Meu Malvado Favorito escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 21
Tal mãe, tal filha (2ª fase)




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Precisamos de mais duas ou três paradas durante a viagem. Adiamos ao máximo sair do carro ou simplesmente diminuir a velocidade, mas essas coisas são inevitáveis com uma criança a bordo.

Compramos todo o tipo de porcaria numa lanchonete em Sacramento, o que não nos poupou da necessidade de usar o banheiro. Escolhemos lugares praticamente vazios na beira da estrada e fomos cuidadosos ao máximo ao sair em público; a única coisa que me deixava em paz era saber que, quanto mais nos afastávamos de Washington, mais seguros estávamos.

Nossa última parada, antes de finalmente chegarmos ao nosso destino, foi próxima a divisa com o Arizona. Já era noite outra vez. Bella voltou em direção ao carro e foi direto para o lado do motorista, mas eu a segui e segurei seu braço.

- Você precisa descansar. – Ela me olhou por trás dos óculos escuros e obedeceu, dando a volta.

Eu assumi o volante. Alice, Emmett e Carlie se ajeitaram atrás, com Jake a seus pés. A menina deu o último mini-muffin para ele (mesmo que o vira-lata já tivesse comido vários). Felizmente ele estava quieto; acho que não gostava muito de andar de carro.

- Que música vamos cantar agora? – Ela perguntou animada para Emmett, querendo continuar o jogo que já perdurava por horas.

- Chega de músicas, Carlie. Tente dormir. – Eu disse, firme, guardando meus óculos no porta-luvas.

- Não estou com sono! – Ela retrucou.

- Você sempre diz isso, mas é só fechar os olhos que capota. – Sorri um pouco. – Estou falando sério, Carlie, durma. Ainda temos algumas horas pela frente.

Nossos olhos se encontraram pelo retrovisor. Ela fez um bico, percebendo que era uma causa perdida. Olhei para o lado rapidamente e vi Bella já dormindo, com a cabeça encostada na janela.

Sorri e pisei fundo no acelerador.

Tive algumas horas calmas enquanto todos dormiam. Com algumas simples modificações, Bella conseguiu que o rádio do Volvo captasse a freqüência da polícia. Deixei-o ligado, muito baixo. Pude aproveitar a paz que não tinha havia muito tempo, e fiquei ainda mais tranqüilo quando percebi que os policiais da região não estavam nem um pouco preocupados com nossa fuga.

Muitas vezes eu me pegava olhando para Bella, confesso. Ela ficava linda dormindo. Eu constantemente pensava em nossa conversa inacabada, sobre a razão dela ter deixado tudo para trás e me ajudado. E matar seu antigo parceiro! Mas certamente seria muita pretensão afirmar que ela estava apaixonada novamente. Ou que alguma vez já esteve. “Eu só não quero passar o resto da minha vida me perguntando como seria se tivesse feito isso.” Lembrei de suas palavras, que não compreendia.

Meus devaneios foram interrompidos pela mesma voz, desta vez bem ao meu lado.

- Onde estamos? – Bella passou as mãos pelo rosto, despertando.

Ela ficou ereta no banco, e nós dois vimos a placa dizendo que entrávamos na cidade de Phoenix. O GPS indicava para que seguíssemos reto por mais alguns quilômetros.

- Sabe, eu estava pensando... Que talvez... Bom, não acha um pouco arriscado? – Perguntei. – A casa da sua mãe. Podem pensar em nos procurar por lá, já que você é suspeita de nos ajudar, e...

- Não, é perfeito. – Ela me cortou, procurando algo em seu celular. – Além disso, os únicos que poderiam ter essa idéia seriam Charlie e Jasper. Eles estão nos dando cobertura.

- Jasper? – Franzi a testa, olhando de canto para ela.

- Ele é um grande amigo, Edward. – Ela sorriu um pouco. – Ele me treinou. E entende minhas razões para estar fazendo isso.

Eu sei, eu sei, teria sido o momento perfeito para tirar tudo a limpo. Mas eu já a conhecia o suficiente para saber que não responderia.

- Eu quero fazer xixi. – Carlie exclamou, aparecendo de repente entre nossos bancos.

- Vai ter que agüentar um pouco. Já estamos quase chegando. – Bella respondeu.

- Mas é uma emergência. – Ela deu ênfase na palavra, pulando sentada.

- Tenho certeza de que consegue se controlar por 10 minutos.

- Não vou prometer! – Disse, e desapareceu outra vez, deitando a cabeça no colo de Alice.

Bella e eu nos olhamos com um sorriso cúmplice.

(...)

A casa de Renée (Bella nos disse seu nome antecipadamente para evitar futuras gafes) ficava um pouco afastada do centro, mas não o suficiente para ser uma casa de campo ou algo do tipo. Phoenix era uma cidade grande, de qualquer forma, e poucos lugares tinham a mesma calmaria que aquele.

Eu estacionei em frente a garagem; Jacob ficou inquieto quando o carro parou, tentando sair logo. Emmett abriu a porta e o cachorro disparou, latindo e cheirando tudo a sua volta. Estava começando a amanhecer. Nós descemos do carro com certa pressa de esticar as pernas e Bella foi direto para a porta, tocando a campainha. Eu me apressei em tirar as malas do carro.

Não demorou muito e uma mulher de meia-idade atendeu, arregalando os olhos verdes para a cena.

- Isabella! – Ela gritou e a agarrou, dando um tapa na cabeça da garota ao soltá-la.

- Ai, mamãe! – Ela reclamou, acariciando o local.

- Você nunca me ouve, não é? – Ela colocou as mãos na cintura, brava. – Eu fiquei tão preocupada, vocês apareceram na televisão! Foram vistos disfarçados numa lanchonete em... Ah, meu Deus, mas que disfarce! Estou tão orgulhosa! – Ela abraçou sua filha outra vez, desta vez demorando mais. – É por essas coisas que eu digo que você saiu a mim, porque seu pai nunca teria uma idéia tão... Ah, Edward!

Eu coloquei a mala de Carlie no chão e estiquei a mão para Renée, mas ela jogou os braços em volta do meu pescoço e me abraçou.

- Eu ouvi falar tanto de você! – Ela riu, me soltando e dando alguns tapinhas amigáveis em meu rosto. – Eu vi sua ficha criminal, e caramba, você é um gênio! Cada plano... Se não tivessem se rendido, esse seria mais um bem-sucedido! Você teria sido muito útil para o FBI, mas quem não adora um malvadão, não é?

- Mamãe! – Bella tentou repreendê-la.

- É brincadeira, meu amor! – Ela gesticulou em direção a Bella, mas seu olhar estava na garotinha abraçada ao meu quadril. – E você deve ser a Carlie! Nós já conversamos pelo telefone, está lembrada? – Renée sorriu, abaixando um pouco. – A casa é sua, pequenina, pode fazer o que quiser!

- Eu quero fazer xixi. – Carlie murmurou. Eu revirei os olhos, divertido.

- Isso também. – Ela riu, apontando para a porta de entrada. – É bem no canto da sala, você vai saber qual porta é.

Carlie me olhou pedindo aprovação e, quando eu assenti, ela disparou para dentro da casa. Bella pegou duas malas aleatórias no chão e a seguiu, junto com Jacob. Eu e Emmett começamos a pegar o resto.

Renée apontou para os dois, curiosa.

- E vocês...? Não me parecem estranhos.

- Eu sou Alice, e esse é Emmett. – Ela respondeu, entediada.

Renée suspirou e se aproximou da garota, colocando as mãos em seu rosto.

- Ah, eu sinto tanto, querida... Seus chakras estão um pouco desalinhados... – A mulher começou a limpar alguma sujeira imaginária nos ombros de Alice, puxando e mudando de lugar. Emmett me olhou de canto, esforçando-se ao máximo para não rir. – Nada que um banho de Sol e uma conversa com a mãe-terra não resolvam.

Alice ficou estática ao encará-la, franzindo a testa. - Sei... Obrigada.

Já que eu não sabia como estava minha expressão, virei o rosto assim que Renée ameaçou olhar para mim e fui direto para dentro da casa. Ouvi quando Emmett trancou o carro e todos me seguiram.

Mal coloquei os pés na sala de estar, já parei. Emmett fez um pequeno “wow” ao meu lado. E Rosalie chamava nossa casa de nojo? Era impossível ver o chão naquele lugar! Havia roupas, papéis, embalagens e todo o tipo de tranqueira espalhados pela sala de estar – que não era pequena, portanto vocês podem imaginar a quantidade de imundice que aquela mulher conseguiu juntar por ali.

- Ah, me desculpem a bagunça... – Ela riu falando como uma dona de casa cuja sala está impecável, mas ainda assim quer se mostrar cuidadosa. – Eu não passo muito tempo aqui. Podem deixar as malas perto da escada, depois vocês arrumam tudo. Precisam ver uma coisinha primeiro! É muito importante. Se Bella ainda não mencionou...

- Não. – Ela respondeu, dando os ombros. Carlie correu e ficou perto de Alice, olhando para o chão como se um bicho pudesse surgir dali a qualquer momento. Jacob estava feliz como nunca, cheirando tudo.

- Venham comigo, queridos. É muito importante. – Repetiu, acenando em todas as direções para que a seguíssemos.

Renée nos guiou para o porão da casa. Eu estava quase saindo correndo enquanto descia os degraus; se a sala era daquele jeito, conseguiriam imaginar o porão? Na breve escuridão, senti Carlie segurar minha mão e se agarrar a mim, pedindo colo. Obedeci. No mínimo ela tinha medo de colocar os pés naquele lugar. Ótimo, e quem ia me carregar?

É claro que, se sobrevivi para lhes contar a história, é porque o lugar não era bem como imaginávamos. Na verdade, era muito diferente. Eu fui o último a terminar os degraus, chegando à sala iluminada. Emmett e Alice olhavam tudo sem acreditar. Carlie praticamente se jogou do meu colo.

O porão de Renée era como uma Central de espiões muito bem equipada. Não havia um único pedaço da parede que não segurasse uma televisão, com imagens ao vivo de pessoas, lugares, veículos ou vistas aéreas de cidades inteiras. Ela sorriu, virando para nós com um óculos de leitura um pouco grande demais, e então voltou a mexer em alguns botões, distraidamente. Bella suspirou, explicando.

- Renée trabalha para o FBI, também. Daqui ela tem acesso a filmagens e informações de distritos policiais em todo o país. Sabe quais oficiais estão cuidando do caso, quais estão participando, do que estão cuidando e para onde pretendem ir a seguir. E, respondendo a sua pergunta... – Ela olhou diretamente para mim. – Sua identidade é absolutamente secreta. Charlie consta como viúvo, e eu como órfã de mãe. Somente Jasper e alguns poucos de confiança sabem sobre esse lugar.

Emmett se aproximou de Bella devagar, e então a agarrou num abraço de urso.

- Ah, garota! Você é genial! Totalmente genial! – Emmett exclamou.

Bella riu, sendo balançada de um lado para o outro. Sorri sozinho.

- Olha, eu não quero ser a vilã da história... – Renée começou a dizer, pegando Carlie prestes a enfiar o dedinho num dos milhares de botões em um painel. Ela segurou sua mão e a afastou devagar, um pouco enojada. – Eu não vou te proibir de vir aqui, criança... Mas... Como posso dizer isso? Você não pode entrar aqui! Tá? Fofinha!

Carlie cruzou os braços e veio para perto de mim, odiando ser contrariada. Era como se eu a tivesse levado até a Disneylândia e desistido de entrar bem na porta.

- O restante é bem-vindo, mas gostaria que tivessem o bom senso de não mexer em nada. Um errinho aqui e vocês não sabem o caos que pode virar. – Renée pediu sem nos olhar, digitando números que não consegui entender para o que serviriam. Ela apertou “enter”, cheia de convicção, e enviou os dados, logo virando outra vez para nós. – Devem estar muito cansados, não é? Podem tomar um banho e depois eu sirvo algo para o café da manhã.

Meus ombros relaxaram quando ela disse tal frase. Emmett e Alice sorriram, começando a subir a escada de volta para a sala. Eu demorei um pouco mais, tirando Carlie a força da frente de um dos imensos televisores.

(...)

A casa de Renée tinha apenas dois banheiros (digo apenas porque, pouco tempo depois, tudo ali ficou pequeno demais para seis pessoas e um cachorro). Alice e Carlie os usaram primeiro enquanto eu e Emmett levávamos as malas para o andar de cima e aproveitávamos para vasculhar o local, com Bella nos guiando.

O quarto de hóspedes era tão grande quanto os outros dois, e contava com duas camas de solteiro (ela dissera que não éramos os primeiros a procurar refúgio ali – bom, pelo menos éramos os primeiros criminosos). No guarda-roupa, havia três caixas com colchões infláveis; Bella pegou dois e deixou ali para enchermos mais tarde.

Emmett comeu qualquer coisa na cozinha e capotou em uma das camas, sem tomar banho. Eu fui para o chuveiro assim que Carlie o desocupou, e só então percebi como estava sentindo falta daquilo. A água caindo em meus ombros me relaxou, e acabei demorando mais tempo do que deveria, quase dormindo em pé ali.

Saí e vesti uma muda de roupas deliciosamente limpas. Meu estômago roncou no caminho escada abaixo, em direção a cozinha, onde minha filha já estava sentada a mesa de almoço, comendo algo que demorei para identificar. Renée estava apoiada na pia, lavando alguns pratos sujos. Cumprimentei-a rapidamente.

- Tudo bem aí, Chocolate? – Perguntei, afagando a cabeça de Carlie e dando a volta na mesa, até sentar a sua frente. Ela me olhou e sorriu com a cara toda suja de sorvete. – Carlie, isso é seu café da manhã? São 8 horas. – Franzi a testa.

- Renée perguntou o que eu queria comer, e eu disse sorvete. E eu realmente queria sorvete. – A menina explicou, lambendo a colher distraidamente.

- Ela não é uma coisinha fofa? – A mulher perguntou, nos olhando por cima do ombro.

- Eu não acho isso muito apropriado... - Tentei ser simpático, medindo as palavras.

- Você me fez comer pizza durante semanas! – Carlie rebateu.

- Não estou falando com você! – Murmurei entredentes, tirando o pote de sorvete das suas mãos. – Você vai comer algo de verdade.

Eu levantei, abrindo a geladeira sem cerimônias. Renée já demonstrara ser pirada o suficiente para não se importar com esse tipo de coisa. Não havia muita comida lá dentro. Peguei uma garrafa de suco, o pote de manteiga, e comecei a preparar algumas torradas para minha filha.

Elas conversaram enquanto isso, mas eu particularmente não gostava muito. Renée tinha algumas ideias absurdas demais, até para uma criança. Eu a cortei exatamente quando estava contando sobre os gnomos que roubam sua correspondência.

- Coma tudo. – Disse a Carlie, colocando um copo de suco e as torradas com manteiga a sua frente. – E depois vamos dormir um pouco, certo?

Eu deixei um beijo no topo de sua cabeça e saí da cozinha, procurando por Bella. Não havia nenhum sinal dela no andar de baixo ou no porão; subi e a encontrei em seu quarto, com a porta aberta, procurando algo na mala enquanto seu corpo estava enrolado na toalha. Ah, droga! Isso era algum tipo de piada com a minha sanidade?

Soltei um pigarro, me apoiando no batente da porta um pouco sem jeito. Ela ficou em pé e olhou-me como se esperasse que eu dissesse algo.

- Hm... Carlie está comendo lá embaixo. Emmett já dormiu, e eu acho que Alice não vai comer nada... – Passei uma mão por meu cabelo, desviando o olhar do dela. – Acho que vou fazer o mesmo, e... Dormir.

Ela ergueu uma das sobrancelhas, demorando para responder.

- Ahn... Ok? – Ela riu, sem entender porque eu estava dizendo aquilo.

Meu olhar foi de cima a baixo em seu corpo; tentei disfarçar que a analisava. Ela suspirou e se aproximou, colocando uma mão na porta e tentando fechá-la. Eu agi por impulso e a segurei aberta; acho que nem sei sabia direito o que estava tentando.

- Bom sono, Edward. – Ela disse.

- Eu pensei que... – Ri um pouco nervoso, jogando o tronco para frente, olhando diretamente em seus olhos com as sobrancelhas erguidas. – Poderíamos aproveitar e conversar sobre tudo aquilo que... Bom, você sabe.

Ela fechou a cara, apoiando a mão na maçaneta com força.

- Não temos nada para conversar. Eu ajudei você! Poderia ao menos ser grato a isso.

Cerrei os olhos e a encarei, abrindo um sorriso de orelha a orelha.

- Sim, você me ajudou... Porque você me ama. – Rebati, irônico.

Ela ergueu as sobrancelhas, começando a se irritar.

- Isso é... Ora, Edward, cai fora daqui! – Ela gritou, tentando me empurrar.

Eu ri alto de sua reação, fazendo uma força contrária para manter a porta aberta.

- Você fica linda brava! – Disse.

- Você ficaria lindo com as minhas mãos em volta do seu pescoço!

- Ah, isso não é legal... – Sorri, tombando minha cabeça como um animal confuso.

Bella ergueu uma das mãos e tentou levá-la ao meu rosto; eu segurei seu pulso com firmeza, olhando-a sério, de repente. O arrependimento veio no mesmo segundo – eu não gostei de ver que a estava tratando como uma inimiga – mas ela continuou imóvel, furiosa, realmente pretendendo brigar comigo.

Eu me peguei hipnotizado pelo que via; sem pensar duas vezes, vacilei, jogando o corpo para frente e tentando beijá-la.

- Eu disse “bom sono”! - Ela desviou a tempo, fechando a porta bem na minha cara.


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Notas finais do capítulo

Capítulo direto do forno pra vocês! O que acharam da Renée? Hahahaha Bom, eu vou ficar devendo a O/s, porque estou tendo provas e tals (até esse capítulo foi sofrido pra sair!). Ainda vai ter um pouco mais deles em Phoenix (com acontecimentos bem importantes, já digo) e devo confessar que não planejava colocar a Bella como um ponto tãaaao importante da história, mas já virou, né? E até eu e a Nina estamos desesperadas pra colocar eles juntos, mas tudo tem sua hora! Hahaha Tá na cara que ela ama ele, né? A explicação pra tanta enrolação vem muito em breve. Beijos, espero que tenham gostado desse ^^