Revista Nerd escrita por SumLee


Capítulo 23
Foi isso que aconteceu




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22. Foi isso que aconteceu

 - Vamos, desenrola. - ela mandou, quando entrei no carro. - Vocês se beijaram? Trocaram carinho?

 - Alice! - a repreendi, olhando para Edward, que ria.

 - Ele não está nem ouvindo. - bufou.

 - Não estou ouvindo nada. - Edward falou.

 - Viu? - Alice apontou para ele e eu neguei com a cabeça. - Vai Bella, conta.

 - Não.

 - Bella... - choramingou.

 - Não. Não. Não!

 - Bellinha, meu amorzinho... - ela tocou minha jaqueta e começou a me balançar. - Conta, vai. Conta! Conta! Conta!

 - Nãooooo. - cantarolei.

 - Bella! Bella! Eu vou te chamar de Isabella? - neguei. - ISABELLA!

 - Alice, cala a boca. - Edward mandou e eu concordei com ele.

 - Eu quero saber, Bella. - implorou com uma voz infantil. - Por favor. Por favor. Por favor.

 - Você é irritante. - rosnei.

 - E vou continuar sendo até você me contar. E você vai contar.

 - Aham, e assim eu não conto nada. - dei meu melhor sorriso inocente para ela, que bufou. - Até que enfim. - murmurei, me virando para frente novamente.

 Eu achei que o silencio iria durar até chegar o colégio, mas como era Alice querendo saber de alguma coisa...

 - Ah, Bella, eu não vou agüentar. Conta! Conta! Coooontaaaa. - se agarrou ao meu banco. - Conta, Bella? - sussurrou. - Bem baixinho, conta vai. Ah, Isabella, não seja ruim. Conta... Conta... Contaaa...

 - Alice... - rosnei.

 - Conta, Bella. Bellinha, conta pra Alice, vai? Você quer contar que eu sei. Conta! Contaaaa. Ahhh, conta, vai. Conta! Conta! Conta!

 Um... Calma...

 - Conta, Bella. Por favorzinhoooooo....

 Dois... Respira...

 - Conta, Bellinha. Conta! Conta! Contaaaaa. - fez voz fininha.

 Três... Relaxa...

 - Bellaaaaa. Bellinhaaa...

 Já era, explodi:

 - MAS QUE PORRA, ALICE! VOCÊ QUER MESMO SABER? CERTO! NÓS NOS BEIJAMOS! FELIZ?! AGORA CALA A PORRA DESSA BOCA!

 Eu paralisei da forma que estava que era virada para trás e de cara com Alice. Estava também de olhos arregalados e a boca aberta, não acreditando que tinha mesmo gritado aquilo no carro do Edward e na presença dele. Olhei de canto de olho para ele, que estava olhando para frente, com uma expressão indecifrável, só que com as sobrancelhas unidas. Eu não sabia se ele estava segurando uma risada ou... Sei lá! Olhei para Alice novamente, que agora tinha um sorrisinho travesso no rosto.

 - Eu disse que você ia contar. - falou.

 - ARGH! - virei para frente e cruzei os braços, como uma criança emburrada.

 Alice começou a rir e Edward a acompanhou, para meu completo contentamento. E esses risos me acompanharam até o colégio, e tenho certeza que eram por causa da minha cara. Vermelha e nem um pouco feliz.

 - Seus Cullens idiotas! - falei, batendo a porta do Volvo.

 - Hey, hey, hey! - Emmett segurou meu braço. - Primeiro tenho que saber por que você está me xingando para depois eu concordar.

 - Ah, vai se ferrar também.

 Rosnei e andei rápido pelo estacionamento.

 - Ué, o que ela tem? - ainda o ouvi perguntar para alguém.

 Eu não tinha nada! Só apenas estava irritada porque Alice e Edward ficaram como duas crianças idiotas cantando "A Bella ta namorando lálálá". Eu juro que poderia ter feito uma chacina naquele carro, sorte que chegou á escola antes.

 Quando estava chegando perto do meu armário, vi Nessie parada ao lado, com o olhar perdido no chão.

 - O que aconteceu, monstrinha? - perguntei, abrindo o meu armário.

 - Ugh. - gemeu, fazendo uma careta. - Não me chama mais assim, por favor.

 - Ué, o que aconteceu? - fechei meu armário para poder vê-la. - Você nunca reclamou...

 - É que... Que me faz lembrar-se de coisas nada legais.

 - Como assim? Jacó veio mexer com você de novo, é? Nós conversamos e ele prometeu! Bem... Ele não prometeu, mas... Cadê ele?!

 - Não, Bella. Ele não fez nada. - suspirou e levantou o olhar para mim. - Você sabe aquela lista que eu estava fazendo aquele dia? - eu assenti. - Então... Ela deu um resultado que eu não queria.

 - Bem... - olhei de um lado para o outro. - Eu não sei exatamente o que era aquela lista, e... Não sei como te ajudar se você não me contar.

 - É que a lista era para eu colocar tudo que eu sen... - o sino tocou, cortando ela. - Ah, Bella, depois eu falo o que era, porque preciso ir para minha aula.

 Ela me deu um beijo no rosto e sumiu no meio dos alunos que iam para as suas salas. Eu suspirei, peguei meus livros e fui para a minha aula. Que me fez passar um grande nervosismo porque meu par era Alice, e a pique ficou cantando a músiquinha. Sorte a minha que aquela era a única aula que eu tinha com ela, ou então teria explodido como no carro.

 - A Bella ta namorando... A Bella ta namorando...

 - Ah, não enche, Edward. - falei, empurrando ele, que tinha chegado por trás e sussurrado a musica no meu ouvido. Eu podia não ter gostado, mas isso não fez passar despercebido a estranha sensação de algo queimando as minhas costas quando ele chegou perto e também quando eu o ouvi falando "Bella" ao invés de "Isabella" - Isso está começando a me irritar.

 Nós estávamos indo para o refeitório.

 - Tudo te irrita, Isabella. - revirou os olhos e passou um braço pelo meu ombro.

 - Espera ai - parei, fazendo-o parar também. - Porque você me chama de Bella na músiquinha idiota e de Isabella quando fala normalmente?

 - Sei lá. - deu de ombros.

 - Ah meu deus. - revirei os olhos e voltei a andar, com ele do meu lado, ainda com o braço por cima do meu ombro. - Poderia ser só Bella, é mais fácil e eu gosto.

 - Só que ai seria como todos te chamam.

 - Renée também me chama de Isabella, então não é exclusivo. - bufei. - É sério, Isabella é como se fossemos desconhecidos, ou algo do tipo.

 - Ok, então. - ele assentiu, olhando pensativo.

 Entramos no refeitório, chamando a atenção de algumas pessoas. Isso, porque, ali, era Edward Cullen e Isabella Swan, algo que muitos ali não esperavam ali. O resto é porque não se importava mesmo. Esses tinham o meu respeito.

 - Vai me chamar de Bella agora? - perguntei esperançosa. 

 - Não sei, Isabella.

 - Argh! - o empurrei que saiu rindo. - Idiota.

 Não comprei nada, fui logo para a nossa mesa, encontrando Alice e Nessie já lá.

 - Parece que vocês estão se dando bem essa semana. - Nessie comentou. - Essa semana. - ela e Alice riram.

 - Bestas. - revirei os olhos. - Você parece melhor...

 - Yep. - suspirou. - Estou um pouco.

 - Agora pode me explicar o que era aquela lista?

 - Você vai mesmo me ignorar? - Alice perguntou e eu fingi não ouvir. - Bella? - me chamou com a voz chorosa.

 - Você vai continuar cantando aquilo? - perguntei.

 - Não. - negou rápido demais e eu a olhei com uma sobrancelha erguida. - Eu prometo que não.

 - Então tudo bem.

 - Ah, Bella, você sabe que eu te amo. - ela me puxou e me deu um beijo no rosto. - E que estou muito feliz que você tenha arranjado um namorado!

 - Namorado? Bella arranjou um namorado? - Emmett apareceu atrás de mim e se sentou do meu lado. - Vamos lá, Bellinha, me conte tudo.

 - Opa, pode parando ai. Alice, cala a boca, ok? - ela assentiu e fechou a boca com o zíper imaginário. - Emmett, eu não tenho namorado, ta? E não coloque essa mentira na sua coluna de fofoca porque se não eu te mato. Me entendeu?

 - Sim, sim. - balançou a cabeça, rápido. - Nada de Bella Swan namorando na coluna de fofocas.

 - Bom mesmo. - bufei e me virei para a pique. - E você, fica de bico calado antes que espalhe essa mentira pro colégio inteiro.

 - Aham. Mas você vai me contar?

 Eu olhei para o Emmett, que estava olhando para mim. Fiquei o encarando, até ele sacar que era para sair dali. Com um aceno, ele voltou para a mesa dele.

 - Conta! - as duas mandaram juntas.

 Eu contei tudo o que conversamos e como chegamos até o beijo.

 - Você é amiga da irmã dele? - Nessie perguntou.

 - Hã... Acho que não. Só falei uma vez com ela no telefone, e não foi uma conversa para nos tornamos amigas.

 - Acha que ele estava falando de você? - Alice perguntou e eu neguei com a cabeça. - E você, está gostando dele? Sentiu?

 - Não. - elas arregalaram os olhos. - Admito que foi bom, aliás, muito bom, mas não senti nada daquilo.

 - É, ela não está gostando dele. - Nessie disse balançando a cabeça e eu concordei. – Isso é bom, porque então você não fica igual a uma idiota depois. - bufou.

 - O que? - perguntei, confusa.

 - Esquece. - Alice mandou, falando bem baixinho. - Ela descobriu que ainda gosta do Jacob e agora está assim.

 - Ah. - fiz. - Entendi.

 - Ok, Isabella, parece que você não entende. - Tânia parou na minha frente, quando eu estava indo para a aula de Ed. Física.

  - Se você se esqueceu, a loira aqui é você, então... - dei de ombros e passei por ela, só que ela segurou meu braço. Revirei os olhos.

 - Você sabe do que eu estou falando.

 - Sei sim. - me virei para ela. - E caso você que não tenha entendido, eu disse que não estou nem ai para o Edward. Coloca isso na sua cabeça, eu não gosto dele, e não quero nada com ele. Não precisa ficar com essa sua insegurança, porque eu realmente não estou nem ai.

 Me soltei dela e continuei meu caminho para o vestiário. O treinador estava de bom humor e nem se preocupou quando eu sentei na arquibancada do ginásio para ver as meninas jogando basquete. Eu me sentia entediada, e queria ouvir música, só que o treinador não deixava ficar com celular ou qualquer coisa eletrônica na aula dele.

 Bufei pela décima vez de tédio quando senti alguém sentar do meu lado. Olhei e vi que era Edward, e ele estava com algo de meu interesse. Estiquei minha mão e peguei o fone, ouvindo The Script.

 - Você não tem aula nessa hora? - perguntei. - Toda vez você está aqui no ginásio.

 - É cálculo, e eu não gosto. Então, fujo. - deu de ombros. - Aqui tem coisas mais interessantes... - olhou para a quadra e eu ri.

 - Você pode ser reprovado em cálculo desse jeito. São praticamente quase todos os dias.

 - Vou ser reprovado de qualquer forma.

 - Ah. - fiz. - Também não era muito boa em cálculo, mas... Renée me fez ser. - soltei uma risada seca.

 - Se Esme soubesse como sou em cálculo, também iria me obrigar a estudar. - ele falou enquanto pegava o celular no bolso da jaqueta.

 - E ela não sabe?

 - Não. Quem sabe é Carlisle. Não falo porque não quero decepcioná-la.

 É, concordo com Edward, se tivesse uma mãe como Esme também não iria querer decepcioná-la. Ela é tão amorosa e carinhosa que seria até doloroso. Já se fosse com Renée, daria uma vontade grande, mas era capaz de sofrer na mão dela.

 - Eu posso te ajudar. - falei, me esticando para ver que música ele iria colocar.

 - Ajuda da Swan? Até que não seria mal. - riu. - Você é inteligente.

 - Ah, obrigado por me chamar de inteligente e não nerd.

 - Claro. - riu. - E então, você vai ser minha tutora?

 Edward trocou a música e tirou do mp3, deixando no papel de parede. Eu peguei o celular da mão dele.

 - Me tira uma dúvida antes de eu responder. - me incentivou a continuar. - Você e Tânia estão namorando?

 - Por quê?

 - Só responde.

 - Não! - negou com uma careta.

 - A foto? - balancei o celular.

 - Ela quem colocou. - revirou os olhos. - E ficou.

 - Ok, então. Eu vou ser a sua tutora de cálculo até a prova. - entreguei o celular para o Edward, que estava sorrindo.

 - Porque isso? Está com ciúmes da Tânia? - ergueu uma sobrancelha.

 - Se liga, idiota. - o empurrei com um ombro, rindo. - Caso você não saiba, eu tenho um namorado. - pisquei os olhos e ele arregalou os dele.

 - Assumiu! - falou.

 - É brincadeira! - neguei rápido, porque era mesmo brincadeira. - Eu estou brincando, ok? Não vai sair espalhando isso ai até chegar ao Emmett e ele colocar isso no jornal.

 - Claro, claro. - riu. - Sabe Swan, te conhecendo melhor parece que você é legal.

 - É uma pena que eu não posso dizer o mesmo de você. - sorri docemente, e depois nós rimos.

 - Ganhou um ponto comigo. - piscou um olho. - Não vou mais chamar você de Isabella.

 - Sério? Então vai ser Bella?

 - Já disse que Bella todos te chamam. É exclusivo, branquela.

 - O QUE?! - berrei, chamando a atenção das meninas que jogavam. - Caso você não olhe para si mesmo, eu vou avisar, você também é branco.

 - É, mas não quanto você. - deu o mesmo sorriso que eu tinha dado antes. - Olhe para as suas pernas.

 Eu olhei delas para ele, não acreditando naquilo. Balancei a cabeça, descrente.

 - Estou brincando, Bella. - bagunçou meu cabelo, só que eu não consegui brigar, porque novamente estava sendo tomada por aquele encanto que eu via quando ele falava meu apelido. - Só que ainda vou te chamar de branquela, porque é verdade. - gargalhou.

 Eu bufei e fiz bico, mas depois sorri, acompanhando ele na risada.

 - Eu me ofereci para ser a "tutora" dele. - dei de ombros e Mary sorriu. - Estou com medo do que isso vai me trazer.

 - Como assim? - perguntou.

 - Sei lá. Edward e eu às vezes não nos damos muito bem, entende? Dois gênios fortes que às vezes batem de frente. Em uma hora estamos amigáveis um com o outro, e cinco minutos depois estamos brigando.

 - Ah, sim. - ela riu. - Vai ser engraçado.

 - Acho que brigar com o Edward não tem graça. - tomei um gole do meu suco. - É legal irritar ele, mas depois que passa para a briga, fica estranho.

 - E porque fica estranho?

 - Eu não sei... - ri comigo mesma. - Só fica estranho. – Mary me encarou e estalou a língua, negando com a cabeça. - O que?

 - Ele é o que trabalha com você no jornal? - concordei e ela assentiu.

 - Falando no jornal, estamos procurando noticias novas.

 - Você nunca trouxe um para eu ler. - acusou. - Sabe que aqui não tem muita coisa interessante para se fazer. E ler às vezes é bom.

 - Na próxima segunda eu trago. - pisquei um olho e ela assentiu. - Mas... Cadê Charlie? Não o vi hoje.

 - Foi resolver umas coisas na delegacia. - ela levantou da cadeira e seguiu na direção do fogão. - Falou que era para você não sair.

 - Como se eu fizesse isso. - resmunguei, revirando os olhos. - Mas por quê?

 - Aonde eu vou dormir?! - ouvi uma voz conhecida vindo da sala. - Com a minha nerd?

 Levantei em um pulo e corri para lá, dando de cara com ninguém mais ninguém menos que Vovó Swan. Ela estava parada na porta, com duas malas ao seu lado.

 - Eu não acredito! - falei, correndo até ela e lhe dando um abraço. - Vovó, que saudades!

 - Eu também estava com saudades de você, minha nerd. - rimos. - Acho melhor eu parar de lhe chamar assim. - murmurou ao me afastar para poder me encarar de cima a baixo. - Está linda!

 - Obrigada. Mas... Mas... Ninguém me falou que você vinha.

 - Era surpresa. Eu pedi ao seu pai para não contar. - falou, enquanto andava pela sala, olhando-a de cima a baixo. - Ainda essa decoração sem graça.

 Claro que a decoração não era nem um pouco sem graça, mas para Vovó Swan uma casa deveria ser decorada com cabeças de alces e pôsteres de bandas roqueiras e metálicas.

 - Enquanto a casa for minha, vai ter essa decoração sem graça.

 Olhei para o topo da escada e lá estava Renée, com sua cara de poucos amigos. Ela desceu para o primeiro andar e parou perto da Vovó Swan.

 - Eu não sei por que Charlie não seguiu o mesmo caminho que eu. - vovó falou. - Ele com toda certeza seria um lindo cara do rock e ainda deixaria essa casa perfeita.

 Não pude evitar soltar um risinho imaginando Charlie de coturnos e jaqueta de couro. Seria interessante e adorável ao mesmo tempo, porque assim eu poderia dizer: Pai, eu sou sua filha. E claro, eu estaria usando uma calça jeans bem colada, uma jaqueta de couro e botas. Seria legal e uma vida perfeita.

 - Olá, Anne. - Renée disse, sorrindo.

 - Oi, Renée.

 As duas trocaram um abraço, com sorrisos nos rostos. Eu me sentei na poltrona enquanto as duas se sentava no sofá, conversando sobre a viagem. Uma cena um tanto estranha, mas normal de se ver. Nas poucas vezes que Vovó Swan vinha para cá, ela e Renée passavam horas conversando sobre tudo como os namorados da vovó, as mudanças, os outros irmãos de Charlie, sobre eu, e essas coisas cheias de blá blá blá. Por mais que Renée não aprovasse o estilo da vovó, ela tinha um jeito carinhoso de tratá-la, como nora e sogra. Não daquelas dos filmes, que se odeiam. Mas as da vida real, que conversam e riem juntas. Renée só não gostava muito quando vovó Swan me levava para sair ou quando eu ia para lá, mas de resto, eram boas amigas.

 Renée e Charlie se conheceram em Washington desde pequenos, e no colegial começaram a namorar. Pelo que eu me lembro da única vez que ouvi a história, aconteceu que o pai de Renée não aprovava esse namoro, então eles se encontravam as escondidas. Para meu avô, ela nunca tinha sequer dado um beijo na vida, e isso com dezessete anos. Toda essa manipulação acabou resultando em algo a mais que beijo entre Charlie e Renée e então veio eu, para agüentar as loucuras dela depois. Eu só ouvi essa história uma vez, e foi quando era pequena, então não me lembro ao certo. Só sei que nessa época da adolescência dos dois, Renée e Vovó Swan eram, vamos dizer assim, amigas. Minha mãe vivia direto na casa dela, as duas conversando. Pelo menos foi isso que vovó me contou. Só que depois que Renée ficou adulta, teve uma responsabilidade de cuidar de uma criança, ela começou a ficar igual ao seu pai, e isso meio que a afastou da vovó.

 Charlie chegou um pouco depois, e então ficaram os três conversando na sala. Mary avisou o jantar e bem depois, ficou apenas vovó e eu na sala, assistindo um filme de terror. Enroladas num cobertor, com dois baldes de pipoca, e com meias fofinhas nos pés, nós estávamos mais rindo do que nos assustando.

 - Antigamente os filmes eram melhores. - vovó falou, torcendo os lábios para o zumbi devorando uma mulher.

 - Ah, não acredito. Agora eles têm mais tecnologia, a maquiagem, os efeitos especiais são bons. - fui contra.

 - Não, Bella. Antigamente os filmes assustavam realmente. Só os bem corajosos - como eu - conseguiam assistir um sozinho.  Agora, até uma criança de dez anos assiste e não fica com medo.

 - Não é verdade. Eu tenho uma amiga de dezoito anos que não consegue assistir sozinha. - ergui o queixo de forma desafiadora.

 - A dos cabelos espetados? Aquela menina é fofa demais para assistir filmes assim. - rimos. - Mas é sério, Bella. Os filmes antigamente eram muito melhores. O Exorcista realmente dava medo de assistir. Agora, olha o novo que saiu. Deus, o que é aquilo no final? O que aconteceu? Eu só vi um fogo e um cara falando.

 - É mesmo, ta uma merda esse filme. Não agüentei assistir por causa da porcaria que era.

 - Então eu ganhei. Os filmes antigamente eram melhores. Até os de vampiros. Teve um muito bom, que era Entrevista com um vampiro, que até quem faz é o Brad Pitt. E os filmes de vampiro agora são sem sal.

 - Espero que não esteja falando dos filmes de vampiro romântico.Crepúsculo é bom, ok? E não aceito que fale mal.

 - E não vou. - ela riu. - - Eu também gosto do vampiro e do lobisomem.

 - Vovó!

 - Tudo bem. Tudo bem. - suspirou. - Mas esse filme está uma droga. Até a programação da TV é melhor que ele.

 - Verdade. - murmurei, levando um bocado de pipoca a boca. - Mas o que podemos fazer? Não tem nada!

 - Seu carro está bom?

 - Está, mas eu não posso dirigir.

 - Por quê?!

 - Estou de castigo. - indiquei minhas roupas. - Renée não aceitou muito bem as mudanças que me impus.

 - Ah sim. Deveria ter imaginado. - revirou os olhos. - Mas...

 - Ihh, lá vem ela com esse “mas”. - brinquei e levei um cutucão no ombro.

 - Só que quem está de castigo é você, não eu. E quem vai dirigir?

 - Hum... Boa... - trocamos um sorriso cúmplice.

 - Para onde, senhorita? - Vovó brincou, quando estávamos já longe de casa.

 É obvio que Renée não me deixava sair àquela hora, mas com vovó eu sempre quebrava as regras. Nós montamos um plano A e um B. O plano A no começo deu certo. Desligamos a TV, subimos a escada comentando que estávamos com sono e nos despedimos, cada uma indo para seu quarto. Assim, eu troquei de roupa o mais rápido e o mais silenciosa que podia, vestindo a calça jeans preta da Alice e a camiseta do AC/DC que Edward me deu. Prendi meu cabelo numa trança mal feita, passei apenas um lápis preto e uma sombra cinza escuro - que vovó mandou. Então, na ponta dos pés - com o All Star nas mãos - eu desci as escadas e encontrei vovó na garagem, ao lado do meu Mini. Ela estava vestida com uma calça de couro, uma blusa branca com o símbolo da paz e estava com os famosos coturnos. Mas vovó não foi tão silenciosa ao sair com o carro da garagem, e como se Renée esperasse que algo acontecesse, ela saiu na varanda do seu quarto e deu de cara com nós.

 - Isabella! - chamou.

 - Acelera, vovó! Acelera! - mandei, rindo.

 Então, isso deu inicio ao plano B, que era apenas correr. Ouvi ainda uns gritos da Renée, mas estava rindo demais

 - Para... - peguei meu celular do bolso e apertei a discagem rápida. - A casa dos Cullens.

 - Pode deixar. - falou e acelerou.

 Chamou três vezes até Alice atender.

- Fala ai, amor da minha vida? - cantarolou.

 - Deixa dessa, nada de fofura. Coloque uma roupa legal que vovó Swan e eu estamos indo buscá-la.

- É pra já. - falou e desligou na minha cara.

 - Para onde nós vamos, vovó? - perguntei, olhando para o lado de fora.

 - Ainda estou pensando. Aqui não temos muitas opções que entre nos nossos padrões.

 - E quais são?

 - Bella, não seja ignorante! - brigou e eu arregalei os olhos, mas então ela riu. - Hoje, somos duas roqueiras. Sempre quis fazer isso com minha neta. - sorriu para mim e eu retribuí.

 - E eu sempre quis fazer isso com a minha vovó. - brinquei e rimos. - Ultimamente as coisas andam tão... Bagunçadas que eu já nem sei mais o que quero.

 - Como assim?

 - Eu finalmente fiz o que todos queriam que eu fizesse. Estou sendo eu mesma, não alguém que Renée quer. Roupas legais, menos estudos, e tudo isso. Estou curtindo. Mas... Eu fui tanto tempo um fantoche de Renée que eu... Sinto uma obrigação dentro de mim, entende? Algo falando: "Deixa disso, Isabella. Você tem que fazer o que ela mandar." - vovó riu. - Então fico confusa. Mas agora estou feliz, porque estou dentro do meu Mini. - passei a mão no carro. - Mamãe sentiu tanto a sua falta, meu bebê. Você sentiu minha falta também?

 Para usar como resposta, vovó apertou a buzina e nós rimos. Até a casa dos Cullens, nós fomos conversando bobagens, reclamando das estações de rádio e ainda discutindo sobre o filme. Eu ainda não acreditava que os filmes de antigamente eram melhores que os de agora. Não tinha lógica! Quero dizer, agora temos tecnologia para melhores efeitos especiais, então como os de antigamente eram melhores? Tudo bem que são muito sem graças, cheio de besteiras e exagerados, mas mesmo assim.

 - Chegamos. - vovó cantarolou.

 Eu pulei do carro e corri até a porta de entrada da casa, reparando que estava o Volvo na garagem e o Porshe. Mas também tinha outro carro ali, que não era o Corolla de Carlisle ou o Jipe do Emmett. Estes dois carros não estavam ali. Estranhando, eu continuei meu caminho até a porta, tocando a campainha. E como sempre, quem atendeu foi o Edward.

 - Veja quem está em melhores condições dessa vez. - falou, me olhando de cima a baixo.

 - Cala a boca, idiota. - resmunguei. - E então, cadê Alice?

 - Aqui! - a baixinha saiu de trás do Edward e saltitou até mim. - Vamos para onde? - perguntou.

 - Espera ai. - Edward a segurou pelo braço. - Você vai sair? Com a Bella?

 Ouvimos a buzina do meu Mini e quando olhamos, vovó estava com a cabeça par fora da janela.

 - E comigo! - gritou, me fazendo revirar os olhos.

 - Yeah, Edward. Alice vai sair comigo. - ouvi a buzina de novo. - e com a minha avó. - olhei para ela, que sorria.

 - Nada disso! - protestou.

 - O que?! - nós duas falamos juntas.

 - Isso mesmo. - ergueu o queixo, mas depois se abaixou até ficar com o rosto na nossa altura. - Alice, você não pode me deixar aqui, sozinho, com o Tio Aro. - sussurrou.

 - Ele está ai? - perguntei também em um sussurro, e os dois assentiram. Vovó Swan buzinou com impaciência. - Pois é, Edward, sinto muito, mas... Se divirta com seu tio!

 Puxei Alice pelo braço e a arrastei na direção do carro, só que ela parou. Ou melhor, Edward a parou.

 - Nada disso. Ela não vai. - falou.

 - Você não manda nela! - bati de frente com ele. - Alice é maior de idade, pode decidir por si só. Você é o irmão mais novo, não manda dela.

 - Bella... - Alice me puxou. - Para.

 - O que? - me virei para ela.

 - Viu? Alice sabe do que eu to falando. - Edward cruzou os braços.

 - Eu faço das palavras da Bella as minhas. - ele arregalou os olhos e dessa vez quem cruzou os braços fui eu. - Você não manda em mim!

 - Mas Alice... - ele murmurou. - Você sabe como é o Tio Aro...

 - Porque você não sai também? - perguntei.

 - Porque Carlisle o mandou ficar comigo e com Tio Aro. - Alice falou e ele assentiu, fazendo bico. - Olha, Edward, eu não vou falar para o papai, então porque você não sai?

 - Há essa hora não tenho para onde ir. Todos os meus amigos já saíram e eu não sei para onde.

 - Que chato. - ela puxou o ar com força.

 - HEY! Andem logo ai. - vovó falou, buzinando. - Vem logo ai bonitão e a baixinha.

 Arregalei os olhos quando vi o chamado da vovó.

 - É, parece que agora eu tenho para onde ir. - Edward murmurou e seguiu até a vovó, indo conversar com ela.

 Sem acreditar, nós duas seguimos para o carro. Teríamos que agüentar o Cullen agora. Vovó ser legal demais às vezes não era bom. Quando estávamos para entrar no carro, ouvimos outro chamado.

 - Ah não. - Alice e Edward falaram juntos, do banco de trás.

 - Aonde vocês vão? - Tio Aro se aproximou do carro.

 - Ainda não sabemos, cara. - vovó quem respondeu.

 - Como assim não sabem?! - ele arregalou os olhos. - Eu tenho um bom lugar para vocês irem.

 - Sério? Então entra ai. - ela mandou.

 - Só vou fechar a casa. - Tio Aro disse com um sorriso e correu de volta para casa.

 - Gostei dele. - vovó murmurou para si mesma, depois virou para nós. - O que foi?! - olhou para nossas caras de espanto. - Bella, passe pro banco de trás, vai.

 - É brincadeira. - murmurei, passando mesmo para o banco de trás, só que por dentro do carro.

 - Você que só pode estar de brincadeira. - Edward reclamou, quando me apoiei nele.

 - Dá pra tirar seu bumbum da minha cara? - vovó pediu, rindo, mas então me deu um tapa.

 - HEY! - arregalei os olhos.

 Quando me arrumei, ficando entre Alice e Edward, Tio Aro entrou no carro, com a roupa completamente mudada. Vovó deu ré e fez um cavalo-de-pau, nos assustando. Ela e Tio Aro riram cúmplices, como bons amigos. Não aprovei muito aquela aproximação rápida, mas fiquei quieta no meu canto.

 - Percebeu que todos nós estamos vestidos para a guerra? - Alice perguntou, quebrando o silencio do banco de trás, já que na frente à conversa corria a solta.

 - Como assim? - Edward desviou a atenção da janela e se virou para ela. - Que eu saiba, nós não estamos camuflados.

 - Não estou querendo dizer exatamente para  a guerra. Eu quero dizer que estamos vestidos para o momento. Couro, coturnos, e jaquetas.

 - Alice, nós não reparamos nas roupas como você. - revirei os olhos e Edward concordou.

 Mas é claro que ela tinha razão, pois Tio Aro estava com uma calça de couro - bem estranho -, suspensórios sobre uma camisa de botões e uma jaqueta também de couro. Agora eu tinha entendido o porquê de Vovó Swan ter gostado dele. Já Edward estava com uma calça jeans preta, uma camiseta branca, uma jaqueta de couro e All Star. Alice, como sempre, era a mais arrumada entre nós todos, com um salto preto, calça de couro, blusa com o desenho do símbolo do rock - aquele que se faz com a mão quando está em um show - e jaqueta jeans preta.

 - Para onde vamos? - perguntei.

 - Em um lugar que vocês nunca imaginaram estar. - Tio Aro falou e vovó riu. - Mas o Hell com certeza imaginou e está.

 - NÓS VAMOS PARA UM RINGUE DE BOXY?! - Edward, Alice e eu berramos.

 - Isso mesmo! - vovó disse animada. - Vamos ver uns grandões levarem umas porradas.

 Era loucura, eu sei, mas também era divertido. Sair com Vovó Swan e Tio Aro não era para qualquer um, agora eu tinha certeza disso. Tinha quer são, ou mais, louco que eles dois. Nós três não éramos loucos, éramos apenas parentes deles dois.

Quando chegamos ao ringue - que ficava na parte mais afastada da cidade -, vovó parou o carro perto de vários outros, e seguimos para a entrada, que tinha uma fila enorme. Eram muitas pessoas com cabelos com cortes estranhos e cores variadas, com piercings, tatuagens, e roupas de couro. Estávamos perto do que poderia se chamar de paraíso dos roqueiros ou punks. Seguimos para a final da fila, mas Tio Aro foi para a entrada, e como era conhecido dali, conseguimos entrar na frente de todos. Lá dentro, nós seguimos pelo longo corredor que tinha muitas portas duplas. Viramos em outro e ali eram portas normais, só que com estrelas amarelas na frente que tinham nomes.

 - Destruidor... - Alice começou a ler em voz alta, enquanto passávamos pelas portas. - Cabeça de martelo... Dente de aço... Meu Deus, de onde saíram isso?

 - Apelidos carinhosos. - Tio Aro murmurou, sorrindo. - E ai, Punho de Thor! - cumprimentou um cara grandão que passou por nós.

 - É o que?! -  perguntei num fio de voz.

 - Esse é o apelido dele. Porque o punho... Bem, parece mais o martelo de Thor. - Tio Aro deu de ombros.

 A cada cara grandão que passava por nós, Tio Aro os cumprimentava, falando seus apelidos estranhos. Nós paramos em uma porta preta, que tinha a estrela, e nela estava nada mais nada menos escrito que "Hell"

 - Esse é... Esse é... - eu gaguejei.

 - Isso mesmo. Esse é o camarim do Hell. - Tio Aro falou.

 - Eu não acredito! – Alice, Edward e eu falamos juntos.

 - Mas não vamos entrar, porque ele precisa se concentrar. Sabe como é, juiz tem que ter calma e passar a calma.

 Continuamos nosso caminho até entrar em uma porta dupla, dando de cara com o ringue. Seguimos pelo pequeno corredor e logo subimos uma escada da arquibancada, ficando lá em cima. Era como nos filmes ou jogos. O ringue no meio, com a arquibancada se abrindo para cima. Ficamos bem aonde iria passar os lutadores, como um camarote. Ter Tio Aro ali era de grande ajuda. Um cara passou por nós vendendo cachorro quente, e vovó comprou muitos, pois ela, Tio Aro, Edward e eu comíamos muito. Mas muito mesmo. Depois passou um homem vendendo pipoca e outro refrigerante. Era como em um jogo de beisebol. As luzes se apagaram, e as únicas que ficaram acesas foram as do ringue.

 - E ai, galera! - um cara falou, do ringue. Ele usava roupas de couro, e tinha o cabelo azul. - Novamente estamos aqui para mais uma grande luta! - as pessoas gritaram, assim como vovó e Tio Aro. - Lá atrás as coisas já estavam quentes, não é, Mell? - piscou para uma garota perto de nós, que corou. - Mas não só para mim, como para nossos lutadores. Eles tiveram um... Desentendimento. E então... O Rei da Selva e o Punho de Thor vão abrir o grande show de hoje! - as pessoas novamente gritaram, até assobiaram. - Entrem, meus poderosos!

 Uma música de selva começou a tocar dos autos-falantes, e do nosso lado, começou a subir uma fumaça. Eu fiquei procurando no fim do corredor escuro algo, e logo vi a silhueta grande do, pelo que a música indicava, Rei da Selva. Ele começou a andar, e a música acompanhou seu ritmo. Quando ele apareceu por entre a fumaça, eu não me agüentei, caindo na gargalhada igual a Edward. O cara estava com uma... Tanguinha ou sei lá o que, de oncinha, como o verdadeiro Rei da Selva. O cara entrou no ringue e se amostrou, subindo em uma pilastra e batendo as mãos no peito, rugindo junto com a música.

 - E ai, cara, como anda os macacos? - o apresentador perguntou para ele, que rosnou. Todos riram. - Agora, venha cá, punho... Punho... Punho de Thor!

 A música mudou drasticamente, indo para o toque do filme de Thor, além do barulho de batidas de martelo. Agora eram fogos que lançavam ao nosso lado. O outro cara apareceu, com a mesma roupa do filme só que modificada para facilitar na luta, e também tinha o mesmo cabelo loiro. Ele foi para o ringue, batendo o punho nas pilastras, como um martelo. Eu imaginei o Cabeça de Martelo entrando, e lógico que me veio a mente dele batendo a cabeça nas pilastras.

 - Trabalhando em muitas construções, Punho de Thor? - o carinha do cabelo azul perguntou para ele, fazendo gracinha com piadinhas. Thor bateu o punho direito na palma da mão esquerda, fazendo o carinha se afastar. - Pois é, galera, hoje esses dois tão que tão. Mas antes de iniciar a luta, vamos chamar a nossa estrela principal, que é quente como o inferno. Venha cá, Hell!

 Alice, Edward e eu trocamos olhares, caindo na gargalhada com o "Quente como o inferno".  Tudo ficou em silêncio, então bem baixinho começou uns gritos, que foram aumentando e depois veio uma risada maligna. Ok, nós estávamos no inferno. Do nosso lado, começou a subir uma fumaça vermelha e soltar bem pouquinhos uns fogos, e então Hell apareceu, do jeito que eu imaginei: Roupa listrada preta e branca, gravata borboleta e para melhorar tudo, com o pouco cabelo de lado. Eu voltei a rir, sabendo que aquele dia ficaria marcado em minha mente até acabar os meus anos na escola.

 Depois da entrada triunfal do Hell, o carinha do cabelo azul saiu do ringue, deixando lá os dois lutadores e o juiz. Hell conversou com os dois, que se cumprimentaram e então começaram a luta. Eu não entendia muito aquilo, só sei que eles se socavam, meio que se abraçavam, e se derrubavam. O Rei da Selva pulou os elásticos do ringue e entrou onde ficava uma mesa e umas cadeiras. Ele pegou uma dessas e subiu no ringue novamente, tacando nas costas do Punho de Thor.

 - Uhhhh. - fiz, empurrando a cabeça para trás.

 Novamente eles voltaram a se agarrar ali, e quando as coisas ficaram tensas, com o Punho de Thor socando a mais do que deveria a cara do Rei da Selva, Hell teve que se interpor e nisso acabou ganhando um soco na cara. Alice, Edward e nos levantamos, olhando para o Hell, que tinha a mão no nariz.

 - Esse é o terceiro essa semana. - Tio Aro falou, rindo.

 Agora eu entendia o porquê da voz estranha. Nos sentamos novamente, para assistir o final da luta, com o Punho de Thor saindo como vencedor.

 - Nunca vou me esquecer disso. - Alice falou, rindo.

 - Também não. - concordei.

 Eram mais de uma hora da manhã e nós estávamos em um bar perto do ringue de boxe. Vovó tomava um Chop e Tio Aro tomava leite quente. Isso mesmo, leite quente. Enquanto Edward, Alice e eu tomávamos Coca-Cola e comíamos hambúrgueres.

 - Mas e então, amiga da Alice, você decidiu mudar? - Tio Aro me cutucou com o cotovelo e sorriu.

 Edward começou a gargalhar, junto da Alice e da Vovó Swan. Estava me segurando para não fazer o mesmo, mas era impossível.

 - Er... Tio Aro, você está com... Um bigode de leite. - falei, rindo.

 - Ah. - fez, lambendo o leite dos lábios. - Você ainda não respondeu.

 - Hum. - puxei o ar pela boca, com os dentes a mostra. - Bem... Yep. Eu decidi mudar.

 - Legal... Legal... Mas porque essa mudança?

 - Porque eu não queria ficar louca. - brinquei. - Renée começou a ficar pior, então eu me revoltei.

 - Garota Revolts. - Alice sussurrou.

 - Não começa. - rosnei, fazendo-a rir. - Ela exigiu demais, e eu tive uns empurrõezinhos. - olhei de canto para Edward, que me encarava.

 - Frustração. - Vovó falou, olhando concentradamente para seu copo.

 - O que? - perguntei.

 - Renée só está... Frustrada. Bella, eu estou realmente orgulhosa de você, querida. Por ter finalmente saídos das "garras" da Renée, e ser o que você sempre quis. Mas... Não fique tão furiosa com ela.

 - Eu não estou. - falei.

 - Eu sei, querida. Você é boa o suficiente para agüentar o que ela fala e ainda não guardar rancor. Você é como ela.

 - Como assim? - ergui uma sobrancelha.

 - Renée nunca lhe falou sobre o pai dela. - neguei com a cabeça. Agora todos prestavam atenção em nós. - Bem... Eu vou lhe contar então como foi à adolescência de sua mãe.

 Eu me ajeitei na cadeira, me sentindo ansiosa para saber como Renée era na adolescência. Como falei, ela nunca me contou e eu só lembro um pouco porque quando ouvi, era pequena. Até Alice se ajeitou na cadeira, porque ela também queria saber a história da Renée. O porquê de tanta frieza, manipulação e dureza.

 - Eu adoro ouvir essas histórias. - Tio Aro falou se aproximando mais ainda da vovó e tomando um gole do seu leite.

 - Eu conheço o seu avô materno desde que era uma garota. Nós crescemos juntos naquele bairro rico de Washington. Brincamos juntos, estudamos no mesmo colégio, e praticamente crescemos juntos. E desde... Sempre ele fez o tipo responsável e com metas. O durão para tudo. Quando chegou o tempo de irmos para faculdade, cada um seguiu para o seu lado, e eu não sei exatamente o que aconteceu nesse tempo da vida dele, porque ele foi para Columbus e eu fiquei mesmo em Washington. Sei que depois de sete anos, ele voltou. Casado e com uma filha.

 - Renée. - falei e ela assentiu.

 - Era um bebê na época, tinha poucos meses. Nisso, eu também já havia me casado e tido... Charlie. - ela sorriu, entrando nas lembranças. - John, depois que voltou, estava diferente, mais... Durão ainda, se é que era possível. Eu nem sei como sua avó materna agüentava ele, só sei que agüentava. Cheio de regras, mandão, todo perfeito e chato. - rimos. - Os anos foram passando e Renée foi crescendo. Uma linda garotinha de pele pálida, olhos azuis, cabelos ruivinhos e sardas. Adorava vê-la brincando com Charlie, pois era uma boa garota. Sua infância foi boa e alegre, como qualquer uma deveria ser. Só que quando começou entrar na adolescência, as coisas foram mudando drasticamente. Não se via mais Renée na rua, era de vez em quando. Às vezes Charlie até me perguntava dela, mas nem eu mesma sabia responder. Cada vez se via mais pouco Renée, e enquanto todos ali - perto da idade que Charlie e Renée - começavam a aproveitar sua adolescência, ela ficava em casa estudando.

 - Acho que já vi essa história. - murmurei e Vovó assentiu.

 Claro que eu não estava falando de ter ouvido, mas por viver ela.

 - Foram anos assim, vendo ela muito pouco. Charlie só a via mesmo na escola, eram aonde eles ainda tinham a amizade. Dezessete foi à idade da mudança dela. Uma tarde eu fui à casa de John, e lá encontrei Renée trancada no escritório, sozinha. Ela chamava pela mãe, que não estava. Quando fui abrir a porta, John me parou e falou que ela estava ali para aprender, e só iria sair quando tivesse aprendido. Achei um absurdo aquilo, mas não pude fazer nada. Uns dias depois Renée apareceu lá em casa, sentou e ficamos horas conversando. Então, ela levantou nervosa e falou que precisava ir para casa, pois tinha passado da hora dela estudar com John. Novamente achei um absurdo aquilo.

 - Que cara mais chato. - Tio Aro falou com uma careta. - Como pode fazer isso com uma garotinha? - Edward, Alice e eu assentimos, concordando.

 - De vez em quando isso se repetia, ela ia lá, nos conversávamos, cozinhávamos ou então ela ficava com Charlie. Eram muito amigos, e dava para ver de longe o carinho - que já passava de carinho - que tinham um pelo outro. Foi ai que começaram a namorar, mas escondidos. Só eu sabia, porque eles ficavam em casa. Muitas das vezes, quando os dois estavam no quarto de Charlie, eu os ouvia conversar, e Charlie encorajar Renée a ir contra o pai dela. Algumas vezes eu a ouvia chorar e Charlie falar furioso com ela. Mas quando perguntava, os dois nunca respondia. Ouvia algo como "Isso não pode continuar assim!" ou "Você tem que tomar uma atitude!". Eu só fui descobrir meses depois, quando aconteceu algo e John descobriu o namoro dos dois. Não foi muito agradável... - negou com a cabeça. - Eu não sei como aconteceu ou quando, mas Charlie e Renée me chegaram com a notícia de que eu seria avó. - sorriu para mim e eu não soube o que fazer, estava interessada demais na história. - Renée estava apavorada para contar ao pai, ela não sabia o que ele iria fazer. Ela... Até pensou em aborto. - fechei os olhos, não acreditando naquilo. - Mas eu e Charlie não deixamos. Eu falei que ele não iria fazer nada, mas... Então Renée contou que se John batia nela quando ela não fazia o que ele mandava, imagine quando contasse que estava grávida.

 - Ele... Ele batia nela? - engasguei.

 - Sim. - assentiu. - John não era a pessoa mais agradável que existia. Só que não tinha como esconder a gravidez dele, então eu a encorajei e com Charlie e ela, fui contar. John... Primeiro não acreditou, e a mãe de Renée... Bem, ela começou a chorar. Ela já previa. Quando insistimos para ele acreditar, John gritou com Renée e tentou bater nela, mas Charlie e eu o impedimos. Então, ele a expulsou de casa, pois falou que não tinha criado uma filha para ela virar uma vadia e engravidar do primeiro cara que conhecesse.

 Vadia. Era por isso que ela me chamou daquilo. Agora, tudo fazia sentido, o jeito de Renée, as palavras dela. Tudo. Quando eu vesti aquelas roupas, o jeito que ela ficou. E Charlie... Era por isso que ele...

 - Renée nos contou também que tentou ir contra o pai, mas que depois de muitos hematomas, desistiu. Renée morou comigo e com Charlie até ter você, então ela e ele começaram a trabalhar. Renée fez a faculdade em casa, pois tinha que cuidar de você, mesmo que eu insistisse que ela poderia fazer faculdade em Washington e eu ficaria te olhando. Charlie já fez a faculdade lá, para poder dar um bom futuro a vocês duas. O resto você sabe. Ele virou um bom advogado, assim como ela uma jornalista. Conseguiram bons trabalhos, e hoje estão como estão. - Vovó pegou minha mão. - Bella, querida, eu sei que é difícil, mas tente entender o lado dela. Charlie me contou o que aconteceu naquele dia, e sei como deve ter sido para você, até ela mesma sabe, porque passou por isso. Renée não teve uma adolescência fácil, e se ela é assim, é por que...

 - Ela não quer que eu cometa o mesmo erro. - completei por ela. - Acho que preciso... Respirar.

 Eu praticamente saí correndo do bar, quando estava do lado de fora, não sabia o que fazer.

 Como eu podia ter pensado aquelas coisas de Renée?! Como?! Droga, ela tinha sido expulsa de casa por minha causa e eu ainda fazia aquilo com ela?! Meu deus, eu era horrível! Só porque ela queria que eu tivesse um bom futuro e pedia para eu estudar mais, e quando eu não fazia ganhava um livro para ler, eu achava que era o fim do mundo. E ela? Que apanhava quando não fazia? Ou ficava trancada no escritório? Eu era idiota. Renée nunca tinha encostado um dedo em mim ou levantado a mão para me bater. Ela podia dar seus gritos ou qualquer coisa, mas nunca partiu para a violência.

 Sentei na calçada e enfiei minhas mãos nos cabelos, sentindo as lágrimas começarem a sair.

 Eu sabia que Renée não podia fazer o que fazia, mas ela só não queria que eu fizesse o mesmo erro que ela. Ela só queria me prevenir das coisas. E eu, idiota como era, jogava na cara dela que a odiava. Mas... Eu não a odiava! Só estava nervosa. Deus, como ela deve ter se sentido quando eu falei aquilo? Ela quase apanha por minha causa, é expulsa de casa e eu ainda falo que a odeio? Depois de ela ter passado o que passou?

 Eu sentia o peso da culpa cair nos meus ombros, mesmo que tudo aquilo que Vovó contou não era para chegar nisso. Eu era uma péssima filha.

 Isso me fez chorar ainda mais e logo o choro silencioso passou para soluços altos. Senti alguém sentar do meu lado e só pelo calor e perfume eu sabia quem era. Edward passou um braço pelo meu ombro e me envolveu em um abraço, encostando minha cabeça em seu peito. Eu desabei, não me importando de com quem estava ou com que cara ficaria depois. Eu só queria ter alguém naquele momento.

 - Como eu pude, Edward? - perguntei, quando tinha me acalmado mais. - Como eu pude dizer aquilo para ela?

 - Você só estava nervosa, Bells. - ele falou, ao mesmo tempo em que passava a mão no meu cabelo. - E você não sabia.

 - Mas... - me afastei dele. - Eu fui horrível... Ela foi expulsa... Por minha causa...

 - Sua avó não lhe contou isso para lhe culpar. - me repreendeu, pegando meu rosto nas mãos dele e enxugando minhas lágrimas com o dedão. - Bella, agora você sabe por que Renée é assim, vai ser mais fácil de conviver com ela. Você a entende, e sabe que o que ela passou.

 Assenti, fechando os olhos.

 - Ugh... Mas eu sou tão horrível. - gemi e ele riu.

 - Você não é horrível, branquela. - me deu um beijo na testa e me puxou para outro abraço.

 Depois do meu momento deprimente, nós voltamos para dentro do bar. Tio Aro e Vovó conversavam, fingindo que quando chegamos, era como se apenas tivéssemos saído para buscar outra bebida ou ir ao banheiro. Já Alice não quis participar disso, me encarando com uma curiosidade quase estampada na testa, mas não falou nada.

 Esperamos Tio Aro terminar o leite quente dele e então fomos embora. Deixamos primeiros os Cullens em casa, depois fomos para a minha, encarar a fera que Renée Swan estaria.

 Quando Vovó estacionou o carro na garagem, o mais estranho foi que Renée não apareceu furiosa. Ainda apreensivas, entramos, e achando que ela estaria na sala ou no corredor, nós quebramos a cara, pois também não estava. Estranho, claro.

 - Você está bem? - Vovó perguntou em um sussurro, quando paramos na frente do meu quarto.

 - Estou. - assenti, sorrindo. - Foi uma noite muito legal, vovó. Obrigada. - a abracei e ela retribuiu.

 Vovó entrou no quarto de hóspedes, eu entrei no meu, encostando-se à porta. Suspirei e escorreguei por ela, sentando no chão e pensando mais uma vez no que vovó tinha nos contado.

(...)


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Notas finais do capítulo

Oi lindas. Eu estava ansiosa pra postar esse capítulo porque queria dar mais um pouco do Edward fofo e também por causa da história da Renée. E então, o que acharam? Acham que isso justifica um "pouquinho" as atitudes dela? Pra mim é só um pouco.
E o final? O que acharam? *----*
Espero que tenham gostado.

Beijos :*