Meu Malvado Favorito escrita por mulleriana, Nina Guglielmelli


Capítulo 12
Encontro... A três?


Notas iniciais do capítulo

Só pra avisar que tem uma nota super especial la no final. Beijos a todos e boa leutra, espero que se divirtão!



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- Como ousa invadir meu navio, marujo?

Girei o corpo num movimento automático, revirando os olhos ao ver Carlie ainda de pijama, com um tapa-olho e uma espada de plástico na mão direita apontada para mim. Não tirei o telefone da orelha, mas ainda assim não consegui ouvir o que Bella dizia, porque a menina viera correndo até mim e estava lutando contra a minha perna.

- É, sim... Eu estava pensando se talvez, quero dizer, se você não estiver ocupada, talvez possamos sair para algum lugar no jantar, quem sabe? – Afastei o celular só um pouco, o suficiente para poder sussurrar com minha “filha”. – Agora não, Carlie, por favor! – A menina simplesmente abraçou meu quadril e congelou ali, me olhando com um bico suplicante num pedido mudo para que brincássemos juntos.

 “Ah, eu não sei, Edward. Adoraria jantar com você, mas o meu pai está piorando ultimamente, e eu...” Bella continuou a falar enquanto eu tentava me desvencilhar de Carlie, que continuava agarrada a mim como um filhote de macaco. “Entende?”

- Com certeza. – Respondi, sem ter idéia do que ela dissera anteriormente.

A pirralha soltou meu quadril e, em seu lugar, agarrou meu braço. Eu o ergui e carreguei seu corpo até o sofá, fazendo com que sentasse ali. Ela cruzou os braços e emburrou.

 “... Deixar marcado, então.” Bella estava dizendo quando eu voltei a prestar atenção. “Meu pai está dormindo agora, então, se ele estiver melhor no final da tarde, podemos fazer alguma coisa. De qualquer forma, eu te ligo.”

- Estarei esperando. – Sorri sozinho, esperançoso.

Finalizei a ligação, guardei o celular no bolso e, lentamente, encarei a monstrinha. - Bom dia, Carlie. – Cumprimentei num murmúrio divertido.

- Bom dia! – Ela pulou no sofá, sorrindo de orelha a orelha.

Jacob saiu pela porta entreaberta do quarto calmamente e veio até o sofá, deitando nos pés de sua dona, que mal alcançavam o chão. Eu comecei a andar em direção a cozinha e ela me acompanhou com o olhar (o único olho que estava à mostra), sem diminuir o sorriso. A tigela deixada na pia indicava que ela já havia comido.

Distraidamente, assobiando uma música qualquer, comecei a preparar meu próprio café-da-manhã; Emmett, Alice e Rosalie ainda dormiam, o que me dava a vantagem de comer algo a mais do que o costumeiro de todas as manhãs. Era uma ideia de Rosalie – se alguém comprasse alguma comida especial para si mesmo, deveria marcar seu nome na embalagem. Alice sempre trazia um doce diferente quando saía da casa. Esse é o lado ruim de fazer tratos com bandidos: Nunca colocam em prática.

Naquele dia, encontrei um pacote de mini-donuts no fundo da geladeira. Ela não podia simplesmente ter escrito Alice. “Cai fora, idiota.”, dizia o papel, e qualquer um podia saber quem escrevera. Ignorei e estiquei a mão para meu café-da-manhã, levando um susto ao virar e encontrar Carlie ali, sentada na cadeira com o mesmo sorriso (mas, desta vez, sem seus acessórios de pirata). Suspirei, fechando a porta da geladeira com o pé e jogando um mini-donut de chocolate inteiro na boca.

- Tá legal, o que você quer? – Perguntei de boca cheia, jogando o papel com o aviso de Alice direto no lixo.

- Precisamos tratar de negócios. – Ela soltou com toda a calma do mundo.

Eu apoiei as costas na bancada e cerrei os olhos, pegando outro donut no pacote.

- Que tipo de negócios? – Rebati lentamente.

- Senta aí. – Carlie apontou para a cadeira do outro lado da mesa, séria. Eu obedeci, já começando a comer o terceiro donut. – Lembra qual eram as minhas três exigências para te ajudar?

- As que eu não aceitei? – Ergui uma sobrancelha, falando de boca cheia.

- Não. As que estamos negociando agora. – Mas que porra de língua afiada! – A primeira era ter um cachorro. Feita. A segunda era ir ao parque de diversões.

- E...?

- Quero que você me leve hoje a noite, com a Bella.

- O QUE? – Comecei a rir no meio da frase. – Pra que?

- Como assim, pra que? Eu já não provei que posso ser de grande ajuda? - Ela colocou as mãos na cintura, se achando muito crescida. - Vamos unir o útil ao agradável! Você quer sair com ela, e eu quero sair para ir lá. Ao invés de ir com Emmett, vocês me levam.

Eu fiquei em silêncio por algum tempo, meu rosto lentamente se contorcendo numa careta. - Eu tenho opção? – Perguntei.

- Se você não concordar, Emmett pode me levar...

- Ótimo! – Sorri.

- E depois encontramos com vocês onde estiverem jantando. – Ela deu os ombros.

- Emmett em meu encontro? Nunca! – Quase fiquei em pé.

- Decidido. Sem mais reclamações. Vou com vocês ao parque. – Carlie sorriu, juntando as palmas das mãos. – E agora... A terceira coisa.

Encarei a menina enquanto mastigava mais um donut, quase a fuzilando com os olhos.

- Eu quero mudar a decoração. – Ela me lembrou.

- Blah! – Resmunguei de boca cheia.

- Mas para chegarmos nisso... Precisaremos de dinheiro. – Ela falou lentamente. E então, do nada, saltou da cadeira e correu para a sala. – Aí eu inventei essa coisinha! – Disse, ainda no outro cômodo, começando a voltar.

Demorei para perceber a lata de cerveja em suas mãos. Ela colocou o objeto em cima da mesa, parando em pé ao meu lado. Ainda assim, era menor do que eu.

- Essa é a sua nova melhor amiga. A “latinha do palavrão”! – Anunciou ao apontar, radiante.

- Quê? – Quase cuspi um pedaço de donut ao perguntar, analisando a lata.

- Simples! Sempre que alguém nesta casa falar um palavrão, precisará colocar 0,50 centavos lá dentro. – Deu os ombros. – Só assim pra vocês pararem! E você é o último a saber desse acordo, então não tem como reclamar. Já tem algumas moedinhas da tia Alice aqui. – Carlie pegou a lata e a chacoalhou, tentando ouvir.

- Mas que merda, era só o que me fal...

- AHÁ! – Ela esticou a lata para mim, empinando o nariz. –Você deve 0,50 centavos a latinha!

- Por que? Não disse nada. – Franzi a testa.

- A palavra com M!

- “Merda” não é palavrão. –Aproximei nossos rostos e forcei uma voz zombeteira, resistindo a mostrar a língua como uma criança de 5 anos.

- É, sim! – Ela esticou ainda a mais lata, quase enterrando ela no meu nariz. – Paga!

Respirei fundo e enfiei a mão no bolso do jeans, puxando a primeira moeda que encontrei.

- Essa é de 0,10 centavos. – Carlie reclamou um pouco antes de eu jogá-la dentro da lata.

- Foda-se. – Respondi, ficando em pé. Dei um tapa em minha testa no mesmo segundo, começando a procurar por outra moeda, desta vez no valor certo. – Droga, vai ficar rica desse jeito.

Sorri um pouco, jogando ultimo donuts em minha boca enquanto jogava a embalagem no lixo e saía em direção a sala. Carlie me seguiu, é claro, saltitante.

- Mal posso acreditar que vou no parque! – O grito agudo que soltou em seguida me fez tapar os ouvidos. Jogamos nossos corpos ao mesmo tempo no sofá, sentados lado a lado. Liguei a TV e tentei, em vão, ignorar o que a menina tagarelava. – Pai, por que você não tá animado? Eu estou muito feliz, e a Bella também vai estar! Bom, ela sempre fica contente quando saímos juntas. Ela gosta muito de mim, sabe? Menos na vez que fomos pra Seattle, ela estava triste, mas eu achei melhor ficar quieta e não perguntar nada, porque a Esme sempre diz que...

- Opa, peraí, peraí, peraí! – Eu quase saltei no sofá, virando de lado para encará-la. – Vocês foram a Seattle?

- Fazer compras! Bom, não ficamos muito tempo na loja de roupas, porque a Bella quis ir até a livraria, e aí o que eu podia fazer, né? Mas eu comprei muita roupa rosa, porque quando a tia Alice me veste é sempre preto, e eu não gosto muito. – Carlie deus ombros.

- Você sempre sai... Com a Bella? – Franzi a testa, perguntando quase a mim mesmo. – E onde eu estava pra nunca ficar sabendo disso? – Minha voz saiu com um pouco mais de raiva.

- Pai... – Carlie suspirou, ficando mais perto de mim. – A Bella é minha BFF! É claro que saímos juntas. Fazemos compras, vamos ao cabeleireiro, ao parquinho... É sempre divertido! Coisas de meninas, você não entenderia. – A menina sorriu e deu os ombros, deixando o corpo escorregar até seus pés alcançarem o chão.

Ela ficou em pé, pegando a boneca sentada no outro sofá e começando a acariciar seu cabelo.

Meus neurônios estavam a mil processando aquelas informações. “Mas aí nos apaixonamos. Foi amor a primeira vista, ela era minha alma gêmea. Até que, depois do nascimento de Carlie, foi embora. Porque ela morreu. Foi muito difícil para mim. Os dois primeiros anos sem minha querida... Rosalie.”

É claro que eu pensei o pior. Mas que droga, logo a menina ia dar com a língua nos dentes! Eu disparei do sofá em sua direção, ajoelhando para ficarmos quase da mesma altura.

- Carlie, Carlie, Carlie! – Segurei sua mão livre, já que o outro braço segurava a boneca. – Você precisa fazer um grande favor ao papai, tá legal?

Ela ficou em silêncio, com uma expressão inocente, somente esperando. Falei devagar, escolhendo muito bem minhas palavras.

- Olha, querida, é que... Sabe, não é legal... É claro que pra você é algo muito feliz, mas... Seria melhor se não contasse pra todo mundo sobre ter sido adotada. Entende? Porque... As pessoas... São ruins, sabe? Elas podem fazer piadas de mau gosto com você ou pior. E mesmo que Bella seja sua... BFF... Seria melhor que não tocasse no assunto.

- Mas...

- Pode fazer esse favor pra mim, não pode, Carlie? – Fiz um pequeno bico.

- Posso, papai, é claro que posso! – Ela sorriu um pouco.

- Ótimo! – Fiquei em pé. – Para todos os efeitos, eu sou seu pai de verdade.

- Mas você é meu pai. – Ela franziu a testa, ingênua.

- Eu sei, Carlie, mas eu quis dizer...

- Você não quer mais ser meu pai, Edward? – Ela perguntou já com os lábios trêmulos. – Você vai me mandar de volta pra Chicago?

- Não! – Respondi, ajoelhando outra vez. – É claro que não. Nada de chorar! – Ergui uma sobrancelha ao ver a expressão em seu rosto. – Uma pirata tem que ser durona.

Carlie riu, mudando completamente seu semblante. Antes que eu pudesse pensar, ela estava a poucos centímetros de mim, com os braços ao redor do meu pescoço. Eu paralisei.

- Ótimo, vá... – Pigarreei. - Vá se trocar. – Murmurei, tentando empurrá-la devagar, sem sucesso. – Carlie, já pode me largar. – Outra tentiva. – Carlie!

Ela se afastou e, com um breve sorriso, correu para seu quarto.


                                                                         (...)


Eu não entendia muito de crianças para saber se alegria em excesso era normal, mas jurava de pés juntos que Carlie tinha algum problema. Ela era elétrica. E naquele dia, como se já não bastasse sua ansiedade pelo passeio que faríamos, a noite anterior em que li uma história para que dormisse teve uma reação estranha na menina. Ela estava ainda mais grudada em mim, e eu já estava começando a ficar de saco cheio desses momentos “pai e filha”.

A tão esperada ligação de Bella só veio às 6 da tarde. Carlie ficou pulando ao meu lado enquanto eu marcava de pegá-la em sua casa dali a pouco.

- Boa sorte. – Alice desejou, zombeteira, totalmente largada no sofá.

- Só tome cuidado para não perdê-la por aí. – Emmett completou e riu em seguida, mudando o canal da televisão.

Eu soltei uma espécie de rosnado, abrindo a porta para que Carlie saltitasse para fora.

- Vou tentar. – Rebati, saindo e fechando a porta no focinho de Jacob, que tentava ir atrás de sua dona.

A menina correu na frente até o carro e começou a cantarolar uma música inventada na hora. Pela primeira vez, não carregava sua boneca. Eu apertei automaticamente o botão do controle, e ela se apressou, abrindo a porta do banco do passageiro e sentando ao lado do meu lugar, com um enorme sorriso no rosto.

- Onde pensa que vai? – Perguntei, entrando no lado do motorista. – Já pra trás!

- Mas papai! – Ela resmungou, fazendo um bico para tentar me comover.

- Vamos logo, Carlie, ainda tenho que pegar Bella... – Suspirei enquanto ligava o carro.

- Ah, papai, só hoje, vai! – Puta merda, como eu odiava quando ela fazia manha daquele jeito!

- Carlie, vai para o banco de trás, agora! – Quase gritei, e ela finalmente obedeceu.

A menina engatinhou pelo meio de nossos bancos e sentou atrás de mim, emburrada. Pude ver sua expressão pelo retrovisor, e não me importei. Cheguei a casa de Bella em menos de 10 minutos. Carlie, que sempre tagarelava, não dissera nada naquele tempo. Eu estacionei e simplesmente buzinei.

Não demorou muito para que a garota aparecesse na porta – e, bom, nem preciso comentar sobre suas roupas. Ela abriu a porta e sentou ao meu lado. Sorriu, e eu retribuí o gesto involuntariamente.

- Olá, Edward. Oi, Carlie! – Ela girou o corpo para olhar a menina. Eu saí com o carro, olhando fixamente para frente. – Ei, que bicho te mordeu, borboleta?

Olhei rapidamente para o retrovisor; ela ainda estava com a mesma cara fechada.

- Coloque o cinto, Carlie. – Falei como uma ordem, mas não tão firme. Ouvi o barulho dela obedecendo rapidamente.

Bella virou para frente, outra vez. - É só chegarmos lá e ela vai melhorar, você vai ver. – Eu disse a ela, sorrindo um pouco. – Ainda bem que conseguiu vir.

- Fiquei feliz quando meu pai melhorou. – Ela suspirou. – Estava tão preocupada...

Eu olhei de canto para ela, sem saber o que dizer. Não era muito bom quando se tratava de dar conselhos ou esse tipo de coisa. Optei pelo silêncio. O problema foi que, depois de pouco tempo, ele começou a ficar constrangedor demais.

- Esse passeio todo foi idéia de Carlie, sabia? – Tentei puxar assunto.

- Ah, é mesmo? – Bella sorriu, olhando a menina pelo retrovisor. Fiz o mesmo, e vi que ela sorriu de volta. – Você gosta de parques de diversão?

- Quem não gosta? – Carlie deu os ombros, animada.

- Tem razão. Eu adoro! – Bella respondeu com uma risadinha, voltando a olhar pra frente.

- Qual é o seu brinquedo favorito, Bella-Bell? – A menina jogou o corpo pra frente, segurando no encosto do banco de Bella.

- Hm... Eu gosto muito de montanha-russa. E você, qual é o seu favorito? – Perguntou. Como ela tinha tanta paciência com aquela pirralha tagarela?

- Eu gosto do carrossel, porque sempre parece que a gente tá andando num cavalo de verdade. Uma vez a Claire tava com medo, e eu não entendi porque, e insisti para que ela fosse comigo e sentasse numa daquelas carruagens, sabe? Quer dizer, tudo bem ter medo de cavalo, ela não precisava sentar em um também, mas pelo menos numa cadeirinha ela tinha que ir, porque o carrossel é sempre divertido, de qualquer jeito, né?

- Quem é Claire? – Bella perguntou, franzindo a testa.

Merda.

- É minha melhor amiga! Ela é lá…

- De Chicago. – Completei a frase antes de minha “filha”. - Nós morávamos em Chicago, não sei se já cheguei a comentar. – Sorri para Bella, nervoso.

Ela encostou no banco, um pouco pensativa, e Carlie voltou a sentar direito, ciente de que fizera algo errado.

(...)

O parque não ficava assim tão longe. Não era exatamente em Forks, mas, considerando que aqui só existe mato, faz parte da cidade. De fato, era uma visão bonita. Mal saí do carro e Carlie disparou para longe; Bella a seguiu, certificando-se de que não ia sumir na multidão. O sol começava a se pôr atrás da enorme montanha-russa, cujas luzes já estavam acesas, assim como de vários outros brinquedos.

Logo essa visão que me atraia foi ocultada pelo barulho infernal. Parecia que todos os sons do mundo estavam misturados ali. Vozes, buzinas, música, máquinas, gritos, passos. Era como se aquele lugar fosse uma fonte de alegria inesgotável.

- Vem logo, papai! – Carlie gritou, já perto do caixa. Bella estava segurando a mão da menina, tão animada quanto ela. Eu me aproximei sem pressa, desviando com nojo de algumas crianças que passavam correndo por mim.

Não precisei encarar nenhuma fila. Uma mulher gorda, que mais parecia um homem bigodudo, tentou me lançar um sorriso que não atingiu seus olhos.

- Dois adultos e uma criança. – Pedi, puxando a carteira do bolso.

Carlie, que logo soltou a mão de Bella e se colocou a minha frente, apoiou as mãozinhas na bancada e esticou o pescoço, ficando na ponta dos pés. Quando viu o rosto da mulher, recuou automaticamente, batendo as costas em meu quadril.

- Somente menores de 10 anos pagam a metade do preço. – A mulher disse, entediada. Sua voz era irritante. – Qual é a idade dela?

- Cinco. – Bufei, olhando de relance para a tabela de preços.

- Oito! – Carlie resmungou.

Entreguei 10 dólares a funcionária, que rapidamente me passou os tickets.

- Vamos, vamos, vamos! – A menina puxou um dos tickets da minha mão, e então segurou a minha, correndo para onde Bella estava.

Entregamos nossos ingressos e rapidamente entramos. Mais algumas crianças quase esbarraram em mim. - Onde quer ir primeiro? – Bella perguntou a menina, abaixando e apoiando as mãos em seus joelhos. Aquela posição me permitiu ver que sua bunda era maior do que eu pensava. Hm... - O que acha, Edward? – Sua voz me tirou de um breve devaneio.

- Com certeza. – Sorri para ela, sem saber do que estávamos falando.

Sem soltar a mão de Bella, minha “filha” pegou a minha, ficando entre nós. O parque era pequeno; andamos ele quase inteiro daquela maneira, como uma família feliz. Bella conversava animada com a menina, mais uma vez demonstrando uma paciência infinita com ela.

- Ali! – Carlie apontou para o carrossel, pegando minha mão com mais firmeza.

Eu tentei ir mais devagar, mas acabei me rendendo, correndo junto com ela. Bella soltou uma risadinha satisfeita, se colocando perto da entrada quanto subimos no brinquedo. Minha “filha” praticamente jogou seu ingresso na cara do funcionário ao passar por ele; eu ainda estava entregando o meu pacientemente quando ela subiu em seu cavalo.

- Fica aqui comigo, papai! – Carlie gritou, e eu obedeci, resmungando alguns palavrões ao me aproximar de seu cavalo e me posicionar em pé, bem ao seu lado. – É melhor segurar! – Ela aconselhou com uma risada, abraçando o pescoço do animal.

Mais algumas crianças e seus pais subiram no brinquedo antes que ele rapidamente fosse ligado. E foi aí que meu pesadelo começou. Pra começar, a música. Aquela porra de música infernal – eu me sentia dentro de um desenho da Discovery Kids que certa vez Carlie me obrigou a ver. A cada volta eu ficava torcendo em silêncio para a velocidade do carrossel aumentar, e nada. Nada além daquele ritmo lento e desesperador.

Em contraste com ele, os cavalos também se moviam, subindo e descendo, para a alegria inexplicável das crianças. A cada descida, todas elas soltavam um grito longo e agudo, como se estivessem na montanha-russa mais radical do mundo. Puta. Que. Pariu.

- Oi, Bella, olha nós aqui! Aqui! – Carlie acenava toda maldita vez que o carrossel virava e passava pela garota. E ela, com toda a paciência do mundo, ria e acenava de volta. Eu mal me mexi durante todo o percurso, nem mesmo quando um bebê barulhento, sentado com sua mãe em uma espécie de carruagem, jogou sua chupeta na minha direção.

Assim que o carrossel parou, Carlie correu na frente, como sempre, indo direto para Bella e abraçando suas pernas magrelas. A cabeça da menina mal alcançava seus seios. Não que eu estivesse reparando neles.

- Você se divertiu, querida? – Ela perguntou com um enorme sorriso.

- Sim, sim, sim, vamos de novo! Desta vez você vai comigo, Bell, você tem que experimentar! – Carlie respondeu pulando como um brinquedo movido a pilha. – Papai, você espera aqui, a gente vai mais uma vezinha só, tá bom?

Eu encarei as duas com a mesma expressão tediosa que carreguei quando estava no brinquedo. Dei os ombros, indo na direção contrária delas para me sentar num banco, em forma de tronco. E então, esperei. Todo o tempo que passei no brinquedo, agora estava esperando do lado de fora, e era só um pouco... Menos pior. Eu precisava sorrir e acenar para elas toda vez que passavam por mim. E, se eu olhasse para o lado e fingisse que não estava vendo Carlie, a menina ficava em pé no cavalo e começava a gritar por mim.

Mas, caralho, isso não deveria ser um encontro?

Eu já havia cansado de olhar o carrossel girar e minha “filha” acenar para mim; abaixei a cabeça e apoiei a testa nos braços, fechando os olhos. Só levantei algum tempo depois, quando ouvi a risada de Carlie perto de mim.

- Isso é muito legal! – Ela gritou e pulou ao redor do banco, quase caindo ao dar um giro.

- O que acha de ir mais uma vez, então? – Bella perguntou. NÃO, FILHA DA PUTA, NÃO!

- Ah, eu não sei, Bella-Bell, você disse que gosta de montanha-russa, então a gente... Ai, olha só isso, papai! – A menina me puxou pela mão, e eu quase caí do banco. Ela correu comigo até uma barraca infestada de bichos de pelúcia em toda a volta. – Eu quero um, pai, eu quero!

- O que você vai fazer com um bicho de pelúcia, Carlie? – Perguntei, um pouco irritado.

- Eu quero um, papai, eles são tão fofos! Olha esses ursos, e esse coelho... – Ela apontou, mas não me dei ao trabalho de olhar. – Por favor, eu quero um, por favor!

O funcionário da barraca nos encarava; era um rapaz magricelo de olhos esbugalhados. Eu pude ver em seu rosto irônico que era um trambiqueiro – você aprende essas coisas depois de algum tempo num trabalho como o meu.

Bella tocou carinhosamente meu ombro (senti um arrepio estranho com isso, mas esse é um detalhe que vamos deixar para depois), e virei a tempo de vê-la sorrir para o rapaz.

- O que é preciso fazer pra ganhar um desses? – Perguntou, simpática.

- É o seguinte, moça... – Ele tinha uma voz estranha, como um pré-adolescente que ainda oscilava entre o grave e o agudo. Apontou para a barraca por cima de seu ombro, apoiando os cotovelos na bancada a nossa frente. – São 5 dólares, com direito a 10 tiros. Tá vendo os sapos ali atrás, chefe? Cada um vale 100 pontos. A única coisa que precisa fazer é derrubá-los.

Atirar. Isso! Eu estava feito! E, de quebra, talvez isso impressionasse Bella um pouquinho. Enfiei a mão no bolso e puxei a carteira, tirando 5 dólares dela. Os olhos do homem brilharam ao pegar a nota.

Ele deu um passo para o lado e simplesmente apertou um botão, ligando tudo. Os sapos começaram a se mover, enfileirados, um pouco mais rápido do que seria justo – isto é, para alguém cujo trabalho não exije habilidade com armamentos. Carlie e Bella se afastaram um pouco, me dando espaço perto de uma das armas na bancada. Só então reparei as diversas princesas desenhadas nas paredes.

- Já pode escolher seu brinde, Carlie. – Sorri sozinho, de maneira até diabólica, me posicionando em frente a bancada e segurando a arma, como já estava acostumado.

(The Clash – Should I stay or should I go
http://www.youtube.com/watch?v=LZk_HnE-cdU&feature=related )

O primeiro tiro foi em cheio num sapo que deslizava quase para fora do meu campo de visão. O barulho da madeira tombando, mesmo que fraco, ecoou em meus ouvidos de maneira deliciosa. Mais dois tiros foram disparados, e mais dois sapos derrubados, com total precisão.

- É isso aí, papai! – Ouvi Carlie comemorar perto de mim.

Infelizmente, seu incentivo pareceu azarar meu jogo. Atirei mais duas vezes; um tiro passou exatamente entre dois sapos, e o outro bateu na cabeça dele, o que não foi suficiente para derrubá-lo. Só me restavam cinco tiros. E, porra! Eram só bonecos, pelo amor de Deus! – se consigo atirar em alvos reais, deveria acertar aqueles sem dificuldade alguma.

Enraivecido com esses pensamentos, comecei a simplesmente disparar a arma, sem mirar. Um tiro derrubou outro sapo, por pura sorte, mas os outros quatro nem passaram perto. Tudo de repente parou; apertei o gatilho e nada saiu de lá, a não ser um mínimo barulho.

- E... Acabou! – O funcionário se aproximou, sorrindo. Você fez 400 pontos. A garotinha já pode escolher o prêmio. – Ele piscou para Carlie.

Ela ergueu o rosto, analisando os bichos de pelúcia pendurados.

- Aquele! – Sorriu, apontando um leão provavelmente maior do que ela.

- Ah... É uma pena, senhorita, esse vale 800 pontos. Seu papai deveria ter acertado tudo, mas ele precisa treinar um pouquinho mais, né? – Ele soltou uma risada ridícula; eu deveria treinar com a cabeça dele. – Mas que tal esse aqui? – Pegou uma espécie de vara, cutucando uma pequena ovelha de pelúcia até ela cair direto nos braços de Carlie.

A menina a analisou, e então sorriu um pouco, abraçando o brinquedo. - Obrigada, papai... – Disse.

- Posso tentar? – Bella perguntou, arrumando os óculos enormes no rosto. Droga, e eu poderia dizer não? Ela só me faria perder 5 dólares à toa. Mas, o que é isso quando se está tentando conquistar uma garota?

- É claro. – Forcei um sorriso, colocando o dinheiro na bancada.

Dei alguns passos para o lado, me posicionando perto de Carlie. Ela pulava sem parar ao meu lado, esperançosa. Como se fosse possível aquela míope fazer ao menos 100 pontos. “Essa vai ser muito boa”, sorri com meu próprio pensamento.

Bella ocupou o meu lugar de antes, analisando a arma. Provavelmente nem sabia o que fazer. Reprimi uma risada, cruzando os braços, continuando com meu olhar focalizado nela mesmo quando a barraca fez um barulho estranho ao ser ligada. Os sapos começaram a se mover e eu precisei desviar o olhar para eles, ansioso pelo que estava por vir. É um fato que, para os seres humanos, não basta ser bom em alguma coisa – você precisa ser o melhor. E isso vale muito mais quando se trata de uma garota que quer impressionar.

- Vai, Bell, você consegue! – Carlie gritou, pulando quase na minha altura.

Bella, um pouco sem graça, lançou um breve sorriso para “minha filha” antes de voltar a se concentrar no jogo.

Ela demorou para lançar o primeiro tiro. Ao invés de mirar em um lugar e esperar um dos sapos se posicionar ali (como qualquer pessoa sensata faria), ela mexia a arma mirando em um único sapo – que logo desaparecia de seu campo de visão, e então ela precisava recomeçar tudo com outro.

Ah, aquela merda demorou muito tempo. Finalmente, ela percebeu seu erro, e segurou a arma mirando em um único ponto, bem no centro. Correto. O único problema era que sua mão tremia, provavelmente com o peso.

Bella respirou fundo, e alguns segundos depois, disparou. Não foi simplesmente na direção errada; quando apertou o gatilho, seu braço foi para trás, o que fez a arma subir e o tiro ricochetear da parede da barraca até um outro brinquedo atrás de nós.

Ela fez uma pequena careta, desapontada. Carlie suspirou ao meu lado e eu, muito sutilmente, explodi numa gargalhada.

- Ainda tem 9 tiros. – O rapaz magrelo avisou, apoiando-se na bancada com um sorriso irônico.

- Eu... Eu vou tentar outra vez. – Bella disse, soltando um breve pigarro.

Eu simplesmente não conseguia parar de rir. Quando nossos olhares se encontraram, coloquei o punho sob os lábios, tentando me controlar. Ela pareceu bastante nervosa por conta disso; vi em seu olhar que provavelmente estava imaginando como seria apontar a arma para mim.

Posicionou-se novamente; desta vez foi um pouco mais para trás, esticando quase totalmente o fio que conectava a arma na bancada. Ela posicionou as duas mãos com perfeição; não tremia mais, e seu olhar estava muito focado em seu alvo.

Disparou. O tiro acertou o sapo em cheio, que caiu para trás com o mesmo barulho que ecoava quando eu era o atirador. Ela atirou de novo, de novo, e de novo, acertando três sapos diferentes, um seguido do outro. Fez uma pequena pausa para, outra vez, respirar fundo – como se procurasse mais concentração. Em nenhum momento desviou os olhos da barraca ou moveu a arma.

Bella voltou a atirar; mais quatro tiros saíram de sua arma, e os quatro acertaram em cheio os sapos em sequência. Meus lábios se entreabriram de surpresa; aquilo era impossível! Totalmente impossível. Como foi que ela fez aquilo? Aquela nerd sequer já viu uma arma de verdade? Ora, pelo amor de Deus!

O brinquedo desligou. Eu mal conseguia fechar a boca, quem dirá sair do lugar.

- É isso aí! – O magrelo disse, puxando o leão imenso com a vara. Carlie começou a pular em volta dele como uma pipoca estourando. – 900 pontos! O leão é seu, garotinha.

A menina entregou a ovelha para Bella antes de agarrar seu novo prêmio.

- Ele é tão lindo! – Carlie disse, beijando o topo da cabeça do animal. – Obrigada, Bella!

- Foi um prazer, querida. – A garota riu, abraçando a ovelha.

- Mas o que... – Eu disse, um pouco atrasado.

Bella me olhou e sorriu, voltando ao semblante um pouco tímido. - Eu costumava jogar muito nessas coisas quando era criança... Morava perto de um parque.

Eu continuei a encará-la, sem saber o que dizer. Bella deu os ombros.

- E, como ainda está lhe sobrando 100 pontos, e porque sua amiga aí jogou como eu nunca vi... Vocês podem ir até aquele camarada ali – o rapaz apontou para uma minúscula barraca ao lado - e dizer que o Greg conseguiu uma foto de graça pra vocês!

- Eba! – Carlie gritou e disparou na direção apontada.

Ouvi Bella agradecer a Greg enquanto eu ia atrás de minha filha, emburrado. Parei ao lado dela com as mãos no bolso e esperei; ela estava contando toda a historia para o homem.

- Aí, como a Bella jogou muito bem e fez 100 pontos a mais, o Greg disse que a gente pode tirar uma foto de graça, porque o leão custava 800 pontos, e a Bella fez 900! – Ela parou e, após recuperar o ar, sorriu.

Ele colocou a mão na barriga imensa e gargalhou. - Ótimo, pequenina! Pode escolher onde quer sua foto.

Bella parou ao meu lado, cumprimentando o funcionário com apenas um aceno de cabeça. Minha “filha” olhou as duas molduras possíveis; uma delas mostrava dois caubóis. A outra, duas princesas. Puta que pariu!

- Aquela! – Ela colocou o leão no chão, perto de onde Bella deixaria a ovelha, me puxando pela mão.

Estava claro que não alcançaria o buraco para colocar seu rosto, portanto eu e Bella ficamos atrás. Carlie se colocou a frente da moldura, abrindo um sorriso imenso. O homem arrumou a câmera no tripé e se colocou atrás dela, olhando através da lente. Bella, ao meu lado, com seu rosto já encaixado, começou a rir alegremente.

Dei uma rápida olhada em mim mesmo e, sim, eu estava “usando” um vestido.

Mas que grande...

- Sorriam! – Ele disse, animado.

O flash foi o suficiente para me cegar por alguns segundos.


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Notas finais do capítulo

Hello folks! Nina here! Tudo bem com vocês? E aí está o tão esperado capítulo 12 pessoal. Eu adoro esse capítulo e pra falar a verdade eu tenho um certo carinho especial por ele, por isso demorou tanto a sair, eu e a Carol tínhamos milhares de idéias e queríamos que esse capítulo saísse perfeitinho do jeito que imaginávamos e esperamos ter conseguido.
Pra quem viu o filme sabe que a cena do parque de diversão é uma das melhores cenas e queríamos colocar na fic de um jeito especial e eu amei, nós amamos e esperamos que vocês também tenham gostado.
E como todos já sabem o ano está acabando, o natal está chegando e esse será o ultimo capítulo que postaremos em 2011, mas não se preocupem que a Meu Malvado Favorito continua em 2012 e não só essa fic como outras estarão por vir em 2012, como já estão acostumados eu e a Carol somos um mar de idéias :P. Eu apenas não quero prometer muita coisa por que ano que vem a Carol será vestibulanda então as coisas vão ficar meio apertadas mas juro que tentaremos dar um jeito por que enquanto não colocamos nossas idéias pra fora elas não nos deixam em paz :P
Então é isso galera, queria desejar a todos, de mim e da Carol, um ótimo natal a todos vocês e um excelente 2012. Obrigada por estarem conosco boa parte de 2011 aqui lendo nossas fics, pra quem acompanhou The Cullens e agora está acompanhando Meu Malvado Favorito, vocês são muito importantes com seus comentários e incentivos, ficamos muito felizes de ver que até hoje a TC recebe recomendações e comentários...sério, vocês são as melhores *-*
Queremos também pedir desculpas pela demora em responder os comentários mas prometemos colocar eles em dia ok? Não deixem de comentar por favor, isso nos incentiva muito!
Então é isso, beijos a todos e até ano que vem ;)