Sombras sobre Sinéad escrita por Dani


Capítulo 7
Feira




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A tensão recaiu sobre todo o ambiente, por mais que eu gargalhasse (provavelmente, quem me visse dessa forma, chamaria-me de insano e mandar-me-ia ao manicômio). Yuki permaneceu miando, como se soubesse e temesse tudo o que estava acontecendo. Durante todo esse tempo, minha gata sempre esteve sabendo de tudo, mas nunca me perguntei como ela era inteligente, mais do que um animal comum.

      Peguei-a no colo, acariciei-a e perguntei, em meu momento extremo de insanidade, pois sabia que, por mais inteligente que fosse, uma gata não fala a linguagem humana.

      - Vamos, diga-me o que está acontecendo! Afinal, você sabe e eu também preciso saber! – bradei.

      Yuki assustou-se e saltou de meu colo. Tentei segurá-la novamente, mas ela escapou de minhas mãos e afastou-se ainda mais. No momento, achei que ela abandonara-me, mas depois percebi que foi o melhor que ela pôde fazer, pois eu estava completamente descontrolado e, quando a vi partir, praguejei em elevado tom de voz.

      Recolhi todos os papéis e os carreguei comigo até meu quarto, batendo a porta quando adentrei ao recinto. Joguei-os acima de minha escrivaninha e deixei meu corpo cair pesadamente acima da cama. Fui um tolo, desde o começo não dei a real importância aqueles acontecimentos estranhos, mas agora, tudo se tornara claro a minha mente. A peça de xadrez fora o primeiro aviso, contudo, acreditei que não passasse de uma brincadeira de péssimo gosto. Após isso, minha mãe alertara-me a respeito do perigo, pensei que fosse exagero até realmente enfrentá-lo de frente: os estranhos homens de preto e meu pai. Este último estava em meu encalço, porém falecera, mas deixou seu legado de “amigos” continuarem com sua perseguição, os jornais riscados são as provas.

      Pela primeira vez, senti a necessidade de uma vida tediosa e rotineira, uma vida comum, da qual sempre tentei escapar e, no entanto, sentia falta daquilo, melhor do que correr risco.

      O que deveria fazer em meio aquela situação? Falar com minha mãe? Queixar-me na delegacia? Fugir da cidade? Não sabia, precisava, desesperadamente, de ajuda. Meus pensamentos estavam conturbados, contudo foram interrompidos quando escutei a porta de entrada da casa abrir-se, era minha mãe. Levantei de minha cama e rumei até a cozinha, onde dona Marisa já se acomodara para tomar seu café.

      - Oi, meu lindo! – cumprimentou minha mãe, animada. – Como foi o seu retorno às aulas?

      - Bem... – respondi vagamente. – Mas, pelo visto, o seu trabalho foi ótimo para você estar tão animada.

      - Ross e eu vamos sair sábado. Ele é tão gentil... – suspirou ela.

      - Você já passou da idade de “garotinha apaixonada”, não é, dona Marisa? – brinquei.

      - Mas eu não estou agindo como uma... – retrucou. – Ando cheia de preocupações, acho que um momento para descontrair não será ruim.

      - Tem razão.

      Conversamos por mais um tempo. Minha tentativa de relatar à minha mãe o que acontecera fracassou, pois não desejava estragar a felicidade dela naquele momento. Não conseguia, nem mesmo se tentasse. Por esse motivo, esforcei-me para esfriar minha mente, já que nada seria resolvido naquele instante, o melhor a fazer era relaxar.

A semana passara lenta e tediosamente até chegar o “esperado sábado”, o qual já não era tão esperado por mim, pois sabia que a cada dia aproximava-me do momento do qual eu terei de encarar a realidade. Precisava comentar com minha mãe ou com qualquer outra pessoa, pois sentia como se houvesse um nó em minha garganta e, ao mesmo tempo, estava relutante com esse assunto.

      Meus amigos notaram meu desânimo durante os dias passados, mas não fizeram muitos comentários, afinal, pensavam que aquilo era momentâneo. Possuía motivos demais para preocupar-me e não sabia até quando isso iria durar, talvez só parasse com minha morte. Tais pensamentos obscuros fizeram-me lembrar do quanto eu deveria valorizar minha medíocre vida, não desejava existir por anos e anos, no entanto, também não queria falecer tão cedo, ainda não havia entrado na faculdade e, nem mesmo, feito sexo! (tudo bem, pérolas à parte). Enfim, tudo o que quis dizer é: havia coisas a fazer antes de morrer.

      Decidi esquecer um pouco sobre aquele assunto durante aquela manhã de sábado e fazer algo diferente, já que também não estava conseguindo mais adormecer. Pensei em fazer meu desjejum e caminhar pela cidade. Troquei-me e segui até a cozinha. A casa estava silenciosa, pois eu era o único membro da família o qual havia acordado e, por esse motivo, tentei não fazer barulho. Preparei café e torradas, os quais ingeri sem pressa. Após isso, calcei meu All Star e deixei minha morada.

      Quando atravessei o portal de casa, pude sentir o costumeiro vento gélido e cortante tocar meu rosto e bagunçar os fios negros de meu cabelo. Havia mais pessoas na rua do que a habitual média para aquele horário matinal, o que me fez lembrar que hoje era o dia da famosa “feira de garagem” (muito comuns nos Estados Unidos). Nessa ocasião, a vizinhança combina de vender coisas das quais não utilizam mais por preços acessíveis, cada família que deseja participar abre uma bancada ou, até mesmo, suas garagens, de modo a expor seus produtos.

      Decidi caminhar até o local onde estava acontecendo tal evento e dar uma olhada, afinal, não tinha nada a perder com isso. Desse modo, rumei pelo caminho até o bairro certo.

      Chegando lá, pude avistar várias bancadas expondo itens variados como roupas, acessórios, adornos, sapatos, livros, etc. Rodei pela feira e parei, por um bom tempo, observando discos de vinil, dos quais fiz questão de adquirir alguns clássicos como Genesis, Pink Floyd, Yes, entre outros. Também fiquei entretido fitando fitas de videogame para Nintendo 64 e, por surpresa, encontrei o jogo The Legend of Zelda – Majora’s Mask, o que me fez lembrar da lenda de Ben. Sorri com meu pensamento e fiquei a imaginar se aquele exemplar possuía um espírito embutido também. Teria comprado o jogo se ainda tivesse meu console.

      Rondei por mais algumas bancadas, mas nenhum de seus itens chamou-me a atenção, até encontrar uma que vendia objetos estranhos. Voltei meu olhar aos variados adornos de madeira detalhados com runas bizarras. A senhora, dona da barraca, viera atender-me.

      - Olá, meu jovem. Interessado em algo?

      - Estou apenas dando uma olhada. – Voltei meu olhar em direção a senhora.

      Pude visualizá-la com maior precisão: seu cabelo era grisalho e ralo, sua pele enrugada, suas costas curvadas pelo peso da idade avançada e olhos de um intenso tom de verde. Ela trajava um lenço sobre seus ombros, um vestido comprido estilo hippie e óculos na ponta do nariz.

      - Fique à vontade, querido!

      - Obrigado.

      Voltei minha atenção novamente aos estranhos itens, na tentativa de identificar suas origens, mas não fora possível, aqueles caracteres não eram nada familiar. Fitei uma máscara estranha feita de madeira escura e grossa e detalhada com pintura vermelha, da qual me recordava de já tê-la avistado, no entanto, não me recordava onde. Quando a observei, minha mente ficara vidrada, como se nada ao redor fosse importante, como se eu estivesse em uma espécie de transe, até escutar uma voz conhecida chamar pelo meu nome:

      - Jim!

      Consegui sair do transe e regressar ao mundo real. Observei ao redor e percebi que Amber vinha correndo ao meu encontro. Quando se aproximou, envolveu-me em um longo e caloroso abraço, de modo a mostrar-me como sentia falta daqueles braços, daquela sensação. Aproximei meus lábios dos dela, encontrando-os em um ardente beijo.

      - Senti sua falta! – exclamou.

      - Eu também senti sua falta.

      - Pelo visto você gostou dos artigos de minha avó.

      - Sua avó? – perguntei.

      - Ah, esqueci de apresentá-los... – Ela fez uma pausa. – Vovó, este é meu namorado, Jim. Jim, essa é minha avó, Rosemary.

      - Prazer – cumprimentei-a.

      - Prazer, meu jovenzinho. Amber, você arrumou um namorado muito bonito!

      - Obrigada, vovó – agradeceu Amber.

      Amber entrelaçou seus dedos gélidos nos meus e sussurrou em meus ouvidos:

      - Vamos andar um pouco?

      - Sim – respondi.

      Despedimo-nos de Rosemary e seguimos pelas ruelas, de mãos dadas. O vento gélido, costumeiro e matinal aumentava ou diminuía sua intensidade dependendo do local pelo qual passávamos. Rumamos até a praça central e assentamo-nos próximos aos canteiros mais floridos. Amber recostou sua cabeça em meu ombro e permaneceu com seus dedos entrelaçados nos meus.

      - Sua avó possuí artigos muito estranhos – comentei.

      - É, ela sempre gostou – afirmou Amber. – Esses itens ficariam de herança para minha mãe e tios, mas eles achavam tais artigos repugnantes, ficaram com alguns apenas para agradar. No fim, minha avó não deseja seus preciosos jogados às traças, por isso, está vendendo para colecionadores – explicou. –Vovó tem gostos estranhos!

      - Agora sei de quem você puxou os gostos diferentes... – brinquei.

      - Acho que sim. – Ela sorriu. – Converso muito com minha avó, ela me conta histórias bem legais. Fora ela quem comentou sobre as ruínas da floresta entre outras lendas.

      - Ela realmente parece conhecer muito sobre lendas urbanas, deve ser bem interessante conversar com ela.

      Continuamos conversando sobre lendas, Amber relatara algumas bem interessantes, das quais sua avó contara. Aquela conversa rendia muitas discussões, o que me divertiu, no entanto, algo desviou minha atenção: uma garota loura e alta, a qual caminhava próxima a igreja situada ao norte. Era Susie Bourbon! Por algum motivo, minha primeira reação fora levantar-me do banco e correr em sua direção. Amber apressou-se atrás de mim, sem entender (aliás, nem eu sabia o motivo pelo qual estava fazendo aquilo).

      Susie lançou-me um olhar confuso e assustado, provavelmente perguntava-se: “o que esse doido está fazendo?” ela apressou seus passos e virou em uma esquina. Quando alcancei tal local, não a avistei mais. Esperei por Amber, ela aproximou-se, ofegante.

      - O que foi isso? – perguntou, confusa.

      - Também não sei... – respondi.

      - Por que saiu correndo? – questionou Amber.

      - Também não sei... Avistei Susie Bourbon, uma garota que disseram estar desaparecida.

      - Você é doido, Jim Harris.

      - Eu sei.

      Amber gargalhou.

      - Bobinho...

      Ela envolveu-me fortemente em um abraço e um beijo ardente. Assim, pude descartar alguns problemas de minha mente, pelo menos durante aquela manhã.

      - Bem, preciso ir agora – disse. – Vamos sair hoje, certo?

      Amber meneou a cabeça em sinal afirmativo.

      - Ótimo, vejo você depois. Até lá.

      - Até.

Passei a tarde inteira lendo livro dentro de minha toca segura (meu quarto, pois as amiguinhas de minha irmã vieram fazer uma desagradável visita). Além de berrarem ao avistarem um playboy naquela deplorável revista de adolescente, elas ainda escutavam, em elevado tom, as músicas de Lady Gaga e afins. Ficava pensando até quando teria de aguentar aquela tortura, já estava enlouquecendo.

      Tentei concentrar em minha leitura, que era muito mais interessante, mas submetido àquelas condições, seria uma proeza fazê-lo. Quando estava quase alcançando tal façanha, escutei alguém bater à porta, o que fez com que todos os meus esforços em vão. Levantei-me de modo a não incomodar Yuki, a qual estava deitada próxima a mim e rumei até o portal, abrindo-o. Minha mãe era a pessoa a qual estava esperando ser atendida, ela segurava o telefone.

      - Telefone para você – disse ela.

      - Quem é? – perguntei.

      - É seu amigo, Jon.

      Esperei minha mãe afastar-se para atender ao telefone.

      - Alô.

      - Jimmy, tudo bom? Aqui, você quer vir completar nosso time de futebol?

      - Olha para quem você está pedindo... Eu detesto futebol e, além disso, sou uma ameba em esportes! Se bobear, minha irmã é melhor.

      - Ah, vamos, cara, vai ser muito legal!

      - É melhor não, corro o risco de quebrar um osso ou dois – respondi. – Mas, mudando de assunto, Susie ainda continua desaparecida? Acho que você pode dizer, já que é vizinho dela.

      - Acho que ela ainda está desaparecida, eu vi o senhor e a senhora Bourbon irem à delegacia agora a pouco. Por quê?

      - Pensei tê-la visto hoje de manhã.

      - Você já acordou bêbado ou bebeu litros pela manhã? – zombou Jon. – Uma garota desaparecida não iria ficar perambulando pela rua, por onde todo mundo passa. Senão, ela não estaria desaparecida.

      - É, talvez eu tenha visto uma garota parecida...

      - Bem, preciso ir lá. Até mais.

      - Até mais.

      Desliguei o telefone e rumei até a sala com o intuito de guardá-lo. Em meu caminho, passei pela porta do quarto de minha irmã, a qual estava entreaberta e, por esse motivo, aproveitei para fazer uma traquinada: puxei a tomada do som e corri. Escutei minha irmã bradar meu nome, furiosa e uma garota comentar, com a voz histérica: “seu irmão é lindo, mas estranho”.

      Lembrei que precisava tomar banho, pois havia combinado de sair com Amber. Separei minha roupa e rumei até o banheiro, despi-me e liguei o chuveiro, posicionando-me abaixo e senti a água quente tocar minha pele pálida. Poderia permanecer ali por muito tempo, afinal, banho era algo totalmente revigorante, contudo, não poderia desperdiçar aquele líquido tão valioso à vida. Além disso, percebi que, a cada momento, a quantidade de água que caía do aparelho diminuía.

      Decidi terminar meu banho antes que o líquido faltasse. Desliguei o chuveiro e envolvi-me a toalha. O vapor de água tomou conta de todo o recinto e as luzes estavam piscando, o que dava ao ambiente um aspecto tenebroso. A lâmpada apagou-se, fazendo-me permanecer, alguns instantes, imerso naquela escuridão até tudo retornar ao normal e eu pude prosseguir com minhas ações. No entanto, algo me chamou a atenção: estava escrito no espelho a frase: “a morte é o início de tudo”. Quando li aquilo, achei que minha mente iria parar de funcionar, contudo, minha reação fora ainda pior: gritei como nunca.

Despertei de um susto, ainda estava em minha cama e o telefone sem-fio situava-se próximo a mim. Então, aquilo fora um sonho? Respirei, aliviado. Devo ter deitado em minha cama após falar com Jon e adormeci sem perceber. Era algo estranho, mas a explicação mais razoável da qual em conseguia pensar para tal ocorrido. Olhei o relógio e notei que já atrasara para encontrar-me com Amber, por esse motivo, não esperei mais e nem perdi o tempo pensando em possíveis explanações para o acontecimento, assim, arrumei-me apressado e saí de casa.

      Andei a passos largos pela calçada e, desse modo, não demorei muito para chegar à praça central, onde Amber estava esperando. Não tive dificuldades para encontrá-la e apressei a desculpar-me pelo atraso.

      - Tudo bem – disse ela. – Também acabei me atrasando.

      - Você está fabulosa! – elogiei.

      - Obrigada. – Ela ruborizou. – Por esse motivo me atrasei.

      - Então seu atraso valeu muito à pena! – Beijei-a.

      Após isso, seguimos até nosso destino. Minha mente ainda estava conturbada devido ao pesadelo, mas tentei esquecer, pelo menos, em alguns instantes, aquelas cenas de terror (meu sonho assemelhou-se a um filme de terror, só faltou minha morte, o que seria clichê ser assassinado no banheiro). Amber percebera minha apreensão, entretanto, não fizera muitos comentários a respeito, pois sabia que aquele não era o momento adequado.

      Chegando a nosso destino, escolhemos o melhor local para assentarmo-nos e logo fomos atendidos, portanto, pudemos fazer nossos pedidos e, rapidamente, continuarmos nossas animadas conversas e beijos ardentes. Aquele não era, exatamente, o lugar mais romântico. As mesas eram feitas de madeira, um modelo bem rústico e dispostas dentro do bar e em uma espécie de varanda com vista para um lago. O local adornado de modo bem natural, utilizando plantas e a paisagem para compor o ambiente. O único problema: bêbados; por tratar-se de uma taverna, esta estava cheia deles. No entanto, Amber não encontrou problemas com aquilo e aceitou meu pedido de ir até lá.

      - Esse lago é lindo, olha como ele reflete o luar! – exclamou.

      - Sabia que você iria gostar desse lugar, mesmo com tais empecilhos dos quais te expliquei.

      - Pois acertou, gosto de ambientes mais naturais, pois transmitem muita tranquilidade.

      - Sim, eu também. Ainda mas com todos estes insanos momentos, dos quais estou submetido...

      Amber recostou uma de suas mãos nas minhas e sorriu, graciosamente, com seu outro membro, colocou alguns fios dos belos cabelos ruivos atrás da orelha, de modo o qual eu sempre apreciara. Aquilo, talvez, tenha valido mais do que mil palavras, entretanto, ela sentira necessidade de utilizar sua bela voz:

      - Tente descansar, não perca belos momentos como estes com preocupações, pois eles não duram eternamente.

      Envolvi-a em um abraço e recostei meus lábios nos dela, de modo a beijá-la fervorosamente, como se nunca fosse capaz de fazê-lo novamente. Após isso, Amber fitou-me com seus belos olhos claros e sorriu.

      - Vamos dançar? – perguntou.

      Apesar de ainda não confiar em minhas habilidades em uma pista de dança, aceitei o convite. Acreditei que seria melhor do que minha última experiência, da qual consegui, pelo menos, não pisar no pé dela.

      Fora uma noite divertida: dançamos (pelo menos tentei), conversamos, cantamos músicas das quais apreciamos e, assim, seguimos com bons momentos. Entretemo-nos tanto que não percebemos como já era tarde! Minha mãe, provavelmente, ficará furiosa com o horário do qual estou retornando a minha casa.

      Levei Amber até a porta de sua morada e segui em direção à minha. Deveria chamar um táxi? Acho que não seria necessário, afinal, não estava longe de casa, mesmo com a rua bastante deserta naquele horário, não vi problemas em regressar sozinho. Não poderia deixar de fazer coisas das quais gostava, por mais que estivesse em perigo, pois todos estão propícios a morrer, uns mais que os outros (encaixo-me nesta categoria). Entretanto, eu preferia falecer livre a viver preso (morreria dessa forma também, então preferia arriscar-me e ter uma vida emocionante e divertida).

      Com esse pensamento prossegui, a passos largos, pela rua. O frio estava intenso naquele momento, o que era muito comum em Sinéad, assim como a costumeira e densa neblina, a qual também se fazia presente naquele ambiente. Avistei a silhueta de uma garota vir em minha direção, apressada. Em primeiro momento, não consegui distinguir seu rosto com precisão, devido ao fator natural já relatado; apenas quando ela esbarrou em meu ombro fui capaz de avistá-la melhor.

      Era Susie Bourbon, mas bem diferente da patricinha a qual todos estavam acostumados: seu cabelo louro estava desgrenhado, a maquiagem borrada, roupas surradas, olhos arregalados, inchados e vermelhos. Ela tremia como uma presa fugindo de seu predador.

      - Susie, por onde andou? Sua família está preocupada! – disse a ela.

      - Família...? – Ela parecia confusa.

      - Sim. É melhor você regressar a sua morada a ficar vagueando por aí sem rumo algum...

      - Eles vão me pegar! – bradou.

      - Quem?

      - Eles querem me matar! Eles querem...

      - Quem, Susie? – Segurei seus braços trêmulos. – É melhor você relatar à polícia e retornar a sua moradia. Lá você estará segura.

      - Não... Não! – bradou novamente.

      Susie começou a debater-se histericamente, com a finalidade de libertar-se, descabelando-se a cada momento enquanto eu esforçava-me com o intuito de acalmá-la. Até ela parar seus movimentos nervosos, fazendo-me acreditar que minha tentativa fora satisfatória. No entanto, quando a fitei, percebi que seus olhos estavam ainda mais assustados e arregalados.

      Apenas mais tarde fui descobrir que aquela era uma tentativa de Susie com o intuito de avisar-me que havia alguém atrás de mim. Como não fui capaz de entender a mensagem, a única coisa a qual senti fora uma forte pancada em minha cabeça, fazendo-me imergir à escuridão.


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