Revista Nerd escrita por SumLee


Capítulo 9
Romeu e Jurieta... Não! É Julieta




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8. Romeu e Jurieta... Não! É Julieta

- Isso não é da sua conta, Cullen. – falei indo para a porta. – E não se intromete, entendeu? Porque essa história é entre mim e o professor. Você não tem nada a ver.

 - Talvez eu tenha.

 - Não. Não tem. Ele não te chamou de estranha enquanto você ouvia musica no ultimo volume e fingia que dormia.

 Passei por ele e fui pelo corredor na direção da secretaria. Edward me seguia, um pouco atrás de mim.

 - Mas ele me colocou ao lado da estranha. Fui praticamente obrigado, então eu também faço parte da história.

 Eu parei e me virei para ele, de braços cruzados.

 - E daí? Quer participar da festinha? – ironizei.

 - Se você me convidar.

 - Não acredito! – joguei as mãos pra cima. – Sério que você quer participar disso porque ele te “obrigou” a sentar do meu lado?

 - Claro! Além de que vai ser uma diversão nessa semana tão idiota que eu imagino que vai ser.

 Eu parei ao ouvir suas palavras. Quer dizer que o Edward pensava do mesmo jeito que eu? Que coisa idiota! Até parecia os Egos Gigantes que descobri hoje. Eles pareciam em algo. Então isso significava que eu e Edward também parecíamos em alguma coisa? Que coisa mais idiota, novamente!

 - Humpf. – bufei. – O que você vai fazer se eu falar não?

 - Vou te infernizar até você falar sim. E eu sei que não gosta da minha presença, então... posso ficar todo dia do seu lado. – ele ficou DO MEU LADO segurando MEU BRAÇO!

 - Ew. Desinfeta, garoto. – bati na mão dele e me afastei. – Vamos lá. – falei comigo mesma.

 Agüentar todo dia esse garoto irritante do meu lado me infernizando ou ter que agüentar ele numa artimanha contra o professor de Biologia? Qual é pior? Com toda certeza... Ele ficar do meu lado era a pior das duas únicas opções. Infelizmente terei que aceitar esse garoto amanhã além de no jornal também na hora de aprontar. Mas talvez ele pudesse me ajudar...

 - Ok, Cullen, você conseguiu. Vamos acabar com a onda daquele professor e pronto. Depois disso só vamos nos falar no maldito jornal...

 - E olhe lá. – acrescentou.

 - Isso mesmo. – concordei com um sorriso. – Leu meus pensamentos.

 - Ou pensamos igual quando a coisa é divertimento.

 - Nãaa. – neguei com um sorriso. – Minha diversão é irritar você, Cullen. – dei dois tapas leves no rosto branquelo dele.

 Edward deu um sorrisinho sínico e segurou meu pulso.

 - Ok. Dane-se isso. – ele revirou os olhos. – O que você vai fazer?

 - Do que você está falando? – puxei minha mão com força.

 - Você é lerda ou o que? – ele bateu na minha cabeça como se batesse em uma porta. – Caramba, estou falando da vingança contra aquele professor idiota.

 - Ah, sim. – bufei. – E eu não sou lerda, ok? É só a Renée que está sugando meu cérebro.

 - O que? Quem? – ele pareceu confuso.

 Quer dizer que o Cullen não sabia quem era minha mãe? Hm... Isso é bom. Digo, se ele, que é irmão da minha melhor amiga, não sabe, então a escola inteira não sabe. Além da Alice e da Nessie, claro. Então ninguém sabia que minha mãe era uma completa louca.

 - Não interessa. – abanei o ar com a mão na intenção de espantar a presença daquela mulher dali. – Olha, o negocio é o seguinte...

 Eu contei para ele o maldito plano que iria dar certo contra aquele professor que ama nos infernizar. Ele antes tinha um lugar alto no meu conceito, por ser um professor legal por não chamar minha atenção quando finjo que estou dormindo, mas que na verdade estou escutando música. Agora ele tinha caído até o cem negativos por causa dessa idéia maluca e insana de colocar o Cullen do meu lado.

 - Ok. – ele balançou a cabeça, pensativo. – Então amanhã, no horário do almoço vamos colocá-lo em pratica.

 - Isso. – concordei. – Agora vamos atrás daquelas pessoas loucas.

 Nós seguimos na direção da secretaria, em silêncio, ao chegarmos lá vimos que eles discutiam sobre os horários em que cada teria a salinha para seu grupo. Alice batia peito a peito com o Eric, que estava mais vermelho que pimenta, já beirava perto do roxo. A secretária anônima estava inclinada no balcão, com a cabeça apoiada numa mão e os olhos pesando com sono. O bocejo dela não cortou a discussão deles.

 - Eu já disse que nós é que vamos ficar com as terças! – Eric falou.

 - Não. Não. E não! Vocês ficaram hoje, então amanhã a salinha é nossa. – Alice bateu o pé.

 - Vocês nos atrapalharam, não deu pra fazer nada.

 - É injusto isso! – Emmett, que estava sentado numa das cadeiras de estofado legal, se pronunciou. – Nós temos até segunda feira pra soltar o jornal, nem começamos. Então deveria ser nós quem deveria usar a salinha amanhã.

 - Incrivelmente, ele tem razão. – concordei. – É a forma mais justa e correta de resolvermos isso. E com os dias, poderíamos fazer assim: Um dia é um e no próximo o outro. Assim não tem escolha de dia e ninguém briga pela maldita terça-feira.

 Eles me olharam e depois se entreolharam. No fim resolveram o que eu falei, sendo todos justos. A secretária pediu que alguém fizesse uma tabela com os dias, pois se desse alguma confusão era só ir falar com ela. Ficou que amanhã uma pessoa de cada jornal iria, juntos, fazerem a tabela e entregar para a secretária sem nome na hora que acabasse as aulas.

 Depois disso cada um foi seguindo para seu canto. Os estranhos do Jornal FHS foi novamente para a salinha terminar o que tinham começado. Alice e Emmett foram indo na frente enquanto Edward e eu fomos na direção do meu armário para pegar meu bebezinho.

 - Porque você deixa aqui? – perguntou quando abri meu armário.

 - Porque em casa Renée pode achar. – expliquei.

 Eu estava tentando encontrar o cd naquela bagunça toda. Fui tirando livros e apostilas dali. Deus, meu armário era uma bagunça! Eu dava os livros pro Edward segurar, vendo que tinha mais coisas ali do que deveria. Eu estava praticamente dentro do armário, que era em cima.

 - E o que é que tem? – ele parecia confuso.

 - Ihhh, é uma longa e tediosa história. – tirei a cabeça do armário e o encarei. – Que você não vai querer saber.

 Voltei a procurar o cd, vendo vários outros, mas não o que eu queria.

 - Ela vai tomar? Afinal, quem é Renée?

 - Renée é... – parei o que estava fazendo pra pensar em algo que definisse ela sem ser minha mãe. – Alguém que não vai querer conhecer.

 - É tão ruim assim?

 - Achei! – falei deprimida, porque achar ele significava que teria que me separar dele. – Não é que Renée é ruim... – fiz careta. – Ela só não é alguém de fácil convívio.

 - Ah, sim. – ele assentiu e olhou para a minha mão.

 - Está aqui. – levantei o cd, me sentindo triste.

 Ele me entregou os livros que segurava e eu os guardei no armário novamente. Depois que fechei com o cadeado de código me virei para Edward, que olhava pro cd com os olhos brilhando. Era normal olhar assim para o cd, já que era uma edição limitada daquelas muito limitadas.

 - O que você fez por ela? O mesmo que fez naquela salinha? – ele levantou o olhar para mim.

 - Er... – cocei a cabeça. – Foi algo bem pior. – lembrei do que fiz. – Não sei por que não usei aquele método com você. – olhei pro cd. – Teria evitado ficar sem meu cd por um mês.

 - Acho que não. – ele sorriu convencido. – Comigo aquilo não pega.

 - Sei não... – sorri maldosamente. – Se eu tivesse feito a mesma coisa que fiz pra conseguir esse cd...

 - O que foi? – perguntou.

 Olhei para os lados, vendo do lado direito o corredor escuro se estender por outros vários armários, e do lado esquerdo mais armários, com a saída um pouco a frente. Voltei para o Edward.

 - Que tal eu ir falando enquanto vamos embora? Quero sair logo daqui.

 - Ok.

 Nós seguimos para a saída.

 - Bom, pra mim consegui o ultimo cd lá em Port Angeles tive que sair batendo em todo mundo.

 - Como assim?

 - Não teve fila. O carinha da loja de cd só abriu a porta e falou que era de quem pegar. Então eu usei as forças dos meus braços e pernas. Deixando um cara estéril, uma menina sem metade dos cabelos loiros dela e um garoto sem um dente.

 - Você acha que eu vou acreditar nisso? – ele parou pra me encarar.

 - É verdade. Pergunta pra Alice.

 - Alice?

- Não a sua irmã. – revirei os olhos. – Ela nunca iria atrás de um cd. Estou falando da Alice Abram.

 - A que fica no grupo dos Bad Boys?

- Uhum. Porque você acha que ela cortou o cabelo e passou mais de um mês vindo com ele preso?

 - Ok. – ele assentiu com a cabeça. – E o cara e o menino?

 - Esses dois eu não conhecia, então não teve importância. Assim como a tal Alice, que me encarou durante um bom tempo com pavor. Credo, eu nem sou tão de amedrontar assim. – dei de ombros. – Olha pra mim? Sou tão fina quanto... Quanto... – pensei em algo que não fosse muito fino, tipo uma agulha.

 - Palito? Graveto?

 - Argh! – resmunguei com as sugestões dele.

 Nós saímos do colégio e antes que ele pudesse ir para o seu carro eu o segurei pelo braço.

 - Escuta aqui, eu quero esse cd em um mês, entendeu? E sem nenhum arranhão ou qualquer coisa.

 - Ok. – ele puxou o braço. – Vou fazer meu máximo.

 - Como assim o seu máximo? – perguntei, mas ele já andava pra longe. – Edward Cullen se esse cd vir com um arranhão eu te mato!

 - Tanto faz! – ele gritou por cima do ombro.

 - Maldito! – murmurei.

 Corri para meu carro, um mini Cooper preto. Esse foi o único carro que Renée aceitou. Eu queria um Jipp, só que ela falou que não era carro de menina. De má vontade eu fui escolhendo outros, e todos eram grandes, então ela não deixou. A minha única escolha foi o Cooper, que chamou minha atenção e não parecia aqueles carros chamativos. Mas ainda sim meu sonho é ter um Jipp preto ou vermelho, estilo o do Emmett.

 Peguei meu celular desesperada e disquei para a Alice, que atendeu no terceiro toque.

 - Oi, Bella.

 - Me diga que seu irmão cabeçudo tem cuidado com CDs?

 - O que? O Emmett?

 - Não! O Edward, anta. Quero saber se ele tem cuidado com CDs, porque se não tiver eu vou agora buscar o meu.

- Relaxa, garota. – ela riu. – Pelo que eu vejo Edward tem o maior cuidado com os CDs dele, assim como você. E eu sei o que você fez pra conseguir esse cd e se ele não fosse cuidadoso eu não deixaria você emprestar.

 - Não foi um empréstimo. Eu fui praticamente obrigada a deixar meu cd que é minha vida com aquele imbecil.

 - Eu sei. – ela suspirou.

 - Não que eu não esteja reclamando... – murmurei. – Afinal, era por você e tudo mais. Só que eu precisava de algo pra me acalmar, e você já me deu esse algo.

- É só isso que você quer de mim? – perguntou se fingindo de ofendida. – É só pra isso que eu sirvo?

 - Pior que é. – respondi rindo.

 - Nossa! – sua voz saiu abafada por causa da mão na boca, aposto. – Que “Bella” amiga eu tenho. Com uma amiga dessa, quem precisa de inimiga?

 - Eu não sei. – dei de ombros. – Mas quem for, vai ter muito azar.

 - Cala a boca, Bella! – ela gargalhou. – Onde você está?

 - Hã... – olhei pros lados. – Ainda na escola. No estacionamento, mais especificamente.

 - Então vai pra casa, anomalia.

 - Hey!

 - Tchau, Bellinha.

 - Não é Bell... – nem pude terminar a minha frase, porque aquele “Tu tu tu” irritante informou que a maldita tinha desligado na minha cara. – Sua cópia feminina do bob esponja! – resmunguei.

 Desliguei o celular e joguei-o no banco do passageiro, junto com a mochila. Liguei o carro e logo fui pra casa, ou melhor, pro meu inferno particular.

 Como hoje era segunda e Charlie estaria em casa, eu teria que ficar com ele no escritório lendo algum livro sobre direito jurídico, já que ele tinha feito esse curso em Princeton. Ele me explicava coisas que eu não entendia e hora ou outra tirava os livros da minha mão para eu ter algum descanso. É, ele também não gostava do que Renée fazia comigo, mesmo que ela só esteja pensando no meu futuro.

 Eu considerava Charlie um pai maravilhoso, mesmo que nós não temos aquela relação normal de “pai e filha” com trocas de carinho. Ele não aceitava a idéia da Renée querer me transformar no protótipo de filha perfeita, e mesmo que ele tente intervir nisso, ela não aceita a opinião de fora. Então ele aproveitava isso para tirar brincadeiras com minha cara. Nessa hora ele parecia àqueles caras com mente de adolescente que adora irritar a irmã mais velha. E ele muito vezes parecia mesmo um adolescente que acabou de sair da faculdade, formado. Principalmente quando sorria. As rugas de expressão e da idade aparecem, mas isso só o faz mais bonito do que já é. Seu cabelo, que é da cor do meu, castanho meio avermelhado, não tem muitos fios brancos, e os que têm nunca aparecem. Os olhos castanhos, quase negros, eram sempre animados e mostravam o cara que Renée conheceu quando tinha dezoito anos.

 Charlie era um ótimo advogado depois que se formou, só que com os anos ele decidiu que queria sair da cidade grande. Ele e Renée moravam em Washington, e ele queria um lugar mais calmo. Decidindo, por fim, vir morar aqui, na cidade-ovo. Eu tinha quatorze anos quando eles vieram para cá. Então Charlie conseguiu um trabalho aqui na pequena cidade, ele era delegado. Isso mesmo, passou de advogado pra delegado. Charlie só queria um lugar calmo pra morar, e precisava de um trabalho, e mesmo que delegado não seja uma profissão calma, aqui em Forks ela é. Era tudo que ele queria. E o que eu odiava.

 Estacionei o carro na garagem ao lado da Mercedes Benz preta e da viatura que Charlie só usava para o trabalho. O que significava que Renée ainda estava em casa. A Mercedes era dos dois, Renée usava para trabalhar e Charlie quando tínhamos que ir a algum lugar. Entrei pela cozinha, encontrando Mary fazendo alguma besteira pra eu comer mais tarde.

 - Oi Mary. – dei um beijo na testa dela. – Cadê Renée?

 - Oi menina Swan. – ela sorriu. – Está no escritório junto com Charlie.

 - Ah, sim. – olhei para a porta que dava pra sala. – E o que você está fazendo hoje? – olhei para a panela.

 - É a cobertura do bolo de chocolate.

 - Sério? – olhei no forno, vendo o bolo assar. – Legal. – peguei a colher com cobertura e levei a boca. – Ah meu deus! – comecei a pular e balança a mão em frente à boca ao mesmo tempo. – Quente! Quente! Quente!

 - Isso que dá não assoprar antes. – Mary falou rindo de mim e indo pegar gelo no congelador.

 - Voshe poeria te avishado. – falei com a língua pra fora, deixando minha frase bem idiota.

 - Claro. – ela riu mais uma vez e me entregou o gelo.

 Eu chupei o cubo de gelo com tanto gosto que ele até parecia ter gosto. Depois que a ardência na boca passou, eu sorri da minha idiotice. Até parecia uma criança desse jeito.

 - Está uma delicia. – disse pra ela, que gargalhou. – Agora vou lá, preciso cumprir meus horários.

 Subi as escadas da cozinha correndo, indo direto pro meu quarto. Tomei um banho quente já que hoje o dia estava como os outros: Frio e úmido. Vesti uma calça jeans, uma camiseta larga com um desenho idiota e um tênis sem graça. Esse não era o meu estilo, mas fazer o que se meu closet só tinha isso?! Peguei meus livros que estava lendo ontem à noite e fui para o escritório. Abri a porta cantarolando uma musica do meu cd que agora está nas mãos do Cullen. Parei de cantar assim que notei que os dois – Renée e Charlie – me encaravam.

 - Está atrasada. – ela falou.

 - Oi pra você também. – eu disse. – Tive que resolver algumas coisas no colégio.

 - Que coisas? – ela levantou e caminhou até mim.

 - Ué, coisas. – revirei os olhos.

 - Isabella... – Renée suspirou. – Que coisas?

 - Renée... – suspirei também, imitando ela. – Alice me pediu para ajudá-la em umas coisas no colégio, e eu tive que ajudar. Pronto, essa explicação está ótima, agora me deixa estudar porque estou atrasada.

 Minha voz era amarga e tinha o sarcasmo puro, assim como o sorriso.

 - Isabella, eu tenho que saber o que são essas coisas pra ter idéia no que você está se metendo, entendeu? Então depois que eu chegar nós vamos conversar sobre sua nota. – ela saiu sem nem dizer tchau.

 - Até mais tarde, Renée. – falei e me virei para Charlie. – Caramba, ela podia ser menos autoritária, não é? – sentei na cadeira de frente para ele. – Ou curiosa. Quem sabe me dar espaço? Eu não posso nem me atrasar cinco minutos que ela já vem reclamando, e...

 Pronto, comecei o meu discurso de segunda-feira. Continuei falando tudo que precisava, e Charlie só escutava como se fosse meu psicólogo ou confidente.

 - Deveria era falar a verdade, mas deixa isso quieto. – suspirei. – Quanto tempo? – perguntei pra ele, que olhou no relógio do pulso.

 - Bateu seu recorde, quase cinco minutos. Quatro minutos e vinte e sete segundos.

 - Uau. – murmurei embasbacada e nós rimos. – Pronto, vamos estudar.

 Fiquei com Charlie a tarde inteira. Era legal ficar ali com ele, mesmo estando no silêncio. Nenhum dos dois era o que poderia se chamar de falantes, então o clima nunca precisava ser preenchido com palavras. Eu ficava concentrada nos meus livros e ele no dele.

 - Está sentindo isso? – Charlie perguntou.

 - Sentindo o que?

 Ele cheirou o ar, e eu o imitei. Sim! Eu estava sentido o cheiro do bolo. Assim como sentia meu estomago roncar. Charlie gargalhou ao ouvir também.

 - Vá comer, garota. – mandou, tomando o livro da minha mão.

 - Não precisa mandar duas vezes. – falei já saindo, mas antes pude ouvi-lo rir mais ainda.

 Desci as escadas correndo, e no ultimo degrau, tropecei e cai de cara no chão.

 - Menina Swan! – Mary correu até mim e me ajudou a levantar.

 - Ow. – passei a mão no nariz. – Já é a quinta vez esse mês! – exclamei aborrecida. – Acho que meu nariz não vai agüentar mais.

 Mary riu de mim, achando graça no meu tombo. Era sempre assim, toda vez que eu subia ou descia essas escadas do mal eu caia. Acho que ela tinha alguma maldição ou me odiava como eu a odiava. Segui Mary para a cozinha, onde, em cima do balcão, já tinha um prato com um enorme pedaço de bolo. Minha barriga roncou mais uma vez avisando que desde ontem eu não comia nada direito. Sentei no banco de estofado vermelho e comecei minha diversão.

 - Cara, isso aqui está bom. – falei ao mesmo tempo em que comia.

 - Menina! – Mary me repreendeu.

 - Desculpa. – pedi, abaixando a cabeça. Engoli o que tinha na boca e voltei a levantar a cabeça. – Você tem mãos de doceiro profissional.

 - Obrigada. – ela agradeceu constrangida.

 Eu apenas sorri. Comi uns três pedaços do bolo, acompanhado de uma latinha de coca-cola. Depois que terminei subi novamente para o escritório carregando um pedaço pro Charlie. Sabia que ele não gostava de bolo, só que Mary merecia uma exceção.

 - Caiu? – ele perguntou quando entrei.

 - Er... Não. – menti.

 - Uhum. – ele murmurou divertido.

 - Er... Trouxe pra você. – coloquei o prato em cima da mesa. – E não recuse.

 - Ok. – ele revirou os olhos e com o garfo tirou um pedaço e comeu. – Está bom.

 - Eu sei.

 Sentei novamente no meu lugar e peguei o livro que estava lendo. Charlie comeu o bolo dele em silencio, e eu li o livro. Algumas coisas que não entendia eu perguntava para ele, que me explicava. Renée chegou a noite. Nós jantamos em silencio e depois eu subi para o escritório, para esperar Renée.

 - Pronto. – ela entrou no cômodo e foi para a poltrona de frente a mesa. – Acho que agora podemos conversar.

 - Claro, claro. – encostei-me à cadeira. – O que tem a minha nota?

 - Ela caiu em cálculo.

 - Cálculo? Caramba. – enruguei as sobrancelhas.

 - Você não anda estudando, Isabella?

 - É claro que eu estudo. – falei perplexa. – Estudei para essa ultima prova igual a uma louca, só que essa matéria é uma que eu não consigo me entender.

 - Então se esforce mais.

 - Mais? – fiquei em pé. – Você quer que eu me esforce mais?

 - Isabella, eu sei que você é inteligente e estudando mais vai conseguir entender a matéria.

 - Que tal de dar mais um livro para eu ler? Assim também me vai me ajudar nas outras matérias. – revirei os olhos. – Renée, eu estou sobrecarregada, não agüento mais.

 Desde pequena eu não a chamava pelo que ela era: Mãe. Quando Renée começou com essa coisa de ter que estudar e crescer mais rápido eu comecei a chamá-la pelo nome. Se ela queria que eu parecesse uma adula, eu agiria como uma. E chamá-la de mãe não estava no meu quesito de adulto. No começo Renée ainda tentou me forçar a chamá-la de mãe, mas eu insistia pelo nome, então ela deixou de lado, se acostumando. Pois era toma lá, da cá. Se ela iria ser ruim, eu também seria.

 - Uma pessoa não fica sobrecarregada por ficar inteligente.

 - Então eu sou a primeira. – joguei as mãos para cima. – Já estou lendo um sobre júri e Literatura estrangeira. Agora você quer acrescentar mais um? Caramba, de onde vou tirar tempo para isso?

 - Você consegue.

 - Eu-não-consigo. – falei pousadamente. – Eu não consigo mais um! Caramba, desse jeito eu vou começar a confundir as coisas. Daqui a pouco Shakespeare vai virar juiz!

 - Não é assim.

 - Pra mim é!

 - Isabella... – ela levantou e veio até mim. – Eu só quero que você tenha um bom futuro.

 - Terei, se não ficar louca antes.

 - Você não vai ficar louca se for inteligente.

 - Não? Então por que Albert Einstein ficou?

 - Não vamos discutir isso. – ela suspirou. – Isabella, só tente melhorar sua nota em cálculo.

 - Eu vou. – soltei o ar. – Eu vou.

 - Tudo bem. – Renée assentiu e voltou para o lugar onde estava antes. – Agora você pode me dizer que coisas eram essas que você estava resolvendo com Alice?

 - Bem... – sentei novamente. – Eu preciso falar uma coisa.

 - Fale.

 Renée trabalha em uma revista, a “Womania”. A coluna dela é a de moda. Ela fez faculdade de jornalismo, e conseguiu trabalhar numa das maiores revistas do estado. A revista tinha uma filial nesse buraco, o que foi a sorte de Renée, para poder acompanhar Charlie par cá. Ela não me mandou estudar para esse curso porque carreira jurídica tinha um futuro maior.

 - Er... Eu estou no jornal da escola. – murmurei.

 - Sério? – ela estava surpresa. – Isso é bom.

 - Sério? – agora quem estava surpresa era eu.

 Para mim Renée iria falar que esse jornal era idiotice e perca de tempo, uma coisa que eu não tinha. Mas foi ao contrario do que eu achei.

 - Sim. – ela sorriu. – Eu sempre quis que você fizesse jornalismo, mas como não é bom, você participar de um jornal faz pelo menos um pouco da minha vontade.

 - Hm.

 - E você faz o que?

 Fer-rou. Eu to fodida.

 Mesmo eu me matando para aprender sobre júri, essa era uma profissão que eu não queria seguir. Eu não tinha vontade de ser advogada. Eu não sentia um orgulho quando as pessoas perguntavam que faculdade eu iria fazer. Eu queria era fazer design de computação. Tudo bem que isso não adiantava eu tirar da cabeça das pessoas que eu não era uma nerd, mas era uma coisa que eu achava legal. Só que para Renée isso era brincadeira e não ia me dar um futuro algum.

 E participar do jornal sendo da parte gráfica não ia deixá-la feliz. Nem um pouco.

 - Er... Estou na coluna de noticias. – menti.

 - Que legal. – ela pareceu gostar. – Quando começa?

 - Amanhã. E... Eu precisava de umas horas a mais para chegar em casa.

 - Não. Isso tudo bem.

 - Ah... Ok. – levantei. – Eu... Eu vou para o meu quarto.

 - Uhum.

 Eu corri para o meu quarto, me sentindo nervosa. Renée não podia saber o que eu fazia no jornal. Não podia mesmo. Se ela soubesse... Hum... Meu castigo seria horrível por eu mentir. Agora qual o castigo? Mais um livro para estudar. Eu estava ferrada.

 Peguei o livro de Shakespeare que estava lendo e sentei na cama. Meu celular tocou naquela hora, olhei no visor e era Alice.

 - O que foi? – atendi.

 - Ihhh, mal humor.

 - Não fala nada.

 - O que foi?

 - Renée. – disse sob o suspiro. – Ela viu minha nota baixa de calculo.

 - Oh não. Mais um livro?

 - Sim. – murmurei. – All, eu to ferrada.

 - Está mesmo. – ela riu.

 - Contei para ela sobre o jornal.

 - E?

 - Tive que mentir.

 - Por quê?

 - Ela gostou de saber que eu estava no jornal, mas se eu contasse que estava na parte gráfica Renée iria me mandar sair. Então menti que estava na coluna de noticias.

 - Era de se imaginar.

 - Agora fala o que você quer porque eu preciso estudar Romeu e Jurieta.

 - JURIETA?!

 - Quero dizer Romeu e Julieta. Desculpa. Eu falei para Renée que dois livros ao mesmo tempo iria me deixar louca.

 - Ou mais que você já é.

 - Fala logo o que quer, Alice.

 - Ok, ok, estressadinha. Eu queria que você levasse amanhã seu pen drive com seus arquivos.

- Pra que?

 - Pra que, Bella? – ela bufou. – Às vezes você é tão lenta.

 - Hey!

 - Nós precisamos de alguns exemplos para deixar a capa legal. E leva seu notebook, sabe, não quero colocar nossas coisas naquele computador. Eles podem sabotar.

 - Claro, claro.

 - Era só isso mesmo. Bons estudos, minha nerdinha.

 - Vai se ferrar.

 - Tchau.

 Desliguei e joguei o celular no criado-mudo. Fui ate minha escrivaninha e peguei meu notebook, voltando para a cama e sentando com ele no colo. Conectei o pen drive e abri a pasta com os programas que eu precisava. Não sabia como iria fazer a capa dessa revista, mas precisaria de muita coisa. Alice era indecisa e chata, além de exigente, então eu trabalharia muito amanhã.

 Depois que terminei as coisas no notebook eu voltei para o livro, acabei adormecendo com ele nas mãos.

 Na manhã seguinte eu joguei minhas coisas na mochila, junto com um livro de cálculo e o de Shakespeare, teria que dividir meu tempo nesses livros. Peguei o notebook e desci com ele no braço esquerdo e a mochila no ombro direito. Renée e Charlie já estavam na cozinha, tomando café.

 - Bom dia. – soltei entre um bocejo.

 - Foi dormir tarde? – Charlie perguntou.

 Coloquei as coisas na bancada e sentei a mesa, junto deles. Assenti com a cabeça, me segurando para não fechar os olhos.

 - Por quê? – ele perguntou.

 - Passei do meu limite na leitura. – falei.

 - Isso não é bom.

 - Mas pelo menos vou acabar mais rápido o livro. – eu disse e Renée me encarou. – E assim poderei começar outro. – completei.

 - Está se matando muito.

 - Faltam apenas dois anos para ir para a universidade, Charlie. – Renée falou. – É assim com todos.

 - Creio que não. Tem pessoa que falta um ano e estuda menos que Bella.

 - Isso significa que eles não vão ter o futuro que ela vai.

 Isso era o começo de uma discussão. Eu peguei a jarra de suco e enchi o copo. Tomei tudo em dois goles, peguei minhas coisas.

 - Tchau. – falei por cima do ombro, saindo logo.

 Joguei as coisas no banco do passageiro e segui para uma lanchonete. Só o suco não me sustentaria até a hora do almoço. Eu precisava de algo sólido no estomago. Comprei uns muffins de chocolate e fui para a escola. Como tinha saído mais cedo por causa de Charlie e de Renée, eu cheguei bem adiantada no colégio. Então fui para um canto mais afastado, coloquei meu capuz na grama e sentei nele, colocando meu pacotinho de muffins ali e abrindo o livro de Romeu e Julieta.

 - Oi.

 Eu pulei de susto com o idiota que tinha aparecido do nada.

 - O que você quer?

 - Nada.

 Edward colocou a blusa dele no chão e sentou do meu lado.

 - Então porque não me deixar ler meu livro? – virei para ele. – O que está fazendo aqui tão cedo?

 - Cedo? Isabella, falta cinco minutos para bater o sino.

 - O que?! – olhei para os lados, vendo o pátio e o estacionamento cheio de carros e adolescentes. Olhei para o livro, vendo que tinha passado quase trinta páginas. – Acho que me perdi no tempo.

 - Ta lendo o que?

 Olhei para sua mão que foi até meus muffins. Filho de uma...

 - Não deixei você tocar nisso.

 - Não tem nada. – ele pegou um muffin e levou a boca.

 - Mas é uma cara de pau mesmo. – balancei a cabeça em descrença.

 - Qual é? Muffin é bom e não custa nada dividir.

 Percebi que Edward usou o que eu falaria para conseguir alguma coisa.

 - Estou lendo Romeu e Jurieta. – ele me encarou com uma sobrancelha erguida. – Quero dizer, Romeu e Julieta. Merda. – murmurei pro nada.

 - Gosta desse livro? – ele tomou o livro das minhas mãos e virou a capa.

 - Não perde a página.

 - Não vou.

 - Não leio porque gosto. Leio porque sou obrigada.

 - Obrigada? Quem te obriga?

 - Ninguém. – peguei o livro da mão dele.

 - Você é bipolar?

 - Não. – suspirei. – Só... Não quero falar nisso.

 Já tinha saído correndo de casa por causa dessa coisa de ler muito, eu não queria falar disso aqui. E principalmente com o Cullen.

 - Ah, sim.

 - O que você quer? – olhei para os lados.

 - Alice me mandou te procurar para perguntar se você trouxe o notebook.

 - Aqui. – mostrei o note.

 - Ela achou que você esqueceria porque é avoada. – ele riu.

 - Avoada. – bufei. – Ela que é.

 - Acho que não.

 - Cala a boca, Edward. – mandei. – E o meu cd?

 - Está no carro.

 - Está cuidando bem dele?

 Edward me encarou com uma sobrancelha erguida e depois riu.

 - Parece que você se preocupa mais com seu cd do que com qualquer outra coisa.

 - Claro. Não tenho com o que me preocupar.

 - Não tem irmãos?

 - Não. E agradeço isso. – levantei as mãos para cima. – Acho que mataria se estivesse um. Principalmente se ele fosse igual a você. – ele fez careta. – Não sei como Alice te agüenta. Sério, você é tão...

 - Hey. Hey. Hey. – ele tampou minha boca. – Vamos parar por aqui?

 - Me empolguei. – dei de ombros.

 - Humpf. – ele bufou. – Você não se preocupa com seus pais?

 - Não. Se eu sei me cuidar, eles também.

 Falava a verdade. Se eu era tratada como uma adulta e soubesse me cuidar, Charlie e Renée também saberiam, afinal, metade do que aprendi e aprendo é com eles.

 - É. – ele assentiu. – Tem razão. Apesar de achar que você não sabe se cuidar.

 - É claro que eu sei. Sei muito bem.

 - Não adianta ser só inteligente.

 Eu parei e encarei-o. Edward tinha falado o contrario de Renée. Para ela ser inteligente era tudo. Se você soubesse tudo sobre América, iria longe. Se soubesse muito sobre anatomia humana ou vários tipos de se fazer uma conta, chegaria a um ponto alto. Para ela, ser inteligência era tudo.

 - Já ouvi o contrario disso.

 - Você sabe cozinhar?

 - Er... Não. Mas Mary cozinha muito bem.

 - Viu? A Mary, não você.

 - Você sabe? – retruquei.

 - Sei o simples.

 - Tipo o que?

 - Sei Spaguette. – ele deu de ombros.

 Merda! O Cullen sabia mais que eu. Eu nunca tinha chegado em uma cozinha para preparar alguma coisa. E ele sabia. Isso mostrava que Renée não tinha razão.

 - Er... Eu sei pipoca. – murmurei e ele me encarou com uma sobrancelha erguida. – Ok, de microondas.

 Edward gargalhou com minha resposta. Dei um soco leve no braço dele.

 - Não teve graça. – falei. – Agora me deixar ler meu Romeu e Jurieta... Droga! É Julieta. Ju-li-e-ta!

 - Você é louca?

 - Cala a boca! – peguei minhas coisas e levantei. – E não fala da minha Jurieta.

 Sai dali pisando firme, deixando um Edward gargalhando de mim. Isso tudo é culpa da Renée! É tudo culpa dela. E ainda tinha me feito deixar meus muffins para aquele imbecil. Droga!


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