Letters To You escrita por Inês Potter


Capítulo 24
Bónus I


Notas iniciais do capítulo

E chegou o primeiro bónus =o
Estou com muuito medo da vossa reacção, será que vão gostar? :s
Espero que sim, foi escrito com muuito amor e carinho.
Bem, vou parar de escrever, eheh.
Boa leitura e vemo-nos lá em baixo.



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Bónus I

31 de Outubro de 1978

Entrei pelo Salão Nobre com o coração a bater aos saltos. Dentro de poucos minutos, se tivesse sorte conseguiria encontrar o J vestido no seu fato de Zorro. Iria ter com ele, pediria uma dança e a seguir levava-o lá para fora onde ele me poderia revelar a sua identidade. O plano estava arquitectado na minha mente. Iria ser uma noite perfeita. A única coisa necessária seria eu pôr em prática as minhas qualidades no que toca ao jogo de encontrar o “Wally”, já que era um verdadeiro desafio conseguir encontrar alguém no meio de uma multidão de alunos da escola.

Na verdade, esta tarefa revelou-se fácil. Fácil demais, constatei depois de abrir a porta do salão e encontrar um Zorro mesmo à minha frente. Percorri os dois metros que me separavam dele e toquei-lhe no ombro, fazendo com que ele se virasse. Um rapaz alto, ruivo de olhos azuis que deveria ser do 5ºano sorriu para mim.

-Humm… És o J? – perguntei-lhe, mesmo sabendo que era totalmente e completamente impossível.

-Não, sou o Pierre. Muito prazer. E tu és a Lily, não és? – perguntou-me.

-Ah, sim sou. – respondi e fiquei a olhar para ele como uma idiota.

-Concedes-me esta dança? - perguntou-me, sorridente. A sério, como é que alguém consegue sorrir tanto?

-Não, obrigado. Não sou muito do tipo de pessoa que dança. – retorqui, começando a afastar-me. - E, ahm, desculpa. Pensei que eras outra pessoa. – acrescentei, fugindo dali o mais rápido que consegui.

Sentei-me numa das poltronas que se encontravam na lateral do salão e fiquei a ver as pessoas que passavam por mim.

Demorei algum tempo para conseguir processar o que estava a ver, uma vez que ainda tinha a cabeça à entrada do salão com o rapaz ruivo e com a barraca que dei, mas quando achei que tinha visto o quinto Zorro a passar por mim tive de prestar atenção.

Olhei para o salão desta vez com mais atenção e quis matar os desgraçados dos Zorros que estavam em cada canto da divisão. Metade dos rapazes que tinham vindo à festa estavam mascarados de Zorro! E eu não estou a exagerar! Eu juro que para qualquer lado que olhasse só via rapazes de diversas idades com calças e camisa pretas, uma capa comprida, um chapéu parecido com uma cartola, uma espada na mão e aquelas tirinhas de tecido tipo máscaras que se põem a tapar os olhos.

Não dá para acreditar! Juro que não dá. Como é que é possível terem tido todos a mesma ideia? Não percebo. E não acredito que ainda não descobri quem é o J! E não vai ser hoje que vou descobrir… Se eu sei que isto é obra daquele infeliz, ele está feito comigo!

-Hey Lily, está tudo bem? – perguntou-me uma voz. Não precisei de olhar para ter a certeza de que era James.

-Sim, só estou um bocadinho decepcionada… - expliquei.

-Então porquê? – perguntou, com um tom de curiosidade evidente na voz, o que me fez levantar os olhos para o poder observar. E não é que ele tinha vestido um fato de Zorro? Que lhe assentava muito bem, a propósito.

-Esquece. – suspirei.

-Não me vais dizer? – perguntou.

-Não. Ias gozar comigo. – respondi. Se eu lhe dissesse que tinha um amigo que não conhecia pessoalmente mas com quem falava por cartas ele ia rir-se muito. Quando eu acrescentasse que nos íamos encontrar aqui no baile para nos conhecermos ele até se mandaria para o chão a rebolar de tanto rir e iria ficar o resto do salão a olhar para nós, o que não era bom. E, para além disso, nós não éramos exactamente amigos. Apesar de eu estar a ponderar o conselho do J e fazer tréguas.

-Não vou nada… Juro. – insistiu, esticando o dedo mindinho.

Eu empurrei a mão dele para trás e disse:

-Não.

-Por favor.

-Não.

-Ok, tudo bem. Então danças uma música comigo. – pediu. – Já que não me contas, parece-me justo.

-Isso é chantagem, idiota! – retorqui.

-Não te chateio mais esta noite, prometo.

-Tudo bem, eu danço. – respondi enquanto me levantava.

Ele pegou-me na mão e guiou-me para a pista de dança.

-Sabes Lily, tu estás sempre bonita… Mas hoje estás perfeita. – sussurrou ele ao meu ouvido.

A voz dele causou-me um arrepio e eu não pude evitar sorrir. E naquele momento ponderei seriamente dar uma chance ao James. Ele não seria um amigo assim tão mau.

2 de Novembro de 1978

Os corredores de Hogwarts não são um bom lugar para se andar sozinha. É uma verdade irrefutável, é uma lei universal dos alunos de Hogwarts. São os sítios mais obscuros para alguém ser interceptada e encurralada.

Infelizmente, esqueci-me do meu saco na aula de Defesa Contra Magia Negra e é claro que nenhuma das minhas queridas amigas quis oferecer-se para ir lá comigo. Motivo pelo qual eu agora estou indefesa no meio de um corredor qualquer atrasada para a minha aula de Transfiguração. A McGonagall vai-me matar! Vou parar à detenção e tudo culpa do maldito saco. Comecei a correr desenfreadamente numa tentativa vã de ser mais rápida quando choquei com alguém e caí no chão.

-Droga, só me faltava mais isto… - resmunguei ao ver o meu material escolar todo espalhado no chão, incluindo tinteiros partidos e a tinta a espalhar-se por cima dos meus livros.

-Lily? – chamou-me a pessoa com quem eu choquei. Por ironia do destino era James.

-Sim, James?

-Estás bem?

-Estou. Só que isto está tudo sujo e eu vou chegar atrasada à aula e vou apanhar uma detenção… - exclamei, exausta ainda sentada no chão.

-Deixa-me ajudar-te. Reparo. Tergeo. – sussurrou ele apontando a varinha para as minhas coisas. Alguns segundos depois os tinteiros estavam novamente inteiros e os meus livros e pergaminhos estavam limpinhos. Ele pegou em tudo, meteu no saco e estendeu-me a mão para me ajudar a levantar.

Depois de me ajudar a levantar começou a puxar-me pelo corredor, a andar rapidamente mas sem correr.

-Ahm, James?

-Diz, Lily.

-Obrigada mas ahm… Podes dar-me o saco? Ainda não estou inválida… - pedi-lhe.

-Claro! – respondeu, colocando-me o saco ao ombro.

Durante algum tempo só se ouviu o eco dos nossos passos no corredor vazio mas a uma certa altura James quebrou o silêncio.

-Posso perguntar-te uma coisa, Lily?

-Claro, diz. – respondi, curiosa, tentando perceber o que ele me iria perguntar.

-Queres sair comigo?

Eu fechei os olhos e tentei manter a calma para não lhe responder torto, justo agora que ele tinha sido tão simpático e prestável. Não é possível tamanha coincidência! Ainda no outro dia tinha falado com o J sobre este assunto, sobre o facto de o James nunca mais me ter pedido para sair com ele estar a tornar a minha vida muito mais agradável e calma… E logo agora ele tinha de o fazer!

-Não. – respondi.

-Porquê? – retorquiu.

-Porque não.

-Isso não é resposta, ruivinha.

-Não me chames ruivinha, James. – respondi, com um tom de voz gélido. Eu sei que não estava a ser simpática mas hoje não estava com um humor favorável para este tipo de conversa.

-Porque não, Evans? – perguntou ele, enfatizando o meu sobrenome.

-Simplesmente não quero, Potter. – respondi. – Acho que tenho esse direito, não te parece?

-E eu acho que tenho direito a uma razão. – respondeu.

-Não vejo porquê.

-Então tudo bem, se não queres há quem queira. Há quem dê valor.

-Como se me interessasse com quem andas ou o que fazes. Vai lá ter com as tuas amiguinhas, já estou demasiado atrasada por tua culpa. – disse, encarando-o. Algo no olhar dele me fez querer voltar atrás no que tinha dito, mas já estava cá fora e eu não ia pedir desculpa por isso. Não quando ele é que tinha tocado num assunto que para mim já estava encerrado.

-Por minha culpa? Se não fosse eu ainda estavas sentada no meio do corredor com as coisas todas espalhadas a murmurar que ias chegar atrasada… blábláblá… McGonagall… blábláblá… detenção. – resmungou com um tom que pretendia imitar a minha voz.

-Se não existisses nem sequer tinha chocado com ninguém e por isso nem sequer tinha caído no chão! – respondi, alterada.

-Tudo bem. Esquece que eu existo, então. Eu faço o mesmo.  – gritou ele enquanto se afastava rapidamente. – Ah, e Evans… - disse, olhando para trás novamente. – Para a próxima, vê por onde andas. – olhei nos olhos dele e por um momento julgo que pude ver um laivo de decepção e de incredulidade na sua expressão. Infelizmente, segundos depois ele virou-se novamente e desapareceu na esquina.

Fiquei parada com a boca aberta no meio do corredor até que dei conta de que tinha de ir para a aula. Andei rapidamente evitando cair e a repetir constantemente “detenção, detenção, detenção” como um mantra para me forçar a focar-me na aula para a qual eu estava atrasada em vez de pensar na discussão que acabara de ter com James.

Embora eu já não devesse estar tão longe da sala, parece que o caminho foi três vezes mais longo do que o que seria habitualmente. Bati à porta da sala a torcer internamente para que a McGonagall estivesse com muito bom humor mas como é óbvio não foi nada disso que aconteceu. Sentei-me na minha carteira ao lado da Lene 10 minutos depois, após um longo discurso sobre responsabilidades, delegados dos alunos, atrasos e no final ainda tive o brinde de poder desfrutar de uma noite com o Filch a esfregar pratas mas sinceramente pouco ouvi do discurso dela. Mesmo que eu tentasse evitar, a minha cabeça virava-se inconscientemente para o sítio onde o James estava sentado. Ele manteve a cabeça baixa o tempo todo, de forma a eu não poder ver a sua expressão e eu não pude evitar sentir-me culpada novamente.

O resto da aula correu tão bem quanto a minha entrada quinze minutos depois do toque. Não me consegui concentrar nos exercícios de modo que o meu bule que se devia transfigurar num papagaio apenas ficou às cores, ganhou dois olhos e um grande bico laranja. Tudo isto porque passei o tempo todo a martirizar-me e a sentir-me culpada por causa do que tinha dito a James. É certo que eu nunca iria aceitar sair com ele. Não queria ser usada para o ocupar durante uma tarde e depois ser descartada como todas as outras raparigas com quem ele esteve, mas também não tinha direito de lhe responder assim…

Senti alguém a tocar-me repetidamente no braço e virei-me para Lene, para a mandar parar quieta.

-O que é? – perguntei-lhe.

-A McGonagall. – sussurrou e eu virei-me para ver a minha querida professora a mandar-me um olhar penetrante.

-A senhorita Evans está connosco ou ainda está no mundo da lua? – perguntou-me.

Eu corei e respondi:

-Estou aqui.

-Tudo bem, então parece que podemos continuar. Preste atenção, da próxima vez tem uma surpresa.

Parece que hoje o dia me ia correr muito bem.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

É nestes momentos em que eu dou graças por ter um amigo que me consiga dar conselhos como o J. Só ele é que me entende, pensei, olhando para as cartas que havia recebido desde que lhe tinha contado o pedido de James e a discussão que se seguiu.

Não conseguia evitar sentir-me culpada pelo que se tinha passado hoje. Não acredito que lhe respondi assim, ainda por cima agora quando parecia haver tréguas entre nós. Estava tudo tão mais calmo, tão… melhor. Tentei concentrar-me novamente nos trabalhos de casa que deveria ter acabado à uma hora mas a minha cabeça parecia girar sempre à volta do acidente no corredor e nas respostas de J.

“E sabes o que é que aconteceu hoje? O James Potter convidou-me para sair com ele. Novamente.”

“O James convidou-te para sair? E tu? Recusaste como sempre ou houve um milagre que te fez aceitar desta vez?”

“Eu gritei outra vez com ele, a dizer que não. Mas acho que ele ficou mesmo triste, sabes? Fez uma carinha que metia dó. Tive quase a dizer-lhe que sim mas eu não quero ser usada só para ser mais uma na lista dele. Por isso não posso sair com ele.”

“Percebo o que queres dizer, tenta mostrar-lhe que não queres sair com ele mas que podem ser amigos, talvez já seja um bom passo. “

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Quando depois de meia hora percebi que estava no mesmo exercício resolvi descer e tentar ir falar com James para resolver as coisas todas. Não é que eu me importe em ficarmos chateados, não. É só que preciso mesmo de fazer os trabalhos de casa para amanhã senão levo outra detenção. E não me estou a conseguir concentrar com o sentimento de culpa a consumir-me. É apenas e só isso.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Humm… James? Posso falar contigo?

-Diz, Evans.

-Podes chamar-me Lily.

-Diz.

-Quero pedir-te desculpas… - olhei-o nos olhos, incerta. Não sabia como continuar. Admitir que estava errada parecia tão… difícil.

-Sim? – ele levantou uma sobrancelha.

-Eu não tinha direito de te responder assim. Aquilo foi um acidente, aliás, foi culpa minha, eu é que ia a correr. Mas estava com pressa, ia chegar atrasada e ia levar uma detenção da McGonagall, que acabei por levar na mesma, e depois o dia não me estava a correr muito bem, tive que voltar para trás para ir buscar uma coisa de que me esqueci e –

-Lily? – interrompeu-me, mas eu não quis saber.

-E eu fui muito antipática, nem sequer tinhas de fazer aquilo por mim mas fizeste e eu ainda te respondi mal e gritei contigo. Queria que ficasses a saber que –

-Lily… - interrompeu-me novamente, tapando a minha boca já que eu falava sem parar.

-Não faz mal. Está tudo bem. – disse-me, destapando-me a boca em seguida.

Não consegui evitar sorrir. Ele retribuiu-me o sorriso.

-Então, queres sair comigo? – perguntou-me, enquanto sorria discretamente.

-James… - resmunguei, lançando-lhe um olhar carrancudo.

-Estava a brincar, estava a brincar. – respondeu enquanto se ria.

-Tenho uma proposta para ti.

-Ai sim? E é o quê? – perguntou.

-Proponho que sejamos amigos. Desde que não me convides mais para sair. – enfatizei a última parte da frase para ver se essa ideia ficava bem assente na cabecinha dele.

Ele não respondeu por uns momentos e senti um aperto no estômago. Olhei para James e este passava uma das mãos no cabelo, coisa que ele fazia apenas quando estava nervoso. Ele suspirou.

-Sim, eu concordo.

-Jura.

-Juro.

-Amigos… - sussurrei para ele, sorrindo.

4 de Novembro de 1978

Eu juro que não percebo o que se passa com os rapazes de Hogwarts. Ok, generalizei demasiado. Eu juro que não sei o que se passa com os rapazes meus amigos, isso sim. Eu devo ter uma doença infecciosa que só se propaga aos rapazes. O J está adoentado, quase não me responde e vai sempre dormir super-cedo. O Remus desapareceu, parece que foi visitar uma tia que estava doente. O Sirius e o James aparecem todos os dias com umas olheiras enormes que me fazem duvidar seriamente das capacidades deles de se aguentarem em pé. Parece que estão a cair aos bocadinhos. Não me deixam ajudá-los e dizem que ”não faz mal, isto passa rápido”. E o pior é que eu não consigo deixar de me preocupar com eles, mesmo sabendo que eles não querem ajuda.

Idiotas.

6 de Novembro de 1978

Hoje acordei cedo com uma carta do J. Surpreendentemente estou de bom humor, o que é raro acontecer quando me levanto cedo. É raro também encontrar a sala comum vazia. Ok, a minha conversa deu um salto muito grande mas ainda é cedo demais para conseguir fazer as ligações.

Como eu dizia, a sala comum está vazia (yeiiii!) e eu estou a falar com o J por cartas. Neste momento ele deve ser o único ser vivo que está acordado no castelo inteiro. Isto porque ninguém é corajoso o suficiente para sair da cama antes das 8h. Menos eu, eu sou muito corajosa, motivo esse pelo qual fui para os Gryffindor. Não tenho medo do frio que se sente ao sair dos cobertores, não sinto medo de caminhar para o desconhecido que é o castelo vazio.

Aii, o meu cérebro congelou. Não digo coisa com coisa…

Concentra-te na carta e responde, Lily. Concentra-te na carta e responde, Lily. Repeti isto para mim mesma cinco vezes antes de reler novamente a carta que tinha recebido há bocado.

“Querida Lily,

Já disse que sou o teu despertador, não tens que me agradecer.

Espera mais 5 minutos e vais ver como a sala comum deixa de estar vazia e silenciosa, passado mais 15minutos está uma confusão enorme. É só os marotos saírem da cama…

Que rebelde, Lily. Não devias fazer isso, devias prestar atenção como as delegadas dos alunos super cumpridoras de regras fazem… onde está a tua responsabilidade? Hem, hem, a juventude de hoje em dia…

Ahh, acho que sim… Já me tinha esquecido =P

De nada! Como é que eu sei? Fácil, sou muuuito observador e estou atento às pessoas que são importantes para mim. Promete que vais mesmo!

Não vou dizer nada quanto à tua suposição para não te dar mais pistas,… Talvez tenhas razão… talvez não tenhas… Nunca saberás!

Isso é um elogio, certo? Vou ser o teu psicólogo, Lily! Uma pessoa maluca como tu bem precisa de um (e não vale a pena contestar)!

Com carinho,

J.

Pousei a pena e reli a carta que tinha escrito como resposta à outra.

“Querido J,

Mas dá-te mais trabalho acordares mais cedo do que eu para me mandares uma carta, não dá? Não quero dar trabalho nem ser um fardo…

Já passaram 5 minutos e ainda não desceu ninguém! Talvez estejas enganado. Mas tenho a certeza que quando os marotos descerem acaba a paz e harmonia!

Olha quem fala! Tu também vais para o fundo da aula do Binns dormir a sesta, não tens moral para falar!

Sim, eu prometo que vou mesmo. Na verdade também já estou com saudades dele!

É claro que eu tenho razão! Tu não me vais dizer nada porque tens medo de te enterrares mais!

É um elogio, sim. Por Merlin, eu não sou louca como tu estás a dizer. Sabes que os psicólogos não são só para os maluquinhos, certo? Ok, eu aceito-te como meu psicólogo… Afinal até dás bons conselhos e tudo!”

-Lily, bom dia! – gritou alguém ao meu ouvido, quase me fazendo cair da cadeira.

-James, seu idiota desprezível! – exclamei. – Ias-me matando de susto!

-Ih, Lily, assim ofendes-me… - murmurou ele fingindo que começava a chorar.

-Vá lá, James. Sabes que estava a brincar. – disse-lhe, voltando-me de novo para a carta para a mandar para o J.

-O que estás a fazer?

-A escrever uma carta.

-Para quem?

-Para a minha mãe.

-Escreveste-lhe ontem, Lily. A mim não me enganas. É para quem?

-Um amigo.

-Oh, deixa-me ver, deixa-me ver! – murmurou James quase a saltitar e a fazer malabarismos para ver o que eu tinha escrito. Ok, exagero meu. Ele apenas ficou a olhar para o pergaminho por cima do meu ombro.

Suspirei pesadamente, vendo que não poderia continuar agora. Peguei na pena, molhei no tinteiro e acrescentei:

“Vou parar de escrever que o James acabou de chegar cá abaixo e está a saltitar por cima do meu ombro a repetir constantemente “Deixa-me ver, deixa-me ver!”.

Beijinhos,

Lily.”

O J sempre tinha razão. Era só chegarem os marotos e acabava logo a paz.

11 de Novembro de 1978

Eu e os meus amigos tínhamos acabado de nos sentar à mesa para tomar o pequeno-almoço quando o nosso querido director, Albus Dumbledore se levantou. Normalmente não fico a olhar para a mesa dos professores por isso seria natural que nem tivesse reparado mas hoje estava mais alerta do que o habitual. Tinha acabado de saber pelo J que o Dumbledore ia organizar um baile no dia 20 deste mês. É claro que não tinha a completa certeza de que era mesmo verdade, afinal, ele poderia estar a querer pregar-me uma partida ou algo assim… Todavia as dúvidas desapareceram quando o Dumbledore se levantou. Ele nunca se levanta a meio da refeição a não ser que queira fazer um discurso. Aliás, normalmente ele nem sequer está presente no pequeno-almoço. Será que ele fica a dormir enquanto nós comemos? Onde será que o Dumbledore dorme? Já estive no gabinete dele antes e não vi nenhuma cama ou um sofá. A não ser que ele durma sentado numa cadeira, o que seria extremamente desconfortável…

-Lily… - sussurrou-me alguém ao ouvido, quebrando o meu óptimo raciocínio sobre os variados sítios onde o Dumbledore poderia dormir. Olhei para o lado e encarei o Sirius com um ar carrancudo por me estar a molestar enquanto eu pensava naquele dilema. – Presta atenção ao que o Dumbledore está a dizer. – olha quem fala, ele nunca presta atenção a nada.

-… mas é algo que é necessário neste momento para podermos descontrair todos um pouco. Com todos os ataques um ambiente tenso tem surgido em Hogwarts e sugiro que este baile possa deixar-nos despreocupados durante uma noite. O baile terá lugar aqui no salão Nobre, sexta-feira dia 20, para que possam dormir até tarde no dia a seguir, já que é sábado. Terá início às 20h e não tem uma hora fixa para acabar, pelo menos por enquanto. Contudo há uma pequena particularidade: todos deverão levar uma máscara parecida com as que se utilizam no Carnaval de Veneza, senão não poderão entrar. Pesquisem e divirtam-se, têm ainda muito tempo até lá. Outro pormenor: os rapazes convidam as raparigas. Desta vez não há raparigas a convidar os rapazes. Quero ver se eles são corajosos. – continuou ele, piscando o olho na direcção do nosso grupinho. Eu fiquei sem entender. – Se quiserem vir sem par também estão à vontade. E é só por enquanto. Qualquer dúvida perguntem aos chefes das equipas ou aos delegados dos alunos. Bom pequeno-almoço! – Dumbledore acabou o seu discurso e sentou-se novamente no seu lugar.

 Como é óbvio depois de um anúncio destes só se ouviam cochichos sobre o baile, sobre que iam levar vestido e calçado ou com quem é que queriam ir ou…

-É uma chatice não poder convidar os rapazes… - comentou Lene, depois de trincar uma torrada.

-Lene, meu amor, eu posso convidar-te se quiseres, não é preciso seres tão directa. – retorquiu Sirius com um sorriso enviesado no rosto.

-Por acaso estava a pensar que se pudesse convidava o William dos Ravenclaw. – respondeu ela, sorrindo maliciosamente. – Mas como não posso, acho que vou ter de me contentar com o teu convite, Six.

-Quem disse que é um convite?

-Tu mesmo.

-Isso é um sim?

-Vês como é um convite?

-Só perguntei se era um sim.

-Acho que é.

-Óptimo. Vou analisar as minhas hipóteses e depois digo se vou contigo ou não. – disse ele, enquanto se ria da cara de Lene.

-Ei, pombinhos. Calem-se lá, por favor. Já sabemos que se amam. – disse eu, ao mesmo tempo que sorria. O J tinha razão, havia qualquer coisa entre eles. Ai, eles amam-se!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Volto novamente a afirmar que os corredores vazios em Hogwarts não são boa ideia quando vamos sozinhos. Der por onde der, somos sempre interpelados, quer isso seja bom, quer isso seja mau. Desta vez tinha ido à biblioteca acabar um trabalho de casa mas ninguém me podia fazer companhia uma vez que os outros todos tinham sido expulsos pela Madame Pince na semana passada e ela não os deixava entrar lá durante duas semanas.

Tinha acabado o trabalho que precisava e caminhava agora para a sala em que iria ter a primeira aula quando acontece algo de que eu não estava nada à espera, mesmo nada!

-Hey, Lily? – chamou-me alguém cuja voz eu não reconheci. Virei-me para trás e encontrei o Amos Diggory a seguir-me.

Parei para ver o que ele queria, eventualmente poderia ser alguma dúvida de Defesa Contra Magia Negra ou de Poções?

-Diz, Amos. – respondi, curiosa para saber o que se passava.

-Queria convidar-te para vires ao baile comigo. – disse. Eu fiquei estática a olhar para ele. O AMOS DIGGORY QUER IR AO BAILE COMIGO, LOGO COMIGO! – Isto se não te tiverem convidado antes, é claro. – completou ele ao ver que eu não tinha respondido. Eu ainda estava no meu mundinho a imaginar porque raio é que ele me escolhera a mim quando havia montes de raparigas mais interessantes em Hogwarts. – Então, queres?

Eu já estava quase a dançar o macarena de tão contente mas decidi depois que esse comportamento poderia assustá-lo. Eu não sou, nem nunca fui apaixonada pelo Amos, mas ele é assim… não há outra palavra para o descrever: ele é perfeito. Os olhos azuis, o cabelo louro escuro. É inteligente e simpático. Vou repetir-me mas ele é completamente perfeito!

-Posso dizer-te depois? É que eu já tinha combinado coisas com um amigo meu nesse dia mas vou ver se consigo desmarcar. Digo-te amanhã, pode ser? – respondi.

-Claro. Espero mesmo que consigas vir comigo. Depois diz-me qualquer coisa. – disse ele, aproximando-se de mim de seguida e dando-me um beijo na bochecha. – Adeus, Lily.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-E então, meninas, já sabem com quem vão ao baile? – perguntei eu.

-Não, ainda não… - murmurou Mary. – Vamos ver. Espero que o Remus me convide. Mas se não o fizer talvez aceite ir com outro rapaz. Ou então vou sozinha, não há-de ser muito mau. – continuou ela, com um ar mesmo triste. Espero que o Remy a convide, tenho de lhe dar a dica…

-Eu acho que vou com o Sirius, mas ele vai ter de verificar na agenda dele se não tem outro compromisso com outra pessoa para essa noite. – respondeu Lene, revirando os olhos. – Ele é um idiota.

-Um idiota de quem tu gostas muito… - disse, levando um olhar carrancudo dela como resposta.

-E tu, Lily, com quem vais? – perguntou Mary, que olhava para mim ainda com um ar ausente.

-Ainda não sei. Mas adivinhem, o Amos convidou-me!

-Então porque é que não disseste que sim, Lily? – perguntou Mary, que de repente ficou entusiasmada com a conversa.

-Já tinha coisas combinadas.

-Ah, estou a ver. O James já te tinha convidado? – perguntou Lene, com um sorriso malicioso.

-Não. Não era isso. De qualquer forma disse ao Amos que ia tentar desmarcar para ir com ele.

-O Amos o quê? – perguntou James, que tinha acabado de se juntar ao grupo.

-Fala-se no diabo e aparece-lhe o rabo. – sussurrou Mary.

-O quê? – perguntou James, sem entender.

-A Lily vai com o Amos ao baile. – respondeu Marlene, sempre muito sintética e directa.

-Não podes ir com ele. – resmungou James.

-Porque é que não posso ir com ele? Há algum mal nisso? – perguntei, com uma sobrancelha levantada.

-Eu não gosto dele. – respondeu simplesmente.

-Eu é que tenho de gostar, não és tu. Ele não vai ao baile contigo.

-Lily, ele é um idiota. Ele usa as pessoas, diz-lhes que são importantes e depois desaparece. – respondeu.

-Tu não o conheces, não tens moral nenhuma para falares do que não sabes! – retorqui quase a gritar, já alterada. – Tu também usas as pessoas, James. O que é que são as raparigas com quem tu estás e que depois descartas? São meros caprichos.

Detesto quando o James se mete na minha vida, é tão controlador! Sinto-me presa. Parece que sou filha dele! Ugh.

-Tu também não o conheces por isso não me podes contradizer! – respondeu ele, no mesmo tom e tacticamente não respondendo à última parte.

-James, pára com a cena de ciúmes! NÃO SOU TUA NAMORADA, IDIOTA! EU VOU AO BAILE COM QUEM EU QUISER, NÃO MANDAS EM MIM! – explodi completamente.

Não quis ouvir mais nada e fechei-me no dormitório para me acalmar. Tenho os olhos molhados e apetece-me chorar tal como aconteceu da última vez que discuti com ele. Tenho a sensação de estar errada mas isso não é possível, eu sei que tenho razão. A vida é minha, ele não tem que me dizer o que é suposto eu fazer ou não. Mas então porque é que me sinto tão mal? Quero tanto ir falar com ele, resolver tudo. Que droga de vida!


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram/não gostaram/mais ou menos? (:
Mandem por favor um reviewzinho x)
Eu vou postar mais um capítulo de bónus, pelo menos. Depois veremos...
Ahh, e muito obrigada pelos reviews do capítulo passado! Li-os todos e amei cada uma das vossas palavras ♥ Prometo que vou responder, só não o farei hoje.
Muitos beijinhos, queridas leitoraaaaaaas :3



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