – O andar em que ele estiver vai estar completamente isolado.

– E vocês vão conseguir chegar lá. – Jasper zombou, empinando o nariz.

– Eu tenho a melhor agente dos Estados Unidos. – Sorri, recebendo um abraço de Bella.

Jasper balançou a cabeça numa negativa e deu um passo a frente. – Edward, eu prometi que iria ajudar vocês, mas isso realmente passou dos limites. Eu não vou permitir isso. Ou a menina vai embora, ou vocês não entram.

– E quem vai nos expulsar daqui? Você? – Zombei.

– Se for preciso, eu prendo vocês. Mas a menina fica segura. – Ele ameaçou.

Com essas palavras, imediatamente senti Emmett e Alice pararem atrás de mim. Qualquer detalhe amigável sumiu de meu rosto imediatamente, a medida que meu sangue subia. Bella puxou Carlie e deu um passo para trás, afastando-se. Se toda a minha irritação havia passado com a chegada de minha filha, ela voltara, em dobro. Eu olhei sério para Jasper, arqueando uma das sobrancelhas como se o desafiasse, me aproximando devagar.

– Ah, você vai? – Cerrei os olhos. Ele tentou empinar o nariz e manter a pose, mas não foi suficiente. Meu corpo estava a ponto de começar a tremer. – Pois você preste bem atenção nisso, sua bicha! – Eu automaticamente ergui a mão até sua camisa, segurando o colarinho. – Eu estou nessa merda de lugar desde que cheguei nesse maldito país, esperando você virar homem e fazer alguma coisa. Eu não tenho que obedecer nenhuma das suas ordens! – O resto dos policiais começaram a olhar para nós, mas eu não parei. – Não me diga o que fazer com a minha própria filha. Ela vai estar onde eu estiver, e eu vou fazer de tudo para mantê-la segura!

Percebi que minha voz estava alta demais, e parei. Praticamente todos prestavam atenção naquela cena. Suspirei e soltei a camisa de Jasper aos poucos – só ali notei que seus pés não estavam mais no chão. Dei um passo para trás, ainda olhando da mesma maneira para ele, que tentava esconder seu medo com aquela expressão irritante de general.

– Não acredito que é assim que vai nos agradecer! – Charlie tentou entrar na briga.

– Como ele nos agradeceu ameaçando nos mandar de volta pra cadeia? – Rebati. – Vocês nem mesmo estariam aqui se não fosse por nós! – Virei um pouco o corpo, puxando a arma que Alice carregava. – Não temos que obedecer ninguém, porque com esse plano ridículo e esse bando de robôs vão morrer no primeiro minuto lá dentro. Eu não fiz nenhuma porra de juramento, e eu quero que a América se foda! Eu estou aqui pra mandar aquele filho da puta pro inferno, e o que vocês vão fazer com o resto não me interessa. Agora nós mandamos nisso aqui!

Eu ergui a mão que carregava a arma e atirei para cima. Os poucos policiais que ainda não carregavam nada deram um passo para trás, sem saber o que fazer. Guardei meu revólver, peguei Carlie no colo e comecei a andar na direção do prédio, sendo seguido pelos outros três.

– Essa criança não vai entrar aí! – Charlie gritou em minhas costas.

– Tente me parar! – Rebati.

Eu abri os dois lados da imensa porta e desviei para o lado, abraçando Carlie bem próxima a mim. Alguns tiros saíram dali de dentro, mas de onde estava não pude ver quantos homens atiravam. Eles acertaram três policiais do lado de fora, mas somente Emmett foi necessário para matar quem quer que estivesse lá dentro. Como se recompensasse a si mesmo por isso, foi o primeiro a entrar, apontando seu revólver com absoluta precisão. Depois disso, tudo ficou confuso demais – os policiais começaram a correr para dentro num ritmo desenfreado e, quantos mais homens entravam, mais Jasper gritava para que parassem. Por fim, ele mesmo desistiu, entrando no prédio logo após Charlie e Renée.

Carlie ergueu a cabeça do meu ombro para prestar atenção no barulho que vinha do lado de dentro. Naquele segundo, me arrependi do que estava fazendo. Abracei minha filha com força, e então a coloquei no chão, agachando para olhar em seus olhos. – Nós estamos juntos agora. Você confia em mim? – Ela assentiu, assustada quando um tiro mais alto soou. – Faça apenas o que eu mandar. Por favor.

Acho que, até aquele momento, a coisa mais perigosa que Carlie havia presenciado foi o ataque no orfanato. E ela não viu acontecer, realmente. Eu não sabia como ela iria reagir, mas era agora ou nunca, e nem mesmo sob minha proteção ela deixaria de ser afetada pelas cenas tão fortes que estava prestes a vivenciar.

Bella e Alice ainda estavam do lado de fora, mas só percebi quando elas correram e pararam ao nosso lado, sérias. Eu joguei a arma de Alice de volta para ela, mas a garota demorou para correr para dentro do prédio, analisando o objeto. Bella se jogou em minha direção, colando os lábios nos meus para um beijo casto. Ninguém precisou dizer nada. Ela deu um abraço demorado em nossa filha, então, e pude ouvir quando sussurrou que a amava. Bella deixou uma das armas que carregava comigo antes de desaparecer junto a Alice.

E então, éramos só nós dois. A coisa mais sensata teria sido correr para longe com ela, deixá-la em segurança, mas a verdade talvez era que sempre fomos dois viciados em adrenalina. Eu segurei sua mão e dei um passo, um único passo, para que entrássemos no prédio. Sua expressão assustada foi substituída por muita ansiedade. Nem mesmo os três corpos ensanguentados no chão conseguiram amedrontá-la.

A porta principal mostrava direto um enorme corredor, tão grande que mal podíamos ver a curva que fazia no final. Deveria ter sido muito bem decorado, mas agora estava destruído. Avancei com Carlie, apontando minha arma para frente em uma mão e segurando seus dedinhos trêmulos em outra. Alguns metros a frente, encontramos mais dois corpos, que eu não havia percebido antes. Ela arregalou os olhos para eles, curiosa. A nossa direita, então, finalmente vi o precisava: Uma porta. Absolutamente discreta. Arrisquei e a abri, encontrando nossa salvação.

– Nós vamos subir? – Murmurou ao ver a escadaria circular.

– Não é seguro aqui. – Respondi no mesmo tom. – Vai na frente. – Dei um pequeno empurrãozinho nela.

Ela obedeceu, mas olhava constantemente para trás, como se estivesse com medo que eu desaparecesse. Fiz com que subisse até o terceiro andar, e lá a puxei pelo outro corredor que encontramos, deixando seu corpo cada vez mais próximo do meu. Estranhamente, todos os lugares por onde passávamos tinham velas para iluminar o ambiente, presas em adornos nas paredes. Mas isso até que foi de grande ajuda – um vulto na curva do corredor me fez prender a respiração e encostar na parede, obrigando-a a me imitar.

– Você está com medo? – Ela sussurrou, me abraçando de lado.

– Não. – Menti, tentando ver se a figura ia embora.

– Papai, me desculpe. Eu sei que você está bravo comigo. Eu não deveria ter vindo. – Ela choramingou.

Eu olhei para ela, e vi em seu rosto delicado que, dessa vez, estava sendo sincera. Olhei mais uma vez para o outro lado e, ao ver o próximo corredor livre, agachei a sua frente.

– Eu não estou bravo. – Murmurei, tocando seu ombro. – Eu certamente não queria que você estivesse aqui, porque é perigoso demais, mas você está, e eu vou fazer de tudo para ficarmos bem. Você está arrependida, não é? Porque está assustada. Mas você é corajosa, Chocolate, e nós somos uma ótima dupla! Você vai ver.

– Eu confio em você. – Ela respondeu. – Você acaba com qualquer um desses caras!

Eu sorri em resposta, ficando em pé e voltando a segurar sua mão. Quando estava prestes a responder, felizmente consegui ouvir alguém se aproximando – provavelmente o mesmo homem de antes. Veio um pouco mais para frente, e conseguiu nos ver também. Eu coloquei Carlie atrás de mim e apontei meu revólver para ele; mais um passo e eu atirei em cheio, dando-lhe tempo apenas de gritar um palavrão em italiano.

Olhei de relance para minha filha e, ao perceber que não estava assustada demais com tal cena, indiquei com a cabeça para que continuássemos andando. Afinal, o que eu queria? Eu não deveria ficar na escada e fingir que não estávamos ali? Talvez. Se eu não estivesse com tanta vontade de encontrar Aro. Um pouco suicida, ou irracional, mas definitivamente nada egoísta.

Nós passamos pelo corpo do bandido e viramos o corredor. Ali, o corredor era um pouco mais largo, mas mantinha o mesmo ar... Antigo. Eu realmente não compreendia. Os Volturi ganhavam o suficiente para colocar muito mais tecnologia ali. Havia uma porta apenas no final, e era diferente da maioria, talvez por ser dupla, ou pelos desenhos ornamentados na madeira. Eu coloquei Carlie um pouco a frente e avancei cuidadosamente com ela. Quando estava perto o suficiente, girei uma das maçanetas, sempre mantendo minha arma preparada para qualquer coisa que encontrasse.

Mas a sala que encontramos estava vazia. Era enorme, circular, provavelmente estávamos bem no topo do prédio. Havia uma mesa de madeira escura, enorme, cheia de papeis e computadores, e incrivelmente um lustre lotado de pequenas lâmpadas bastante delicadas. Nós podíamos ouvir a confusão nos andares abaixo. Parecia que o prédio estava sendo implodido. Era estranha a sensação – centenas de pessoas lá embaixo no meio de um tiroteio, inclusive pessoas que eu amava, e eu ali, andando tranquilamente com minha filha como se fizéssemos um tour pela Itália.

Carlie correu para o centro da enorme sala, ignorando minha rápida bronca, e olhou em volta cheia de animação. Eu corri para perto dela no segundo perfeito porque, exatamente quando minha mão tocou seu ombro e eu a repreendi por se afastar daquela maneira, uma porta lateral se abriu. Nós paralisamos e olhamos na mesma direção.

Sem a menor pressa, o homem se aproximou. Usava um terno impecável, da mesma cor do cabelo comprido. Ajeitou as mãos nos bolsos da calça e nos encarou, não assustado, mas sim cheio de curiosidade. Ele olhou em volta, e então voltou a nos encarar, como se fizesse uma pergunta muda. Eu fiquei sério, olhando diretamente em seus olhos, mas Carlie me abraçou e escondeu o rosto em minha barriga. Ela já o conhecia, e não gostava nada dele. Aro. O homem que eu sempre admirei, que sempre sonhei em conhecer, e que agora queria ver morto. Porque colocá-lo na cadeia não seria suficiente. Ele merecia coisa pior, muito pior.

– Edward? – Ele falou, e sua voz me causou um arrepio na espinha. Acho que tentou sorrir. – Edward Masen?

Quando ele pronunciou meu nome, Carlie virou, ficando bem a minha frente como um cãozinho irritado. Eu não consegui dizer nada. Eu não sabia o que fazer. Minha única preocupação era tirar minha filha dali antes que ele apontasse uma arma na minha cabeça, da maneira mais fria possível. Era o que ele provavelmente faria. Afinal, se eu me considerava bom no que fazia, ele era no mínimo 10 vezes melhor. Seria muito fácil acabar com nós dois.

Nós nos encaramos por longos segundos, até que ele quebrou o silêncio com um longo suspiro. Bastou estalar o dedo e, antes que eu pudesse perceber, alguém estava atrás de mim. Segurei Carlie da maneira mais protetora que pude a minha frente, e deu certo, mas ele conseguiu pegar minha arma. Virei o rosto, mas não reconheci o homem.

Aro sorriu para nós mas, para minha surpresa, não estava armado. Ele olhou para Carlie e abriu um sorriso enorme. Ela se colou ainda mais ao meu corpo, e eu abracei seus ombros em resposta. Estávamos tão fodidos. E eu nem mesmo sabia o que esperar. A única coisa que eu poderia fazer, e a única que fiz, foi segurá-la junto a mim. Eu nunca deixaria Aro encostar um dedo nela.

Aquela troca de olhares patética poderia ter durado horas mas, para minha felicidade, aquela menininha em meus braços parecia sempre ter um anjo da guarda por perto.

Quase ao meu lado, o homem desconhecido deixou o revólver cair. E então, ele mesmo foi ao chão, morto. Hesitei um pouco, mas precisei virar o rosto para descobrir de onde viera o tiro tão certeiro que o matou. A primeira coisa que vi foi Bella, olhando cheia de raiva para o homem a minha frente. A mesma figura sexy de sempre, em suas roupas pretas, o cabelo solto, a arma potente e a expressão de quem está pronta para matar qualquer idiota que aparecer a sua frente. Mas quem tinha o revólver apontado para a vítima não era ela, e sim sua mãe, em trajes parecidos, bem ao seu lado.

Eu quase sorri – não sabia porque, mas simplesmente não me sentia mais tão perdido assim. Até que Aro retirou a mão do bolso e apontou sua pistola na direção de Bella.

E então era ele quem estava perdido.



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Notas finais do capítulo

Vocês não sabem como esse capítulo foi difícil de escrever! Eu queria que ficasse perfeito /: Não pretendia dividir toda essa coisa da Itália em duas partes, mas só esse começo ficou maior do que eu esperava, então... A briga MESMO só no próximo, com direito a papinho com o Aro, muito tiro e muito sangue, do jeito que eu gosto! Eu sei que muita gente vai achar absurdo a Carlie estar lá, mas confiem em mim, ela está adorando! AHUAHUAHUAHU E vamos em frente pq eu adoro um draminha no final de fic! Hehehe Até o próximo!
PS: Essa capa nova lindona foi feita pela Mikka, uma leitora do TBF. Meus agradecimentos aqui também!