Revista Nerd escrita por SumLee


Capítulo 21
Um passo dado




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20. Um passo dado

 Segunda feira. Um dia chato depois de outro dia chato, que é domingo. Mas segunda tem um lado bom - pelo menos uma vez por mês tem - que é o dia em que publicam mais uma edição do jornal. E como em todas essas segundas, eu ficava eufórica. Só, que dessa vez, eu estava era mesmo nervosa. Muito nervosa pra falar a verdade. Minhas mãos suavam e minhas pernas tremiam. Além de que daqui a pouco eu poderia ficar sem o lábio inferior.

 - Não amarela agora, Isabella. - murmurei para mim mesma, e dei uma última olhada no espelho que tinha ao lado da escada.

 Eu estava vestida com as roupas da Alice - que na verdade eram minhas. Eu tirei os óculos, pois eu conseguia enxergar sem eles. Isso fez eu parecer diferente. Não era eu ali, só que ao mesmo tempo era.Tinha que ser! Eu tentava me convencer disso, pois era uma nova imagem para meus olhos. Nem quando eu era uma criança eu me vestia daquela forma, era sempre roupinhas femininas como vestidinhos cheios de lacinhos. Só aquela época, cheia de inocência, que eu podia fazer o que queria.

 Passei a mão no cabelo - que estava preso em cima - e nas roupas, fazendo a mesma coisa que já tinha feito antes muitas vezes. Respirei fundo vinte vezes para tomar coragem e caminhei na direção da cozinha.

 - Eu não vou conseguir. - choraminguei, voltando para as escadas. - Não! - parei e fechei os olhos. - Eu vou entrar naquela cozinha e mostrar para Renée o que eu quero realmente para mim.

 Já tinha perdido as contas de quantas vezes fui e voltei, com medo da pessoa que estava na cozinha. Eu sabia que Charlie estava lá - ouvia a voz dele conversando com ela -, mas meu medo era maior. E tudo bem, eu também sei que devemos superar nossos medos, só que Renée era uma pessoa um tanto...

 - Cadê a Isabella? - ouvi Renée perguntar. - Está atrasada novamente?

 Era a minha deixa. Eu tinha que entrar lá, não podia correr como uma criança com medo do bicho papão. Yeah, eu acho que Renée pode ser considerada para mim como um bicho papão.

 Deixei de idiotice e entrei na cozinha, agindo naturalmente.

 - Estou aqui. - falei, colocando minha mochila no chão, com a jaqueta em cima, e fui me sentar na cadeira.

 O silêncio foi incomodo, mas eu não me deixei levar por ele. Os dois estavam estáticos, sem saber realmente o que fazer. Até Mary, que estava trazendo um prato com panquecas, tinha paralisado. Eu não abaixei minha cabeça, apenas agi naturalmente, enchendo um copo com suco e bebendo-o todo de uma vez, por causa do nervosismo.

 - O... Que... Aconteceu? - Renée perguntou lentamente, quase espumando pela boca.

 Charlie soltou um assobio divertido e sorriu para mim, piscando um olho. Eu sorri também, me sentindo bem com aquilo.

 - Está linda, Bella. - murmurou.

 - Obrigado, papai. - falei.

 - Não. Ela não está linda. Isabella, suba agora para o seu quarto e vá trocar essa fantasia!

 Olhou para as minhas roupas como se elas fossem uma aberração. Eu não me deixei levar pelos seus olhos raivosos.

 - Não. - falei.

 - O... Que? - me encarou perplexa.

 - Eu disse que não. Que não vou trocar de roupa. - dei ênfase à palavra. - Estou bem assim, então é dessa forma que vou ficar.

 - Isabella, pare de brincadeira e vá se trocar agora! - ela levantou da cadeira e me pegou pelo braço.

 - Me solta! - tentei me soltar. - Eu não vou trocar de roupa! Me solta, Renée!

 - VOCÊ VAI TROCAR DE ROUPA SIM! - me sacudiu e continuou me puxando. 

 - EU NÃO VOU! ME SOLTA! ME SOLTA! - agarrei sua mão com as unhas. - VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO.

 - Já chega! - Charlie levantou da cadeira e veio até nós. - Renée, solte-a agora! Você está machucando ela! - ele me puxou.

 Eu tentei, de todas as formas, me segurar, mas foi impossível não deixar as lágrimas saírem. Porque, apesar de tudo, Renée era a minha mãe, e ficar com raiva dela me deixava triste. Vê em seus olhos decepção me fazia me sentir mal comigo mesma.

 Renée me empurrou com força, e me encarou com muita raiva, seus olhos vermelhos. Eu toquei meu braço onde estavam as marcas vermelhas de seus dedos, e solucei.

 - Charlie, olhe para ela! OLHE COMO ELA ESTÁ VESTIDA! - apontou para as minhas roupas. - Parece uma... Uma...

 - UMA O QUE, RENÉE? EU PAREÇO UMA O QUE?! - me exaltei. - Porque eu não posso me vestir assim? São roupas, não são?! O que tem de errado?

 - ISSO NÃO SÃO ROUPAS DE UMA MENINA DIREITA!

 - EU NÃO QUERO SER UMA MENINA DIREITA SE ISSO SIGNIFICA USAR AQUELAS ROUPAS! EU AS ODEIO COMO ODEIO TUDO QUE VOCÊ ME FAZ!

 - Bella... - Charlie tocou meu ombro.

 - NÃO, CHARLIE! - empurrei a mão dele. - EU CANSEI, OK? CANSEI DE SER UMA IDIOTA!

 Me doía aquilo, jogar tudo assim na cara de Renée, mas eu sabia que era preciso. Eu não conseguia conter as lágrimas, e olhar nos olhos de Renée ainda me deixava muito pior.

 - Ótimo, agora aprender é ser idiota. - ela disse com ironia.

 - Não! Não é. Mas ser obrigada a fazer isso que é ser idiota. Ser controlada de forma absurda me faz parecer uma idiota. EU CANSEI DISSO!

 - Quer dizer que você quer ser uma burra sem futuro?

 - Ser for para eu ser feliz... Sim! Eu prefiro ser uma burra sem futuro.

 Renée arregalou os olhos, assim como Charlie. Eu vi tristeza nos olhos do meu pai, mas nos de Renée eu não consegui ver nada. Eram como os olhos de Edward quando eu disse aquelas coisas no estacionamento, simplesmente indecifráveis.

 Eu sequei as lágrimas, e dei as costas para eles, voltando na direção da cozinha, só que fui surpreendida quando Renée me pegou novamente pelo braço e me puxou na direção da escada.

 - Enquanto você, Isabella, estiver sob meu teto e ser minha filha, vai fazer o que eu mandar! - ela falava, me puxando escada acima. - Agora entendi o que era aquelas sacolas... - murmurou para si mesma.

 - Não mais, Renée. - tentei me soltar novamente. - Não vou mais!

 - Ah, Isabella, você vai sim! - ela riu.

 Olhei para Renée, que parecia descontrolada. Seus olhos vermelhos, e o riso... Ela só podia estar ficando louca. Virei meu rosto para Charlie, que estava estático lá, na sala, com os olhos arregalados. Acho que ele nunca tinha visto Renée daquela forma, pois era clara a sua surpresa.

 Eu tentava me soltar, só que Renée prendia meu braço com força. Suas unhas grandes estavam apertando minha carne, e começava a doer de verdade aquilo. Entrei em desespero, por ver que eu realmente não conseguia ir contra Renée, mesmo eu tendo tentado, eu não estava conseguindo. Não importava minha vontade, Renée sempre venceria uma guerra que eu proclamasse entre nós duas.

 Eu abaixei a cabeça e chorei em silêncio, me deixando ser puxada por Renée.

 - Solte a Bella, Renée! - Charlie falou com sua voz grossa, fazendo-nos parar no meio da escada. - Estou mandando.

 - Charlie, onde você está com a cabeça? Olhe para as roupas dessa garota. Olhe como ela está vestida!

 - Renée, ela é sua filha, não uma garota. E eu já mandei solta-la.

 - Por isso mesmo que não vou deixá-la sair assim! Com essas roupas que marcam tudo. O que ela vai ganhar com isso? Se Isabella pode se vestir assim, imagine o que ela pode fazer se um garoto der em cima dela?

 - Com certeza não será o mesmo erro que você. - falei em tom desafiador.

 - Isabella, fique quieta. - Charlie mandou.

 Renée me olhou de olhos arregalados, e então me soltou empurrando meu braço. Eu desci as escadas correndo, parando ao lado de Charlie. Sei que parecia uma criança procurando alguém que a protegesse, mas com Charlie eu conseguiria ganhar. Sozinha não, mas com ele... Até talvez.

 - Você viu? - ela falou com a voz fria demais. - Olhe como ela já está agindo!

 - Como uma verdadeira adolescente deve agir. Renée, entenda, Isabella tem dezessete anos, e quer ser como os colegas dela.

 - Eles são burros! E eu quero que ela tenha um futuro.

 - Sim, querida. - Charlie subiu as escadas até ela. - Só que você pede demais da Bella, e uma hora ela pode mesmo cansar. Deixa-a usar as roupas que quiser.

 - Charlie, não podemos deixar ela fazer o que quer. Logo ela pode aparecer aqui drogada ou até mesmo grávida!

 Deixei meu queixo cair. Como Renée podia pensar isso de mim?! Eu era esperta o suficiente para saber aonde atos errados levavam, e também era esperta para não cometê-los.

 - Eu não sou assim! - falei. - Renée, eu não faria isso. Não é porque eu estou vestida assim que vou acabar dormindo com um garoto! Festas, roupas legais, amigos. Isso é vida, é aproveitar. Não ficar em casa trancada em um escritório ou no quarto lendo um livro. Se você acha que isso é vida, então porque você não faz!

 - Minha vida já está feita, Isabella. Eu tenho casa, trabalho e marido. E se faço isso é porque quero lhe dar um bom futuro. Você é uma má agradecida! Uma ingrata!

 Como eu podia ser uma má agradecida? Eu fazia tudo por ela e só porque escolhi mudar o estilo de roupa eu me tornei uma ingrata. Renée era cruel, eu percebia isso.

 - VOCÊ É UMA HIPÓCRITA! - apontei o dedo para ela.

 - O QUE?!

 - Isabella, para! - Charlie mandou.

 - NÓS DUAS SABEMOS QUE VOCÊ NÃO FAZ ISSO PARA MEU FUTURO! NUNCA FOI! VOCÊ FAZ PARA MOSTRAR PARA AQUELAS SUAS AMIGUINHAS IDIOTAS QUE SUA FILHA É PERFEITA, INTELIGENTE E BLÁ BLÁ BLÁ. VOCÊ É HIPOCRITA E MENTIROSA!

 - Não coloque palavras na minha boca, sua garota insolente!

 - PARA VOCÊS DUAS! - Charlie gritou.

 - PREFIRO SER UMA GAROTA INSOLENTE A SER SEU FANTOCHE, RENÉE.

 - ISSO MESMO, SEJA BURRA. VAI LÁ E FAÇA DA SUA VIDA UMA PORCARIA. ESTREGUE TUDO QUE EU PREPAREI PARA VOCÊ. VIRE UMA VADIA BASTARDA E CURTA AS COISAS "LEGAIS".

 O silencio que se permaneceu na sala foi mais que incomodo. Charlie estava surpreso demais com a mulher dele para saber o que falar. Renée com raiva demais. E eu... Eu nem sabia como estava. Renée conseguia acabar com qualquer um apenas com simples palavras.

 - Eu não estou acabando com a minha vida. - murmurei, fechando os olhos e sentindo lágrimas saírem. - Eu só quero... Ser normal. Não pedi para você me ensinar, mas mesmo assim obrigada. Eu gosto, Renée. Gosto da forma que você se preocupa que eu tenha um futuro - mesmo que seja apenas para mostrar para suas amiguinhas -, só que... Isso cansa quando é muito. E você pede demais de mim. Quer coisas que eu já lhe dou. E se não sou perfeita para você, desculpa. Eu tentei ser, e vou continuar tentando. Só que agora eu vou fazer o que eu quero, vou me vestir como quero, e vou mostrar para você que eu posso ser perfeita mesmo parecendo uma vadia.

 Fui para a cozinha pegar minha mochila e as chaves do Mini.

 - Bella? - Charlie chamou. - Bella, volte aqui!

 - Isabella, você está sem carro por uma semana!

 Joguei a chave em cima do balcão e com a mochila em um ombro, fui em direção a porta.

 - Menina Swan... - Mary veio até mim. - Não fica assim, querida.

 - Eu estou bem. - murmurei. - Fala para Charlie que quando eu chegar, nós conversamos.

 Ela assentiu e me deu um beijo na testa. Saí de casa e peguei meu celular, apertando o três de discagem rápida. Caminhei na direção do colégio, enquanto ouvia chamar. No quarto toque Alice atendeu, cantarolando meu nome.

 - Oi. - falei.

 - Bella, o que houve?

 - Nada. Alice, você pode vir me buscar? É que eu... Meu carro quebrou. - menti.

 - Tem certeza que não é nada? Sua voz parece... Diferente.

 - Sim, tenho certeza. Então, você pode?

 - Claro, estou indo agora.

 Eu desliguei o aparelho para caso Charlie ou até mesmo a neurótica da Renée tentasse me ligar, e diminuir os passos, sabendo que Alice passaria logo por ali. Coloquei a jaqueta de couro e a touca na cabeça por causa da garoa chata.

 Eu sabia que não seria fácil, mas não imaginava que Renée chegaria a tanto para falar aquilo. Ela era louca. Eu me sentia horrível, e queria tirar aquela roupa, só que não daria esse gostinho para Renée. Não depois do que ela falou.

 Ouvi uma buzina e quando virei meu rosto para vê quem era me surpreendi com o Volvo. Ele parou do meu lado e dele saiu Alice, enquanto Edward abaixava o vidro do lado do motorista e me encarava com as sobrancelhas juntas.

 - Bella? - Alice veio até mim. - Garota, o que você tem?

 - Nada, All. - murmurei. - Er... Achei que você estava com... Seu carro. - olhei para Edward, que tinha uma expressão surpresa.

 - Carlisle o tirou de mim por uma semana. - bufou e revirou os olhos. - Mas você está... - olhou para as minhas roupas.

 - Vamos falar disso depois. - pedi, num gemido. - Eu acho que é melhor eu ir...

 - Nada disso! Edward não reclamou de vir até aqui, então vamos. - ela me pegou pelo braço, bem onde Renée tinha apertado. Doeu, mas não reclamei.

 Ele foi para o banco de trás e me obrigou a sentar no lugar do passageiro. Eu cruzei os braços, me sentindo desconfortável ali, principalmente sob o olhar de Edward. Encostei a cabeça no vidro, vendo casas passar rapidamente. O silêncio ali era chato, mas ninguém ousou falar nada. Quando o Cullen parou o carro no estacionamento, eu agradeci e pulei para fora o mais rápido que podia.

 Eu não sabia se os olhares que todas as pessoas que estavam ali era por causa da forma que eu estava vestida ou por causa da carona que eu tinha pegado. Só sabia que eram muitos olhares surpresos e muitos burburinhos. Olhares de curiosidade... E um de raiva. Eu senti meu rosto esquentar de forma absurda, vendo todos - todos mesmo - me encarar. Queria poder sumir naquele momento, mas isso era uma tarefa difícil de acontecer.

 - Vamos? - Alice apareceu do meu lado e pegou minha mão.

 - Vamos. - assenti.

 Nós começamos a caminhar pelo estacionamento indo na direção do colégio. As pessoas nos seguiam com os olhos e cochichavam entre sim. No corredor, nós paramos nos nossos armários.

 - Hey, Alice! - Nessie apareceu. - Ué, cadê a Bella?

 - Eu to aqui, Renesmee. - falei, me virando. - Não sou tão magra assim.

 - AH MEU DEUS! - Nessie berrou, levando uma mão ao coração. - O que aconteceu aqui? O que eu perdi? Hã? CADÊ A BELLA? - ela me segurou pelos ombros e procurou algo atrás de mim.

 - Eu to aqui. - respondi lentamente. - Você não perdeu nada, ok? E só aconteceu que eu decidi mudar.

 - Você está... Está...

 - Uma gatinha, hein. - Emmett apareceu atrás de mim, passando um braço por cima do meu ombro. - Quase não acreditei quando me falaram que Isabella Swan está diferente. Tive que vir aqui para ver com meus próprios olhos. E, Bella, eles gostaram do que viram. - piscou um olho.

 - Ih, sai pra lá, coisa. - o empurrei. - Vai olhar para Rosalie, isso sim!

 - Eu só tenho olhos para minha Roselita, Bella. - ele disse falando o nome dela com sotaque espanhol. - Só estou dizendo que você está bem gatinha mesmo.

 - Ah... Obrigado. - olhei para os lados.

 - Concordo com o Emmett. - Jasper também apareceu ao lado da Alice, que sorriu para ele. - Bella, você está muito linda.

 - Er... - abaixei a cabeça, corando. - Obrigado de novo.

 - Ah, Bellinha, não fica assim. - Emmett falou e me fez levantar a cabeça. - Você está diferente, bonita, então mostre isso para todos desse colégio. Olhe, está vendo aquela garota? - apontou para uma garota de saia jeans, suéter rosa claro e com o cabelo enrolado. Ela usava óculos e aparelho, mas mesmo assim estava bonita. - Ela seguiu as dicas da All, então você, sendo amiga dela e bonita como é, deveria também. - ele sorriu para mim.

 - Isso é verdade. - Jasper concordou. - Eu não entendo porque você se "esconde", sendo que é bonita.

 Arregalei os olhos, sem saber o que falar. Eram muitos elogios para mim, que quase nunca recebia um. De vez em quando Charlie, ou Alice e Nessie me elogiavam, mas assim, como Emmett e Jasper estavam fazendo... Era novo para mim. Eu me sentia constrangida, mas ao mesmo tempo especial. A sensação que toda garota sentia quando recebia um elogio, claro, porque mesmo sendo dura e fria, eu ainda era uma garota como qualquer outra, isso estava escrito só de olharem para mim, porque eu sou uma garota dos pés a cabeça. Pelo menos foi isso que o médico disse para Renée.

 Eu não respondi a questão de Jasper sobre não entender o porque das roupas que eu usava, afinal, ninguém ali sabia que eu tinha uma mãe controladora e louca que era capaz de apertar meu braço para eu ter que fazer o que ela mandasse. Eu nunca esqueceria o papel patético que ela fez hoje.

 - Você sabe o que eu acho, minha Bella. - Nessie falou, passando um braço pelo meu ombro. - Para mim você sempre está linda. - nós trocamos um sorriso.

 - Ok, obrigado pelos elogios, e pela realidade, mas nós precisamos ir. - Alice falou, me pegando pelo braço e me puxando pelo corredor, porque o sino tinha tocado. Eu me deixei ser levada, sem reclamar. - Você está chamando a atenção. - Alice murmurou.

 - Yeah. - apenas mexi a boca, evitando olhar para as pessoas que me encaravam. - E não estou gostando.

 - Deixa de bobeira. - ela me deu um soquinho.

 Entramos na sala e sentamos em nosso lugar para esperar o professor chegar. Alice estava se olhando no espelho, enquanto eu estava escutando música e evitando pensar no que me ocorrera mais cedo. Renée não iria estragar meu dia. Não mesmo! Eu fechei os olhos, escutando uma música da P!nk, porque apesar de amar rock antigo, não deixava de ouvir as atualidades. E P!nk tem muitas músicas boas.

- "I stayed up again... Oh, I'm finding... That's not the way I want my story to end"*... HEY! - falei alto, quando vi que Alice tinha tirado o fone do meu ouvido. - Porque você fez isso?! - me indignei.

* "Eu fiquei acordada de novo... Oh, eu estou descobrindo... Que não é assim que eu quero que minha história termine..."

 - Muito a sua cara essa parte, mas posso lhe fazer uma pergunta?

 O professor entrou na sala naquele momento. Esperamos ele virar de costas para continuarmos conversando.

 - Manda. - sussurrei.

 - Você mudou de estilo, tudo legal, mas... Que eu me lembre, só te comprei essa roupa, então como vai ser amanhã?

 Eu olhei para frente, pensando na sua pergunta, porque Alice tinha razão. Eu estava hoje vestida assim porque ela comprou as roupas e eu guardei, mas foram apenas essas. O que eu faria amanhã? Se eu quisesse continuar com essa... Bem, não era uma maluquice, mas eu estava desafiando Renée, o que era... Ah, tanto faz! A única questão era: O que eu usaria amanhã? Minhas roupas não eram nem um pouco legais, e... Eu tenho uma camiseta que dá para usar. Isso! Eu tenho uma camiseta fantástica e nunca usei, essa era a hora certa para isso. Só que a camiseta não ia me cobrir toda, e essa era a única calça skinny, então não adiantava de nada...

 - Eu não sei. - sussurrei para ela.

 - Você não sabe, mas eu sei. - Alice riu. - Bella, você as vezes é tão lerda.

 Revirei os olhos, já sabendo daquele fato.

 - E o que você tem em mente? - perguntei.

 - Silencio Srta. Cullen e Srta. Swan. - o professor mandou e então não pudemos terminar nossa conversa.

 Eu passei as aulas até a hora do almoço morrendo de curiosidade para saber o que Alice tinha em mente. Ok, na verdade, eu até fazia idéia do que era, mas as vezes podia ser outra coisa. Porque, sendo Alice, ela sempre surpreendia.

 Quando o sino tocou, eu fui na direção do refeitório, andando apressadamente. Sentia muitos olhares na minha direção, mas evitava todos, sentindo meu rosto muito quente. Assim que rompi pelas portas do refeitório, muitas cabeças viraram na minha direção - como no dia que entrei com os jornais - e com muita vergonha, eu fui para a fila, parando atrás de uma garota que ficava na mesa dos populares. Ela olhou para mim e sorriu, eu retribui.

 - Eu adorei sua jaqueta. - falou, apontando para a roupa. - Ficou bem legal.

 - Ah... Hm... Obrigada. - agradeci.

 - Foi Alice quem lhe deu as dicas? - assenti. - Ah, é claro. Todos na nossa mesa sabem como Alice é.

 - Yeah. Ela é muito boa nisso.

 Nós andamos um pouco, com a garota de cabelos negros virada para mim. Sua pele era muito clara, e os cabelos escuros, dando contraste. Os olhos dela eram de uma tonalidade de verde claro, misturado com azul. Lembrava modelos fotogênicas, aquelas para comerciais.

 - Porque você e ela não se sentam conosco? - apontou para a mesa dos populares. - Com certeza todos iram adorar vocês duas lá.

 Olhei para a mesa, vendo algumas meninas sentadas em cima da mesa enquanto conversam com os garotos. Só que meus olhos pararam mesmo fora em Edward, que me encarava. Fiquei o encarando também, mas seus olhos, mesmo de longe, eram difíceis de passar muito tempo olhando, então eu virei para a menina novamente.

 - Eu não sei. - dei de ombros. - Vou falar com a Alice.

 - Claro. - ela sorriu, pegou algumas coisas e foi para a mesa onde estavam os populares.

 Eu peguei uma soda e uma maçã, sem muita fome. Fui para a mesa onde estava apenas Nessie, escrevendo algo em um caderninho pequeno. Coloquei minha bandeja na mesa e me sentei de frente para ela, espiando o que ela escrevia ao mesmo tempo em que abria minha soda.

 - Coisas que não posso sentir perto de Jacob? - li em voz alta, erguendo uma sobrancelha. - Eu já não resolvi isso?

 - Já. - ela sorriu para mim. - Mas tem uma coisa... Que você não pode resolver, Bella.

 Encarei-a, sem entender o que quis dizer. Nós duas nos encaramos por alguns segundos até cair à ficha.

 - Ah, sim. - assenti. - E no que essa lista vai lhe ajudar?

 - Se eu não sentir, sei que estou completamente livre dele. - deu de ombros e voltou a se concentrar na sua lista.

 Dei de ombros para a loucura de Renesmee e me concentrei na minha soda.

 - Oi meninas! - Alice se sentou ao meu lado, animada. - Como estão? - ela se esticou na mesa e olhou no caderno da Nessie. - Você está mesmo fazendo isso?

 - Estou. - Nessie falou, olhando para Alice. - Eu preciso disso.

 - Yep. E vai ajudar bastante.

 - O que? Você a mandou fazer isso? - me virei para a pixel. - Por quê?

 - Ah, Bella. Só quando você estiver preparada eu vou lhe contar. - ela bateu o dedo no meu nariz.

 - Deixa de besteira, garota. Vamos, fale o que é.

 - Não. - sorriu maldosa.

 - Mas Alice...

 - Já disse que não. Só quando você estiver apaixonada.

 Eu bufei e cruzei os braços.

 - Vocês duas são loucas. - Nessie falou, negando com a cabeça.

 - Claro, claro. - revirei os olhos. - Ah, Alice, temos um convite.

 - Convite? - ela parou de lamber o papel do seu iorgute. - Que convite?

 - Uma garota nos chamou para sentar nas mesas dos populares. - ela e Nessie arregalaram os olhos. - É uma branquinha, de cabelos negros e olhos claros.

 - A Amanda?! - Alice perguntou espantada e eu dei de ombros. Ela olhou para a mesa dos populares e sorriu. - Ela é um amor de pessoa, deve ser por isso.

 - Yeah. - assenti. - Mas agora me diz, o que você pretende fazer em relação as minhas roupas?

 - É óbvio que... Compras! - ela e Nessie comemoraram juntas e eu revirei os olhos.

 - Eu já sabia. - falei.

 A aula de Biologia foi como todas - depois que Edward e eu brigamos novamente - sempre eram. Sem nenhuma conversa além do necessário e olhe lá se for necessário. Enquanto eu seguia para o Ginásio, eu dei com Ylsa. Cumprimentei-a, e ela como no automático também me cumprimentou, foi como se não me reconhecesse. Estranhei, parando para encará-la. Ela continuou seu caminho, mas então parou de repente, olhando para trás de olhos arregalados. Ela voltou correndo e me segurou pelos ombros.

 - Bella?! - perguntou, confusa.

 - Eu mesma. - sorri tímida.

 - AH MEU DEUS! - berrou e me deu um abraço apertado, que me sufocou. - Eu não acredito! Não consigo acreditar. Você conseguiu. Está tão linda... - soluçou.

 - Você está... Chorando? - perguntei, com receio.

 - Não sabe o quanto estou feliz. - ela se afastou para me encarar. Seus olhos estavam marejados. - Você é uma garota de coragem, Bella. Você é confiante, e sabe exatamente o que quer. Tenho orgulho de você.

 - Er... Obrigada. - abaixei a cabeça, envergonhada.

 - Nada disso! Levante essa cabeça, pois agora você é uma garota de atitude. - me fez olhá-la. - Eu tenho muito orgulho de ser sua amiga, Bella. - ela me deu mais um abraço apertado.

 - Obrigada de novo, Ylsa. - murmurei. - Se não fosse por você, eu não teria feito isso.

 - Não foi nada. - sorriu. - E nós duas sabemos que não foi exatamente eu. - revirei os olhos e ela riu.

 No vestiário, eu troquei minha roupa, vestindo aqueles pedaços de pano para criança ao invés de para mim. Quando estava para sair, Tânia parou na minha frente e me empurrou novamente para dentro, com as suas seguidoras fechando a porta atrás dela. Jéssica, Kate e Irina sorriram maldosamente, junto de Tânia. Encarei-a de olhos arregalados, sem entender nada. Só uma coisa eu tinha em mente: "Eu vou apanhar e nem sei porque!"

 - Parece que alguém aqui decidiu mudar... - ela falou.

 - O que você quer? - fingi indiferença, pois não mostraria para ela que estava nervosa.

 - Nada. - deu de ombros. - Só queria ter uma conversinha com a nova Swan.

 - Mas a nova Swan não quer ter uma conversa com você. - falei e tentei passar por Tânia, só que as coleguinhas dela me puxaram de volta, me segurando ali.

 - O que você está pretendendo?  - perguntou, se aproximando.

 - Do que você está falando?

 - Ah, Isabella, você sabe do que eu estou falando.

 - É Bella. - revirei os olhos.

 - Não interessa. Eu quero saber é o que você quer querendo mudar assim?

 - O que? Não se pode mais mudar de roupa? Ah, Tânia, me poupe. - bufei. - Dá pra me soltar? - perguntei para a prima da Tânia, Irina.

 - Eu te conheço desde muito tempo, Isabella. E você sempre foi aquela esquisita com suas roupas sem graça. Agora, que está falando com o Edward, decidiu mudar? - ergueu uma sobrancelha.

 Eu não me agüentei. Aquilo foi demais para mim, então comecei a rir com suas palavras. Ela e suas três amiguinhas ficaram me encarando confusas, enquanto eu tinha meu ataque de risos. Porque, falar que eu mudei por causa do Cullen era demais. Tudo bem que uma parte foi, mas não como ela pensava...

 - Qual foi à graça? - Kate perguntou.

 - O que ela falou. - apontei para Tânia. - Eu não tenho nada com o Cullen, já lhe disse isso.

 - Mas eu sei que você não tem! O que ele iria querer com você? Nada. Só que isso não impede de você sentir algo por ele.

 - Que absurdo! - me fiz de indignada, revirando os olhos. - Fala sério, ele é um idiota.

 Jéssica, que me segurava, apertou meu braço com força, e eu fiz uma careta, porque aquele era o braço que Renée tinha apertado. Tânia arregalou os olhos para o que eu disse, mas depois recompôs a compostura.

 - Olha quem está falando de idiotice. Já se olhou no espelho, Isabella? Não adianta trocar as roupas, tirar os óculos e tentar ser legal, você sempre vai ser uma perdedora. Não é porque Amanda falou com você que agora você se tornou uma pessoa importante. E muito menos porque está no meio de Rosalie, Emmett, Jasper e Edward, participando de um jornal idiota que isso vai mudar você. Nada muda o que você é. Nem as suas roupas. Deveria era voltar a usá-las, ao invés de mentir sobre sua pessoa com uma jaqueta de couro.

 Jéssica e Irina me soltaram, indo para o lado de Tânia e Kate. As quatros me encaravam, esperando alguma reação, mas eu não tinha nenhuma. Estava sem palavras com o que Tânia tinha dito, e é claro que tudo era a mais pura verdade. Senti meus olhos arderem, mas me segurei, pois não era uma "perdedora" como ela tinha dito.

 - É verdade, Tânia. - falei, suspirando. - Não é porque eu troquei de roupa ou falei com Amanda que eu me tornei alguém importante nessa droga de colégio. Quer a verdade? Eu nem me importo com isso. Para mim não tem importância estar na mesa dos esportistas, dos populares ou até na dos nerds, porque todos ali são iguais. A única coisa que muda é que alguns são mais inteligentes, outros mais bonitos. Tanto faz. E também não me importo com esse seu ciúmes bobo com Edward e com Amanda - porque se você tocou no nome dela, têm ciúmes -, eu não me importo realmente. E nada do que você falou aqui, vai me fazer voltar a usar as outras roupas ou a abaixar minha cabeça para você e as suas amigas. - eu passei por elas, indo na direção da porta. - Para mim, vocês fazem apenas parte de mais uma mesa com uma parte de idiotas. A outra parte não é tanto, porque Jasper, Amanda, e várias outras pessoas ali não são tão idiotas.

 Deixei as quatros para trás e segui para o Ginásio, onde o treinador estava gritando. Sabia que ele estava num mau-humor danado, então saí pelas portas do ginásio e fui para o campo de futebol-americano, me sentando na arquibancada. Não estava ventando muito, mas mesmo assim bagunçou meu cabelo preso em cima. Eu puxei minhas pernas para cima e a abracei, encostando minha cabeça no joelho e olhando para o campo vazio.

 Tecnicamente, aquele era um dos lugares onde tudo começou. Digo, o jornal. Porque foi ali que eu negociei com Edward sobre ele ser o fotógrafo do jornal. Então, um pouco das mudanças que aconteceram na minha vida, também começaram ali. Com a pessoa que mudou uma parte dela. Eu só não queria que Edward mudasse mais alguma coisa, pois ver a cara de Renée descontrolada, o jeito que ela quase me machucou para me fazer trocar de roupa, ou os seus xingamentos era apenas para se viver uma única vez, e pronto.

 Mas acho que eu não veria aquilo apenas uma vez, porque eu ainda teria que voltar para casa e encarar a fera mais uma vez. E admito, estava com medo. De ganhar vinte livros, ter que estudar mais, ou ficar sem meu iPod e meu Mini. Renée era imprevisível, e eu tinha medo do que ela poderia fazer comigo.

 Ouvi barulho de passos e quando me virei para o lado vi Edward vindo em minha direção. Olhei novamente para frente, não dando atenção para ele, que se sentava do meu lado. Pela minha visão periférica vi Edward se apoiar com o cotovelo nos joelhos e também olhar para frente. Posso dizer que ficamos minutos ali.

 - O que você quer? - decidi quebrar o silêncio.

 - Posso lhe fazer uma pergunta? - perguntou, sem nem me olhar.

 - Depende.

 - Depende do que?

 - Sobre o que é.

 - Sobre... Sobre a sua... Mudança.

 - Não. - neguei.

 - Eu só queria saber o porquê? - ele se virou para mim. - Foi pelo que eu disse naquele dia? Olha, Isabella, foi... Sem querer. Eu não queria dizer aquilo, mas você... Eu vi como você estava com Ylsa naquele dia... Na verdade, eu ouvi. - ele deu de ombros. - Você saiu furiosa da sala, eu fui atrás, só que então você encontrou Ylsa e...

 - Você ouviu tudo, como disse. - terminei por ele. - Não se preocupe, Edward, não foi por sua causa. Já disse que o que você fala não tem nenhum efeito sobre mim. - menti. - Aquilo que você falou foi apenas mais uma verdade que se acumulou com outras e pronto, eu decidi.

 - Mas Renée... Ela não falou nada? Porque ela é difícil...

 - Não. - minha voz saiu cortada. - Renée só...

 - Isabella... - Edward tentou tocar meu braço, mas eu me afastei. Seus olhos foram para lá, já que a blusa era de mangas curtas. - O que é isso?

 Seus dedos tocaram delicadamente as marcas escuras de onde Renée tinha apertado. Ele alisou com a ponta dos dedos tão suavemente que fez todos os pelos do meu braço arrepiar. Pelo menos era disso que eu estava tentando me convencer, ao invés de ser o contato da pele dele com a minha que causou aquilo. Ele circundou as marcas, passando de uma para a outra. Tinha os cinco dedos de Renée ali, para saber como ela tinha apertado. Tudo bem que eu sendo branquela não ajudava em nada, mas mesmo assim.

 Eu não falaria que quem fez aquilo foi Renée, claro. Mas também não poderia falar que foi Jéssica quando apertou com força, piorando ainda mais. Dessa vez, Edward não tinha nada haver com a loucura de Tânia. Porque, nós nem nos falando estávamos, ela que inventava coisas.

 - Não é nada. - menti, mas sem me afastar.

 - Isabella, foi Renée?

 - Não. Ela é manipuladora, mas não louca.

 - Então quem fez isso? - ergueu uma sobrancelha. - E não vem dizer que bateu porque dá pra ver que isso são marcas de dedos. - me cortou, quando abri a boca para falar aquilo mesmo.

 Sim, eu era burra o suficiente para dizer que tinha batido.

 - Isso não é do seu interesse. - fui grossa, para ver se ele parava com aquilo.

 Edward me encarou com as duas sobrancelhas erguidas e a boca aberta. Então, ele afastou a mão do meu braço e voltou a encarar o campo. Suspirei de alivio e raiva.

 - Tem razão, não é do meu interesse. - murmurou.

 - Olha Edward... - me virei para ele, abaixando minhas pernas. - Eu não queria ser grossa, só... Não quero falar sobre isso.

 - Vi Amanda falando com você hoje. - falou e eu sorri.

 Pelo menos Edward tinha um lado bom, sabia mudar de assunto rapidamente. Apoiei minhas mãos no banco e me inclinei um pouco para frente.

 - Yeah. - assenti. - Ela falou da jaqueta, que é legal.

 - É verdade. Uma jaqueta bem legal. - ele virou para mim, sorrindo. - Você ficou bonita naquelas roupas, Isabella.

 Arregalei os olhos e abaixei a cabeça, escondendo o rubro das bochechas. Sentia meu rosto e meu pescoço quente de vergonha, que era tanta que até o meu couro cabeludo pinicar. Emmett e Jasper também tinham me elogiado, e claro, fiquei constrangida, mas com Edward eu tinha realmente ficado com vergonha. Balancei a cabeça, rindo, e olhei para o campo.

 - Ok, valeu. - murmurei, ainda rido.

 Edward olhou para frente, sorrindo, depois voltou a me encarar. Eu também olhei para ele.

 - É legal quando você arregala os olhos. - falou e por reflexo eu arregalei os olhos.

 - Por quê?

 - Sei lá. - deu de ombros. - Só acho legal. Você está roxa. - mudou de assusto rápido.

 - Eu sei. - murmurei. - Não precisa lembrar-me do meu braço.

 - Do seu braço, da suas pernas, das suas mãos, de tudo.

 Olhei para minhas mãos, que estavam roxas nas pontas dos dedos. Aquilo me fez lembrar-se do dia que pedi para ele participar do jornal.

 - Ah, é o frio. - dei de ombros.

 - Também, com essas roupas. - ele falou, sorrindo.

 - Culpa do professor. - bati meu ombro no dele, e nós rimos.

 Depois disso Edward e eu fomos para o Ginásio. Quando entramos juntos, Tânia e suas amigas me fulminaram com os olhos, mas nem me importei, dando indiferença para tanta idiotice. Fui para o vestiário trocar de roupa e ele foi falar com elas, para as suas felicidades.

 - E então, o que você quer? - Alice perguntou, passando o braço pelo meu e me guiando na direção do Volvo.

 - Meu carro. - gemi. - Eu quero meu bebê.

 - Quanto tempo?

 - Uma semana.

 - Então vamos ter que dar as mãos e virmos andando. - brincou, mas eu não ri. - Ah, Bella, não fica assim. Aliás, o que aconteceu para você está naquele estado?

 - É melhor deixar isso para lá. - pedi, suplicante, e ela assentiu. - Então, que horas vamos as compras? - ergui uma sobrancelha.

 - Eu não acredito! - arregalou os olhos, rindo. - Bella Swan falando em compras.

 - Não enche! - revirei os olhos. - Vamos, que horas?

 - Agora, claro.

 - Alice, se você não percebeu, não temos um carro. - paramos em frente ao Volvo. - Esse daqui é do Edward, que vai te levar para casa.

 - Errado. Ele vai nos levar para casa. E não negue. - falou, antes que pudesse dizer isso. - E claro, ele vai nos levar também em Port Angeles.

 - Duvido muito disso.

 Edward se aproximou com Emmett e Rosalie. A loira olhou para mim e piscou um olho, fazendo um O.K com a mão. O casal deu tchau e foi para o Jipe que estava perto, enquanto Edward pegava as chaves no bolso.

 - E então, senhoritas, para onde vamos? - perguntou, divertido.

 - Port Angeles, meu caro irmão. - Alice falou educadamente.

 Ela entrou no carro e novamente me fez sentar no banco do passageiro, mesmo sob meus protestos. 

 - O que vocês querem ouvir? - ele perguntou, quebrando um silêncio estranho.

 - O que eu gosto você não escuta. - Alice fez bico. - E eu não trouxe nenhum CD dessa vez.

 Edward suspirou de alivio e eu ri. Ele me mandou olhar no porta-luvas alguma coisa para ouvirmos no caminho, então eu coloquei um CD do Blink 182, que não era algo pesado para Alice, já que ela não gostava muito do verdadeiro Rock'N'Roll. Quando chegamos ao shopping de Port Angeles, Edward estacionou o carro perto e seguimos para lá. A primeira loja que entramos era a mesma que tínhamos ido com Ylsa, onde eu vi as camisetas personalizadas. Alice foi andar pela loja, e Edward e eu seguimos para os cabides com das camisetas.

 - AC/DC, Iron Maiden ou Ramones? - ele perguntou, erguendo as três para eu ver.

 - Hum... Guns N Roses. - levantei a que estava na minha mão. - Apesar de que essa do AC/DC está legal.

 - Ok.

 Edward pegou a camiseta do Guns da minha mão e com a do AC/DC ele saiu para algum lugar. Talvez experimentar. Dei de ombros e continuei olhando as camisetas. Peguei uma do 30 Seconds to Mars e do Ramones, sabendo que seriam apenas para dar mais uma revoltada em mim. Tudo bem que nenhuma delas iria se comparar a minha camiseta do AC/DC, que eu tinha ganhado da Vovó Swan quando ela me levou ao show deles que teve na Califórnia, quando fui passar as férias lá com ela. Foi o dia mais feliz da minha vida. Usei lá, mas quando voltei para Forks, tive que a esconder para Renée não achar. Era um segredo meu e da Vovó Swan...

 Vovó Swan... Ela era a pessoa mais maravilhosa que existia. Mãe de Charlie, a velha adorava rock e curtia coturnos. Era mais descolada do que qualquer adolescente, e tinha os melhores gostos musicais que alguém poderia ter. Foi com ela que aprendi a gostar de Rock, uma pena eu não poder demonstrar isso quando ela vinha, pois Renée não deixava. Na verdade, Renée não gostava muito da Vovó Swan, por causa do jeito despojado dela, o que ela não admitia de forma alguma.

 Sentia saudades dela. Faz um bom tempo que não a via, por causa de Renée. Vovó odiava todas aquelas regras e odiava me ver sendo fantoche da louca da minha mãe, então por isso evitava aqui. E Renée não gostava muito de me deixar ir para lá, para não me converter.

 - Bella? - Alice apareceu do meu lado, com várias roupas na mão. - Vem, vamos para o vestiário.

 Ela me puxou para lá, jogando peças em cima de mim e me empurrando na direção de um provador. Eu me embolei ali, pensando seriamente no que fazia. Vesti uma calça jeans azul, uma blusa com desenhos abstratos e então uma jaqueta de couro que por dentro era amarela. Eu prendi meu cabelo em um coque mal feito e sai do provador. Alice e Edward estavam conversando baixo algo entre eles, mas quando me viram, viraram para mim. Vi os olhos de Edward ir de cima a baixo e senti meu rosto esquentar, então desviei minha atenção para a Alice, que tinha um sorriso enorme.

 - Está linda! - pulou até mim. - Mas eu quero que você experimente outra coisa.

 - Como assim outra coisa? - a olhei, desconfiada.

 - Vamos, experimenta. - ela me deu uma peça preta e me empurrou de novo para dentro do provador. - E não adianta negar!

 Eu levantei a roupa, e arregalei os olhos quando vi o que era.

 - Alice, eu não vou usar isso! - falei e ouvi a risada dela e do Edward. - Não tem graça!

 - Pode vestir, Bella. - ela mandou coma voz autoritária. - Eu não quero nem saber.

 - Qual é, Isabella? Não custa nada. - Edward se pronunciou.

 - Não!

 - Quer ver você vestir... 

 Alice entrou no provador e começou a tirar minha jaqueta, sob meus protestos. Ela me fez tirar a camiseta e a calça, e colocou o vestido preto em mim. Então, Alice saiu do provador, me mandando terminar de me arrumar, e me deixando sozinha ali. Olhei pelo espelho, subindo pelos pés descalços, parando nas pernas. O vestido batia no meio das minhas coxas, deixando expostos meus joelhos ossudos. Continuei subindo até parar nos meus ombros. Era sem alças, deixando toda a minha clavícula a mostra, e fazendo meu pescoço ganhar uma delicadeza que nunca tinha visto. Eu novamente parecia outra pessoa.

 - Bella, dá para você sair dai? - Alice mandou, batendo na porta. - Nós não temos o dia inteiro.

 - Eu... Eu não vou sair assim!

 - Ah sim! Você vai sim. E agora. - ela abriu a porta e me puxou para fora.

 - Alice... - murmurei.

 - Oh, meu deus, você está linda! - falou, animada.

 Automaticamente meus olhos foram para Edward, que me encarava descaradamente. Ele fez novamente aquilo, me olhando de cima a baixo. Eu me senti mais uma vez envergonhada, vendo que dessa vez ele não apenas olhava por olhar.

 - Eu... Sei lá. - dei de ombros, voltando a encarar Alice.

 - Nada de sei lá. Você está linda e pronto. Não é, Edward?

 Ele assentiu, ainda me encarando. 

 - Ok. - falei e entrei rapidamente no provador.

 Mesmo falando aquilo, consegui driblar Alice e não levar o vestido. Era isso que eu queria acreditar, mas sei que quando ela falou que ia dar uma volta, voltou para comprá-lo.

 - Está entregue. - Edward falou, parando o carro na frente da minha casa. - Espero que tenha gostado do passeio, Srta. Swan. - sorriu de canto.

 - Claro, Sr. Cullen. - eu sorri também. - Agora, você pode abrir lá atrás?

 Nós dois saímos e Edward me entregou as sacolas. Fui até a janela do passageiro, onde Alice já estava sentada.

 - Amanhã nós nos vemos. - falei.

 - Eu passo aqui.

 - Você quer dizer eu, certo? - Edward perguntou e ela bufou. - Não faça pouco caso, Alice.

 - Então, Bella... - ela olhou para mim, sorrindo. - Eu quero ver você fantástica amanhã.

 - Claro, claro. - revirei os olhos. - Obrigada pela carona, Edward.

 - Não foi nada.

 - Tchau. - murmurei e segui para casa.

 Ao entrar, como de costume, o lugar estava silencioso demais. Era normal. Subi as escadas correndo, sem nem passar na cozinha, e entrei no meu quarto, jogando as sacolas em cima da cama. Segui para o banheiro e lá demorei pelo menos mais de uma hora. Vesti uma calça de moletom e uma regata, e secando meu cabelo com a tolha, eu fui para o quarto.

 - Belas roupas. - Renée falou e eu paralisei no lugar, olhando para ela de olhos arregalados.

 - Você já chegou? - perguntei me recuperando do susto. Olhei no meu relógio e vi que passava das sete e meia.

 - Quem te levou para comprá-las? - me ignorou completamente, se aproximando das sacolas em cima da cama. - São todas como as que você vestiu hoje?

 - A maioria. - dei de ombros.

 Renée pegou uma sacola e de lá tirou uma calça jeans clara, olhando-a. Ela caminhou pelo quarto com a peça de roupa, parando ao lado da minha escrivaninha. Eu estava no mesmo lugar desde quando ela me assustou.

 - Olha, Isabella, eu sei que você é uma adolescente e tudo, e... Eu queria me desculpar.

 Encarei-a para ver se era verdade seu pedido de desculpas. E realmente parecia.

 - Tudo bem. - murmurei. - Sei que exagerei.

 - Isso, querida. - ela sorriu. - Porque você não larga toda essa bobeira para lá e volta a ser minha filhinha inteligente?

 - Eu ainda sou inteligente, só não vou usar mais aquelas roupas. Eu cansei de ser estranha, Renée. Quero mudar um pouco, e isso não vai afetar em tudo que você me ensinou.

 - Claro que vai! - ela aumentou o tom de voz, me assustando. - Você vai virar mais uma dessas garotinhas fúteis que só pensam em garotos, saias curtas e maquiagem! Eu não quero que você vire uma dessas.

 - Mas eu não vou! - também aumentei meu tom de voz. - Olha para você, Renée! Olha como você se veste, sempre nas roupas mais belas e na moda. E olha para meu closet - apontei para o lugar. - Nada daquilo está na moda ou é bonito. Droga! EU NÃO QUERO ANDAR NA MODA... Só parecer alguém normal. - murmurei a ultima parte.

 - Você não vai mudar de idéia, não é? - perguntou.

 - Não!

 Renée me olhou com tanto desgosto que eu senti aquilo doer no coração, mas não voltei atrás. Então, ela me surpreendeu quando pegou uma tesoura em cima da minha escrivaninha e cortou uma parte da calça.

 - O que você está fazendo?! - corri até ela, mas Renée me empurrou. - Ficou louca?!

 - Você não vai jogar tudo para o alto desse jeito, Isabella. - ela falou com raiva, cortando ainda mais a calça.

 - PARA COM ISSO, RENÉE! PARA! - fui atrás dela, que ia até as outras sacolas e tirava as roupas de lá. Agarrei sua mão, mas ela me empurrou com força.

 - Não adianta, Isabella! Você não vai fazer isso consigo mesma, nem comigo. - ela pegou mais uma roupa mais uma roupa e cortou. - Não sou burra para deixar você se comandar assim, como se fosse alguém de maior. - ela falava ao mesmo tempo em que cortava. Eu só conseguia ficar encarando, enquanto sentia meu rosto molhado. - Você é minha filha, e deve me respeitar. Quando eu digo que é para fazer, você tem que fazer!

 - Você ficou louca... - murmurei, balançando a cabeça. - VOCÊ ESTÁ FICANDO LOUCA! SUA LOUCA! EU ODEIO VOCÊ. ODEIO SEU JEITO, O QUE VOCÊ FAZ. ODEIO SER SUA FILHA!

 - O que está acontecendo aqui?! - Charlie bateu a porta com força, encarando a cena de olhos arregalados.

 Eu, parada no meio do quarto, chorando, e Renée picotando todas as roupas que eu tinha comprado com o meu cartão, que Charlie tinha me dado.

 - Isabella passou dos limites, Charlie! - a louca apontou para as minhas roupas cortadas. - Decidiu realmente virar uma vadia, e até comprou as roupas.

 - EU NÃO SOU ISSO! - dei um passo na direção dela, mas Charlie me parou. - Ela está louca, Charlie!

 - Bella...

 - NÃO! - me afastei dele e fui até meu closet, pegando um capuz lá. - Eu não quero saber dessa louca! - segui na direção da porta.

 - Aonde você vai? - ela gritou, quando sai do quarto.

 - NÃO LHE INTERESSA!

 Desci as escadas correndo, e passei por Mary, que me encarava de olhos arregalados.

 Assim que sai de dentro de casa, senti meus ombros caírem como se pesassem toneladas. Meu peito estava apertado e minha garganta tinha um nó. Sentia-me desesperada, e não sabia o que fazer, pois tudo estava uma confusão. Então, como Charlie tinha me ensinado, para não perder o controle, eu respirei fundo e deixei minha mente calma. Quando consegui realmente pensar, a única coisa que me passou pela cabeça foi que eu precisava de alguém. Só que eu estava sem meu celular, e sem carro, então tinha que andar.

 E foi isso que eu fiz. Andei até a casa da Alice, que eu sabia que me ajudaria.

 - Isabella? - Edward ergueu uma sobrancelha, quando me viu parada de frente a porta depois que apertei a campainha. - Você está bem?

 - Estou. - murmurei. - A Alice?

 - Está lá em cima. - falou lentamente, me encarando. Ele berrou ela, e se virou para mim de novo. - Tem certeza que você está bem? - olhou para baixo, e eu segui seus olhos, vendo que eu estava de calça de moletom, chinelos e capuz.

 - Tenho.

 - Bella? - Alice apareceu nas escadas, e quando me viu, correu até mim. - Garota, você está bem? - empurrou Edward e me puxou para dentro.

 - Preciso falar com você. - sussurrei.

 - Vem.

 Ela me puxou escada a cima, não me dando nem tempo para falar com Esme, que estava no corredor. Assim que entramos no quarto, ela trancou a porta e se virou para mim, esperando alguma palavra, mas eu não consegui falar nada, além de deixar as lágrimas escorrerem.

 - Ah, Bella...

 Alice me abraçou, fazendo eu deitar minha cabeça em seu ombro. Me apertei contra ela, chorando tudo que eu precisava. Minha vida estava virando um drama, fato. Eu sei que não gostava de toda aquela palhaçada que passava, mas elas eram com toda certeza mais suportáveis do que acontecia agora. Renée estava com raiva de mim, eu estava com raiva dela, além de estar no fundo do poço que era chorar na frente de alguém. Sim, um completo drama.


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Notas finais do capítulo

Hello Girls ! Como estão? Felizes igual a mim com as férias? Bem, eu já estou e terminei muito bem, KKK.
Mas e então, o que acharam da mudança da Bella? Renée parece ter pirado com isso. E claro, exagerado.
Comentem e indiquem *----* O próximo capitulo vai estar cheio de loucuras e voltar ao normal com as risadas, KKK
Beijos, Gatinhas