Letters To You escrita por Inês Potter


Capítulo 25
Bónus II


Notas iniciais do capítulo

Minhas queridas, peço muita desculpa pelo atraso... tive uns pequeninos probleminhas =o
Responderei aos reviews hoje à noite!
Boa leituraaa :P



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12 de Novembro de 1978

As guerras entre os duendes e os gigantes resultaram no maior derramamento de sangue mágico conhecido na história do mundo da Magia. Em 1778 dois líderes reuniram-se a fim de determinarem regras e leis para controlarem os rebeldes e para que a desordem acabasse. Contudo, a discordância entre as ideias de cada um era tanta que eles ACABARAM POR DISCUTIR COMO DUAS CRIANÇAS POR COISAS QUE NÃO TINHAM INTERESSE NENHUM COMO UMA IDA A UM BAILE. Essa discussão determinou o fim das tréguas que tinham levado a que o ambiente em Hogwarts, especialmente na sala comum dos Gryffindor se tornasse calmo e sereno. Pouco a pouco, as criaturas mágicas foram escolhendo o lado que queriam defender e passado algum tempo a guerra e o caos instalaram-se. E os dois infelizes que começaram tudo morreram muito cedo com reumatismo crónico.

Conclusão: Nunca, mas nunca colocar James Potter e Lily Evans a falar sobre um baile. Seguem-se efeitos potencialmente devastadores, tanto para a comunidade mágica como para com a saúde mental desta última referida.

LISTA DE COISAS A FAZER:

-Rescrever o trabalho de casa de História da Magia.

-Falar com o James, porque, por amor de Merlin eu estou a ficar cada vez mais louca e a única coisa em que consigo pensar é NELE!

Foco, Lily. Foco! Concentra-te. Trabalho de casa.

Continuando…

Assim, os gigantes que viviam nas montanhas desceram a terra plana para discutirem as tréguas com os duendes. Porém não se enganem, apesar de serem gigantes, estes têm um cérebro do tamanho de uma ervilha esmagada, sendo por isso que se metem na vida dos outros e dizem que pessoas-potencialmente-maravilhosas-e-futuros-pais-dos-meus-filhos são idiotas desprezíveis. Os duendes, contudo, apesar da sua reduzida altura conseguem ser demasiado espertos, já que os seus cérebros são proporcionais ao seu tamanho. Apesar da sua aparente inteligência, não conseguem levar a melhor às não-frustradas-tentativas-e-bocas-dos-gigantes e BUM, VEIO UM FURACÃO E MORRERAM TODOS.

AAAAAAH, James, onde estás tu?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Já tinha andado à procura de James pela escola inteira. Estava cansada, suada e a arrastar-me pelos cantos mas a tarefa de o encontrar estava a ser mais difícil do que eu esperava inicialmente. Até parece que o idiota sabia exactamente onde eu estava e fazia os possíveis para se afastar de mim.

Quando estava a passar a pente fino o jardim pela terceira vez reparei numa árvore mais escondida perto do lago em que eu ainda não tinha procurado. O meu coração quase me saltou do peito quando me dirigi àquele sítio e encontrei o meu ex-amigo sozinho deitado no chão de relva macia a olhar para o céu com um ar completamente desorientado e perdido.

-Humm… James? – chamei, tentando tirá-lo da sua realidade alternativa. Ou ele não ouviu, ou não quis ouvir ou realmente finge muito bem. – JAMEEEES! – gritei bem perto do ouvido dele.

Desta vez o idiota deu um pulo e olhou para mim como se o mundo fosse acabar.

-LILY! – gritou, com o susto. Eu sorri. Se ele me chamou Lily em vez de Evans a coisa não estava assim tão feia. É certo que a comunidade mágica não se precisa de preocupar, afinal já não vai haver uma guerra assim tão grande. Ele pareceu notar o seu súbito erro e a sua expressão passou da admiração a indiferença tão rápido que parecia que ele tinha estado sempre com aquela máscara no rosto. Ele pigarreou e continuou a falar. – Que queres, Evans?

Eu desanimei e mandei-me para o lado dele, sentindo cada vez mais uma vontade enorme de chorar. Afinal ainda havia a possibilidade de uma guerra. Ou isso ou uma inundação global por causa do meu choro.

-Porque é que estás a ser assim comigo? – perguntei, tomando consciência nessa altura de que a minha voz já estava embargada.

-Lily? – chamou-me enquanto me olhava com um ar assustado.

-É que e-eu não fi-fiz por mal, sa-sabes? – continuei sem olhar para ele, começando a soluçar como se fosse uma criança. Levei as mãos aos olhos com a intenção de os limpar e tentei controlar o choro para que este não denunciasse o meu estado de espírito, mas como é óbvio foi tarde de mais. – E-eu… Não é no-nor-mal que algu-ém se preocu-preocupe comigo… - calei-me depois de se ter tornado óbvio que eu não estava em condições de falar. Até quando estava com ele tinha de fazer figuras de estúpida, até parece que eu era uma idiota que não conseguia simplesmente chegar ali, expor um assunto de extrema importância para todo o mundo e ficar serena, tranquila e quieta como uma pedra.

Senti a mão dele a apertar a minha suavemente. De seguida, passou a outra mão pela minha face e puxou-me para junto dele, abraçando-me.

-Shhh… - sussurrou. – Está tudo bem.

-Não, não está. – murmurei, um pouco mais calma. – Desculpa. Desta vez fui eu a idiota, não queria discutir contigo. Ainda por cima sem nenhum motivo de jeito. – desfiz o abraço para olhar para a expressão dele.

-Já te disse para não te preocupares. – sussurrou ele com a voz rouca. – Eu também não queria ter dito aquelas coisas. Eu não tenho direito de me meter na tua vida, mesmo que te queira proteger de pessoas de quem eu não gosto como o Diggory. – continuou, fazendo uma careta no final. Não consegui evitar sorrir.

-Então está tudo bem? – perguntei, encostando-me a ele novamente e dando-lhe um abraço como ele havia feito à segundos atrás.

-Sim, está tudo óptimo. – murmurou, e na sua voz estava escondido um sorriso.

-Obrigado por não teres desistido de mim. Eu sei que sou um bocado idiota às vezes…

-Um bocado? – perguntou, dando uma gargalhada.

-És impossível! – reclamei, fazendo beicinho. – Mas eu gosto muito de ti na mesma. - continuei, dando ouvidos ao conselho do J.

-Eu sempre soube, Lily, nunca me enganaste. – gargalhou ele, gozando comigo.

-Agora Hogwarts podia rebentar… - sussurrei.

-O quê? – perguntou-me, ainda com uma expressão risonha no rosto.

-Eu não disse nada! – reclamei, fingindo-me zangada.

-Sabes? É por seres tão idiotamente diferente que eu gosto muito de ti… - disse ele, enquanto me lançava um olhar penetrante. Senti o meu estômago a embrulhar.

James estava a aproximar-se cada vez mais de mim e eu não pude negar que estava a ficar um bocado aterrorizada com o olhar dele. Merlin! Não me beijes, por favor não me beijes. Não agora que está tudo tão bem! Não agora, não agora.

Fechei os olhos inconscientemente e pude sentir a respiração suave dele na minha cara. A minha própria respiração descompassou-se e eu não pude deixar de inspirar profundamente para procurar mais ar, o que me fez cheirar o perfume dele. Passados alguns segundos senti um beijo na minha testa e novamente deixei de o sentir perto de mim. Abri os olhos e verifiquei que este já estava deitado na relva novamente a olhar para o céu.

-Obrigado. – murmurei, deitando me ao lado dele.

-Obrigado porquê? – perguntou ele, olhando para mim.

-Obrigado por seres tão compreensivo comigo… Sou insuportável, ninguém merece ter de me aturar… - disse eu, fazendo uma careta.

Ele riu-se muito e depois acabou por se acalmar.

-Estás a ver aquela nuvem ali? – perguntou-me, apontando para o céu.

-Sim. – respondi.

-Humm… Não tem nada a ver! – retorquiu, a rir. Eu revirei os olhos e dei-lhe uma chapada no braço. – Aii! – resmungou, fingindo que eu o tinha aleijado.

-Idiota… - resmunguei, mas não consegui deixar de me rir.

Ficámos os dois feitos parvinhos a rir da nossa estupidez durante alguns minutos, até ele desviar o olhar de novo para mim.

-James? – perguntei, passando a mão à frente do rosto dele.

-Já viste as nuvens, Lily? – perguntou-me. Eu lancei-lhe um olhar de gozo e ele continuou. - Não, agora é mesmo a sério.

-O que têm as nuvens? – perguntei-lhe, olhando novamente para o céu.

-Têm formas engraçadas… - sussurrou ele. – Olha aquela, por exemplo… Parece um dragão, estás a ver? Ali estão as asas, as patas e ali à frente está a cabeça? – disse enquanto apontava os sítios.

-Ahh, pois é! – respondi. Olhei para o céu durante alguns minutos para tentar descobrir outra forma. – E aquela parece um unicórnio com um balão preso ao chifre, olha! – apontei para a nuvem de que estava a falar.

-Humm, Lily… Acho que se parece mais com um escorpião gigante seguido por elfos. – comentou ele, rindo-se.

-Não, definitivamente é um unicórnio com um balão! – disse, pondo a língua de fora. Ele sorriu. – Então, era isto que estavas a fazer, deitado aqui sozinho?

-Não, estava a pensar…

-Em que?

-Não é em que mas sim em quem.

-Como queiras… Em quem?

-Estava a pensar em ti.

-Ahh. Estou a ver. – comentei, pouco à vontade, ficando vermelha.

Ele não respondeu e eu comecei a cantarolar uma música muggle, dos Queen.

-Is this the real life? Is this just fantasy? Caught in a landslide, no escape from reality

-És tão totó… - comentou ele, enquanto eu continuava a cantar como se tivesse um microfone à frente. Eu parei de cantar.

-É verdade, é verdade. – sorri. – Mas tu gostas o suficiente para me aturares.

-Tudo bem, ganhaste. – comentou.

Eu sorri e continuei a cantar. Iria ser uma tarde bem passada.

14 de Novembro de 1978

Os dias vão passando até para uma pessoa idiota como eu. Às vezes mais devagar, outras vezes mais rápido… mas acabam por passar sempre. Contudo, desde há alguns dias parece que demora tudo muito mais tempo! Talvez seja porque eu estou ansiosa pelo dia do baile, ou pelo jogo de Quidditch ou pelo dia em que vou conhecer o J, não sei… Mas tem tudo andado a uma velocidade anormal e isso irrita-me profundamente!

-Hey, Lily… - alguém me chamou tirando-me dos meus pensamentos.

Olhei para o meu lado e vi Frank a tomar o pequeno-almoço.

-Sim, Frank?

-Estás a olhar abstraída para o teu pequeno-almoço há pelo menos 15 minutos. Não sei o que é que esperas que lhe aconteça mas olha que daqui um bocado desaparece!

-Ugh. Acho que vou andando… - respondi, arrastando-me para sair da mesa.

Ah, que belo dia!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Lily?

-Eu?

-Estás aqui?

-Não, estou ali, Lene. Olha eu ali ao fundo!

-Por acaso há dois segundos atrás estavas na lua, SIM? – resmungou ela.

-Acabei de aterrar. O que é que a McGonagall está a dizer? – perguntei-lhe ao ouvido, tentando passar despercebida.

-É que não faço a mais pequena ideia! – respondeu ela, enquanto ria.

-Lene, meu amor. Estás demasiado alegre, o que é que aconteceu? O James desmarcou o treino de Quidditch de hoje à tarde? – perguntei, começando a ficar contente com aquela hipótese. Quer dizer, tínhamos treinado dia sim dia não durante UM MÊS. É normal que estivesse cansada.

-Não, não é isso. É ainda melhor! – respondeu-me.

-Sinceramente neste momento não me consigo lembrar de nada melhor… - respondi, bocejando.

-Lembras-te de eu ter dito que o Six me tinha pedido em namoro? – perguntou-me.

-Lembro-me de ter sabido por outras pessoas, sim. – respondi, levantando uma sobrancelha.

-Ó Lily… Não acredito que estejas zangada por causa disso! – exclamou, lançando-me um olhar de incredulidade.[I1]

-Estava a brincar, não há ressentimentos… - respondi a rir da cara que ela tinha feito. – Estavas a dizer?

-Ahh, sim... DISSE-LHE QUE SIM!

-TU O QUÊ? SIRIUS BLACK E MARLENE MCKINNON NAMORAM FINALMENTE? – perguntei, super contente. Quase estava a dar pulinhos da cadeira.

-Shhh, Lily. Está tudo a olhar para nós… - disse ela.

Eu olhei à minha volta e reparei que as cabeças dos nosso queridos colegas estavam todas viradas para a nossa carteira. Boa, aposto que vão começar os boatos agora e eu vou ser a culpada... Olhei para o Sirius que se ria discretamente lá atrás e revirei os olhos.

-Evans, McKinnon, acredito que a vossa vida pessoal não precisa de ser discutida em sala de aula. – disse McGonagall, com um tom de voz rígido e seco. – Continuemos. – e continuou a explicar a matéria.

-Uau, vocês namoram mesmo?

-Siim!

-Woow.

Estou em choque!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Como não tinha tomado o pequeno-almoço de manhã, estava cheia de fome quando fomos almoçar. Mal nos sentámos comecei logo a atacar a comida, como se não tivesse comido durante duas semanas. Confesso que não estava com atenção nenhuma àquilo que os meus amigos estavam a dizer. Naquele momento só importava o meu lombo de porco com batatas assadas que sabia tão bem.

Acabei de comer quando ainda os outros estavam a começar, por isso decidi finalmente prestar atenção ao que diziam. Azar o meu que o fiz na altura completamente errada. Porquê, lombo de porco? Porque é que não duraste mais uns minutos?

- … E depois eles vão parar à Terra do Nunca onde há piratas , sereias e fadas. E está lá também o capitão Gancho, que quer apanhar o Peter Pan… - explicava o Remus, ao que todos os outros ouviam atentamente. Oh, Por favor! Eles estão a falar de um filme de animação?

-Humm. Estão a falar do Peter Pan? – perguntei, ainda descrente.

-Sim.  – respondeu a Mary. – Eles estavam a contar-nos o que é que acontecia.

-Como é que isso veio à conversa? – perguntei, lembrando-me que da última vez que tinha prestado atenção eles falavam de uma chuva de meteoros que iria haver um destes dias.

-Não sei, só veio… - disse Alice, a sorrir. – Então, Remus, conta lá o resto da história por favor! – ela fez beicinho.

-Ok. Uhm, eu estava a dizer… - disse ele, parando para pensar. – Ah, sim, já sei! E o capitão Gancho vai enganar a Sininho, lembram-se, a fada do pó mágico?

-Desculpem interromper… - ouviu-se uma voz atrás de nós. – James, posso dar-te uma palavrinha? – disse uma rapariga loira de olhos verdes que eu reconheci como sendo Rosie Stevens.

-Claro. – disse ele, abrindo um sorriso enorme.

Eles afastaram-se da mesa e ficaram a conversar a alguns metros de distância. Eu não consegui deixar de olhar para eles, estava imensamente curiosa para saber o que é que ela queria! Passados cinco minutos, o James deu-lhe um beijo na bochecha e voltou para a mesa, sentando-se à minha frente.

-Pessoal, já tenho par para o baile! – comentou, ainda a sorrir.

-Quem? – perguntei eu rapidamente.

-A Rosie, ela vai comigo.

-Ahh. Está bem. – respondi.

Acho que tenho um filtro na minha cabeça e só ouço o que quero quando quero, o que explicaria porque é que eu deixei de ouvir o que é que eles disseram a seguir a isso. Passado alguns minutos levantei-me juntamente com o meu super filtro e fui-me embora para o dormitório tentar fazer algo de proveitoso mas a minha mente não deixava de pensar em Rosie e James juntos. Eles não tinham nada a ver, não tinham sequer uma coisinha em comum! E ele dizia que me amava, que queria casar comigo… Uau, parece que foi rápido a esquecer-me. Ou então era mentira, durante este tempo todo ele mentiu-me… E eu até já tinha acreditado.

Não percebo a mistura de emoções que sinto. Apertos no estômago, incredulidade, desapontamento… Não consigo entender, não mesmo.

Para ajudar ainda mais à festa, tinha acabado de receber uma carta do J em que ele se recusava a contar-me uma coisa. Só nessa altura é que percebi que ele ainda não confiava em mim… Talvez estivéssemos a ir um bocado rápido demais mas não sei qual é o tempo a esperar para se começar a avançar quando somos amigos por carta, esse tipo de amizade não deve seguir as regras normais, não é? De qualquer forma, parece que ele não confia em mim… Acho que estou a ser um bocado chata com ele e é disso que eu tenho mais medo. Não quero que ele fale comigo por obrigação e às vezes parece que é isso que está acontecer. Não vou escrever-lhe mais cartas… Vamos conhecer-nos daqui a alguns dias e depois disso logo veremos o que vai acontecer, nessa altura já vai ser diferente.

Tudo isso juntamente com o problema que o James inconscientemente tinha causado começou a dar-me a volta à cabeça e já nem sabia em que pensar.

Peguei no pergaminho que estava a usar para responder à carta do J e escrevi sobre isso, tentando aliviar o que sentia e esperando também um conselho em troca.

“Queres saber dos meus dramas? A última bomba foi: o James vai ao baile com a Rosie Stevens! Fiquei chocada. Não sei, foi estranho. Fiquei surpreendida, desnorteada e um bocadinho triste, acho eu. Ele dizia que me amava e agora já arranjou outra pessoa. Afinal era mentira e eu até já tinha acreditado nele, percebes?”

Depois de reler a carta enviei-a e deitei-me na cama à espera que adormecesse e que tivesse um sonho bonito em que, de preferência, não aparecessem nem J nem James nem os meus amigos. Podia sonhar sobre um balão que voava até à lua, ou um gato que fugia de um cão ou com carneirinhos que…

Um ruído na janela cortou os meus pensamentos e eu virei-me com intenção de perceber o que se passava. Um laivo de compreensão atingiu-me quando vi a coruja de J a bater na janela com o bico. Rapidamente abri a janela, tirei a carta da pata dela e comecei a ler, focando-me principalmente na parte que me interessava.

“Lily, se tu não gostas dele, se lhe disseste que poderiam apenas ser amigos e começaste a sair com o Amos o que é que achas que ele pode e deve fazer? Ele não vai esperar para sempre que tu gostes dele quando isso pode nunca vir a acontecer. Só porque ele vai ao baile com outra rapariga não quer dizer que ele não te ame ou nunca te tenha amado. Ele apenas precisa de te esquecer.”

Infelizmente o J tinha razão, como sempre.

Mandei o pergaminho para debaixo da almofada e concentrei-me em não pensar em nada para tentar adormecer, o que, obviamente só aconteceu horas mais tarde.

15 de Novembro de 1978

São oito horas da manhã, estou cheia de sono mas não consigo adormecer. Às dez horas vou ter um jogo de Quidditch contra os Slytherin. É habitual o nervosismo nestes dias, mas hoje, sinceramente, parece que não sinto nada. Há um vazio dentro de mim. Não sei o que se passa mas por agora não quero saber, vou pensar nisso mais tarde, depois do jogo.

Estava a vestir-me fazendo os possíveis para não acordar ninguém antes da hora quando o Jim, a coruja do J aparece na janela aberta e voa até mim, fazendo o maior chavascal que conseguiu. Tirei a carta da sua pata, dei-lhe um biscoito e levei-a para a sala comum com a intenção de não a deixar acordar ninguém.

“Querida Lily,

Diz-me que não estás a pensar em seguir o plano de não me mandar cartas nunca mais.

Eu preciso de falar contigo. Tornou-se essencial. Não me faças isto. Não nos faças isto.

Gosto muito de ti.

Com amor,

J.”

Li a carta pelo menos três vezes tentando encontrar significados escondidos naquelas frases. Contudo, acabei por não responder, por isso mandei Jim de volta e fui tomar o pequeno-almoço.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

O salão Nobre estava invulgarmente vazio àquela hora, tirando uns Slytherin nojentos que passaram o tempo todo a lançar-me olhares de escárnio e a chamar-me sangue de lama. Felizmente eu já não me importava com o que eles diziam senão poderia dizer com toda a certeza que a Madame Pomfrey iria receber quatro slytherin um bocado desfigurados na enfermaria.

Passado algum tempo (e surpreendentemente do nada) surgiu novamente o Jim à minha frente. Revirei os olhos e tirei-lhe o pergaminho da pata, dando-lhe a beber um bocado do meu sumo de abóbora.

“Querida Lily,

São 8h30. Às 10h começa o jogo de Quidditch. Confesso que estou ansioso por te ver jogar contra os Slytherin. Espero que os Gryffindor lhes dêem uma abada mas preferia que me respondesses antes disso!

Com amor,

J.”

Guardei o pergaminho no bolso e levantei-me da mesa, ignorando os gritos vindos da outra mesa. Quando estava quase a sair para fora do salão a porta abriu-se e apareceu James que me lançou um grande sorriso ao qual eu não respondi.

-Hey, Lily! Dormiste bem?

-Sinceramente não. – disse, percebendo que o sentimento de desapontamento teimava em voltar. – Eu vou treinar, até já. – continuei, caminhando para a porta.

-Lily? – chamou-me ele, prendendo-me pelo braço e puxando o meu queixo para cima para o encarar. – Está tudo bem?

-Sim, eu vou só, ahm… Esqueci-me de uma coisa no dormitório e preciso de acordar a Lene. – respondi, desprendendo o meu braço das mãos dele. Com um aceno de despedida caminhei para a porta do salão e fui-me embora escadas acima até ao 7ºandar.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Ainda não tinha respondido ao J. A Lene já estava acordada. Repassava agora na minha cabeça os acontecimentos de ontem à noite de modo a tentar encontrar uma explicação lógica e racional que pudesse fazer-me entender o que se estava a passar. Contudo, essa tentativa foi interrompida novamente pela querida coruja do J que estava sempre a aparecer!

“Querida Lily,

Tudo bem, falta meia hora. Estás a conseguir pôr-me nervoso. E uma resposta?

Se não responderes desejo-te já boa sorte. Boa sorte, Lily. Quer dizer, tu não precisas de sorte, tu jogas bem.

Com amor,

J.”

Suspirei resignadamente e decidi responder ao J. Já estava na altura. Peguei num pergaminho, molhei a pena e escrevi uma carta que coloquei presa na pata do Jim.

-LILY! – gritou Lene ao meu ouvido, de repente.

-DIZ! – gritei também.

-Estamos atrasadas, meu Merlin, temos de ir embora. Já viste que horas são? Devias ter-me vindo acordar mais cedo… Vamos, vamos lá. Vestiários. Vestir o uniforme, rápido! – resmungou, puxando-me pela mão.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Os Gryffindor estavam a ganhar 110-70 aos Slytherin, que começavam a ficar mais furiosos e agressivos. Felizmente eu tinha treinado muito e até agora tinha-me conseguido desviar de todas as bludgers que me tinham mandado, apesar do Six e do Martin terem um papel importante nessa parte.

O jogo era muito rápido. Só alguém que conhecesse bem a sua equipa e as suas jogadas poderiam antevê-las e preparar-se.

-… e é Johnson que tem a quaffle. Johnson passa para McKinnon e McKinnon finta Avery dos Slytherin. – desviei o olhar rapidamente para Marlene que sorria. – McKinnon lança a quaffle para Evans que a apanha com grande estilo. – continuou o comentador.

Voei rapidamente com a quaffle na mão atravessando metade do campo, estava cada vez mais perto do aro central para o qual iria rematar mas de repente senti dor. Como reflexo desviei o braço esquerdo para o sítio onde estava dorido e a quaffle escorregou. Tentei segurá-la mas um segundo encontrão fez-me desequilibrar da vassoura, caindo em queda livre. A minha cabeça doía-me, a vassoura já estava demasiado longe para eu a apanhar, tinha deixado a varinha no vestiário e as pessoas tornaram-se borrões indefinidos.

Boa, vou morrer da forma mais estúpida que pode existir, pensei, enquanto sentia o ar a passar por mim a grande velocidade. A uma dada altura acho que embati nalguma coisa e a partir daí senti cada vez mais dores. A última coisa que me lembro de ver foi a face de James, em cima de mim a sussurrar-me que iria ficar tudo bem mas não consegui distinguir se tinha sido verdade ou se era só a minha imaginação. Depois acho que apaguei.

18 de Novembro de 1978

Os sonhos estavam a tornar-se cada vez mais definidos embora muitas vezes acabassem por me confundir. Pelo menos acho que eram sonhos, porque eram demasiado estranhos para serem realidade.

-Lily… Hoje é dia 21, lembras-te? Falhaste a promessa, não apareceste na torre como tinhas dito. – disse-me um rapaz com cabelos castanhos que estava à minha frente mas cuja face eu não consegui reconhecer. – E acabaste por não ir ao baile. Se soubesses o que aconteceu por lá… -  continuou, com um sorriso malicioso que ficava estranhamente desajustado naquele rosto.

Eu ainda estava a tentar perceber o que ele tinha dito quando aparece ao lado dele o Amos e outra rapariga a rirem-se. Olhei interrogativamente para o Amos até que ele parou à minha frente.

-Ahh, olá. Esta é a Caty, conheci-a ontem antes do baile. Como não foste, tive de arranjar outro par. – murmurou ele, como quem pede desculpa. – É certo, o Amos Diggory nunca poderia ir sozinho. – disse ele com um tom de voz mais alto e com um sorriso convencido no rosto.

Ele e a outra rapariga desapareceram logo de seguida enquanto o rapaz que eu suponha ser o J começou a mudar as suas feições, ficando igual ao James. Porém, esse James parecia mais velho do que era suposto. Ele dirigiu-me a palavra e parecia extremamente contente.

-Adivinha Lily! Vou casar com a Rosie, pedi-lhe em casamento hoje e ela aceitou! Queres ser a madrinha? Por favor, Lily, tens de ser tu! – disse ele, com um sorriso enorme na cara.

-Não. Não quero, James. Por favor, escolhe outra pessoa… - respondi e a sua expressão tornou-se mais sombria. Ele estava desiludido e eu quis voltar atrás e dizer-lhe que sim só para não ver aquela máscara no rosto dele. Quando eu tencionava dizer mais qualquer coisa tudo se desfez e ficou um vazio.

-Lene, por favor… Ela está bem, a Madame Pomfrey disse que ela ia acordar ou hoje ou amanhã. Limpa as lágrimas. – ouvi uma voz dizer.

-Mas porque é que está a demorar tanto? – respondeu outra voz chorosa que eu reconheci como sendo Lene.

-Não sei… Quando ela estiver preparada vai acordar. Dá-lhe tempo. – ouvi novamente a primeira voz que percebi ser do Six.

Já não sentia os pés dormentes e as minhas mãos começavam a ganhar força novamente. Tentei controlar os meus olhos para os forçar a abrir e tentar perceber o que é que se passava lá fora. Algo não estava bem, a Lene não choraria por um motivo idiota qualquer.

A um dado momentos os meus olhos abriram-se mas a luz branca era tão forte que tive de piscar os olhos imensas vezes antes de me conseguir habituar a ela.

-Lily? – sussurrou Mary, com um tom de surpresa presente na voz dela.

-Hummm… - murmurei. – Sim?

Por um segundo consegui ver Frank, Alice, Mary, Remus, Sirius e Lene todos à volta da minha cama com um ar preocupado mas depois alguém se lançou para cima de mim, tapando-me a visão e fazendo-me soltar um gemido de dor.

-Desculpa, desculpa, desculpa! – disse Alice, desfazendo o abraço e olhando para mim com os seus olhos muito abertos.

Eu sorri.

-Não faz mal. E então… O que é que se passa? – perguntei, depois de olhar à minha volta e perceber que estava na enfermaria.

-Lily, sentimos tanto a tua falta! – resmungou Lene. – Nunca mais nos pregues um susto destes!

Eu sorri para ela ainda sem saber muito bem o que tinha acontecido e depois olhei para a minha mesa de cabeceira que tinha cerca de dez cartas em cima. Olhei mais atentamente e pude distinguir a frase “Para a Lily Evans” escrita na letra bonita de J.

Exigi explicações aos meus amigos e tentei ignorar a desilusão que sentia por faltar ali James. Realmente, havia muita coisa que eu tinha de entender. A começar pelo meu sonho, talvez.


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Notas finais do capítulo

Olá a todos (as)!!! Eu fui acampar este fim-de-semana e portanto fiquei sem computador, logo só pude vir postar hoje =L
Aqui está mais um bónus de LTY, o próximo será o último, infelizmente...
Portanto... reviews? =)
Beijinhoooooos,
Inês Potter **



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