E então contei tudo, desde o começo dos sonhos até o momento de agora, um breve resumo dos ocorridos que às vezes eram complementados ou comentados por Len e Gumi.

 Enquanto explicava, Len os deixou puxar as suas orelhas e jurou para Gakupo-san que não tinham sido presas com cola industrial.

 -Vocês realmente se meteram numa grande confusão...-Disse Kamui-san, as palavras jogadas ao acaso enquanto ele tinha um olhar distante em sua face séria. Com certeza ele estava chateado por não termos contado pra ele antes. Ahh...Acho que era realmente o melhor à se ter feito.

 -Ah! Crianças...Deveriam ter nos contado, somos seus pais! Com certeza pensaríamos em algo!- Disse Luka-san, brincando com nossos cabelos em seus dedos delicados.

 Oh, é verdade;

 Talvez eu ainda não tenha uma forte ligação com eles ou nada do gênero...

 Mas droga! Somos uma família....uma família estranha e maluca não deixa de ser uma família.

 -Desculpe... - Murmuramos os três ao mesmo tempo.

 - Está tudo bem... Está tudo bem agora!-Ela deu um sorriso caloroso.

 -Não teremos mais segredos entre nós a partir de agora! Ouviram? Sem segredos!-Exclamou o de cabelos roxos enquanto criava um abraço em família.

 - Certamente que não querido... Agora...quando essa confusão acabar estão todos de castigo!-Seu sorriso ainda era quente, mas suas palavras não podiam ter sido mais duras e geladas.

 Eu já pedi desculpas, sabe?

 -Suas costas estão doendo Len-kun? Eu vou pegar uma pomada!-Ela disse, se levantando e indo em direção ao seu quarto, não antes de recolher os fantoches estúpidos e guardar o livro.

 -Ainda vou ensinar as coisas da vida pra vocês... mas acho que isso pode esperar um pouco -Declarou o nosso sábio pai.

 Por favor, não me importa que você nunca nos ensine nada. Apenas seja irresponsável e queime uma salada de vez em quando pra logo depois pedir pizza. Eu gosto assim.

 Bem, de todo modo é um grande alívio que esteja todo sem segredos outra vez. Quero dizer... quase todos.

 Enquanto eu pensava nisso, o sorriso do de cabelos roxos estava paralisado. Em fato, nem as cortinas balançavam mais pelo misterioso vento noturno que nos causava a sensação de frio.

 O que estava acontecendo? Eu descobriria em alguns segundos.

 -Ei...Ei...Gakupo-san!-Exclamava Len, balançando as mãos na frente de Kamui-san.

 -Parece que apenas nós estamos nos mexendo!-Murmurei enquanto apontava para a face de Luka-chan, sua boca aberta com quem falaria algo e o remédio em mãos completamente parados no tempo.

 - E finalmente chegou o momento... -Escutei Gumi sussurrar com uma voz sinistra enquanto fitava o piso do quarto.

 -Chegou... o... momento?-Repeti, confusa e confesso que um pouco assustada.

 Gumi rapidamente se atirou em cima de Len e atingiu seu pescoço com uma precisão cirúrgica. Espera... como ela conseguiu acertar o meu irmão assim tão rápido? Por que ela acertou o Len pra começo de conversa? Ei, mano, cadê seus super-poderes?

 -Gu-Gumi?!- Perguntei, dando alguns pequenos passos para trás e encostando-me na fria parede do quarto.

 É;

 Não tive a menor chance. Fui apagada em uma fração de segundos.

 Quando acordei – Bem, não sei se “acordar” dentro de um sonho é realmente acordar, mas vocês me entenderam! – eu estava no País das Maravilhas novamente, mais precisamente no salão de visitas do Palácio da Miku-chan. Eu estava andando em lugares bastante refinados sem nem ao menos me dar conta ou me importar com isso.

 Gumi estava sentada em uma poltrona florida, vestida como lagarta e bebericando um chá suspeitíssimo.

 - Gumi! Sua doida! O que foi aquilo?-Perguntei, me preparando para voar no pescoço da esverdeada.

 - Eu só estava colocando vocês para dormir mais rapidamente!-Explicou ela, com certa irritação, como se isso fosse algo que eu deveria ter percebido.

  Como assim... sua...sua...

 - Bom trabalho Lagarta!-Disse Miku, entrando na sala acompanhada de suas damas. Tinha um ar sério e usava uma armadura de batalha.

 Como assim “Bom trabalho Lagarta”? Aquela psicopata quase quebrou meu pescoço fora!

 - Desculpe Alice, a situação requeria uma ação urgente!-Declarou a garota de cabelos azuis, sentando-se em uma poltrona vitoriana. Será que eu estava fazendo uma expressão muito raivosa?

  Len, que estava do meu lado, suspirou e sentou-se em um sofá com dois lugares, onde Teto já ocupava um deles, com uma expressão fria em face. Eu tenho falado pouco com Teto-chan ultimamente... huum... realmente gostaria de bater um papo com ela e... o que raios eu estou pensando em um momento aparentemente crítico e urgente?

 Eu me sentei em um assento próximo ao de Gumi, e pude ver que Kaito já estava sentado perto de Miku, tomando um chá suspeito como o que a esverdeada tinha em mãos. Eu realmente evito beber aquela coisa. Sério, muuito suspeito.

 - O motivo pelo qual vocês estão aqui, é que a contagem da ampulheta parou, agora a pouco!-Disse Miku, assumindo um tom mais confiante de voz, provavelmente tentava passar confiança.

 - A ampulheta?-Indaguei, confusa...acho que alguém tinha me dito algo sobre uma ampulheta. Um coelho. Com certeza um coelho.

 - Sim, isso indica que você tem que oferecer a resposta para o enigma Alice! Derrote o Pargarávio!- Respondeu-me Kaito.

 Silêncio. Foi o que se seguiu disso. Sim, eu sabia que teria de derrotar esse monstro cedo ou tarde. Mas estava esperando que fosse tarde.

 -Não me resta mais tempo?-Perguntei, fitava o chão de branco mármore.

 - Infelizmente... não há mais tempo, temos que enfrentar o Pargarávio....temos que derrotá-lo...AGORA!-Exclamou Gumi, sua voz soava incrivelmente fria.

 -Mas..mas...Eu não sei usar uma espada, não quero matar ninguém e sobretudo...Não  tenho idéia de como resolver esse enigma! Aliás, tenho certeza de que não recebi nenhuma pista sobre isso!-Me exaltei, levantando-me da poltrona subitamente.

 O que eles estão pensando? Eu sou só uma garota adolescente! E sou pequena! Como eles querem que eu enfrente um bicho com um nome tão estranho? A descrição da fera também não é animadora!

-Ah...isso é um problema, não acha?-Ouvi a voz debochada, logo depois a mão no meu ombro.

 -Rinto!-Citei o nome, expressando raiva.

-Senti sua falta!-E depois riu um pouco- Mas sério....você não sabe como resolver o enigma? Ahh! Estaremos em um problema com essa Alice tapada!-Completou.

 - COMO É?!- Me enfureci, colocando as mãos na cintura.

 - Estaremos em um problema com essa- Estava repetindo tudo de maneira simplória até que teve sua boca coberta pela mão da irmã.

 - Bem, o que ele quis dizer é que vidas estão em jogo...então agradeceríamos se você resolvesse esse enigma! E de toda forma...não se sinta mal caso não consiga...ele fala isso mais inúmeras outras Alices não conseguiram resolver o enigma!-Falou Lenka, delicadamente, surgindo não sei de onde.

 - É...pode crer...mas nesse caso era apenas a vida delas em jogo e agora tem todo esse...-Resmungava o outro retirando a mão da irmão de sua boca.

 - Calado!-Grunhiu ela. Dando a palavra final.

 Vidas...estão...em...jogo? Céus! Eu havia me esquecido. Todos aqui morrerão se eu não achar uma solução.

 Como eu me esqueci disso? Eu nunca fui tão esquecida! O que eu faço! Não...não irei resolver nada se começar à chorar. Tenho que seguir em frente.

 -Com certeza resolverei isso!-Disse, tentando passar confiança, sem nem ao menos ousar olhar nos olhos de todos ali.

 Finalmente, depois de um tempo, eu olhei para o loiro;

 Rinto me fitava curiosamente até então, depois que nossos olhares se cruzaram ele balançou a cabeça de maneira negativa. O que? O que está errado? Diga-me o que está errado!

 Miku tossiu algumas vezes, tentando chamar nossa atenção e quebrar o silêncio:

 - Então acho melhor irmos de uma vez!-Declarou. O sorriso calmo em face.

 - Mas... Princesa, não nos disse que o Pargarávio ficava aos cuidos da Rainha de Copas?-Indagou Len, seu tom de voz era inseguro e trêmulo. Com certeza ele tinha medo de ser esmagado por um grande exercito, por uma Rainha Travesti ou por um monstro comedor de garotinhas em vestidos azuis. Eu sei Len.Todos estávamos com medo.

 -Oh! Com certeza está... Eles tem um exercito assustador, mas damos conta! Com certeza!-Respondeu Kaito, o sorriso calmo como uma leve brisa de verão.

 “Chapeleiro, por favor, jogue esse chá suspeito fora agora mesmo! Caso você não tenha percebido: Somos apenas um grupo de poucas pessoas usando cosplays estranhos. E alguns de nós nem possuem poderes legais.”

 Eu estava prestes a dizer essas palavras muito bem formuladas em minha mente. Mas fui impedida.

 -O exército está pronto. Quando partiremos, majestade?-Entrou um garoto vestido de cavaleiro...espere, tenho quase certeza de que já o vi antes.

  Exército?

 - Partiremos nesse instante, Taito!-Respondeu nossa amável princesa, finalizando sua xícara de chá alucinógeno.

  Espera... a gente vai agora?

 Miku se levantou e todos os presentes na sala a seguiram. Inclusive a mim, mesmo que eu estivesse hesitante. Quando viramos em um determinado corredor pude ouvir um barulho vibrante.

 Aproximamos-nos da sacada e eu vi com meus próprios olhos. Inúmeros cosplayers gritando meu nome e vibrando. Pude reconhecer vários rostos, como amigos que fiz ao longo do tempo ou ex-crianças do orfanato. A maioria parecia ser um real habitante do País das Maravilhas, como Rinto e Lenka. Claro, eu não tenho tantos conhecidos, por favor.

 A Gumi acabou de gritar “UHUUUL! VAMOS ENFIAR A FACA NA RAINHA TRAVESTI!” Ou foi só impressão minha? Bem...de toda forma. Ahhhh! Quando essa história tomou proporções tão devastadoras?

 O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço?

 Eu não tenho como fazer valer isso! Como eu vou resolver esse tal enigma? Como eu vou conseguir tantas pessoas para a possível e provável morte sem entrar em pânico e ter uma crise de choro antes de me tornar completamente catatônica?

 Alguém me acorde. Por favor. Simplesmente me acorde.

Continua...