A sala estava escura, mas pelos vidros da janela sem cortinas podia-se perceber a sombra de alguém sentado na poltrona azul marinho, ao longe era possível ser visto o movimento dos carros sobre a ponte próxima, as luzes ora azuis, ora amareladas tornavam mais vazia a mente distante de Usui.

Seus olhos observavam todo o mundo que passava em seus veículos rumo as suas casas depois de um dia de trabalho, mas sua mente vagava pelas suas lembranças dolorosas e pelo seu passado distante que sempre o atormentava em noites como aquela, quando a lua nova sumia do céu ele simplesmente se sentia tão obscuro e longínquo quanto à própria lua que se escondia de tempos em tempos.

Depois de um suspiro prolongado reclinou a cadeira um pouco mais e olhava pro teto escuro do seu apartamento, tudo para ele era tedioso e sem graça desde que resolveu morar ali, pensou várias vezes em sumir daquele lugar, mas com certeza não voltaria ao lugar acolhedor de onde foi tirado, passava os dias pensando em como se livrar das correntes pensadas impostas a ele pelos Walker no fim mesmo que passasse a noite pensando nunca chegou a uma conclusão definitiva do que fazer. O verde dos seus olhos agora encobertos pelo braço que acabara de botar sobre rosto apenas implorava para uma saída daquele futuro imposto a ele sem direito a questionamento, depois de mais de duas horas suspirando fundo e olhando o movimento dos carros ele adormeceu naquele local mais uma vez sem resposta pra suas angustias.

Enquanto isso Misaki jogou-se na cama chateada com a conversa inútil imposta a ela no jantar.

- As pessoas aqui não poderiam falar normalmente sobre coisas cotidianas de uma família normal?

- Não somos uma família normal! Suzuna abriu a porta e encarou a Irma com curiosidade.

- Bata antes de entrar no quarto das outras pessoas! Exclamou Misaki irritada.

- Aff que mau humor! Suzuna riu com a irritação da irmã.

- qual será o motivo né?

- Você ganharia bem mais se não batesse de frente assim com o papai! Suspirou Suzuna sentando na cama com Misaki.

- Fala sério Suzuna, o Papai tinha que tomar as dores do Hijioka sensei? Misaki enterrou o rosto no travesseiro chateada.

- Você sabe que eles  são amigos de infância e inventa de gazear logo a aula dele! caramba, você é muito desaforada! Ela sorriu em pensar na cena.

- Eu precisava ir ao banheiro! Ela disse sorrindo por baixo da almofada. Suzuna percebeu e levantou o travesseiro sorrindo.

- Hum! Vou fingir que acredito! Ambas riram.

- Suzuna.. Um olhar sóbrio se desenhou no rosto de Misaki e ela falou seriamente.

- Hum?

- Você acha que existe alguma forma que me faça escapar de ser presidente da empresa?

-Sinceramente?

- Sim..

- Acho que não!

- Entendo.. ela se virou desconsolada.

- Ser médica é tão importante pra você?

- Quem se importa ?

Suzuna percebeu que a conversa não iria evoluir mais que aquilo e resolveu ir embora. Ao ouvir a tranca fechar Misaki suspirou decepcionada.

- Não é como se eu não soubesse... já que isso é algo do qual eu não posso fugir facilmente mas ... pelo meu próprio bem eu certamente acharei um meio.

Ela apagou a luz do quarto e ficou olhando o céu sem nuvens e sem lua, em noites como essa Misaki se sentia realmente melancólica.

Logo pela manha Misaki levantou cedo vestiu o uniforme e saiu antes que todos levantassem, pegou o carro e foi pra escola a pouco tinha tirado a habilitação provisória então dirigir era algo que ainda lhe causava um certo desconforto, mas quando ela saia de carro procurava sair cedo e evitava o trânsito e se sentia mais confiante em suas habilidades.

Bateu a porta do carro ainda eram pouco mais de seis da manha quando chegou à escola, as amigas demorariam mais ou menos uma meia hora pra chegar já que sempre chegavam umas dez pras sete, resolveu sentar um pouco nos bancos externos da escola e ver as flores de cerejeira que já brotavam em algumas delas.

Misa pôs a bolsa sobre o banco deitou se fazendo a mochila de travesseiro enquanto espreguiçava se sob a sombra da cerejeira. Fechou os olhos e pôs um dos braços sobre o rosto tentando não pensar em nada sobre a noite anterior.

- Parece que alguém ainda está de péssimo humor! A voz embora melodiosa quebrou o silêncio dos pensamentos de Misaki fazendo com que ela se levantasse num sobressalto.

- Nani? O que você está fazendo aqui?

- Ohayo! Não aprendeu a cumprimentar as pessoas?

- Quem quer cumprimentar você afinal?

- Ora... posso saber o motivo pelo qual você é tão grosseira comigo visto que não nos conhecemos?

- Eu simplesmente não fui com sua cara?

- Sério? Usui coçou os cabelos loiros como se tentasse achar um motivo para aquilo que acabara de ouvir.

- Com licença! Misaki se levantou, mas quando ia pegar a bolsa Usui segurou no seu braço.

- Pode ficar ai, eu não pretendo mais incomoda la. ele ia levantando quando ela surpreendentemente segurou sua camisa.

- Pode ficar .. se quiser

- humm quer que eu fique?Misaki corou com a conversa.

- eu não quis dizer isso! É só que não é como se eu pudesse lhe expulsar de uma área publica! Ela se levantou totalmente vermelha e pegou a bolsa.

- por que você corou de repente? Brincou Usui percebendo que ela estava sem graça.

- Não estou corada!

- ahh está sim!

- Com licença eu preciso ir! Ela pegou a bolsa rapidamente e saiu caminhando.

- ei! Usui gritou para ela fazendo ela olhar em sua direção

- a propósito meu nome é Usui!

- E quem perguntou?! Ela se virou ainda mais furiosa fazendo ele dar um sorriso bem estranho, um sorriso com uma mistura de perversão, mistério e interesse.

Usui se sentou olhando Misaki ir embora e sorriu olhando pra arvore que balança as folhas com a brisa da manha

- Que garota interessante. Suspirou ele de repente.