Nessa manhã foi Tora que a foi buscar com dois guardas vestidos de preto.

Ela suspirou porque quase se tinha esquecido que tinham que levar guardas para a universidade naquele dia. Tora tratara disso mas era estranho depender de dois estranhos para sua segurança…mesmo que o tenha feito durante a sua digressão.

Depois de enrolar um cachecol em volta do pescoço, seguiu os seguranças até às traseiras onde um carro com vidros pretos a esperava.

- Não achas que isto é demais, Tora-san? – perguntou Kyoko, enquanto um dos guardas entrava para trás do volante e o outro se sentava no banco de trás – Um era mais do que suficiente.

- És uma das protagonistas. – explicou Tora – Tens que passar uma certa imagem.

Isso era ridículo, pensou Kyoko vendo Tora entrar para o lugar de pendura. Kyoko não teve outra hipótese a não ser suspirar fundo e entrar para o lado do guarda nos bancos traseiros.

Talvez Ren conseguisse tirar aquelas ideias malucas da cabeça de Tora.

…

No entanto, quando chegou ao lugar, Ren tinha três guarda-costas à sua volta.

- Oh, só podes estar a gozar comigo. – murmurou Kyoko, enquanto um dos seus guardas lhe abria a porta e a ajudava a sair.

- Bom dia, Kyoko. – cumprimentou Ren quando ela chegou até ele e teve a autorização de entrar dentro do circulo onde Ren se encontrava. Os guardas de Kyoko juntaram-se aos guardas de Ren e ainda formaram um círculo maior. Antes que Kyoko tivesse tempo de falar, Ren vergou-se e depositou-lhe um beijo na face – Dormiste bem?

- Sim. – respondeu Kyoko tentando não corar – Porque é que trouxeste tantos guardas?

- Bem… - Ren encolheu os ombros – Eu só trouxe um mas o diretor disse que eu tinha uma certa imagem para manter.

- Ok…? – Kyoko olhou para o diretor que coordenava os atores e os guarda-costas – E onde é que está o Yashiro-san?

Ren apontou para o portão da universidade onde os agentes estavam todos reunidos a falar uns com os outros.

- O que é que se passa ali? – perguntou Kyoko curiosa.

- Os alunos estão prestes a chegar. – explicou Ren – Eles querem ter a certeza que nós não somos “atacados” ou “assediados”.

- Bem, eles estão a puxar os truques todos. – disse Kyoko um pouco envergonhada por estar em frente à sua universidade rodeada por guardas – Acho que isto tudo é um bocado demais.

- E eu acho que tu não estás consciente da tua fama. – reclamou Ren – Já não és a rapariga da Secção Love Me que podia andar nas ruas livremente. Já é altura de te preocupares com paparazzi e com os teus fãs. Não te esqueças que muitos destes alunos podem ser teus fãs.

- Sim, pois. – disse Kyoko ironicamente lembrando-se que a maioria dos rapazes só olhava para o seu corpo e as raparigas achavam-na um oportunista. Nem sabia como é que o seu concerto ali iria correr. Com certeza, não estava nada ansiosa pelos concertos académicos – Isso não importa, agora. Eu também não sou burra. Sei que tenho que me disfarçar se quiser sair.

Ren suspirou porque não era muito fácil mudar as ideias daquela rapariga. – Tens que ter cuidado, Kyoko. – murmurou Ren aproximando-se dela para mais ninguém ouvir – Ninguém pode reconhecer-te.

Ela anuiu com a cabeça e, mesmo rodeada de guardas, escondeu-se atrás de Ren quando os alunos começaram a chegar. Ao ver os seus colegas de turma a chegarem ela agarrou-se ao casaco de Ren e tentou não sentir-se culpada por manter o segredo mesmo agora.

- Está tudo bem. – disse Ren pondo a sua mão por cima da mão dela que lhe segurava o casaco com força – Acho que já entraram todos.

- Então, Tsuruga!? – exclamou Sho ao passar por eles – Ainda é muito cedo para se armarem em namorados! Vamos embora!

Kyoko franziu as sobrancelhas quando viu Chiori ao lado de Sho. Era natural que lá estivesse já que o diretor a tinha incumbido de treinar Sho. No entanto, depois da confissão de Chiori no outro dia, estava tudo diferente.

- Hei, sabes alguma coisa sobre o Fuwa e a Amamiya-san? – perguntou Ren, surpreendendo Kyoko.

- Alguma coisa? – repetiu Kyoko – Em relação a quê?

- Bem, ontem eu e o Fuwa tivemos uma conversa bastante perturbante sobre sentimentos. – disse Ren – Sabes alguma coisa sobre isso?

- Sim…acho que sim. – hesitou Kyoko – Ontem a Chiori também disse-me algumas coisas estranhas.

- Então…eles gostam um do outro? – perguntou Ren e teve que conter o riso quando Kyoko anuiu com a cabeça – Isto vai ser bonito de ver. Devíamos dizer-lhes?

- Não! – protestou Kyoko – Antes também sabiam que tu gostavas de mim e não me disseram nada.

- Estás-te a vingar? – perguntou Ren vendo-a a suspirar.

- Não é isso. É só que… - Kyoko começou a andar quando os guardas saíram da frente – Eu acho que não nos devíamos meter entre os sentimentos de duas pessoas. Pelo menos, por enquanto.

Ren concordava com ela por isso decidiu não continuar a insistir naquela conversa e talvez ela tivesse medo que a amiga passasse pela mesma dor que ela tinha passado.

- Então, vamos começar! – gritou o diretor juntando os atores à sua volta – Têm todos os guiões? Dou-vos cinco minutos para irem à casa de banho trocar de roupa e depois voltar para aqui para serem maquilhados.

Mal o diretor acabou de dizer aquilo, quase todos começaram a correr para as respetivas casas de banho para se vestirem o mais depressa possível.

Quando Kyoko chegou à casa de banho das raparigas, os lugares em frente aos espelhos já estavam completamente ocupados por isso ela teve que ficar à porta. Não demorou muito tempo a vestir a roupa de Ileida.

Como tinham feito a promoção do filme antes de ela cortar o cabelo, ela teve que começar a usar uma peruca idêntica ao que o cabelo dela era antes. Os cabeleireiros tinham sido perfecionistas no seu trabalho com a peruca por isso estava assustadoramente parecida com cabelo real.

Depois de estar pronta, voltou ao pátio onde já estavam alguns atores masculinos a receber o tratamento de um par de maquilhadoras. Ren já estava praticamente pronto, surpreendendo Kyoko.

- Kyoko-san. – disse uma das maquilhadoras assustando-a – Estamos prontas para si.

Kyoko deixou-se ser guiada pela maquilhadora e sentou-se numa das várias cadeiras que tinham posto no quintal para improvisar um salão de maquilhagem.

Depois de todos estarem prontos, estava na hora de trabalhar.

…

Sousuke olhou para baixo, assistindo à atuação de Ren e Chiori. Os outros atores estavam escondidos atrás de guarda-chuvas ou sentados em cadeiras com os seus nomes.

Ter algumas das maiores estrelas do Japão no pátio da sua escola era uma mais-valia para aquela universidade e talvez fosse essa a razão para o diretor ter aceitado tal coisa numa altura em que os exames estavam à porta.

Fosse qual fosse a razão, Sousuke achava interessante estar tão perto de alguns dos seus ídolos.

- Os atores devem ter uma vida boa. – comentou um rapaz que estava na mesa atrás de Sousuke.

Kyou suspirou ao presenciar a ignorância do aluno. – Vá lá, rapazes! Todos atentos às aulas! Se querem ser como eles têm que ter boas notas.

- Aww! – queixou-se outro rapaz – Eu queria o autografo da Kyoko-chan.

Enquanto outros alunos seguiam exemplos e partilhavam de quem  é que queriam os autógrafos, Sousuke desviou os olhos para Kyoko que se encontrava sentada ao lado de Kanae, guardada por dois homens vestidos de preto.

Olhasse para onde olhasse, ela não era parecida com Marisa, apesar do Tsuruga Ren se parecer bastante com o homem da noite anterior…estava escuro e ele podia estar engando.

- Olhem, eu sei que vocês estão distraídos mas não vos posso deixar sair antes do toque. – replicou Kyou – Por isso, porque é que não começam a estudar para os exames. Se tiverem dúvidas eu posso ajudar-vos.

Dizendo isso, Kyou começou a baixar as persianas, sob as lamúrias de vários rapazes e raparigas que assistiam agora a um momento romântico entre Ileida e Iori.

- O filme só vai sair para o ano. – informou Tora entrando na sala ainda a tempo de ouvir algumas queixas – Vão ter que esperar até lá.

- Tora-san! – disse Kyou surpreso – Há algum problema? Estamos a incomodar as filmagens?

- Não, não. – disse Tora – Faltam quinze minutos para o toque e, como tinha que vir aqui de qualquer maneira, resolvi voluntariar-me para estabelecer algumas regras de segurança.

- Ah! Muito bem, então. – Kyou virou-se para os alunos – Prestem atenção ao Tora-san, por favor.

- Bem, rapazes e raparigas. – começou Tora seriamente – Como sabem, os atores vão precisar da sala para algumas filmagens por isso vão usá-la à hora do almoço. Entretanto, as filmagens vão continuar durante os intervalos. Se quiserem sair da sala, ninguém vos impede. No entanto, peço-vos que não vão ao quintal pois iriam interferir na atuação.

- Pensei que os atores profissionais não se distraiam tão facilmente. – comentou uma rapariga ao fundo da sala.

- E não. – confirmou Tora – No entanto, se algum de vocês aparecer numa cena, teriam que refazer essa cena e adiar o lançamento do filme e isso custaria muito dinheiro.

- Não se preocupe. – pediu Kyou olhando de lado para a turma – Eles nem se vão aproximar do quintal enquanto estiverem lá a gravar.

- Também vim aqui falar sobre a digressão académica que a Kyoko vai fazer. – acrescentou Tora voltando a ter a atenção da sala inteira – Como alguns de vocês devem ter conhecimento, a Kyoko vai dar alguns concertos em universidades e escolas secundárias e pensei que ela podia começar por aqui.

Pela primeira vez, Sousuke desviou os olhos do caderno à sua frente e olhou para o agente de Kyoko com toda a sua atenção.

- É claro que nem todos os alunos estão aqui hoje por isso ia-vos pedir para passarem a palavra. – pediu Tora – No entanto, não tragam pessoas que não estudam ou trabalham na universidade porque isso iria interferir no concerto.

Depois de todos concordarem, Tora anunciou que o concerto seria na semana seguinte em modo acústico no pátio da escola. Cuidadosamente, Sousuke apontou as horas do concerto e guardou a agenda na mochila.

- E é tudo, por agora. – finalizou Tora – Não me posso demorar muito porque ainda tenho mais um par de salas por onde passar. Obrigado por me receber Morita-sensei.

- Não tem de quê, Tora-san. – disse Kyou – Volte sempre.

A campainha tocou poucos minutos depois de o Tora sair e Kyou aconselhou os alunos a ficarem longe do quintal se queriam passar de ano.

A conversa começou imediatamente quando o professor saiu.

Sousuke decidiu ignorar os ruídos atrás dele e abriu a persiana para continuar a ver as filmagens. Agora, pareciam estar a filmar uma cena violenta entre Ileida e Taú.

- Gostas dela?

Sousuke olhou para o lado e viu o seu melhor amigo a sorrir.

- Não posso repreender-te. – concluiu ele – Metade dos homens do Japão estão apaixonados por ela.

- Sim. – murmurou Sousuke simplesmente e voltou a olhar para o pátio.

- Se vês televisão, lês revistas ou estás atento às novidades deves saber que ela namora com o Tsuruga Ren. – lembrou o amigo – E tu nem sequer a conheces.

- Hmm…pergunto-me se isso será verdade. – comentou Sousuke fazendo o amigo encolher os ombros.

- Tenta não ficar muito obcecado, Sousuke. – avisou o amigo antes de se afastar.

Sousuke apenas anuiu com a cabeça e continuou a observar.

…

Noutro canto da universidade, numa sala de aula vazia e escura, ele olhava para o pátio por uma frincha da persiana fechada. Olhava para ela.

Podia haver uma situação mais perfeita do que aquela?

A sorrir maldosamente, ele olhou para Marisa a atuar ao lado daquele cantor presunçoso e do namorado convencido.

Agora ela teria que sofrer para aprender a lição…porque não devia mentir sobre quem era às pessoas que se preocupavam com ela.

Tinha uma semana para planear qual seria o seu castigo.

Porque é que ela tinha mentido!?