Meu Malvado Favorito escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 18
E vou tentando controlar essa saudade... (2ª fase)




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Somente um breve resumo será suficiente para mostrar o desespero que passei durante aqueles longos dias no presídio. Eu levei algum tempo, um doloroso tempo, tentando afastar o que sentia por Bella – em vão. Ela aparecia no presídio de vez em quando, e vê-la por perto não ajudava em nada nesse processo.

Por vezes eu a vi conter presos que nenhum carcereiro conseguia – não usando sua força, é claro, mas ela tinha suas próprias armas. Ela era, em si, uma arma letal. A mais linda que eu já vi. Droga, ela não poderia ser real! Como seria possível que um dia ela já fora minha, e eu deixei tudo escapar? Em certo ponto, eu desisti até mesmo de pensar nisso.

Eu sempre a evitava. Ela era arisca. Sem dúvidas, uma agente muito bem treinada e imprevisível. E como sempre, desde o dia em que a conheci, sua língua era absurdamente afiada.

No terceiro ou quarto dia, quando eu já estava quase enlouquecendo de tédio, ela surgiu com uma pilha de livros. Todos autores famosos que ela citava e eu dizia não conhecer. “Tente adquirir um pouco de cultura.” Foi um dos nossos únicos contatos. Eu enfiava a cara nos livros e tentava esquecer tudo, mas era uma tarefa absurdamente impossível.

Já que o sentimento não ia embora, eu o massacrava num canto e seguia com ele.

(...)

Emmett sentou bem a minha frente com sua bandeja de comida. Era muito pouco para um homem tão grande, mas ele tinha um coração mole demais para roubar de algum idiota que estava perto de nós. Sem contar que nada ali estava muito bom.

- Queria poder falar com Alice. – Ele disse depois de algum tempo em silêncio.d


Não respondi nada até acabar com toda a comida. Ergui os olhos para ele e suspirei, cruzando os braços em cima da mesa.

- Aposto que ela está arrebentando várias garotas agora. – Murmurei, desanimado.

Ele riu um pouco, olhando discretamente a nossa volta.

- Impressão minha, ou todo mundo aqui se afasta de nós? – Perguntou.

- Você é um pouco grande demais. – Sorri de lado, analisando os outros presos comendo a uma boa distância de nós.

Emmett me olhou outra vez, ficando um pouco mais sério ao mudar de assunto. - Há quanto tempo estamos aqui?

- Duas semanas. – Respondi secamente.

Ele suspirou, encarando seu prato.

- Você acha que, por termos confesso, ficaremos livres de um julgamento? – Perguntou baixinho.

- Não. Não sei. Não entendo disso. Mas eu duvido, Emmett, são 10 anos de acusações pra cima de mim, e eu ainda tenho a guarda da Carlie, e... Ah! – Suspirei, passando as mãos pelo rosto. – Mas que droga!

- Cara, eu... Se eu pudesse fazer alguma coisa...

- Eu sei. – Olhei em seus olhos outra vez, sem conseguir sorrir.

A porta da entrada do refeitório abriu com violência, e nós, assim como todos os outros presentes ali, viramos a cabeça para checar o que estava acontecendo. Bella entrou e caminhou decididamente até nós; vocês não entenderiam a vontade que tive de atirar na cabeça de cada homem que assobiou ao vê-la. Suas roupas, apesar de cobrirem a maior parte de seu corpo, eram um pouco coladas demais...

Ela ignorou completamente todo o barulho que os presos fizeram – acho que já estava acostumada com isso.

- Você vem comigo. – Ela anunciou ao parar em pé ao meu lado. Olhou de relance para Emmett, e então me encarou, hostil.

Assenti em silêncio. Ela deu meia-volta e se apressou de volta a porta; seu cabelo comprido balançava solto nas costas, e só quando parei para observá-lo próximo a cintura percebi o revólver que carregava junto ao uniforme preto. Segui-a com certa dificuldade por conta de minha perna ainda em recuperação.

Fui levado à típica sala policial. Ninguém nunca espera entrar em uma dessas um dia, eu sei, mas preciso confessar que num primeiro momento me pareceu uma experiência interessante. Eu parei por um segundo para analisar a cena, e Bella entendeu mal meu gesto – ela foi para trás de mim, segurando minhas mãos unidas ao me guiar. Droga, e como era forte!

- Não vai querer algemas, vai? Estou sendo boazinha com você, Masen. – Disse.

Vi naquele breve momento que havia duas pessoas lá dentro. Entramos, e ela me colocou sentado em uma cadeira com uma força desnecessária.

Ao meu lado estava Angela, minha advogada com quem só tive contato uma vez naquele tempo todo. Rosalie a contratara. Aquela altura, ela sabia muito bem minhas intenções perante a justiça – me entregar. A minha frente, do outro lado da mesa, um homem igualmente bem-vestido em seu terno.

Bella se colocou perto da porta, com as mãos para trás, encarando a cena em total silêncio. Era normal eu achá-la ainda mais bonita quando estava em serviço?

Eu olhei para os dois presentes ali, não entendendo muito bem.

- Eu sou William Black, senhor Masen. – O homem falou primeiro, mas me olhava com nojo. Não tive a mínima intenção de cumprimentá-lo ou seja lá o que fosse.

- É o promotor que está cuidando do caso. – Angela completou, absorta ao mexer em alguns poucos papéis a sua frente. – Olá, Edward. – Apertamos as mãos. - Seria ótimo se fôssemos direto ao assunto. – Ela apoiou as mãos na mesa, falando diretamente ao homem. Ele assentiu, indicando que podia prosseguir. – Ambos estamos a par do caso, afinal. As acusações...

- As acusações são graves. – O homem completou. – Desde que o rosto dele apareceu na mídia, cada vez mais pessoas o acusam de algum crime. Sua ficha criminal só está aumentando.

Eles falavam diretamente um com o outro. Eu me sentia invisível.

- Ele está disposto a delatar tudo, como já foi dito.

- Estou ciente disso. – William disse.

- E o que ganhamos em troca? – Angela rebateu.

- Diminuição da pena, certamente.

- Uma diminuição significativa, espero.

O homem não respondeu.

- Essa é minha oferta. Ele conta tudo a polícia, e a pena será diminuída. Sei que tem informações úteis sobre Aro Volturi. – Finalmente, o promotor me olhou. Não durou muito. – Há quanto tempo está no caso, Swan?

Ele virou a cadeira e encarou Bella. Ela arregalou os olhos, e logo se recompôs.

- Ordens de Jasper. – Respondeu simplesmente.

- A menina está sob sua responsabilidade? – Ele perguntou.

Meu coração bateu mais rápido quando percebi de quem falavam.

- Até segunda ordem. – Bella disse, séria.

- Esse é, aliás, um assunto sobre o qual eu gostaria de... – Angela tentou dizer.

- Esse não é o assunto em questão. – O homem rebateu, nos olhando.

- Rosalie Hale também é minha cliente, e ela está disposta a lutar pela guarda da criança. – Angela explicou devagar.

- Você conhece o procedimento padrão. – William finalizou.

Eu mal me mexi enquanto meu cérebro tentava processar aquilo. O promotor se colocou de pé e arrumou o terno, dizendo mais algumas palavras a Angela. Estava atordoado demais para prestar atenção. Fiquei sentado ali – talvez ele tenha tentado se despedir de mim, mas não percebi.

Angela apertou meu ombro amigavelmente, me tirando de um transe. Pude vez seu breve sorriso antes dela se dirigir a porta. - Nos vemos em breve, senhor Masen. – Finalizou.

Assim que saíram, Bella fechou a porta atrás deles e se aproximou da mesa, sentando bem a minha frente. Afastei o assunto “Carlie” da minha mente por algum tempo – como se fosse tão fácil assim! Como sentia falta dela...

Bella me encarou por alguns segundos como se estudasse meu rosto. Era a primeira vez que ficávamos a sós desde... Vocês sabem. Não mostrei nenhuma parte da dor a ela, ou assim esperava que não.

- Você está ciente, Masen, de que mesmo se rendendo, ainda irá a julgamento. Correto?

- Corretíssimo. – Respondi, um pouco zombeteiro.

Bella fez mais uma pausa, cerrando um pouco os olhos. Só então reparei como estavam um pouco menores por conta das pálpebras escurecidas – ela estava usando maquiagem.

- Pois bem. Aqui estamos. – Ela suspirou, cruzando uma perna sob a outra. – Eu não estou particularmente feliz de ter sido designada para isso, mas... – Deu os ombros.

- Designada? – Franzi a testa. – Pensei que já estivesse me investigando desde o começo... Pensei que tudo isso já fosse seu trabalho.

Bella riu, mas não soou como o mesmo som agradável de sempre. Na verdade, me incomodou bastante.

- Por favor, Edward! O FBI tem mais o que fazer do que lidar com seqüestros medíocres. – Ela riu novamente, levando o dedo indicador a boca ao me encarar com certa diversão. – Eu estava atrás de Aro. Sempre estive. – Suspirou no fim da frase. – Aí vocês apareceram... E tudo esteve sempre abaixo do meu nariz. Sabíamos que havia uma célula por aqui, mas os policiais escolhidos são uns idiotas. Eu disse a Jasper que eles iam falhar! – Bufou.

Encarei-a, sério.

- Você sabia? – Nossos olhares se sustentaram. – Sabia quem eu era?

- Não. – Ela mal esperou eu terminar a frase. – Nunca consegui perceber nada. Estava focada demais em pegar Aro. Eu estava seguindo os passos dele de longe... E uma florista numa cidadezinha de Washington seria útil. Ele adora criar células em lugares pacatos assim. Eu já tinha ouvido falar de você, é claro, você é procurado por vários lugares. Eu nunca havia visto seu rosto, e não consegui relacionar o Masen ao Cullen num primeiro momento. – Deu os ombros. – Eu vi você descendo do carro com Rosalie, e tudo fez sentido... Se eu estivesse no caso, teria descoberto muito antes! – Bufou. – E eu nem mesmo deveria estar lá naquela noite, só estava preocupada com... Bree.

Ela fechou os olhos e respirou fundo, jogando o cabelo comprido para trás de uma maneira absurdamente sexy. Quando voltou a me olhar, um sorriso zombeteiro apareceu em seu rosto. – Ora, vamos... Eu sei o que você quer perguntar!

Meus ombros se encolheram automaticamente. Eu sabia que a dor voltara a transparecer em meus olhos, e não tentei esconder mais.

- Pergunte. – Ela ordenou ao debruçar o peito sob a mesa, deliciando-se com a palavra.

Eu não me movi; continuei olhando em seus olhos, sério.

- Você não me ama. – Afirmei em um murmúrio grave.

- Chama-se disfarce. – Ela rebateu, voltando a sentar corretamente. – Devia aprender.

Desviei meus olhos para baixo, sem saber o que responder. E eu precisava? Além disso, sentia-me tão... Pequeno. Impotente.

- Por fim... Aqui estamos. Você está aqui para falar, e eu para ouvir.

Eu apoiei as mãos nos braços da cadeira, me ajeitando preguiçosamente. - Eu trabalho para Aro desde os 18 anos. Nunca o conheci. – Juntei minhas mãos em meu colo, um pouco nervoso. – Entrei nisso quando conheci Caius. Eu tinha dívidas... Com... Traficantes. – Suspirei. – Eles me ameaçaram, eu não ouvi, e mataram meus pais. Então Caius me ofereceu esse trabalho; disse que a grana era muito boa.

Bella apoiou os cotovelos na mesa, prestando total atenção a minha história. Era o seu trabalho, afinal de contas.

- Eu aprendi rápido. – Continuei. - Cada seqüestro, cada célula, contém um grupo diferente. Eu sempre aprendia coisas novas com caras experientes. Aro nunca coloca as mãos na massa pra valer – as células são muito independentes dele, e principalmente umas das outras. Mas ele fica com a maior parte do dinheiro, é claro. Então... Há 4 meses... Rosalie se tornou um dos alvos, e eu vim para Forks com Emmett e Alice. Não os conhecia antes disso. Aliás... – Ri baixinho. – Eu fiquei muito bravo por terem me colocado com duas pessoas inexperientes. Mas eles... Eles são legais. – Sorri sozinho, encarando minhas mãos.

- Você sabe onde Aro está? – Mudou um pouco de assunto.

- Itália. Ele odeia ter que sair de lá. – Respondi, ainda cabisbaixo.

- E quanto a Carlie? – Bella perguntou, me obrigando a olhar para seus olhos outra vez.

- Ela era parte do disfarce. – Murmurei. – E eu... Relutei muito contra isso no começo. Eu nunca lidei com crianças antes, eu não sabia! Eu não... – Respirei fundo, passando as mãos por meu cabelo ao abaixar a cabeça. – Eu não sabia o que eu tinha nas mãos.

Quando ergui o rosto outra vez, algumas lágrimas deslizavam por minha bochecha.

- Não a tire de mim. – Pedi, olhando em seus olhos. – Por favor, não a leve para longe de mim...

Bella não moveu um músculo; continuou parada, com os braços cruzados, me encarando seriamente. Pareceu pensativa.

- Em que lugar da Itália? – Perguntou.

Precisei de um tempo para lembrar do que ela estava falando. Passei as mãos pelo rosto, espalhando as lágrimas.

- Não sei. Já disse, não o conheço, não temos contato direto com ele.

- E esse... Caius? – Ela ergueu as sobrancelhas, ansiosa.

- Nos falamos a maior parte do tempo pelo telefone. É raro vê-lo.

- Ótimo, Edward, obrigada por nada! – Bufou, batendo as mãos na mesa.

- Eu já lhe disse tudo o que sei! – Rebati.

- Você não sabe de nada. – Ela ficou em pé num salto. – Nós estamos com seu celular; podemos tentar rastrear Caius ou algo assim. Alguma coisa útil tem que sair disso.

Ela saiu sem dizer mais nada, batendo a porta com força atrás de si. Observei-a por alguns segundos a mais. Outras lágrimas desceram por meu rosto, silenciosas.

 (...)

Quando deixei Carlie, não imaginei que voltaria a vê-la tão cedo. Eu mal podia esperar por aquele momento! Emmett foi na frente; encontrou a menina do lado de fora do presídio, onde os presos tomavam “banho de Sol” diariamente.

Eu os vi já de longe; estavam sentados num canto, conversando. Não pareciam estar se divertindo muito – a conversa era séria. Aproximei-me mais um pouco, e Carlie finalmente me viu, levantando e correndo em minha direção.

- Papai! – Ela gritou, vindo diretamente para mim. Eu agachei e a abracei com toda a força que ainda tinha. – Papai...

Minha perna dolorida reclamou da posição, e eu joguei meu corpo sentado no chão, sem soltá-la. Apoiei meu rosto na curva de seu pescoço e lutei contra as lágrimas que insistiram em cair.
Ela ficou parada, retribuindo meu abraço por um longo tempo. Quando um soluço escapou de minha garganta, ela se afastou para olhar em meus olhos, e eu automaticamente sequei todo o meu rosto, não querendo que visse tal cena.

- Ah, não precisa ter vergonha de chorar, papai... Eu juro que não vou contar pra ninguém. – Carlie disse, e eu ri, passando uma mão em seu rosto para afastar alguns fios de cabelo levados pelo vento.

- Oi, Chocolate... Como você está? – Perguntei com a voz embargada, passando as mãos por seus ombros e braços. – Está se divertindo com a Bella?

- Estou, ela é sempre legal! Ela só está um pouco mudada... – Deu os ombros. - As roupas e tudo o mais. Não entendi isso. Mas continua sendo a Bella de sempre, e eu amo a Bella!

Assenti, fungando baixinho, sem afastar meu olhar do dela. De repente, Emmett estava ali, oferecendo a mão para mim. Aceitei e me coloquei em pé; Carlie percebeu que havia algo errado.

- O que tem na sua perna, papai? – Ela perguntou inocentemente, abraçando minha cintura.

- Nada, eu só... Machuquei. Mas já está melhorando. Não é nada demais. – Olhei para baixo e sorri.

Emmett parecia bem sério ao nosso lado. Minha filha soltou de mim e começou a correr a nossa volta, tagarelando como sempre. Emmett e eu a seguimos lentamente; raramente saíamos ao ar livre, e o clima estava bom aquela tarde.

- Bella falou com ela sobre tudo. – Murmurou quando Carlie estava um pouco longe.

- É claro que falou. – Suspirei. – Ela é esperta demais. Sabe que há algo errado.

- Ela diz que te perdoa. – Ele me olhou. – Ela diz que, qualquer coisa que você tenha feito, você merece perdão.

Coloquei as mãos nos bolsos da calça e olhei para baixo, assentindo rapidamente.

- Vem cá, papai! – Carlie gritou de longe.

Ergui a cabeça, encontrando-a perto de um gramado. Estava agachada; provavelmente encontrara algum bicho interessante para me mostrar.

Dei um passo a frente e parei. Perto do portão, reconheci Bella e seu pai conversando, um pouco aflitos sobre alguma coisa. Ele usava um uniforme preto, semelhante ao de Jasper. Doente e aposentado... Outra mentira.

- Edward! – Bella gritou meu nome; não como um chamado, mas sim como uma ordem.

Eu fiquei parado enquanto ela se aproximava. Não usava um uniforme, o que indicava que não estava trabalhando. Então, o que fazia ali? Ela andou graciosamente até mim – eu não entendia como se equilibrava naqueles saltos. Estava tão linda...

- Precisamos ter uma conversa. - Bella ergueu uma mão e apoiou em meu peito quando tentei andar. Uma corrente elétrica pareceu atravessar o local. Encaramos-nos, sérios.

- O que é? – Perguntei um pouco seco demais.

Ela franziu a testa ao perceber meu tom. - Não está em posição de brigar comigo, senhor estressadinho. – Rebateu.

- Não somos exatamente melhores amigos agora. Veio para me torturar mais um pouco?

- Vim para tentar ajudar! – Bella cerrou os dentes.

- Ah, você está do meu lado, agora? – Ergui uma sobrancelha. – Eu estou tentando ficar algum tempo com minha filha, já que nunca posso vê-la.

- Eu a trouxe. Ela insistiu para vir. – Ela suspirou. - Edward, você precisa entender! – Ela olhou em meus olhos de tal maneira que quase pude ver a antiga Bella ali. Ela parecia mesmo preocupada. – Vocês não vão ficar juntos. Você não pode dar esperanças a ela!

- É claro que vamos ficar juntos. – Franzi a testa. – Ela é minha filha!

- E você tem uma ficha criminal que vai segurá-lo aqui no mínimo até ela se tornar adulta. – Com aquelas palavras, tive que baixar a guarda. – Eu sinto muito. – Ela ergueu as sobrancelhas, cheia de compaixão. – Ela não tem mais ninguém, e a justiça vai mandá-la de volta ao orfanato automaticamente até o fim da sua sentença.

Não consegui responder. Talvez até nem respirar.

- Ela não vai poder ser adotada por outra pessoa com tanta facilidade, mas... Também não será exatamente sua. – Ela completou.

- Você poderia... Ficar com ela. – Murmurei. – Ela adora você!

Bella encarou meus olhos, e não compreendi qual emoção estava ali.

- Eu sinto muito. – Repetiu.

Ela passou por mim e começou a se afastar rapidamente. Desapareceu ao passar por uma porta estreita. Charlie ainda me encarava no portão.


 (...)
 

- Eu saí da agência. – Rosalie anunciou. Nós andávamos tranquilamente, lado a lado; era uma das poucas vezes no dia em que eu poderia tomar ar fresco. – Estou conseguindo algumas coisas. Estou bem, pagam bem. Eu estou feliz.

Ela parou a minha frente e me encarou, erguendo os óculos escuros até o cabelo.

- Você vai ficar bem. Angela é uma ótima advogada. – Completou.

- Eu não preciso disso. Eu já confessei os meus crimes. – Murmurei de volta.

- É claro que você precisa de um advogado, Edward! Pode não sair inocente, mas...

- Rosalie. – Suspirei. – Eu sei o que fiz, e vou pagar por isso.

Ela franziu o cenho; seus olhos estavam cerrados por causa do Sol forte. Respirou fundo e afastou uma mecha que voava para seu rosto. - Você tem noção... Da sentença que pode receber? – Perguntou devagar.

- Completamente. Foram 10 anos de seqüestros e assassinatos. Eu vou passar o resto da vida aqui. – Sorri tranquilamente. – Tive tempo para me conformar.

Rosalie olhou para o outro lado do campo; Carlie ria em cima das costas de Emmett.

- E quanto a ela? – Perguntou, carinhosa.

Encarei minha filha por algum tempo, e então abaixei a cabeça.

- Eu não sei. E é isso que me assusta. – Assumi.

- Posso ficar com ela. – Rosalie disse.

- Não é simples, assim. Você não é da família. É provável que a deixem sob a guarda da justiça até a maioridade. – Murmurei, encarando um ponto atrás dela.

Rosalie esperou, encarando meu rosto.

- Eu sinto muito. – Respondeu.

- Eu sei.

- Você parece conformado demais. – Observou.

- Estou tentando não pirar. – Suspirei. – Por ela.

- Eu entendo...

Nossos olhares se encontraram de novo.

- Semana que vem. – Ela disse.

- O que? – Franzi o cenho.

- O julgamento. Está marcado pra semana que vem.

- Ah, sim. Sim. – Suspirei.

- Como se sente? – Ela cruzou os braços.

Dei os ombros em resposta. - Não vai mudar muita coisa. Eu sei o que me espera, não estou com esperanças de escapar do meu destino. – Expliquei.

- Eu falei com uma psicóloga da polícia. – Rosalie mudou de assunto. – Aparentemente eu estou doida. Síndrome de Estocolmo* foi o diagnóstico dela.

Rimos juntos, baixinho, e então sorrimos um para o outro.

- Acho melhor eu ir... Visitar Alice. – Disse. – Carlie pediu para ir, também.

- Mande lembranças minhas. Nossas. – Indiquei Emmett com a cabeça.

Rosalie assentiu e jogou os braços em volta de meu pescoço, me abraçando. Envolvi sua cintura com os braços para retribuir. Recebi um beijo no rosto, e então ela se afastou. Parou no meio do caminho.

- Ah! Se me permite dizer... – Completou, virando outra vez de frente para mim. Dei alguns passos até ficarmos próximos como antes. Ela mordeu o lábio, parecendo pensar um pouco antes de falar. – Aquela garota... Bella... Nós conversamos muito quando ela ainda estava disfarçada. – Explicou. – E, quer saber minha opinião feminina? – Rosalie abriu um sorriso enorme.

Esperei em silêncio, mas ela não disse nada.

- Pode falar. – Franzi a testa.

- Não era só um disfarce. Não se ela ainda está por aqui, falando com você e cuidando do caso. Emmett me contou que ela queria pegar Aro. – Deu os ombros, e então riu. – Você não vê?

- Rosalie, por favor... – Suspirei, passando por meu rosto e pela barba por fazer.

- Eu sei, eu sei! Deve ser difícil pra você, esquecer tudo. Mas eu quero ajudar, justamente porque sei o que você sente! – Ela sorriu, encontrando meus olhos outra vez. – É só um aviso. Se eu fosse você, prestava mais atenção a sua volta. Tem muitas entrelinhas nessa história. Ela não tem nada a ver com o seu caso, ela está aqui porque quer. Porque vocês ainda tem algo pra resolver. – Ela fez uma pausa, e eu esperei. – Eu te digo só uma coisa, Edward Masen. - Rosalie apontou um dedo para meu nariz antes de falar, e eu sorri. - Crimes perfeitos nunca deixam nenhum suspeito.

(...)

No total, passei exatamente 1 mês e 3 dias na cadeia, antes de ser levado a julgamento. Os acontecimentos que ressaltei aqui são, de certa forma, bastantes desconexos – vocês devem ter percebido. O fato é que, se eu lhes contar sobre todos aqueles dias em detalhes, vai parecer desanimador. Quero dizer, qual é o possível final feliz que um homem como eu poderia conseguir?

Quando tudo chegou ao fim, eu não tinha mais nenhuma perspectiva. Eu estava completamente conformado com meu destino. Mas as coisas tomaram um rumo que eu nunca poderia imaginar.





*Distúrbio psíquico atribuído a paciente que desenvolve afeição por quem o faz sofrer. É comum em casos de seqüestro e violência.



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Notas finais do capítulo

Valeu aí pelas recomendações, rosatais e yarabastoss!
Quero deixar uma notinha aqui, sobre uma coisa muuuuito antiga já HUAHUAHU Alguém uma vez perguntou nas reviews se a fic era inspirada no filme Meu Malvado Favorito, e eu prometi que responderia no podcast. Acho que vocês já perceberam que tá difícil ter podcast AHUUHAUHAHUAHU Bom, rapidinho, só de curiosidade mesmo... A Nina teve a ideia da fic realmente assistindo esse filme, mas na prática acabou que a história não tem muito a ver, não! Pra quem nunca assistiu, fala sobre um vilão que decide roubar a Lua e precisa do raio encolhedor que tá na casa de outro vilão. Então ele adota três menininhas que vendem biscoito pra esse cara, só pra poder entrar na casa dele e pegar o raio. E, é claro, ele não tinha a menor ideia de como cuidar de crianças. xD Tá aí uma ótima dica pra quem tá no tédio, Meu Malvado Favorito, muito fofo mesmo!
Quero pedir desculpas pela demora pra postar, mas minha co-autora decidiu demorar anos pra ler o maldito capítulo (falo mal mesmo). Tá aí, FINALLY! Aproveitem e não esqueçam dos meus amados comentários! Beijos!