Meu Malvado Favorito escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 20
A mestra dos disfarces... É claro (2ª fase)




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Carlie se remexeu em meu colo, aconchegando o rosto na curva do meu pescoço. Ela ressonava tranquilamente. Seu movimento me fez despertar, olhando um pouco confuso para todos os lados do carro. Bella dirigia prestando total atenção na estrada. Emmett e Alice dormiam no banco de trás, encostados um no outro, com Jacob a seus pés. Eu respirei fundo, ainda enxergando com certa dificuldade, e foquei os olhos em Bella preguiçosamente.

- Que horas são? – Perguntei automaticamente em um murmúrio.

Ela indicou o painel do carro com a cabeça. Olhei; 4:40 da manhã. Respirei fundo outra vez, ajeitando meu corpo lentamente no banco, sempre checando o rosto de Carlie para me certificar de que não acordaria. Quando fiquei totalmente confortável, abracei melhor a menina, deixando um beijo demorado em sua testa.

Bella mexeu os ombros e o pescoço, tentando relaxá-los. Olhei para ela.

- Posso dirigir um pouco, se quiser. – Falei.

- Não. – Ela rebateu. – Fique com ela.

Olhei outra vez para minha filha, deixando o silêncio permanecer por algum tempo.d

- Para onde estamos indo, Bella? – Perguntei, franzindo a testa.

- Phoenix. – Ela suspirou, fazendo uma curva.

Estávamos indo um pouco rápido demais, mas eu seria a última pessoa no mundo que se preocuparia com isso.

- O que há lá?

- Minha mãe. – Ela disse calmamente.

 “Minha mãe morreu quando completei 9 anos”, lembrei de suas palavras em nosso primeiro encontro. Era um disfarce, é claro. Idiota!

- Eu pensei que... – Murmurei, um pouco triste. – Você disse...

- Eu disse muitas coisas, Edward. – Ela ergueu as sobrancelhas, sem me olhar.

Eu encarei a lateral de seu rosto sem dizer mais nada – ela estava especialmente linda naquela noite. Quando virei a cabeça devagar para frente, outra vez, ela tentou se explicar.

- Meus pais se separaram quando eu era muito pequena. Eu sempre fui mais próxima do meu pai. – Disse. – Eu queria ser uma policial, como ele.

- E conseguiu.

- É.

- Eu vi seu pai no presídio. – Assumi. – Ele não está doente. – Declarei o óbvio.

- Ele não pode mais entrar em casos tão perigosos. Isso o chateia. Mas ele ainda está na ativa, sim. – Deu os ombros, e finalmente me olhou. – Eu decidi que queria morar com ele quando tinha 14 anos, e fui para Forks.

- Nunca mais viu sua mãe? – Perguntei.

- Eu a visito todos os anos, nas férias. – Ela franziu a testa, pensativa, e então me olhou. – Você disse a verdade sobre seus pais, não é?

- Sim. – Murmurei.

- Sinto muito. – Ela repetiu o que me disse naquela noite. – Mesmo.

Assenti, olhando a estrada a minha frente.

- Quanto tempo falta? – Perguntei.

- Bom, saímos há 5 horas... O que significa que faltam... Umas 24.

- Não está falando sério! – Olhei para ela, ainda falando baixo para não acordar ninguém.

- Ah, desculpe! Se preferir podemos pegar um avião! – Ela respondeu irônica.

Bufei, olhando pela minha janela a estrada mal-iluminada passando rapidamente. Ela riu baixinho e voltou a se focar na direção; eu a encarei por um longo tempo sem dizer nada.

- Você não me disse, realmente. Por quê? – Perguntei outra vez.

O pouco sorriso que havia em seus lábios desapareceu. Ela não me olhou.

- Não é uma boa hora para falarmos disso. – Rebateu.

- É uma ótima hora. – Franzi a testa.

- Edward! – Ela trincou os dentes. – Não. Por favor.

- Eu só gostaria de entender, Bella, porque nesse momento eu não consigo enxergar uma boa razão para você ter me ajudado a fugir, que não seja...

- Olha, é melhor voltar a dormir! Assim que amanhecer vamos parar e comer alguma coisa. – Explicou, prensando os lábios um no outro.

- Parar? E você acha que ninguém vai nos reconhecer? – Perguntei, irônico.

- Acontece que, ao contrário de você, eu sei o que é um bom disfarce. – Ela sorriu de canto, e então piscou rapidamente para mim.

 (...)

Mal havia amanhecido quando o silêncio no carro acabou, com todos acordando. Na verdade, Carlie acordou primeiro, e sua energia irresistível acabou despertando os outros. Isso não mudou muita coisa em minha conversa com Bella, já que ela se recusava a dizer qualquer coisa que fosse particular demais.

A única coisa que dizia que estávamos fugindo de algo era o velocímetro indicando 160 km/h. Dentro do carro, porém, a energia era muito boa. Carlie faz essas coisas com a gente. Ela bateu a mão no rádio e ligou direto numa estação onde tocava Revolution, dos Beatles. Não demorou nada para a menina começar a pular e cantar em meu colo, e todos a imitaram – até mesmo Jacob latia com o som de nossas palmas. Bella ria sozinha com a cena a sua volta.

Nossa primeira parada foi numa lanchonete no meio da estrada; a última placa indicava que já estávamos no estado de Oregon. Carlie aproveitava o vento em seu rosto com tamanha alegria que, quando Bella estacionou, ela fez um bico, contrariada.

- Vamos agir sempre em duplas a partir de agora, de acordo? – Ela perguntou, soltando o volante. – É mais seguro assim. Eu e Edward vamos comprar alguma coisa para a viagem, e vocês esperam aqui. Alice, você assume o volante.

Eu ergui as sobrancelhas, rindo sozinho. - Quem colocou você no comando? – Perguntei, irônico.

- Meu distintivo. – Ela rebateu, mal me olhando. Trinquei os dentes sem conseguir pensar em uma resposta. – Emmett, tem uma mala aos seus pés, sim? Passe para mim.

Ele obedeceu, colocando uma mala preta média no colo de Bella. Ela abriu, mexendo lá dentro como se não houvesse fim. - Carlie, querida, pode ir para o banco de trás por um segundo? – Ela não olhou para a menina ao dizer isso. – Seu pai precisa se trocar.

Minha filha obedeceu sem reclamar, sentando entre Alice e Emmett confortavelmente. Todos nós observamos enquanto ela procurava algo até que, finalmente, me entregou o que seria seu disfarce tão genial. Roupas pretas, uma espécie de segunda pele com tatuagens falsas e piercings de pressão.

- Ei, ei, ei! – Eu quase gritei quando ela começou a abrir os botões de seu uniforme. – Você vai mesmo fazer isso aqui? – Franzi a testa.

Bella riu, erguendo uma das sobrancelhas ao me encarar. Não parou com os botões até tirar a blusa; fiz muita força para continuar olhando em seus olhos.

- Edward, não há nada aqui que você nunca tenha visto. – Ela disse, já vestindo uma outra blusa preta. – E tenho certeza de que Emmett entenderá e se comportará como um cavalheiro.

- Com certeza! – Ele riu alto no banco de trás, fazendo meu sangue subir.

Com uma careta, olhei tudo o que ela colocara em minhas mãos, e obedeci a ordem de me vestir. Eu parecia uma versão masculina de Alice, com tantos piercings no rosto e os braços cobertos por tatuagens. Olhei-me no retrovisor e mal reconheci a figura. Bella me entregou um par de óculos escuros, e fez sinal para que saíssemos do carro, ao mesmo tempo. Ambos estávamos armados.

Ela deu a volta no carro até mim; eu bati a porta ao fechá-la, encarando Bella por trás das lentes escurecidas. Gostaria de poder ter visto seus olhos naquele momento. Estava como Alice – roupas completamente pretas, um dos braços tatuados, um piercing no lábio inferior e dois em suas narinas -, mas infinitamente mais gostosa. Andou até mim e deu um leve tapa na base do meu queixo, fazendo minha boca se fechar. Ela ficou próxima o suficiente para que nossos lábios se encontrassem, mas respirou fundo e desistiu do que quer que fosse fazer, andando em direção a lanchonete.

Bella abriu um dos lados da porta dupla e todos os olhares se voltaram para nós. Havia poucas pessoas – a maioria estava sozinha, em mesas distantes uma da outra, o que tornava o local silencioso, não fosse pela música baixa que tocava. Encararam-nos como se estivéssemos atrapalhando alguma coisa.

Ela virou o rosto em minha direção, e mesmo que eu não visse nada por trás de seus óculos, entendi o recado. Fomos em direção ao balcão, onde uma velha rechonchuda se apoiava, prestando atenção a pequena televisão acima de nós. Paramos e a encaramos, esperando que dissesse algo. Bella girou o pescoço, estalando-o preguiçosamente; sorri de lado com a cena.

- O que vão querer? – A atendente perguntou sem nos olhar.

Puxei um cardápio próximo a nós e o analisei. Bella foi impaciente.

- Quatro cafés puros, um suco de laranja e duas porções de mini muffins de chocolate. – Ela pediu com os olhos no cardápio, e só então ergueu o rosto para a atendente. – Pra viagem. – Completou e empurrou a lista para longe.

A mulher virou o rosto para nós cheia de tédio e arregalou os olhos por um segundo, nos analisando de cima a baixo. Não demonstramos nenhuma emoção. Bella iria pagar a língua por dizer que eu não conseguia me disfarçar.

- Eu vou... Só um minuto. – Ela respondeu e logo se virou, entrando por uma porta pela qual quase não passou.

Bella jogou o corpo para frente e se apoiou no balcão, empinando a bunda. Observei cada movimento com um longo suspiro; todo aquele tempo na cadeia não me fizera bem. Mas, afinal, para que um homem precisa de óculos escuros, se não para isso? Continuei analisando-a, distraído, e ela não percebeu. Ergueu um pouco o rosto, provavelmente para assistir ao que passava na televisão, e permaneceu ali.

Demorou um pouco para que se movesse, ainda olhando para cima. Seu movimento me despertou, e eu pigarreei como se ela pudesse ver onde meu olhar esteve aquele tempo todo. Bella abaixou os óculos pelo nariz, como uma velha que precisava de ajuda para a leitura, e encarou a TV discretamente. Fui obrigado a olhar também.

Era meu rosto lá. Uma foto minha de quando entrei na prisão, há semanas. A imagem mudou para a filmagem da saída de meu julgamento. Fiz um pequeno esforço para ouvir melhor o que a reportagem dizia, e lentamente também abaixei meus óculos, arregalando os olhos.

 “Na mesma noite de sua condenação, Edward Masen, responsável pelo seqüestro da modelo Rosalie Hale, fugiu do presídio próximo a Seattle, onde estava recluso. Emmett McCarty e Alice Brandon, cúmplices da ação, também conseguiram escapar.” Seus rostos apareceram enquanto a repórter falava. Bella mal se mexia, encarando seriamente as imagens. “A principal suspeita de ajudar na fuga é Isabella Swan, agente do FBI que ficou parcialmente encarregada do caso ao tomar conta da filha de Edward, Carlie, de 8 anos de idade. A polícia colocou em alerta os estados de Washington, Montana, Oregon e Idaho.”

Os repórteres apareceram outra vez em sua bancada, indicando o fim da reportagem. Bella respirou fundo e arrumou os óculos de novo, olhando em volta devagar ao apoiar as costas e os cotovelos no balcão.

- Não pensei que seria tão rápido. – Murmurei, olhando a parede atrás do balcão.

- Eles não tem muito o que fazer. – Ela respondeu no mesmo tom, passando uma mão distraidamente por seu cabelo solto. – As pessoas precisam acreditar que a polícia é confiável.

Virei o rosto e a analisei; ela não percebeu. A mulher voltou com nosso pedido, trazendo tudo com dificuldade. Apoiou o saco e o suporte para as bebidas no balcão, olhando para nós com um ar cansado.

- 23 dólares. – Disse.

Eu fiz um sinal de cabeça para Bella, lembrando-a que ela estava com o dinheiro. A garota fez menção de colocar a mão no bolso de trás da calça, mas desistiu, olhando alguma coisa por cima do ombro. Esperei, tentando inutilmente entender o que se passava em sua cabeça.

Foi muito rápido; ela se colocou a minha frente e sacou sua arma, apontando para um homem que fazia o mesmo do outro lado da lanchonete. Algumas pessoas gritaram, correndo para baixo das mesas. A atendente não sabia o que fazer.

Como eu já lhes disse, certa vez, eu sempre tive uma sensibilidade para essas coisas. Ouvi a arma sendo preparada atrás de mim. Peguei a minha, girei, e apontei. Eu estava de costas para Bella, cada um apontando sua arma para um policial, em lados opostos. Ambos demos um passo para trás, até que senti nossas costas unidas. Erguemos nossos óculos até a cabeça para que nossa visão melhorasse, ao mesmo tempo. Sorri ao notar isso, e ela deve ter feito o mesmo.

- Swan? – O policial atrás de mim perguntou. Mantive os olhos no outro enquanto escutava. – O que está fazendo?

Ela não disse nada. Percebi sua respiração acelerando.

- Eu não sei. – Respondeu.

Um leve sorriso que estava em meu rosto começou a desaparecer. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela atirou. Fiz o mesmo. Em cheio. O policial a minha frente caiu morto; nos viramos e, após alguns segundos compreendendo o olhar um do outro, vi que ela também acabara com ele.

- Vamos cair fora daqui. – Ela disse, pegando tudo o que pedimos de cima do balcão.

Guardei minha arma e a segui. Corremos para o carro; ela sentou no banco da frente, e eu fui obrigado a ir atrás, já que Alice estava no lado motorista.

- Devem ter pedido reforços. – Bella disse com uma bufada. – Vai, Alice!

- Você os conhecia? – Perguntei quando a baixinha acelerou de volta para a estrada.

- Já foram meus parceiros. – Ela explicou, retirando os piercings e as tatuagens, que guardou no porta-luvas.

- O que? O que foi? – Emmett franziu a testa. – Policiais? Estão atrás da gente?

- Estão mortos. – A frase saiu naturalmente, até que percebi Carlie entre nós, olhando tudo bastante confusa. – Estou bem! – Expliquei quando ela me abraçou.

- Eles machucaram você, papai? – Ela perguntou, me olhando com os olhos marejados.

Eu movi a cabeça numa negativa, tirando meu disfarce também e jogando tudo no compartimento perto da porta. Alice já corria bastante com o carro. - Estou inteiro, está vendo? Nenhum arranhão! – Ri baixinho, tirando os óculos escuros da minha cabeça e ajeitando-os em seu rosto.

Ela sorriu, tentando olhar seu reflexo no retrovisor.

- Estou com fome, Bella-Bell! – Carlie disse, jogando o corpo para frente, entre os bancos.

Bella demorou para responder, olhando para frente com os pensamentos longe.

- Aqui está, querida. – Murmurou, passando o saco de muffins e o suco de laranja para ela.

- Quando acha que iremos chegar? – Alice perguntou, atenta a estrada.

- Pela madrugada. – Eu mesmo respondi, já tendo feito minhas contas.

Fez-se silêncio por um tempo, até que Bella, de repente, respirou fundo e olhou para trás com um pequeno sorriso, abandonando completamente o semblante sério.

- Querem esperar pelo café frio? – Perguntou.

Ela distribuiu nossas bebidas, e todos nós nos ocupamos em nos alimentar. Carlie balançava as pernas com exagerada animação, tagarelando sobre a escola que deixara para trás, em Forks. Eu sorria, dando a atenção que ela merecia, depois de tanto desdém de minha parte.

Não tivemos nenhum sinal de escoltas policiais atrás de nós. Logo saímos de Oregon, e as pessoas na California pareciam ter preocupações maiores do que um grupo de seqüestradores e uma agente traidora. Eu estava constantemente atento, olhando todos os carros que passavam ao nosso lado. Seriam horas difíceis – talvez não para Carlie, que estava achando tudo uma enorme aventura.

De qualquer forma, eu estava em casa.



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Notas finais do capítulo

Carol aqui, alô! Olha, ultimamente to me sentindo meio mal por estar demorando, mas... Desculpa mesmo, to muito atarefada, e sempre que tenho um tempinho escrevo um pouco /: E agora a Nina também tá sem o net dela e tals, mas a gente sempre vai dar um jeito, relaxem! Eu quero acabar fazendo uma perguntinha (quero só ver quem vai ler isso aqui e me responder! unf!): Vocês costumam ler muitas one-shot? Porque, se sim, eu e a Nina estamos com uma ideia ótima de o/s, não tem nada a ver com MMF, mas eu to louca pra escrever! Mas eu não sei o que o povo curte, né? Se muita gente aprovar, eu escrevo e posto pra vocês! Bom, é isso... Espero que tenham gostado, no próximo capítulo vamos apresentar uma Renée completamente diferente do que vocês estão acostumadas! ^^ Hahaha É esperar pra ver! Bjs!