Sombras sobre Sinéad escrita por Dani


Capítulo 8
Raj




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      Meus olhos abriram-se lentamente naquele ambiente escuro. Tateei ao meu redor e não encontrei nada. Estava em um bagageiro de algum caminhão, do qual balançava bastante, provavelmente devido a dificuldades geográficas, como estrada rochosa. Encostei minha mão em minha cabeça e percebi que havia um galo no local dolorido e assim pude relembrar a desagradável sensação de levar uma pancada, fazendo-me desmaiar. Aquele era o motivo pelo qual estava ali.

      Droga! Se minha mãe descobrisse o que me acontecera, ela vai matar-me ou morrer de preocupação antes disso (aquele não era um pensamento muito agradável, ainda mais em uma situação como aquela). Precisava arrumar uma maneira de escapar daquele local o quanto antes, mas como o faria? Provavelmente os sequestradores irão requisitar algum valor monetário pelo meu resgate. Dona Marisa não tem dinheiro para isso, mas faria qualquer coisa por mim, assim como eu por ela, por essa razão, precisava escapar sozinho, antes que ela arriscasse demais.

      Comecei a tatear o redor novamente à procura de algum detalhe despercebido, do qual pudesse ajudar-me a escapar. Encostei a mão em algum tipo de tecido. O que seria aquilo? Fui subindo com minhas mãos e, assim, aquilo foi adquirindo uma fora: parecia uma pessoa. Mas quem? Fui descobrir da pior maneira possível.

      - Ah, seu tarado! – bradou uma voz feminina conhecida.

      - Susie?!

      - Não se aproxime, seu tarado!

      - Susie, é o Jim Harris, não sou tarado! Peço desculpas por ter tocado um lugar indevido... mas não consigo enxergar nada! – Fiz uma pausa. – O que está fazendo aqui?

      - O que você acha que estou fazendo aqui?! – gritou furiosa. – Por culpa sua estou aqui! Se você não tivesse me abordado, eles não teriam me alcançado.

      - Hã...?

      Consegui recordar o que acontecera apenas quando ela comentou. Que maravilha estar preso com Susie Bourbon em um caminhão (era um garoto de muita sorte)! Se pelo menos estivesse com Amber... Não! Não a desejo em uma situação com esta.

      - Quem são essas pessoas, Susie?

      - É um bando de loucos perigosos, não sei ao certo o que desejam... Desde que me encontraram, estão atrás de mim – explicou.

      - Entendo...

      Assentei-me e tentei pensar em alguma maneira de escapar dali. No entanto, na havia nada a fazer, não havia maneiras de fugir, pelo menos, não agora. Terei de aguentar aquela incômoda viagem até o desconhecido destino. Trocamos poucas palavras durante todo o percurso. Não consegui calcular o tempo em que fiquei confinado naquele local, muito menos que horas eram. Sabia que já estava exausto de permanecer ali, mas uma pessoa comum estaria entrando em desespero, por isso eu era estranho e tranquilo. Susie, por sua vez, parecia remexer-se freneticamente.

      Percebi que o caminhão estacionara em algum lugar, a porta do motorista abriu-se ruidosamente. Após isso, escutei o som de pesados passos aproximando-se. O chão parecia de terra, o que me fez pensar que já não estávamos em Sinéad. O ruído parou e, logo em seguida, o bagageiro do veículo abriu-se, permitindo que a luz matinal adentrasse ao recinto, ferindo meus olhos acostumados à escuridão.

      Após um tempo, consegui abri-los e observa com maior precisão o meu sequestrador: era um homem muito alto, forte, suas feições eram brutas e o cabelo curto e negro. Trajava sobretudo, camisa e jeans, todas as peças em tom preto; óculos escuro e, o mais assustador: um revólver em sua mão direita apontando em minha direção. Susie tremia freneticamente, parecia que ela iria gritar a qualquer momento ou tentar uma estúpida fuga.

      - Fiquem quietos, não tentem nada ou explodo seus miolos. – Sua voz era grossa e ecoante.

      Engoli em seco, acho que já estava a ponto de gargalhar insanamente, pois aquela era minha reação em meio a terríveis situações, mas, caso o fizesse, deveria também dar adeus à minha cabeça e acostumar-me a viver sem ela (não). Minha boca já estava trêmula de vontade de rir e rir histericamente, no entanto, tive de reprimir tal impulso.

      - Karl, venha colocar as amarras nesses pirralhos! – bradou o homem.

      - Já estou indo, Raven! – respondeu uma voz não tão longe.

      Assustei quando escutei Karl falar “Raven”. Eram os mesmos homens da floresta, os quais tentaram raptar Phoebe. O que desejavam, afinal? Tudo aquilo pode fazer parte do tal culto. Este talvez baseasse em sacrifício de adolescentes, pois, assim, explicaria o motivo de tantos sequestros. Por algum motivo, eles não pareciam fazer aquilo por valor monetário.

      Meus pensamentos mirabolantes foram interrompidos quando Karl aproximou-se. Este era um pouco mais baixo que seu companheiro, mas igualmente forte. Sua pele era escura, assim como os fios de seu cabelo e seus olhos. Trajava roupas de tom acinzentado e trazia consigo cordas e um revolver. Aproximou-se de mim, apontou a arma em minha direção e aproveitou para amarrar, fortemente, meus pulsos. Ele entregou a amarra restante a Raven, de modo que este último fizesse o mesmo a Susie.

      Após a tarefa, os dois homens obrigaram-nos a sair do caminhão. Percebi que estávamos em um local natural, longe da civilização. Terra e pedras ajudavam a compor o solo juntamente com a vegetação rasteira, havia uma casa velha e toda feita de madeira rodeada por árvores de grande porte. Alguns tímidos raios solares conseguiam atravessar as copas e contribuir com a luminosidade. Fui capaz de escutar alguns ruídos de animais, como o canto de pássaros. A paisagem era muito atrativa, porém não avistei nada de anormal.

      Os dois sujeitos aproximaram-se novamente, ainda com as ameaçadoras armas apontadas em nossa direção. Fitei, rapidamente, o rosto de Susie, o qual estava mais amedrontado que o meu, acreditei que ela estava a ponto de chorar e gritar, mas, provavelmente, ela não seria tola a esse ponto, pois sabia que, caso o fizesse, seria acertada por uma bala em sua cabeça. Ela lançou-me um olhar piedoso, do qual tentei retribuir com coragem, no entanto, não era um exemplo de herói ou qualquer coisa do tipo.

      Permanecemos em silêncio enquanto os sujeitos obrigavam-nos a caminhar em direção à casa de madeira. Podia escutar o som de “grama amassada”, à medida com a qual andávamos; era o único ruído do qual era capaz de escutar, até mesmo os animais desistiram de “alegrar” o terrível momento, do qual estávamos submetidos.

      Quando chegamos próximos a casa, Karl passou a nossa frente com o intuito de abrir a porta de madeira, fazendo tal tarefa com esforço estrondoso, enquanto Raven empurrava-nos recinto adentro. O local era pequeno e dispunha de pouca mobilha; havia algumas prateleiras, as quais guardavam variados tipos de armas brancas (Amber adoraria ver isso), um grande armário escuro e quatro cadeiras de visual antigo.

      Os sujeitos obrigaram-nos a assentarmo-nos nas cadeiras, assim, amarraram, com força, nossas mãos junto aos objetos. Meus pulsos já estavam doloridos, mas tentei ignorar tal incômodo, afinal, havia outras coisas das quais deveria preocupar-me, sair dali com vida era uma delas. Fiquei imaginando o quanto minha mãe estaria desesperada, provavelmente colocara todos os policiais em minha busca. Tal pensamento deu-me vontade de sorrir, era satisfatório imaginar como dona Marisa é exagerada quando se tratava do bem-estar de seus filhos. Aquilo era capaz de comover-me, fazendo-me ficar com mais desejo de revê-la. Será que conseguiria?

      Karl e Raven assentaram-se pesadamente sobre as duas cadeiras restantes, após isso, o incômodo silêncio recaiu sobre nós. Permanecemos nesse ambiente de tensão por um tempo até escutar a voz de Karl quebrar a quietude.

      - Quando Julia retornará?

      - Não sei – respondeu Raven sem rodeios.

      - Droga! Ficar vigiando essas crianças é uma tarefa muito enfadonha...

      - Eu sei, mas precisamos fazê-lo.

      - Por quê? – questionou Susie. – Por que estou em uma condição como esta? O que eu fiz? Eu só quero saber! – Ela debatia-se, chorava e descabelava-se na inútil tentativa de liberdade.

      Imaginei que ela seria capaz de reagir daquela maneira, afinal, Susie era uma patricinha bastante escandalosa. Temi por ela, o que aqueles sujeitos seriam capazes de fazer após tal revolta era algo tenebroso. No entanto, eles apenas avisaram-na:

      - Fique quieta ou sofrerá as consequências – disse Raven.

      - Não, eu tenho o direito de saber! – rebateu.

      Dessa vez, os sujeitos reagiram de maneira diferente: pegaram suas armas e apontaram em sua direção.

      - É melhor seguir o conselho de Raven ou você gostaria de ter um buraco nessa linda face? – perguntou Karl.

      Susie não respondeu, contudo, provavelmente escolheu a primeira opção, afinal, diante de uma arma, até mesmo a garota mais escandalosa ficaria quieta. Assim, permanecemos em silêncio. Preferi perder-me em meus pensamentos, pelo menos ainda tinha a capacidade de exercer reflexão, era livre em meu mundinho de fantasias. Era aquele o local do qual me refugiava sempre quando estava fraco, incapaz de enfrentar a realidade. Esta, por sua vez, era cruel demais para alguém, em sã consciência, encarar sem uma base de esperança, um lugar seguro para apoiar-se.

      Observei todo o ambiente à procura de uma saída. Janelas faziam-se presentes, porém trancadas. Sou estúpido, como pensava em deixar aquele local se eu não conseguia, nem mesmo, soltar-me de minhas amarras! Que tolice! A vontade de gargalhar retornou e, desta vez, não consegui controlar-me. Minhas risadas quebraram o silêncio.

      - Do que está rindo, pentelho? – questionou Raven.

      - De meu próprio desespero! – Consegui responder com meu esforço, mas continuei gargalhando.

      - Quer ficar quieto?! – ordenou Raven.

      - Não... não consigo parar de... rir!

      - Vamos ver se não consegue... – Karl posicionou sua arma em minha direção.

      A reação de Karl nada adiantou para fazer-me parar de gargalhar, eu sei, estava completamente desesperado, mas não conseguia controlar-me. Em um estado de extrema loucura, eu disse:

      - Atire! Só assim você irá fazer-me parar de... rir! Pelo menos irá livrar-me de meu desespero.

      Karl posicionou-se com o intuito de atirar. Acho que ele o teria feito e não seria possível continuar esta história se o sujeito não tivesse sido interrompido pelo ruído da grande porta de madeira ao abrir-se. Uma bonita garota adentrou ao recinto. Ela era jovem, mais ou menos, de minha idade, possuía leves feições, cabelo curto, repicado com a coloração roxa escura, seus olhos eram intensos e azuis, e a pele muito branca. Trajava roupas estilo punk: jaqueta de couro sintético, camisa dos Ramones, calça jeans preta, All Star surrado, cinto e coleira de finco como adorno.

      - O que está acontecendo aqui? – perguntou.

      - Trouxemos esses dois fedelhos como pediu, Julia – respondeu Raven.

      - Sim, mas por que Karl está a ponto de atirar em um deles?

      - Porque esse garoto não parava de gargalhar! Estava irritando... – disse Karl.

      - Acho que havia sido muito clara quando disse que os quero vivos! – Ela era jovem, porém sua voz firme. – Agora é melhor vocês irem avisar Raj.

      Karl e Raven saíram da casa, deixando-nos sozinhos com aquela garota. Não sei o que era pior: Julia ou os sujeitos, algo me dizia que ela era ainda mais terrível.

      - Vejamos o que temos aqui... Seriam duas “crianças”? – Julia lançou um olhar para Susie, observando-a com cautela. – Não vá fugir dessa vez, garota, precisamos de você.

      Susie lançou um olhar de desprezo como retribuição ao comentário e debateu-se tentando escapar, no entanto, todo seu esforço era inútil, ela não seria capaz de soltar as amarras. Julia voltou-se em minha direção, seus olhos encontraram os meus, ela observou-me com mais cautela, como se desejasse reparar em todos os meus detalhes.

      - Seus olhos são incomuns... Gostei! – afirmou. – Você é bem bonito, parece-se com Raj. Com certeza você é uma das “crianças”.

      - Já que gostou, você poderia soltar-me dessas amarras, fazer esse favor para mim. Depois poderíamos assentarmo-nos, tomarmos um chá e discutirmos esse seu conceito de “criança” – sugeri.

      Julia gargalhou.

      - Além de bonito, você é engraçado, entretanto, não posso deixá-lo ir. Desculpe, querido.

      - Se você não quer soltar-me, você também não tem o direito de chamar-me de “querido”. Que intimidade é essa?!

      - Tudo bem, não o chamo mais de “querido”.

      Conversar com Julia era mais razoável do que com Karl e Raven (estes nem pareciam humanos!). Precisava ver um lado bom da situação (se é que existia um), enfim, por mínimo que fosse, necessitava de um “pelo menos” até mesmo em momentos tensos; meu “pelo menos” era: não tinha de ir à aula. Sim, eu era um ninja por descobrir uma “coisa boa” naquela ocasião.

      Não era um garoto positivo, mas tentava não deixar o desespero dominar-me, mesmo que não conseguira tal façanha em meu momento de insana gargalhada (pelo menos me esforcei). Sabia que de um jeito ou de outro, para sair de tal enrascada, precisava pensar e não sentir. Desejava ver minha mãe novamente, esta lutou por minha segurança, mas como fui um idiota, acabei sendo raptado. Também queria apreciar o abraço de Amber e rir com os amigos uma vez mais. Até mesmo de minha chata irmã eu possuía saudades, daquelas implicâncias... (tudo bem, não necessitava de tanto!).

      - Por que está mantendo-nos aqui? E quem são essas “crianças”? – indaguei.

      - A curiosidade matou o gato... – respondeu Julia.

      - Engraçado, até hoje, minha gata e eu estamos vivos...

      - Ah, você entendeu. Fique quieto!

      - Nossa, sou tão inútil que não posso nem saber o motivo pelo qual estou confiado neste terrível lugar... Estou com fome, carente, pois quero ver minha namorada, minha família, minha gata, meus amigos. Você acha legal manter-me preso aqui? Acha? Pois eu acho uma merda! – reclamei.

      - Ah, pare de reclamar!

      - Então me diga, por favor! Tem a ver com o culto?

      - Culto? A razão é bem simples...

      Imaginei que ela havia se convencido a dizer-me qual era o motivo, mas estava enganado, o que me deixou furioso. A curiosidade tomou conta de minha mente, espantando o desespero. Era estranho dizer isso (ou, nesse caso, pensar), entretanto, eu precisava saber a razão de eu estar ali. Morreria satisfeito após isso (mentira, ainda faltava entrar na faculdade e fazer sexo! Impressionante como até em situações tensas eu soltava algumas pérolas).

      Observei Susie por um momento. Ela não parecia nada bem, estava exausta, descabelada, já não parecia possuir forças para debater-se com o intuito de escapar. Também não estava em melhores condições, precisava alimentar-me e meus pulsos doíam muito, contudo, minha curiosidade sobrepunha tudo isso. Talvez se eu seduzisse Julia, afinal, ela achou-me bonito... (não, até porque, Amber jamais me perdoaria...). Teria de irritá-la até ela falar.

      - Vamos, Julia, qual o problema em dizer?

      - Não cabe a eu respondê-lo, Jim Harris.

      Precisava arrancar, de qualquer forma, as informações das quais ela possuía, provavelmente aquelas eram as explicações para todas as coisas estranhas, as quais estavam acontecendo.

      - Vamos, o que vai custar?

      - Jim Harris, se você perturbar mais uma vez, eu irei atirar. Não pense que não estou armada ou que sou incapaz disso.

      Engoli em seco. Sabia que ela dizia a verdade e, mesmo que desejasse descobri-la, seria mais prudente deixar para outra ocasião. Julia lançou-me um olhar de frieza, muito diferente daquele de uma adolescente que parecia divertir-se com a situação, o qual ela possuiu instantes atrás. Isso ajudava a reafirmar a ideia de perigo a qual recaíra sobre o ambiente.

      Não gostava daquilo, se era para estar em meio a uma situação como aquela, preferiria conversar com alguém, mesmo que essa pessoa fosse minha própria sequestradora. Observei Susie novamente, mas esta já não se encontrava em boas condições, o medo e o desespero assolaram, por completo, sua mente.

      Fiquei pensando em quanto tempo já se passara desde então, muito, provavelmente, pelo menos era o que meu estômago informava-me. Observei ao redor, ainda na inútil tentativa de encontrar alguma saída. Quando escaparia daquele lugar? Possivelmente morreria de fome ou qualquer outra forma antes. E, mesmo conseguindo escapar, aonde iria? Não fazia a menor ideia se onde estava era próximo ou longe de Sinéad.

      Permanecemos em silêncio por um bom tempo (pelo menos elas, pois meu estômago roncava, mas imaginei que este “belo” som fosse perceptível apenas para mim), até este ser quebrado com o rangido o qual a porta de madeira fazia quando estava sendo aberta. Um garoto muito parecido comigo adentrou ao recinto. Seu cabelo era escuro e desgrenhado, seus traços, como já citados, muito semelhantes aos meus, seus lábios eram finos e neles havia uma cicatriz de um corte, assim como em uma de suas sobrancelhas, possuía a pele muito pálida e olhos verde-escuro. Trajava um sobretudo, jeans e camisa em tons escuros. Demorei um tempo até recordar-me onde avistara tal sujeito: foi uns dias após a morte de meu pai, enquanto andava de carro com minha mãe pelas ruas de Sinéad. Desde então, desconfiava de seu caráter.

      Julia levantou-se do local o qual se encontrava assentada e apressou-se ao seu encontro.

      - Raj, finalmente! – Quando se aproximou, abraçou-o e beijou-lhe os lábios fervorosamente.

      - Olá, querida. – Não bastava a aparência, a voz desse tal Raj possuía a sonoridade parecia com a minha. – Qual a novidade?

      - Karl e Raven trouxeram duas “crianças”! – disse, animada.

      Raj aproximou-se, primeiramente, de Susie. Esta se tornara ainda mais assustada e tentou desviar o olhar, mas ele segurou seu queixo, forçando-a fitá-lo.

      - Eu disse que você podia fugir, mas não se esconder... – Raj fez uma pausa. – Mais cedo ou mais tarde, nós a encontraríamos e fora exatamente o que aconteceu. Agora você está aqui novamente.

      Os olhos de Susie lacrimejaram. Raj soltou-a e lançou um olhar em minha direção. Após isso, aproximou-se de mim.

      - Ora, ora, ora, o garoto de olhos amarelos, Jim Harris.

      - Ora, ora, ora, o garoto da esquina de Sinéad e mal-encarado, Raj.

      Ele ignorou meu comentário e continuou a fitar-me atenta e cautelosamente.

      - Não há dúvidas, você é filho dele – afirmou.

      - Então você conhece meu pai? – perguntei, curioso.

      - Diga-me, Jim Harris, você tem uma irmã, não é mesmo? – quis saber, ignorando minha pergunta.

      Então ele sabia da existência de Lisa, o que a colocava em perigo também. Droga! O que aquele povo maluco desejava com minha família? Será que estávamos envolvidos em tudo aquilo apenas por possuirmos um sinistro pai? Era terrivelmente deplorável! Até mesmo enquanto morto aquele homem assombrava-nos.

      - Eu tenho quase toda a certeza que você possui uma! Preciso apenas que confirme.

      - Por que quer saber? – perguntei, nervoso.

      Raj não respondeu, retirou uma faca de seu bolso e fez um pequeno corte superficial em meu rosto, um filete de sangue escorreu da ferida. Senti uma pontada de dor, mas nada que eu não pudesse suportar.

      - Da próxima vez, desfiguro sua face! – ameaçou.

      Senti vontade de chutar o local proibido de Raj, no entanto, sabia que estava na mira de Julia, caso fizesse algo inapropriado, ela estouraria meus miolos (não seria muito agradável). Pensei que Raj tentaria retirar mais informações a respeito de Lisa, contudo, toda a atenção voltou-se para Susie, quando esta iniciara mais um de seus “shows”.

      - Já não aguento mais isso! – bradou enquanto lágrimas rolavam por sua face. – Acho que até mesmo a morte seria menos deplorável do que estas condições!

      - Quer tanto morrer assim? – quis saber Raj. – Você não teme a morte?

      - Prefiro morrer a continuar a mercê de bandidos como vocês!

      - Não, Susie, não perca a esperança! – Tentei animá-la, mas era um fracasso nisso, afinal, até eu perdera a vontade em alguns momentos desta insanidade.

      - Pelo menos a morte me tornará heróica. Assim, todos se lembrarão de mim pela minha coragem e resistência por aguentar tais atrocidades! – Ela fez uma pausa. – Dê-me a morte, é tudo o que peço!

      Raj sorriu. Ele caminhou lentamente até Susie. Senti vontade de chutá-lo quando se virou, mas sabia que ainda estava na mira de Julia. Por essa razão, decidi permanecer quieto, observando, pois talvez eu consiga encontrar alguma saída.

      - Sei que você deseja morrer – começou Raj -, mas eu ainda não posso matá-la. Você será útil.

      - Não! – bradou, debatendo-se. – Eu não quero continuar nesta miséria! Use essa faca ou aquele revólver, mas mate-me rapidamente.

      - Farei o que me pede, mas, primeiro, quero que me ajude. É isso que os irmãos fazem, não é? – disse Raj. – Você, Jim e eu deveríamos trabalhar juntos, afinal, é isso que irmãos fazem: ajudam uns aos outros. Vocês, sendo meus irmãos, devem fazer isso.

      Tal revelação acertou-me como uma pancada. Acho que aquilo seria completamente difícil de digerir. Como assim? Susie e Raj eram meus irmãos?! Acreditei que aquilo seria demais para meu cérebro e que este fosse parar de funcionar naquele instante. Mas, se eu queria viver, não poderia deixar-me abalar e aguentar quaisquer revelações das quais pudesse vir adiante. Aquele seria um dia completamente desgastante.


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