Meu Malvado Favorito escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 25
Minha, sua, nossa (2ª fase)




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– Edward?

Eu conhecia aquela voz, e a adorava. Infelizmente, não consegui distinguir se já estava acordado ou tudo não passava de um sonho. Um par de dedos subiu lentamente por minhas costas, me causando arrepios e um pequeno suspense ao imaginar onde pretendiam ir.

Abri os olhos lentamente; a visão da minha cara amassada a fez rir. Bella acariciou minha nuca e se inclinou um pouco mais para beijar meus lábios. – Bom dia. – Disse.

Eu esfreguei os olhos e bocejei, coçando meu peito nu preguiçosamente. Ela estava vestida outra vez, para minha infelicidade.

– Vou apanhar? – Perguntei, divertido, ao lembrar de nossa conversa na noite anterior.

– Ainda não. – Rebateu. Pude ver em seus olhos zombeteiros que a discussão já fora esquecida. – Só achei que você gostaria de saber que tem uma menininha muito animada pra sair, lá no andar de baixo.

– Foi você quem prometeu isso a ela! – Gemi, ainda sonolento demais.

– Ah, vamos, Edward! Ela disse que tem uma surpresa pra você... – Sua expressão pedinte era irresistível. – Nós podemos pensar em algo, ninguém vai nos reconhecer no orfanato. Vai ser divertido!

– Desde quando você acha graça em desobedecer a lei? – Perguntei em meio a uma risada.

– Carlie sabe convencer as pessoas. Você tem uma pequena arma letal dentro de casa, sabia disso?

Eu estava prestes a responder quando a porta do quarto abriu abruptamente. Vi apenas um vulto laranja enquanto a menina corria em direção a cama; os braços de Bella logo foram substituídos por 30 kg de pura agitação em cima de mim.

– Papai, papai, papai, vamos logo, levanta daí, vamos, vamos, vamos! – Ela deu alguns tapas em minha barriga enquanto falava, afastando o cobertor de mim e tentando me puxar para fora da cama. Eu fechei os olhos, virei de bruços e fingi estar dormindo outra vez. – Pai!

Só reagi novamente quando uma delas puxou o elástico da samba-canção que eu usava, fazendo-o bater com força contra minha pele. Ambas riram enquanto eu sentava no colchão, irritado.

– Bom dia, Carlie. – Resmunguei enquanto levantava.

– Bom dia! – Ela respondeu, animada. – Vamos logo, estamos atrasados!

Eu entrei no banheiro e bati a porta atrás de mim. Era muito fácil me deixar bravo pela manhã, e ninguém sabia disso melhor do que Carlie. Demorei algum tempo lá dentro, e ela tagarelou durante todos aqueles minutos.

Quando saí, pronto para lhe dar uma bronca desnecessária, tive que baixar a guarda com a cena que vi; ela estava deitada com a cabeça no peito de Bella, mexendo em seu cabelo comprido, falando algo baixo demais para que eu entendesse. Suspirei e atravessei o quarto até minha mala, colocando uma roupa qualquer.

– Você vai com a gente, não é? – Carlie perguntou ao ficar sentada, ainda sendo abraçada pela garota.

– É claro que sim. Eu prometi, não foi? – Sorri um pouco.

– Eu queria que a tia Alice e o tio Emmett também fossem, mas a Bella disse que vai ser muito perigoso...

Eu ajeitei a camiseta em meu corpo e me aproximei delas, ajoelhando ao lado da cama. Bella ficou séria, me acompanhando com o olhar, mas eu só prestei atenção a Carlie enquanto falava.

– Eu vou fazer isso porque sei como é importante pra você, mas preciso que entenda os riscos que vamos correr. Certo? – Ela assentiu, atenta. – Nós vamos nos disfarçar, e você não pode deixar ninguém te reconhecer, de jeito nenhum.

– Nem a Claire? – Ela choramingou.

– Tudo bem... A Claire pode, mas...

– O Jake pode ter um disfarce também?

Bella sorriu com a pergunta, apoiando o queixo no ombro da menina.

– É claro. – Eu ri e me coloquei de pé outra vez, batendo uma palma da mão na outra. – Muito bem, você tem 5 minutos pra procurar em todas as malas que encontrar e voltar aqui como uma pessoa completamente diferente. Eu vou confiar na sua criatividade!

Ela concordou com algumas palavras sem sentido, quase caindo ao descer correndo da cama. Assim que saiu do quarto, eu me joguei de volta ao lado de Bella, ajeitando a cabeça em seu peito. Ela ergueu as mãos até meu cabelo, acariciando-o em silêncio.

– Tem certeza que não está com raiva de mim? – Insisti após algum tempo ali. – Algumas marcas de unhas em minhas costas falam por si só.

– Talvez eu tenha ficado um pouco. – Ela riu. - Mas você já teve sua lição... E sou eu quem está aqui com você agora, não é?

Eu puxei uma de suas mãos e beijei a palma, olhando para ela logo em seguida.

– Então, alguma ideia brilhante? – Mudei de assunto, aliviado. – Antes que ela volte e nos obrigue a vestir algo ridículo?

– Não precisa ser brilhante! – Sorriu. - Qual é a melhor maneira de entrar num orfanato, senão...?

(...)

– E nós simplesmente amamos crianças! – Bella falava a mesma frase pela décima vez, forçando uma voz anasalada.

A freira gorducha que nos atendera, Sue, parecia encantada com o que ouvia. Discretamente, desci meu olhar outra vez pelas roupas que a garota arrumara; os saltos, a saia apertada, a blusa com decote exageradamente vulgar, tudo com uma estampa de um animal diferente. Usava uma maquiagem pesada que parecia milagrosamente mudar toda a sua fisionomia. E, como não podia faltar, uma peruca loira em sua cabeça.

– É ótimo ver um casal tão jovem disposto a um ato de amor como esse! – A mulher falou, emocionada.

Bella forçou uma risada irritante, erguendo a mão para acariciar meu cabelo. Assim que se lembrou que eu também usava uma peruca, disfarçou e enroscou o braço em meu quadril para me abraçar.

– Nossa pequena estava implorando por um irmãozinho! – Respondeu.

Eu segurei o riso ao virar a cabeça para Carlie, no canto da sala, cor-de-rosa dos pés a cabeça (a não ser pelo cabelo preto, como o meu). Ela mal conseguia andar com as roupas cheias de adereços, mas parecia feliz pelo plano estar dando certo. Jacob, ao seu lado, usava uma gravata também cor-de-rosa. Era bastante estranho aquele cachorro gigantesco tentar se passar por um poodle de madame, mas seus donos já eram estranhos o suficiente para que ninguém desconfiasse de nada.

– Então, prontos para ver as crianças? – Sue perguntou, saindo de trás do balcão onde estava.

– Ah, sim! Estamos tão ansiosos! Não é, meu xuxuzinho? – Ela apertou minhas bochechas ao me puxar para um beijo. – Não é, coisa linda?

Ela continuou a falar comigo como um cachorro enquanto seguíamos a freira, que parecia incomodada com a cena. Bella estava se divertindo muito com o personagem que criou, inventando histórias absurdas sobre seu passado e apelidos ridículos para mim. Com um pequeno sinal de cabeça meu, Carlie desapareceu com Jacob pela lateral da sala, indo atrás de suas antigas amigas.

As brincadeiras de Bella logo pararam; entramos num corredor comprido e escuro, e ambos automaticamente colocamos as mãos onde estavam escondidos nossos revólveres. O lugar era, de certa forma, sombrio. Havia crucifixos por todos os cantos, e a maioria das freiras passava por nós de cabeça baixa. Sue ia a frente, tagarelando. Ela parava em cada uma das portas para explicar o que havia lá dentro, mas nunca abria nenhuma.

Já quase no fim do corredor, passamos por uma janela enorme, onde pudemos ver o jardim e três homens armados montando guarda ali. Nós nos entreolhamos, sérios.

– E aqui é a sala... Hum, onde está a menina? – A freira virou para nós, preocupada.

Eu arrumei os óculos fundo de garrafa em meu rosto antes de responder com uma voz ainda mais ridícula que a de Bella.

– Erm... Deve estar brincando por aí... – Disse.

– Ah, isso, isso... Não é aconselhável.

– O quê? – Bella esqueceu de sua voz falsa, um pouco aflita. – Por quê?

A freira passou as mãos umas nas outras, demorando para achar as palavras certas. Eu já estava começando a desconfiar daquilo.

– Eu não sei... Eu...

– Aconteceu alguma coisa? – Bella insistiu. Ela tinha um dom estranho de arrancar o que quisesse das pessoas.

– É só que... Não é nada demais. Mas no começo desse ano uma das nossas meninas foi adotada... – Sussurrou. – E o homem era um bandido... Ou algo assim. Está sendo procurado. Ele, seus parceiros e uma policial que os ajudou. Nós não sabemos o que houve com a menina, mas está com eles...

– Oh, meu Deus! – Bella exclamou, voltando a sua personagem. Eu quase ri.

– O lugar aqui não era assim... Normalmente tínhamos crianças correndo por todos os cantos, era uma maravilha! Mas agora, nós estamos com medo! – A freira choramingou, olhando para mim. – E se vierem até nós? Eu me preocupo pelas meninas! E a história está passando, poucos casais estão vindo para cá agora...

– Eu entendo... – Respondi, realmente entristecido.

Ela levou uma mão ao crucifixo em seu peito e suspirou, olhando pela janela ao nosso lado.

– Felizmente temos protetores, agora. Esses policiais vieram para cá na semana passada, oferecendo auxílio. – Ela mostrou os homens no jardim com um aceno de cabeça. – Mesmo assim, não é seguro deixarem sua menina sozinha por aí! Eu mesma tenho receio quando as minhas pequenas brincam aqui dentro, imagine...

Ela continuou falando enquanto nós dois olhávamos pela janela, preocupados. O local estava cercado de policiais, o que significava que nossos disfarces estavam por um fio. Eles estavam ali justamente para nos pegar, já deviam ter decorado nossos rostos e todos os disfarces que já usamos e foram descobertos. Eles nos encaravam agora, atentos.

Mas, havia alguma coisa errada. Se o FBI ou qualquer distrito local tivesse mandado oficiais para cuidar do orfanato, Jasper saberia e teria nos avisado. De onde eles surgiram? E então, aquele pequeno detalhe chamou minha atenção: Por que usavam tantas roupas pretas? Onde estavam seus uniformes? Cerrei os olhos, tentando ver melhor qualquer detalhe em suas roupas ou seus rostos.

Quando meus olhos captaram suas mãos, eu tive a prova. Um dos homens usou a mão esquerda para um gesto que eu já conhecia. Seu polegar lentamente acariciou os outros quatro dedos, ida e volta. “Significa que encontramos o alvo.” Eu expliquei para Bella, ainda em Phoenix, o truque silencioso que todos os capangas de Aro usavam. “Repita para que todos vejam, conte até 5 e ele está morto.”

Nós esperamos, prendendo a respiração. Ele repetiu. A freira soltou um grito agudo quando nós sacamos nossas armas e disparamos de volta pelo corredor. Deixamos pelo meio do caminho tudo o que nos atrapalhava, especialmente as perucas. Nós aceleramos o máximo que podíamos, mas a porta a nossa frente parecia impossível de alcançar.

Não estávamos fugindo, é claro, já que eles não se importavam nem um pouco conosco.

Eles estavam ali por Carlie.

É claro, como eu pude ter sido tão ingênuo? Era a emboscada perfeita. Eu, Alice e Emmett aliados a polícia significávamos o fim de Aro, e pegar Carlie era a única maneira de tentar nos parar. Somado a isto, o quão óbvio poderia ser que, mais cedo ou mais tarde, cederíamos aos caprichos da menina de rever o lugar onde cresceu?

– Merda! – Bella gritou e se abaixou automaticamente ao ouvir um disparo vindo de uma janela. Já estávamos quase na saída, e arriscamos: nunca parando de correr.

Passamos pela grande porta de madeira e voltamos a sala onde a freira nos recepcionou. O corredor por onde Carlie havia sumido se dobrava em dois, e foi onde nos separamos. Eu corri o mais rápido que pude, abrindo todas as portas que encontrava, inclusive arrombando as trancadas. Não demorou muito para o barulho chamar atenção de todos.

Algumas meninas me viram e começaram a gritar; aquilo foi o estopim para um verdadeiro caos. Eu podia ouvir gritos e tiros em todos os cantos do orfanato, e seria mentira dizer que não me senti culpado por ter causado tudo isso num local cheio de crianças, mas minha única preocupação era encontrar era encontrar Carlie intacta.

Em uma das portas, finalmente, encontrei um quarto com pelo menos 20 camas, e na última delas estava minha filha e seu cachorro, ambos sem seu disfarce. Eu fechei a porta, guardei meu revólver o mais discretamente possível e andei até ela, apressado.

– O que é tudo isso, papai? – Ela perguntou. Uma outra garotinha estava ao seu lado e cada uma delas segurava uma Barbie.

– Nós precisamos ir. – Ordenei, tentando puxar sua mão.

– Mas eu estou brincando com a Claire! – Ela choramingou de volta.

Aquela foi a primeira vez que parei para analisar a menina. Ela tinha traços totalmente opostos aos de Carlie; pele morena, cabelos escuros, olhos quase pretos e levemente puxados. Mesmo que isso parecesse impossível, era ainda mais magra. E, ao contrário da ruivinha, que em nosso primeiro encontro logo me abraçou, ela me olhava como se eu fosse um assassino. Essa lembrança hoje me parece até engraçada... Mas, bom, isso são outros 500.

– Eu entendo, querida, mas nós realmente não podemos ficar aqui. – Eu respondi, tentando me controlar. – Você pode ver a Claire outra hora.

As duas meninas se olharam, a ponto de chorar. Um grito masculino veio do corredor, dizendo palavras que não entendi, mas foi suficiente para aumentar meu desespero. Elas perceberam isso em meus olhos e se abraçaram, numa despedida de cortar o coração.

Com os olhos cheios de lágrimas, Carlie virou para mim e esticou os braços, deixando que eu a pegasse no colo. Jacob veio para o meu lado no mesmo instante. Eu comecei a andar em direção a porta, mas sabia que não podia sair dali sem dizer algo para a menina assustada.

– Esconda-se. – Pedi.

– Ela vai ficar bem? – Sua voz doce perguntou.

– Eu prometo. – Respondi, carregando minha filha para fora do quarto. Eu fechei a porta atrás de mim e corri outra vez pelo corredor, procurando um lugar seguro; um pequeno quarto com produtos de limpeza pareceu perfeito.

Assim que abri a porta, Jacob estranhamente disparou para longe de mim, latindo. Simplesmente entrei ali sem ele; acendi a fraca lâmpada, tranquei a porta e a coloquei no chão, forçando-a a olhar em meus olhos quando agachei. – Carlie? Você precisa me obedecer. Entendeu? Precisa fazer tudo o que eu mandar.

– O que tá acontecendo? Cadê a Bella? – Chorou.

– Ela vai ficar bem. Agora, você se lembra do Aro, não lembra? – Perguntei, arregalando mais os olhos a cada segundo que passava.

– Eu não gosto dele! – Ela gritou.

– Eu sei que não, e nem eu. Nós dois sabemos que ele é mal, e não está sozinho. Se queremos ele longe de nós, precisamos ficar juntos agora. Você está comigo? – Ela assentiu, chorando demais para conseguir responder. – Certo. É assim que vamos fazer: Nós vamos contar até 5, vamos até lá, e quando eu mandar, você vai correr o máximo que conseguir pra longe daqui. Tudo bem?

– Por que nós não nos escondemos aqui? – Perguntou enquanto cessava o choro, secando as bochechas rosadas.


– Porque só covardes se escondem, Carlie.

– Você mandou a Claire se esconder! A Claire não é covarde! – Ela berrou.

– Não, mas a Claire ainda não tem treinamento de espiã como você. – Expliquei, e ela baixou a guarda. – Escuta, a Bella está lá, e nós vamos ajudá-la.

– Mas... Pra onde eu vou? – Ela franziu a testa.

Eu precisei pensar rápido, criando um pequeno mapa do quarteirão em minha cabeça.

– Há um cemitério na rua de trás. Entre e me espere atrás da banca de flores. – Ordenei.

– Eca! Por que um cemitério? – Ela reclamou. – O Jake não gosta de cemitérios!

– E esses caras também não! É uma plano perfeito. – Fiquei em pé.

Ela sorriu um pouco e assentiu, segurando minha mão. Eu puxei meu revólver de volta esperando uma reação ruim de sua parte, mas ela estava focada demais em sua missão para dar importância. Saí daquele depósito com ela sempre colada a mim, e era uma sensação terrível porque, assim que alguém surgisse a nossa frente, eu não sabia se seria capaz de proteger a nós dois ao mesmo tempo.

A recepção, antes impecável, estava destruída. Eu a guiei pelo mesmo corredor em que estive antes; quando passamos pelo jardim, Bella estava lá, nos olhando despreocupada. Avancei em sua direção, sem perceber um dos homens armados bem atrás de nós – ela foi mais rápida e o matou antes que pudesse fazer qualquer coisa. Olhei para trás a tempo de vê-lo caindo no chão em questão de segundos.

– Onde estão os outros dois? – Perguntei cheio de pressa, ainda segurando a mão de Carlie.

– Estão verificando as crianças. Acham que Carlie está escondida entre elas. – Bella mal olhou para mim enquanto falava, mais preocupada com a menina. Ela abaixou e chamou minha filha para perto. – Você está bem, querida?

– É claro que estou. Eu sou uma espiã. – Disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

– Uh, e isso é muito melhor do que ser uma princesa, certo? – Bella sorriu.

– Com certeza!

Ouvimos um latido quando Jacob veio em nossa direção, saindo de uma das portas que eu ainda desconhecia. Carlie foi abraçá-lo imediatamente; Bella ficou ereta outra vez e veio para perto de mim, preocupada.

– Já devem ter chamado a polícia. – Murmurou. – As freiras acham que eles estão aqui para ajudar, vamos ter que lidar com isso sozinhos. Precisamos tirá-la daqui.

Eu desviei os olhos dos dela para observar minha filha, abaixada enquanto conversava com seu cachorro. Eu já havia tramado o plano em minha cabeça, mas agora o local parecia muito mais calmo do que eu planejava ver. Poderíamos fugir agora sem encontrar nenhum problema?

Como se pudesse ler meus pensamentos, Bella tomou meu rosto em suas mãos e beijou levemente meus lábios, o que foi suficiente para me dar a coragem que precisava.

Foi aí que um pequeno imprevisto nos atrasou. Antes que eu pudesse falar com Carlie, a menina ergueu o rosto e me encarou, tristonha.

– Papai, o que ele tem? – Perguntou.

Eu agachei ao seu lado e franzi a testa, analisando Jacob. Uma de suas patas sangrava – claramente havia tomado um tiro de raspão em meio a confusão de antes. Eu coloquei o animal de pé e o forcei a andar, mas ele não conseguia apoiar a pata traseira no chão. A primeira coisa que fiz foi tranquilizar minha filha.

– Ele vai ficar bem. Está tudo bem. – Eu peguei Jacob no colo e fiquei em pé. – Acho que você vai ter que ir sem ele agora.

– Mas...! – Ela começou a retrucar.

– Ele vai ficar bem aqui. Vou escondê-lo e depois vamos cuidar dele em casa. Você não lembra o que falei sobre me obedecer?

Eu carreguei o animal até a recepção e o deixei atrás do balcão, fechando a pequena porta lateral para que não saísse. Ele deitou, provavelmente com dor. Carlie se esticou para vê-lo, a ponto de chorar.

– Eu prometo que ele vai ficar bem. – Disse, colocando uma mão em seu ombro. – Agora...

Tivemos um sobressalto juntos quando alguém atirou ali por perto. Carlie imediatamente lembrou de Bella e tentou correr para lá, mas eu a segurei pelos ombros e encarei seus olhos marejados.

– Vá para onde combinamos. Eu vou encontrá-la logo. – Ela tentou retrucar. – Corra!

Felizmente, ela me obedeceu sem hesitar mais. Eu dei meia-volta e corri o máximo que podia em direção ao jardim, mas minha preocupação foi desnecessária, é claro. Outro homem estava morto, bem aos pés de Bella, e ela apontava sua arma para um terceiro, de costas para mim.

– Onde está a menina? – Ele ainda se atreveu a perguntar.

– Cala a boca. – Bella mandou, tentando atirar em seu pé, mas ele desviou a tempo. Mas que droga de mulher fodidamente sexy!

Eu me aproximei do bandido por trás; com um movimento rápido, derrubei sua arma e segurei seus braços atrás do corpo. Bella se aproximou devagar, séria, ainda apontando seu revólver para ele. Ela franziu a testa, como se ainda estivesse pensando no que dizer, apesar de já ter tudo na ponta da língua, como sempre.

– Eu já matei seus dois amiguinhos frouxos e preciso só de um segundo pra acabar com você também. Então, é bom que responda tudo o que eu perguntar. – Ela fez uma pausa. – A pergunta é simples, e eu tenho certeza que seu cérebro inútil não precisa de muito trabalho pra encontrar a resposta: Onde está Aro?

– Itália. – Ele ofegou quando o cano do revólver de Bella espremeu sua garganta.

– Eu sei que é a Itália, seu idiota! Onde, exatamente, ele vive? – Ela insistiu.

– Ninguém sabe. Nenhum de nós sabe. – Mentiu.

Eu revirei os olhos, e Bella verbalizou para ele o que pensei.

– O trabalho dele está por um fio, a não ser que vocês peguem a menina. E eu tenho certeza que Aro não colocaria qualquer um pra capturá-la. É bom você falar logo.

Eu não estava vendo a expressão no rosto do homem, mas alguma coisa que ele fez realmente irritou Bella. Ela usou a mão livre para socar seu estômago. Eu fui para trás junto com ele, que ofegou com dor. Acho que, ao passo que eu ficava cada vez mais benevolente, Bella se tornava tão fria quanto eu costumava ser.

– Volterra. – Ele quase chorou. – Na província de Pisa.

– Já ouvi falar. – Ela rebateu quase para si mesma.

– Ele tem um esconderijo subterrâneo próximo ao Palazzo dei Priori. Fica bem no centro da cidade, não tem erro.

A garota arregalou os olhos para mim, mal acreditando que havíamos conseguido o endereço tão facilmente. Eu sorri para ela e joguei o homem no chão, quase em cima de seu colega morto. Quando ele tentou levantar, nós dois apontamos nossas armas em sua direção, e ele desistiu.

Sue veio correndo até nós sem se preocupar com o barulho que fazia; ela nos amaldiçoava de todas as maneiras que podia, balançando os braços exageradamente. Bella tentou explicar a situação e lhe dizer que não éramos nós quem pretendia fazer mal as crianças, mas ela não acreditou; ao invés disso, a freira ergueu a mão e ameaçou bater na garota. Se a conhecesse bem, saberia que isso só iria lhe garantir alguns minutos desacordada. Bella reagiu automaticamente, levando a freira ao chão. Ela arregalou os olhos para a cena, se dando conta do que fez.

– Eu vou para o inferno! – Gritou, realmente preocupada.

– Ora, por favor! – Eu guardei minha arma e peguei sua mão, correndo em direção a saída do orfanato. Outras freiras gritavam atrás de nós, assustadas. Fizemos apenas uma pequena pausa para pegar Jacob; Bella o segurou no colo com extremo cuidado.

Nós saímos e viramos a esquina correndo ao mesmo tempo em que uma viatura parou bem na frente do orfanato. Não paramos para checar se estavam nos seguindo. A banca de flores ficava bem ao lado da entrada do cemitério, e felizmente Carlie me obedeceu, esperando imóvel ali atrás. Nós agachamos ao seu lado – eu tapei a boca da menina e observamos por poucos segundos os policiais passando reto por nós.

Eu e Bella suspiramos, relaxando nossos corpos. Carlie, entre nós, abraçou seu cachorro extremamente preocupada.

– Vamos pra casa, Chocolate. – Murmurei, ficando em pé. – Jacob precisa de ajuda.

– Não, espera! - A menina pediu. – Eu quero te mostrar uma coisa.

Ela pegou minha mão e tentou me puxar para dentro do cemitério.

– Não tem nada aí, Carlie! O que foi? Pensei que não gostasse de cemitérios. – Retruquei, deixando que me guiasse.

– Não mesmo, mas eu acabei de ter a melhor ideia da história das melhores idéias!

Bella riu, vindo com Jacob logo atrás de nós. Se não fosse pelo clima melancólico, o lugar não passaria de um jardim impecável. É estranho dizer isso, mas havia um túmulo mais bonito que o outro.

Aquele passeio realmente demorou. Eu perguntei várias vezes o que Carlie estava procurando, mas ela não respondeu. Finalmente, para minha surpresa, ela parou. As lápides ornamentadas pareciam não ser visitadas há anos. E, realmente, pelo menos da minha parte, não eram.

Edward e Elizabeth Masen.

A menina ajoelhou no meio dos dois túmulos, olhando para cada um deles por alguns segundos. Eu permaneci em pé, um pouco distante, observando em silêncio sem saber qual era exatamente o sentimento que me inundava. Bella, ainda mais longe, estava com os olhos cheios d’água.

– Oi... Eu sou a Carlie. – Ela se apresentou. – Eu conheço o Edward há pouco tempo. Mas ele é ótimo, e é o melhor pai do mundo! Vocês devem se orgulhar. Desculpa se a gente demorou... Eu sei que vocês deviam estar com saudades.

Ela se virou e pediu silenciosamente para que me aproximasse. Assim o fiz, ajoelhando ao seu lado. Olhei os dois túmulos sem saber o que fazer. Ela tocou meu ombro e me incentivou com uma das mãozinhas.

– Eu não... Carlie...

– Eles podem te ouvir. – Ela explicou. – Conversa com eles, papai.

Respirei fundo, olhando em volta com certo receio, como se estivesse fazendo algo errado.

– Oi, mãe... Pai... – Comecei com a voz trêmula. – Desculpe a demora. – Minha voz ficou embargada e meus dedos esfregavam uns aos outros por nervosismo. Senti um arrepio estranho em meu nariz quando algumas lágrimas ameaçaram sair. – Está tudo bem. Certo, nem tanto. Mas... Eu estou bem. Estou feliz.

Fechei a mão com força e a pressionei contra os lábios. Carlie franziu a testa e tombou a cabecinha para o lado, desaprovando meu gesto.

– Não há nada de errado em chorar. Faz bem. – Ela incentivou. Olhei para a garotinha por poucos segundos, sem lhe dar ouvidos.

Um soluço saiu pela minha garganta, e eu deixei que as lágrimas descessem por minhas bochechas. Senti a menina se aproximar e passei meu braço em volta de seus ombros, abraçando-a ao puxar seu corpo mais perto do meu. Ambos voltamos a olhar as lápides.

– Pois é... Agora eu tenho essa pequena nos meus calcanhares. – Ri baixinho, mas logo a tristeza me invadiu. – Eu não tenho uma vida que vocês aprovariam. Não é? Pai? – Olhei para a lápide dele com um suspiro. – Eu vou fazer vocês se orgulharem de mim. É uma promessa. – Desta vez, fitei a lápide de minha mãe, recomeçando a chorar. – Você se lembra, mamãe? Se lembra de quando eu era só uma criança que adorava dormir no seu colo, e vivia prometendo que iria te dar a lua? – Terminei a frase com dificuldade. – Eu vou. E muito mais. Confiem em mim. Eu amo vocês... E sinto saudades. Todos os dias. Eu nunca esqueci vocês...

Carlie apoiou o rosto em meu braço e eu a abracei mais forte, beijando o topo de sua cabeça. Aos poucos, me senti cada vez mais confortável para conversar com meus pais. Eu nunca fui do tipo que acreditava em qualquer coisa após a morte, e é claro que um simples momento como aquele não mudaria minha opinião, mas alguma coisa me dizia que minhas palavras tinha mais significado do que parecia.

– Eu... Eu encontrei alguém. – Sussurrei, não querendo que Bella escutasse minhas palavras bobas sobre ela. – E ela é incrível. Quer dizer... Ela me entende, e me ajuda, e droga, como é linda. – Carlie sorriu um pouco com minhas palavras, ainda em silêncio. – É um pouco mandona e exagerada, mas... Tem um ótimo coração. Eu a amo. Espero que ela saiba disso. – Olhei de relance para a garota, que sorriu para mim, mesmo sem saber do que eu falava. Meu coração esquentou com tal cena.

Voltei a olhar pra frente e suspirei, deixando mais lágrimas saírem. – Pai, quando você brigava comigo e dizia que tudo o que fazia era por sua família, eu não entendia. Mas agora... Agora eu sei o que é ter um motivo pra lutar. – Os rostos de Alice e Emmett vieram imediatamente a minha mente, e eu sorri. – E eu não estou sozinho nisso. Vocês ainda vão se orgulhar de mim. É uma promessa.

Eu sentei na grama e coloquei a cabeça entre os joelhos. Algum tempo depois, senti Carlie tocar meu ombro, me chamando. Eu ergui a cabeça e a vi novamente em pé, sorrindo tristemente para mim. Ela parecia muito madura ali, apesar da roupa completamente rosa e infantil demais.

Segurei sua mãozinha e obriguei minhas pernas a me colocarem ereto, sem nunca tirar os olhos de onde meus pais dormiriam eternamente.

Dei alguns passos pra trás e, ao chegar ao lado de Bella, peguei o cachorro de seu colo para que descansasse os braços. Ela sorriu um pouco, deixando um beijo em minha bochecha.

Carlie se colocou no meio de nós e abraçou a cintura de Bella. – Vamos pra casa, mamãe. – Ela pediu despreocupadamente.

Eu ergui as sobrancelhas automaticamente ao ouvir aquilo. Sem demonstrar nenhuma surpresa, Bella sorriu e assentiu, indo em direção a saída do cemitério de mãos dadas com a menina.

Com nossa menina.



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Notas finais do capítulo

Aconteceu uma coisa engraçada comigo esses dias. Eu sonhei com a Bella, e ela me perguntou sobre o final da história, e disse que queria saber logo se ia dar tudo certo pra ela. Eu não respondi, lógico, quem ela pensa que é pra vir me pedir spoiler? Mas eu sei que não é bom contrariá-la, portanto venho tristemente avisar que logo logo teremos Volterra, e isso significa reta final da fic. Awwww ): Mas é claro que nossas cabeças já estão a mil pra uma nova história, né? Ah! Tambem quero avisar para os desgarrados de plantão que agora a fic também está no FF (http://www.fanfiction.net/u/3982440/mulleriana), pra quem prefere ler por lá, ou não tem conta aqui - reviews são sempre bem vindas em qualquer lugar! Hahaha Beijos e espero que tenham curtido!
PS: Pois é, eu enlouqueci de vez e editei todos os capítulos. Não mudou nada na história, só queria deixar com um visual melhor, assim fica mais limpo pra ler (pelo menos eu acho...) Foi muito cansativo e não sinto meus dedos, mas tá lindo! hehehe