Meu Malvado Favorito escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 16
Não era assim que deveria acabar


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo da 1ª fase.



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Foram necessários apenas dois dias para preparar tudo. A polícia, ao saber que pretendíamos nos render, acelerou todo o processo. A agência de modelos ainda mal havia se pronunciado, o que significava que entregaríamos Rosalie e não receberíamos nosso pagamento em troca. Não nos importávamos. Eu só precisava destruir Aro e manter a segurança de minha filha. Emmett e Alice estavam ao meu lado – “se você vai apodrecer na cadeia, nós vamos junto”, ela disse.

Eu não tive estômago para contar a verdade para Carlie. A menina estava passando a noite na casa de Bella que, por sua vez, pensava que eu estava resolvendo um problema do trabalho e voltaria pela manhã. Ela provavelmente nunca me perdoaria.

Eu não conseguia definir se minha atitude fora de coragem ou covardia. Por um lado, eu era medroso demais para olhar nos olhos de Bella quando falasse a verdade sobre quem eu era. Mas, por outro, eu era corajoso o suficiente para abrir mão da garota que amava e da minha liberdade para garantir a segurança de Carlie. Eu iria para a cadeia, e minha menina teria uma ótima mãe enquanto eu estivesse longe.

Ela era só uma criança – uma vítima – e Bella nunca a deixaria sozinha. Apesar da dor de perder as duas mulheres da minha vida, eu estava em paz. Elas ficariam bem. Dei um abraço demorado em cada uma e parti.

Naquela noite, era como se eu estivesse no automático.

O silêncio no carro era total; querendo ou não, estávamos trabalhando, e precisávamos de concentração. Emmett estacionou em frente ao galpão, e ninguém sequer se mexeu. Mal se passou um minuto, e vimos as diversas viaturas se aproximando, com as sirenes ligadas.

Eu pulei pra fora do carro e puxei Rosalie comigo, segurando seu corpo e apontando o revólver para sua cabeça com a mão livre. Quando meu aperto em sua cintura pareceu muito forte, afrouxei, e ela fez questão de me responder.

- Sei que não vai me machucar. - Murmurou.

O número de policiais ali era grande demais para serem meros funcionários da delegacia de Seattle. De dentro de um dos carros, uma voz soou, anunciando no alto-falante. “Aqui é o FBI. Entregue a garota e abaixe a arma.” Ouvi Alice e Emmett atrás de mim, igualmente armados. Vários homens saíam das viaturas, apontando seus revólveres em nossa direção. Alguns poucos vestiam uniformes azuis, outros totalmente pretos.

Um homem loiro se adiantou – vestindo um uniforme preto um pouco diferente – e nos ameaçou. Mantinha o nariz empinado; provavelmente possuía um cargo mais alto que os demais.

- Entregue a garota. – Repetiu devagar, como se tentasse acalmar um doente mental.

Olhei de canto para Emmett, que simplesmente assentiu.

- Viemos para nos render. – Soltei a frase com cuidado, olhando para todos os policiais, menos aquele. A maioria mantinha uma posição de defesa; as costas um pouco curvadas, as armas apontadas para nós três. Finalmente, olhei diretamente nos olhos do rapaz loiro. – Vamos contar tudo o que precisam saber. – Fiz uma pequena pausa, pensando bem em minhas palavras. – Basta que...

- Entreguem a garota, e então conversamos. – Ele fez um breve sinal para trás, e todos abaixaram as armas (não o suficiente para ficarem despreparados). Eu, Alice e Emmett não baixamos a guarda.

Resolvi obedecer. Não excluí totalmente a possibilidade de estarem mentindo, mas alguma coisa nos olhos do policial me trazia confiança. Abaixei meu revólver, que estava na cabeça de Rosalie, até perto de sua cintura – virado para o lado oposto. Com passos curtos e cautelosos, nós dois nos aproximamos até que Rosalie pudesse ser empurrada para os braços dele. Eu não queria machucá-la, mas precisava agir conforme o protocolo, ou o policial desconfiaria.

O homem disse alguma coisa para ela quando a segurou, provavelmente tentando acalmá-la, mas percebi que mal prestara atenção. Nossos olhares se sustentaram por algum tempo – vi em seus olhos que temia por meu futuro. Uma mulher de uniforme azul se aproximou e puxou seu braço carinhosamente, guiando-a para um dos carros.

Tudo foi rápido demais, a partir daí. O primeiro tirou partiu do revólver de uma policial robusta, que desobedeceu a ordem de seu superior. Emmett o devolveu. Quando dei por mim, duas frentes se formavam num tiroteio violento, e eram muitos contra somente três de nós.

Eu não mirava em nenhum lugar exato; proteger-me era mais importante do que acertar alguém. Estaria mentindo se dissesse que tínhamos qualquer vantagem, mas éramos orgulhosos demais para sair dali – além disso, fugir sem denunciar Aro estava fora de questão.

Foi aí que o tiro crucial, aquela bala escolhida especialmente para seguir a direção exata, saiu de meu revólver. Vi tudo quase em câmera lenta. Atingiu uma garota baixinha, de roupas pretas. Seu corpo caiu no chão. Morta.

- Bree! – Uma voz masculina gritou, com certo desespero.

Observei o corpo da garota e mal tive tempo de me concentrar outra vez no que fazia. Uma dor insuportável começou a subir por minha perna. Fui para o chão, também, levando uma mão à coxa. Minhas costelas, já doloridas por culpa de Santiago, bateram com tudo no asfalto. A dor deixava minha visão turva mas, ainda assim, enxerguei exatamente o que estava a minha frente. Dali, encolhido no chão, presenciei Alice e Emmett relutando até serem rendidos por policiais de uniforme azul.

Certo, uma pequena pausa por aqui. Nossa história está quase chegando ao ponto em que começou, e eu preciso frisar alguns aspectos importantes: Eu não sabia. Eu não tinha como saber. Talvez tenha ficado mais evidente conforme o tempo passava, mas o amor acabou me cegando. É isso que tal sentimento faz com os homens. Tentei evitá-lo durante muito tempo e, quando finalmente decidi me entregar, me decepcionei.

Foi assim que a vi pela primeira vez. O momento combinava perfeitamente com nosso estilo de vida; não poderia ter sido melhor. Mas, ah, como doeu!

Minha respiração era irregular. Minhas mãos suavam. Meu olhar estava no chão, tentando me concentrar em alguma maneira de fazer a dor passar, quando alguém se aproximou. Ergui meus olhos para a figura. E foi impossível de acreditar.

Os saltos que a garota usava faziam um barulho ritmado no chão, o que, naquele momento, era quase desesperador. Ela mantinha o nariz alto, numa expressão esnobe. A arma era carregada na mão direita, balançando relaxada ao lado do corpo perfeito. Suas roupas eram pretas, completamente. Mas, mesmo que a cor combinasse com a dos demais, percebi que aquilo não era um uniforme. A blusa de alças finas, a calça apertada e as botas de cano alto... Era linda. Era estonteante. Parecia que havia saído de um filme de ação, ou de um dos jogos da Lara Croft*. Tudo nela me transmitia sentimentos inexplicáveis, nada inocentes, e talvez até nostálgicos – da época que admirava heroínas de histórias em quadrinhos. Foi quando nossos olhos se encontraram. Aquele chocolate era bastante conhecido. Mas, naquele segundo, não transmitiam a mesma doçura de sempre. Eram severos, talvez até amedrontadores.

Bella agachou, pegou meu revólver do chão e novamente se ergueu. Analisou a arma. Não havia expressão em seu rosto.

- Bom trabalho, perdedor. – Arregalei meus olhos. Suas palavras doeram, no lugar mais fundo onde eu poderia sentir. Ela chutou a lateral do meu corpo com vontade, me fazendo virar no chão, amargurado.

Aquilo era um sonho. Precisava ser. Onde estava o oxigênio?

- Vá com calma, Isabella. – O mesmo homem loiro se aproximou de nós, pegando as duas armas das mãos da garota. Ela suspirou, jogando o quadril para o lado ao me analisar outra vez. Tudo nela era sexy, até mesmo a maneira que seu rabo-de-cavalo mexia quando ela virava a cabeça.

- Sou uma idiota, não é, Jasper? – Ela perguntou a ele. Uma lágrima involuntária desceu pelo canto de meu olho até a bochecha extravasando parte da dor. – Estava tudo aí. Bem a minha frente.

- Você foi ótima. – Ele rebateu. – Foi só uma feliz coincidência. Acabou melhor do que esperávamos.

Jasper deu um tapinha em seu ombro e sorriu.

- Eu me lembro muito bem de ter lhe dado essa noite de folga. Pode ir para casa.

- Não. – Bella respondeu, firme.

O policial suspirou, sabendo que seria inútil discutir. Afastou-se logo em seguida. Ficamos parados ali, nos encarando. Tudo ficou calmo a nossa volta, de repente. Os policiais relaxaram, agora que nós três estávamos rendidos. Ofereciam auxílio à Rosalie, mas ela só demonstrava preocupação conosco, e nada consigo mesma. Eu só procurava a Bella, minha Bella, no fundo daqueles olhos cheios de desprezo

Ela agachou, apoiando os cotovelos nos joelhos e aproximando o rosto do meu.

- Aquela garota que você matou. Sabe quem era? – Virou a cabeça, irônica. – Uma preciosidade. Trabalhava comigo. Ainda estava aprendendo, mas tinha tudo pra ser a melhor. E você tinha que se intrometer. Idiota!

Ela soltou o xingamento, inconformada, enquanto se colocava de pé mais uma vez, e começou a virar. Reuni todas as poucas forças que ainda me restavam, e soltei a pergunta que martelava em minha cabeça.

- Onde está Carlie? – Gritei, virando quase de bruços no chão.

Bella me olhou novamente, com a testa franzida.

- Com meu pai.  – Respondeu, fazendo uma pausa logo em seguida. – Quem é essa menina?

- O que? – Ofeguei.

- Suponho que não seja sua filha.

- Ela é. É minha filha. Eu a adotei, ela é minha agora. Vocês não vão tirá-la de mim. - Eu quase gritava, mesmo que mal conseguisse respirar.

Ela andou até mim e agachou uma última vez, falando quase em meu ouvido.

- Você não tem a mínima condição de criar uma criança. É um bandido. Não vou deixar uma garota como ela crescer com gente do seu tipo. – Cerrou os olhos. – Além do mais, você vai apodrecer na cadeia por um bom tempo. Ela voltará para o orfanato, de onde nunca devia ter saído. – Bufou, mostrando indignação. – Mal consigo pensar no que deve ter feito a ela! Você me dá nojo, Edward. – Ergueu uma sobrancelha, novamente fazendo uma pausa. – Masen.

Bella se colocou em pé, sem tirar os olhos dos meus.

- Então era tudo mentira. – Consegui dizer.

- Olha só quem está falando! – Soltou um riso, indignada.

- Nunca menti sobre nós. – Ofeguei. – Eu amava você. Eu... Amo.

Ela esperou um pouco, sem demonstrar nenhuma reação aquelas palavras. - Devia poupar sua habilidade de atuação para o juiz. Vai precisar.

Bella deu meia-volta. De costas, se afastando, eu tinha dúvidas se a denominava uma supermodelo ou uma espiã, do tipo que Carlie gostava de fingir ser.

Minha cabeça latejava, eu não sentia mais minha perna, e meu coração aos poucos ficava anestesiado, tamanha era a dor que a mentira trouxera. Tudo fez sentido naquele pequeno segundo em que a vi se aproximando. Bella estava infiltrada. Eu, alheio a tudo, insisti em permanecer próximo a ela em razão daquela maldita aposta. Bella nunca me amara. Ela estava atuando, e eu fazia parte de um plano muito bem elaborado. Eu, que sempre me julguei tão esperto. E a dor que me fora causada era inexplicável.

 “Ah, minha Chocolate”, pensei, “como eu preciso de você agora...”




*
Personagem fictícia da série de videogamedo gênero de aventura, Tomb Raider. É considerada um grande símbolo do feminismo por, além de seus atos heróicos, conter um forte apelo sexual.


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Notas finais do capítulo

Agradecimento especial a Ki Cullen, que chegou há pouco tempo e já mandou recomendação e tudo! Valeu mesmo, queria mais leitores como você!
Só Deus sabe o quanto eu esperei pra tirar esse capítulo do forno. 3... 2... 1... Surtem nas reviews!