Narrado Por Hermione

Tinha vontade de chorar,de tirar toda essa tensão de mim.

Mas eu não faria isso.

Eu era uma gryffindor.Uma corajosa e orgulhosa gryffindor.

Iria resistir.Ignonaria suas piadinhas maldosas e seu modo com que me tratava.

Esses foram meus últimos pensamentos,antes de apoiar minha cabeça no travesseiro e cair em um sono profundo.

Narrado em 3° Pessoa:

O grande relógio que se situava no ingresso de Vila Malfoy marcava 2:30.As tetras baladadas ecoaram pelos corredores escuros e silenciosos.

Só uma luz estava acesa,até se ninguém teria percebido,do lado de fora.

Lá embaixo,nos subteraneos,alguém mexia com poções e ampolas há horas.

Os olhos um pouco fechados pelo cansaço,mas a mente mais lúcida que nunca.

E uma comprensível vontade de lançar um Cruciatus ao pequeno réptil que se mexia como um louco sobre a mesa de trabalho.

Praguejando em voz alta,Draco tentou pegar de novo a Venenum Lacerta que tinha na frente.Pela milésima vez.

Odiava aquele animal.Merlin,se o odiava.

Mas Malfoy sabia bem que seu sangue era um elemento fundamental para sua poção.

A grande lagartixa se moveu rapidamente,e suas pontudas espinhas que levava na cauda bateram violentamente no braço direito do jovem.

O réptil conseguiu se liberar ,deu um pulo para a prateleira,derrubando várias ampolas,por sorte vazias,continuando sua  corrida pela salvação.

Uma corrida que acabou com um simples feitiço.

Draco Malfoy,com a varinha na mão,observava com frustação o animal no chão.

-Puta merda - Sibilou irritado,enquanto os cacos de vidro rangiam a cada seu passo.

Tastou levemente o braço,onde uma mancha vermelha se extendia pela camisa.

Depois,com a mão suja com seu puríssimo sangue,acendeu um cigarro.

Apoiou cansadamente as costas no muro,fechando os olhos.

-Por Merlin,o que está acontecendo aqui? -

Draco levantou a cabeça lentamente,os fios loiros,quase brancos,que caiam livres pela testa.

De pé,na entrada do laborátorio,Hermione Granger observava a cena perplexa,com pouco fôlego,como se tivesse corrido.

Usando uma simples camisola verde,de renda.

Malfoy lançou um olhar de soslaio.

-Nada - Falou,inspirando uma baforada de fumaça - Você,o que diabos faz aqui? -

Hermione ignorou o tom frustado de Draco,lançando-lhe um olhar óbvio.

-Eu estava tentando dormir.Algo bem difícil com toda essa barulheira que você tá fazendo.

Ele,por resposta,encolheu os ombros,irritado.

-Que foi...- Falou a jovem,com bastante ironia na voz - Uma poção que fracassa te faz destruir todo o laboratório pela raiva? -

Draco não respondeu,novamente.Lançou um olhar significativo para o canto do aposento,onde uma lagartixa em  se contorcia nos últimos momentos de vida.

Os olhos dourados da Granger pararam primeiro no réptil,depois na manga encharcada de sangue do ex-sonserino.

-Você está ferido! - Exclamou,movimentando-se por instinto em direção a ele.Esticou uma mão para tocá-lo,esquecendo por um instante que ele fosse Draco Malfoy.

O loirinho desviou suas mãos,como se fossem fogo na pele.

-Não me toque! - Sibilou.

Hermione o fixou perplexa - Porque?-

Ela se referia também a outras coisas,ele sabia bem disso.

Como sempre,nenhuma resposta.

-O que te fez casar uma sangue-ruim? - Hermione insistiu - Você me desprezava em Hogwarts,e é evidente que agora não mudou nada - Falou com voz firme e segura.

Ainda nenhuma resposta.

-Eu te detesto.Você me odeia.Que sentido tem tudo isso?Te obligaram?Ou você estava sob a maldição imperius?-

Quem me dera! Foi o que pensou Draco.Iria ter sido menos doloroso,se pudesse dar a culpa a outra pessoa.

E não,tinha feito tudo sozinho.

Silêncio.

Sempre e somente aquela resposta.

Hermione balançou a cabeça,olhando-o mal.As íris douradas se pousaram de novo no braço ferido dele.

Ela era muito dedicada a sua profissão*,até fora os horários de trabalho,tinha que admitir.

Dessa vez,enquanto a Granger levantava a mão em direção a camisa sempre mais ensopada de sangue,Draco não recuou.

Se limitou a lançar-lhe um olhar gélido.

-Já te disse para me deixar em paz. -

-Você está sangrando,muito - Rebateu Hermione.

-Posso preparar muito bem uma poção - Foi a seca resposta.

Ela bufou. - É uma Venenum Lacerta.Você sabe que não funcionaria.Uns comuns pontos trouxas iam impedir de você sangrar feito um porco abatido. -

Draco fez uma careta ouvindo aquela comparação infeliz,mas ela não ligou.

Obviamente quando estava ao St.Mungo's não fazia coisas do tipo.

Mas agora ela estava em casa,com a fuinha,e ele não merecia certamente de ser tratado com luvas.

O olhar concentrado.Tastou levemente o tecido molhado.Ele não disse nada.

Hermione alargou o rasgo da camisa,observando de perto o corte embaixo do ombro.

Não era muito longo,observou.

Com um simples "Accio",chamou para sí uma agulha,fio e bendas,da bolsa que estava em seu quarto.

-Você tem FireWhiskey? O qualquer outra coisa forte,preciso para desinfetar a ferida.... -

Draco abriu a gaveta em baixo de sua mesa,retirando uma garrafa.A tampa voou para cima,e ele engoliu dois longos goles,antes que a garrafa lhe fosse arrancada das mãos.

-Você terá tempo para se embriagar depois..Você pode até beber uma adega,pelo que me interessa..Mas essa não,preciso dela. -

Um segundo depois,o líquido escorria pela pele translúcida do loiro,lavando-a do sangue e desinfetando a ferida.

Ardia.Merlin,se ardia...

Mas não era o whiskey.

Era ela.O seu toque leve.O seu maldito perfume.

Tudo nela ardia.Como as chamas do inferno.

Ardia.Merlin,se ardia...

Mas não era o whiskey.

Era ela.O seu toque leve.O seu maldito perfume.

Tudo nela ardia.Como as chamas do inferno.

E elas queimariam,destruiriam sua alma e seu coração,se já não o tivessem feito tempos atrás.

Quase não sentiu a ponta da agulha que se enfiava na pele.Nem a tensão dos retalhos de carne que eram reaproximados.

Porque nada pode distrair melhor da dor  do que uma lembrança de um sofrimento maior.

Enquanto isso,Hermione trabalhava na pele do loirinho com mão habíl e certa.Ela tinha ficado por um instante atordoada,depois que o lícor havia limpado o braço de Draco.Porque limpado o sangue que escorria no braço,a mostra ficara uma velha cicatriz,quase paralela ao "corte fresco".

Uma linha branca,quase invisível na pele branca do homem.

Mas não para um olho especialista como o dela.

Aparentemente,nada mais que uma velha ferida.E na verdade,era a prova de que tudo que lhe haviam dito era verdade.E que Draco Lucius Malfoy tinha efetivamente voltado na vida de Hermione,naqueles últimos 12 meses esquecidos.

Um autor reconheceria algo escrito por ele em qualquer lugar.Até se com uma letra diferente ou inserido em um contexo diferente.

E para os medi-bruxos era a mesma coisa,praticamente.

Aquela cicatriz não era fresca,mas também não era tão velha como se podia pensar.

Ela tinha menos de um ano,e disso,Hermione-infelizmente-tinha certeza.

Porque a mão que a havia costurado,deixando-a somente como uma pálida linha pouco vísivel a olho nu,tinha sido a dela.

Pequenos pontos,precisos.Nenhum erro.Um trabalho perfeito.

Dela.

Novas perguntas preencheram a mente da ex-gryffindor.

O que tinha acontecido?

Ele tinha chegado ao Snt.Mungus como paciente quando ela estava em seu turno?

Ou já estavam namorando?Ou pior ainda,casados?

Diabos,já tinham começado a se falar novamente,ou não se viam dos tempos de Hogwarts?

O sangue vermelho,vivo,já estava começando a escorrer novamente do corte.

Hermione mexeu a cabeça.Não era o momento certo para novas paranoias.

Com agulha e fio,começou a costurar novamente.Ele não se mexeu,mas ela pode sentir os músculos do braço tensos em baixo de seu toque.

Colocado o último ponto,se dobrou para cortar o fio com os dentes.

Os mesmos dentes brancos - agora perfeitos - que ele tanto zombava no passado,dando-lhe o crúel apelido de "Dentuça".

Em se dobrar,um longo cacho castanho caiu sem querer e para frente,tocando por um instante o rosto de Draco.

Ela nem notou,mas para ele foi muito,demais.

Fechou os olhos,enquanto ela se levantava.

-Terminou?Saiba que aqui não tem ninguém para impressionar - Sibilou acidamente.

-Eu não estava tentando impressionar ninguém.Não preciso disso.Sei quanto valho. - Respondeu Hermione,com a voz cheia de sarcásmo. -Eu simplismente fiz meu trabalho.

-Ninguém te pediu para fazer,que eu saiba.

-Não,verdade...Mas um medi-bruxo tem a obrigação de prestar ajuda,independente de quem seja a pessoa que precise.- Afirmou.

-Estranho - Foi o inesperado comentário de Draco.

-O que? - perguntou Hermione,com tom neutro.

-Que você pense assim..

-Porque?

-Eu não diria que a coisa que você mais consegue fazer é curar feridas,sangue-ruim... - Disse Draco,lançando-lhe um olhar frio.

-E o que seria? - Falou ela,sem paciencia,bufando.

-Inflingir-lás.

O olhar perdido dela valia mais que mil palavras.

Não havia entendido o significado daquilo que ele lhe havia dito,assim como não havia notato a amargura com que ele havia pronunciado a última palavra.

Estava confusa.

Era o que ela merecia.

Uma pequena,pequeníssima parte daquilo que ela merecia.

-O que você quer dizer com isso? -

Ela queria saber,a qualquer custo.

E ele nunca lhe daria aquela sodisfação.

Por isso respondeu no único modo possível.

Com o silêncio.

Puro e simples silêncio.

Ficaram se olhando.Ela olhava para as íris prateadas dele,como se tentasse saber o que ele não tinha dito

Sem dúvidas,a sangue-ruim tinha belos olhos.Profundos e luminosos.

Mas não o delusbravam.Não mais.

Ele havia aprendido a lição.

E tinha pagado.Muito.Para ter confiado naquelas íris douradas.

Cheias de promessas...E falsidade.

O suspiro irritado de Hermione o chamou para o presente.

-Levante um pouco o braço - Um tom cansado na voz - Tenho que embrulhar o corte,se não os pontos se reabrirão..-

Draco a acontentou.Hermione aplicou com cura a bendagem,depois,para impedir que a manga ensanguentada sujasse a bendagem,a arrancou.

Os olhos se pousaram uma última vez no braço de Draco.

E se Hermione não desmaiou pelo horror foi muito.

A marca negra.

Brilhante,ameaçadora,naquela pele clara,úmida de sangue e fire-whiskey.

A mulher gemeu,enquanto observava aquele símbolo de morte com os olhos vidrados.

-Surpresa,sangue-ruim? - O tom ironico,um sorriso largo nos lábios e uma fria risada.