Revista Nerd escrita por SumLee


Capítulo 20
Hora de mudar




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19. Hora de mudar

- Droga... Droga... Droga... – eu resmungava comigo mesma, andando rápido pelo corredor. Estava fugindo da aula de Ed. Física.

 Eu avistei meu alvo, e assim apressei ainda mais meus passos, e como meus reflexos eram bons eu troquei os pés e cai praticamente de frente ao meu alvo. O garoto arregalou os olhos, olhando para mim, que estava no chão. Eu resmungava agora era de dor por causa do joelho, que tinha batido no piso. Droga, isso não estava nos planos!

 - Ow. Ai. – eu apertava o joelho. – Merda de cadarço! – xinguei meus cadarços do tênis. – Eu ainda pico você em pedacinhos por me derrubar.

 O garoto riu e eu fechei a cara. Qual era a graça?! Merda, eu tinha caído e ele estava rindo. Não tinha graça nenhuma naquilo, principalmente porque estava doendo demais. Só porque eu estava batendo o meu recorde de passar uma semana sem aparecer com um roxo na perna. Não tinha uma semana que eu ficava com as pernas apenas de uma cor.

 - Você está bem? – o garoto parou na minha frente, com uma mão esticada.

 Ele segurava uma risada, e eu bufei com isso. Peguei sua mão e aceitei sua ajuda, sendo levantada por ele.

 - Estou. – falei, me limpando. Seja legal... Seja legal..., eu repetia para mim mesma. – Er... Obrigado.

 - De nada. – o garoto sorriu de canto, me lembrando outro sorriso, e logo mo tempo fechou para mim. – Você parecia estar com pressa...

 - Yeah... – murmurei, olhando para os lados.

 O garoto olhou para minhas pernas e fez uma careta. Me senti desconfortável e também olhei para as minhas pernas, pensando que tinha algo bizarro ali para ele estar com aquela cara. Só que não tinha nada.

 - Você está... Sangrando. – ele falou com os olhos mirados no meu joelho.

 - O que...?

 Levantei a perna e vi que minha calça jeans clara e meio larga estava com uma manchinha de sangue no joelho, onde doía. Bem... Não era apenas uma manchinha, era algo a mais que manchinha. Agora, você me pergunta, como uma queda no piso pode fazer você se machucar até sangrar?! ISSO SÓ ACONTECIA MESMO COMIGO!

 Minha respiração começou a ficar pesada e minha cabeça começou a rodar enquanto eu olhava para a “manchinha” que estava piorando a cada segundo. Eu engoli em seco, sentindo meu estomago revirar.

 - Você tem certeza que está bem? – o garoto tocou meu ombro. Tirei meus olhos da mancha e o encarei, mas pude jurar ver dois dele. Agora o garoto tinha um irmão gêmeo?! Trabalho em dobro, ótimo! – Garota, você está pálida...

 - Eu... Eu to...

 Senti meu corpo cair para trás como se eu não tivesse força para segura-lo em pé. Esperei pelo contato com o chão e a dor na cabeça logo depois, mas a única coisa que eu senti foram dois braços me segurando. Abri e fechei os olhos lentamente, encarando o garoto, que me olhava com preocupação.

 - Não posso ver sangue. – sussurrei, sorrindo.

 O garoto sorriu e me pegou no colo como se eu não pesasse nada. Me senti mais incomodada do que quando ele estava olhando para as minhas pernas, mas o enjôo era demais para eu conseguir sequer abrir a boca. Só que eu tinha que tentar, já que não era nada demais.

 - Me... Solta. – pedi.

 - Você não está bem. – ele bufou. – Garotas difíceis. – falou sob a respiração.

 - Hey! – resmunguei baixinho.

 Ele soltou uma risada baixa e começou a andar, mesmo eu protestando. Respirava pela boca e estava de olhos fechados, tentando me concentrar em outras coisas do que o movimento que ele fazia para andar. Agradeci mentalmente por estarmos já em horário de aula e não ter quase ninguém nos corredores, ou então seria vergonha em dobro: a minha queda e estar sendo carregada.

 Quando o garoto saiu para o lado de fora do colégio, o vento frio bateu no meu rosto e aquilo foi bom. A tontura começou há passar um pouco, e minha respiração ficou mais leve. Foi só então que eu me toquei para onde o garoto estava me levando, que era para a enfermaria. Mas, antes que eu pudesse protestar, ele chegou lá.

 - Bella? – ouvi a voz de Lucy com um tom de preocupação.

 Senti suas mãos no meu joelho machucado, mas o garoto explicou para ela que eu não tinha desmaiado por causa do machucado, e sim por causa do sangue. Lucy, já sabendo que eu passava mal com sangue, mandou o garoto me colocar na maca que tinha lá, e ela colocou uma bolsa de água fria na minha testa depois de ter levantado a barra da minha calça e ter feito um curativo no machucado no joelho, que não era tão grande. Eu apenas tinha muito sangue no corpo...

 - Você tem outra calça? – Lucy perguntou. – Ou então não vai sair daqui olhando para essa mancha.

 - Não. – fiz uma careta me xingando por ter tirado a calça reserva que eu deixava no vestiário. Só de pensar em ter que ficar com aquela mancha... – Mas acho que Alice tem.

 - Alice Cullen? – perguntou e eu assenti. – Tudo bem, vou pedir para alguém ir falar com ela.

 Eu ainda via o mundo rodando, mas era pouco agora. Pelo vidro da janela vi Lucy falando com Edward, que tinha chegado naquele momento. Eles conversaram e então ele saiu. Olhei para o garoto, que se sentou ao lado da minha maca, me encarando com uma expressão divertida.

 - Não ria. – falei, com a voz rouca. – Isso não tem graça.

 - Estou me perguntando se isso só acontece na minha frente. – ele balançou a cabeça, rindo sozinho. Encarei-o confusa, sem entender o que ele quis dizer. – Não é a primeira que eu tenho que trazer para a enfermaria.

 - Ah, então existem mais descoordenadas pelo colégio?

 - Bem... Elas não são descoordenadas como você. Cair nos próprios pés? E desmaiar com o próprio sangue? Meu deus, como você é atrapalhada. – ele riu baixinho.

 - Já disse que não tem graça. – bufei. – Aliás, como é o nome do meu salvador? Afinal, se não fosse por você eu teria batido a cabeça no chão.

 Essa idéia fez minha cabeça doer e eu prendi um gemido. A tontura voltou no mesmo instante.

 - Daniel. – falou. – E o nome da garota descoordenada?

 Abri a boca para responder, mas fui cortada por outra pessoa.

 - Swan? – olhei para a porta e o Cullen estava lá, parado e nos encarando. – Porque não estou surpreso? – jogou a calça que Alice me mandou, em cima de mim.

 - É Bella. Swan é meu sobrenome. – falei para o Daniel, que assentiu. – O que você está fazendo aqui?

 - Nada. – ele deu de ombros e foi se sentar em uma cadeira que tinha ali.

 Fiquei-o encarando, sem entender o porquê de ele ter falado comigo. Ok, não foi falar de falar, mas sim ter trocado algumas palavras comigo fora do jornal e da aula de biologia. Edward colocou os fones de ouvido e ficou lá, ouvindo sua musica. Olhei para Daniel, que olhava para o Cullen com uma sobrancelha erguida.

 - E então – comecei, chamando a atenção dele para mim. -, você vai ficar aqui?

 - Vou. – deu de ombros. – Esperar até você ficar melhor.

 - Mas... Eu já estou melhor. – murmurei, olhando para o outro lado. – Você não precisa...

 - Não, tudo bem. – ele sorriu. – Então é assim? Digo, toda vez que você vê sangue, você desmaia? – mudou de assunto.

 - Bem... Não é toda vez. – levantei um ombro. – Só algumas vezes, quando eu não prendo a respiração antes de sentir o cheiro.

 - Sangue não tem cheiro. – ele me olhou como se eu fosse louca.

 - Claro que tem! Parece ferrugem e... Sal. – tremi e respirei pela boca.

 O garoto me olhou novamente como se eu fosse louca e depois começou a rir da minha cara. Poxa, era a mais pura verdade o lance do sangue. Ele tinha sim esse cheiro, porque eu sentia. Bufei com a risada dele e olhei para o Cullen, que nos encarava, mas no segundo seguinte fechou os olhos e voltou a ouvir a musica dele. Levantei da maca e fui até o banheiro que tinha ali para poder trocar de calça. Tirei a minha com a ponta dos dedos e respirando pela boca.

 Alice usava o mesmo tamanho de roupa que eu, já que também era magrela. Só que ela tinha bunda e curvas, algo que eu não tinha, e então a calça ficou apenas um pouquinho larga. A minha sorte foi que eu era apenas alguns mínimos centímetros mais alta que ela, ou então a calça ficaria no calcanhar. E não era muito bonito isso.

 Assim que terminei de trocar de calça eu sai do banheiro e segui para fora da sala, deixando Daniel e Edward lá.

 - Está melhor, querida? – Lucy perguntou quando me viu.

 - Estou sim, Lucy. – sorri.

 - Queria saber como você se machucou, mas é melhor não, afinal, eu já sei que foi caindo. – ela riu.

 - Yep. – assenti. – Não pergunta nada.

 - Está doendo à perna? Ou a cabeça?

 - Os dois. – fiz careta. – Mas logo, logo passa.

 Daniel saiu da sala, parando do meu lado.

 - Quer algum remédio? – ela perguntou.

 - Não, não. – neguei rápido. – Daqui a pouco passa, então não precisa.

 - Bella... – falou em tom de repreensão.

 - Indo para a aula, Lucy. – cantarolei e saí correndo da enfermaria com Daniel do meu lado.

 Nós seguimos para dentro do colégio, numa conversa amigável. Tínhamos a próxima aula no mesmo corredor, então fomos para lá juntos, depois ele ficou na sala e eu segui para a minha. Estava prestes a entrar quando mãos me puxaram pelo braço e me arrastaram para longe dali. Não tentei lutar contra, pois sabia quem era.

 Entramos no outro corredor onde não tinha mais ninguém e só então Alice me encarou.

 - Você está bem? – perguntou. – Todos estão falando que você foi para a enfermaria sendo carregada pelo garoto e depois Edward veio me pedir uma calça para você...

 - Ah, isso não foi nada. – dei de ombros. – E eu estou bem.

 Alice me encarou por um minuto e do nada começou a pular.

 - E então, falou com ele?! Hein? Hein?! – me sacudiu pelos ombros. – Vamos Bella, fala!

 - Calma, Alice! – empurrei ela, sentindo minha dor de cabeça piorar. – Eu ainda não falei com ele. Não tive tempo...

 - Pois pode falar, mocinha. Ou então eu te mato!

 - O que?! – ergui uma sobrancelha.

 - Isso mesmo. Se você não falar com ele hoje... Eu te mato, Isabella.

 Alice saiu andando pelo corredor e me deixou ali, de boca aberta. A garota era bipolar, um fato. Para me ameaçar assim, do nada, só sendo bipolar mesmo. Dei de ombros e fui para minha aula de calculo.

 - Hey, Daniel! – gritei, chamando ele, que ia lá na frente do estacionamento.

 Daniel virou para trás, procurando quem o chamava, e eu levantei um braço. Ele sorriu para mim e voltou metade do caminho, me esperando chegar perto dele.

 - Hey. – me cumprimentou. – Está mesmo melhor?

 - Aham. – assenti. Olhei para o outro lado do estacionamento e Alice estava encostada no Volvo, ao lado do Edward. Ela me encarava, esperando eu fazer o que ela mandou. – Eu... Sei que nos conhecemos hoje, e que eu estou te devendo, mas... Eu queria te pedir algo.

 Daniel me encarou com uma sobrancelha erguida e então sorriu, assentindo com a cabeça.

 - Manda. – falou.

 - Bem... Você sabe que eu estou no jornal, certo? – ele assentiu. – Então, é que nessa edição a diretora do jornal, a Alice, queria fazer uma matéria com um menino, sabe... – o sorriso em seu rosto sumiu, e eu senti o tempo fechar, mas continuei. – e ela me pediu para falar com um menino, e você é perfeito para isso. – falei rápido para terminar logo.

 A expressão de Daniel não era nada amigável, e aquilo já fez eu me preparar para um bom “Não e não enche com isso!”, mas Daniel foi mais “educado” e me deu as costas. Eu fiquei sem reação por dois segundos, mas logo eu corri atrás dele e o puxei pela blusa.

 - Ah, Daniel, por favor. – pedi.

 - Não. – falou sério.

 - Vai, por favor! Por favor, Daniel. – implorei. – Por favor.

 - Swan...

 - Já disse que é Bella. – reclamei e bufei, porque se não fosse pelo Cullen, ele não me chamaria assim. – É só pra nos ajudar com a revista.

 - Mas... Bella, olha pra mim. – ele indicou para si mesmo.

 Olhei para os lados, vendo que as pessoas nos encaravam com curiosidade. Bando de fofoqueiros! É por isso que gostam da coluna do Emmett.Idiotas!

 - Vem aqui.  – peguei a mão dele e o puxei comigo para onde eu ficava quando chegava mais cedo. – Daniel, você é o que eu preciso. Seus olhos são lindos. Você é lindo.

 Ok, aquilo era constrangedor demais, mas eu estava sendo ameaçada de morte, caramba. Não estava mentindo, Daniel era lindo. Sério. A pele era mais lisa que a minha, apenas tendo um pouco de uma barba bem feita. E olha que dizem que nerd tem a pele cheia de espinhas, hein. Os olhos verdes claros eram lindos. Parecia verde-água. O cabelo castanho claro, com uns fios loiros ao natural era daquele tipo que dava vontade de passar a mão, e não tinha gel. Era desorganizado igual ao de Edward, só que o de Daniel era baixo, não um topete.

 - Está falando sério? – ele ergueu uma sobrancelha.

 E, caramba, o garoto conseguia falar sem gaguejar. Que tipo de nerd era esse?! Era daqueles confiantes?

 - É claro que estou. – bati no ombro dele. – Você acha que eu falaria isso assim?

 É lógico que não! Nunca falei pro Cullen, e ele é bonito. Eu admitia isso. Só não iria aumentar a falta de modéstia dele.

 - Sei não... – ele me encarou, pensativo.

 - Por favor, Daniel. – peguei as mãos dele. – Estou sendo ameaçada de morte pela cópia esposa do Bob Esponja e eu não quero morrer! Se eu chegar nela e falar que você não aceitou, Alice vai me esganar! Por mim, por favor... – implorei de novo.

 - Calma. – ele sorriu. – Olha, eu aceito, ok? Mas só porque não estou afim de ser uma testemunha de um assassinato.

 - Sério?! Oh, Daniel. Obrigado. Obrigado! – eu pulei e abracei-o. – Você me salvou. – beijei seu rosto. – Eu e Alice vamos falar com você amanhã, ok? Agora eu preciso ir contar pra ela que vou ficar viva!

 Corri para o estacionamento, deixando um Daniel assustado para trás. Tudo bem que eu tinha exagerado e que minha comemoração foi muito extravagante, mas... Caramba, eu sentia que a ameaça de morte era séria.

 Eu andei rápido até Alice, que me seguiu com os olhos até eu chegar perto dela. Ignorei Edward do lado dela e a segurei pelos ombros.

 - Adivinha?! – perguntei.

 - Ele...? – ela olhou nos meus olhos. – Ahhhh, não acredito! Ele aceitou?! – assenti, sorrindo. – Ah, meu deus! Bella, você é demais! – começou a saltitar e eu fiquei encarando ela, sorrindo. – Falou para ele que amanhã vamos falar com ele?

 - Falei sim. – balancei a cabeça.

 - Garota, você é demais. – ela me deu um soquinho no ombro. – Amanhã vamos às compras e depois Edward e você fazem a capa e então nós ganhamos! – a louca voltou a pular, mas do nada parou. – Nós vamos ganhar esse jornal, Isabella. Eu sei que vamos.

 Sorri com a confiança dela. É, nós tínhamos que ganhar.

 Depois de dar a noticia a Alice, eu fui para casa e lá voltei a minha rotina, que era estudar com Charlie, jantar e ir ler um livro. Renée dessa vez não falou nada, para meu alivio, porque assim eu pude dormir calma.

 No outro dia eu acordei atrasada e tive que sair sem tomar café-da-manhã. Cheguei na escola em cima da hora, e só pude ver Alice na sala. Nós conversamos sobre o que ela faria com Daniel. As outras aulas passaram todas rápidas, e então deu o horário do almoço.

 Eu segui para lá quando encontrei Daniel no corredor, e comecei a acompanhá-lo.

 - Para que exatamente vocês precisam de mim? – ele perguntou, quando estávamos na fila para comprar algo.

 Eu peguei uma bandeja e coloquei um pedaço de pizza, uma maçã, e uma limonada. Estava com fome, mas aquilo daria para pelo menos enganar o estomago.

 - Ah... – pensei, enquanto seguíamos para a mesa que apenas estava Alice, já que Nessie tinha faltado hoje. – Você viu a primeira edição que fizemos com Ylsa? – perguntei.

 - Vi. – falou.

 Sentamos lado a lado e de frente para Alice, que estava olhando algo em seu celular.

 - Então...

 - Oi, Daniel. – Alice me cortou, falando animadamente com o garoto. Ela estendeu a mão sob a mesa. – Eu sou Alice Cullen.

 - Oi. – ele apertou a mão dela, encarando-a como se ela fosse louca. Acho que ele não estava acostumado com pessoas como... Alice.

 - Você quer saber o que pretendemos para você? – perguntou, arregalando os olhos, e ele assentiu. Eu dei de ombros, vendo que tudo agora ficaria pela Alice, e peguei meu pedaço de pizza, dando uma mordida. – Eu pensei em renovar as suas roupas, entende? Mas, claro, sem mudar muito o seu estilo, que é legalzinho. – ela olhou para as roupas dele. – Estou pensando em fazer algo diferente...

 Daniel me encarou, e eu dei de ombros, balançando a cabeça, ao mesmo tempo em que mastigava outro pedaço da pizza.

 - Diferente como? – ele perguntou.

 - Ah... – ela sorriu de modo suspeito. – Isso você só vai descobri hoje.

 - Hoje?

 - Yeah! Nós vamos a Port Angeles!

 Daniel a encarou, surpreso, mas não falou nada, apenas deu de ombros. Os dois ficaram conversando sobre coisas banais e que os dois gostavam. Percebi que Alice queria saber mais sobre o estilo de Daniel, para assim ela pode fazer o look que combinasse com ele. Acho que por Daniel não ser muito nerd, aquilo ficaria um pouco difícil, mas Alice era Alice, e sempre dava um jeito.

 Depois do horário de almoço eu fui para a aula de Biologia, que era com o Cullen Menor. Como tinha sido nesses dois meses, ele não falou comigo, voltando ao que era antes, e deixando de lado o que aconteceu ontem na enfermaria. Na aula de Ed. Física eu tive que jogar basquete, e isso me rendeu alguns hematomas. Na aula de calculo tive que ensinar a Emmett a matéria nova. E então chegou a hora da saída.

 Alice me esperava em frente ao meu Mini, com o Daniel do seu lado. Nós iríamos no meu carro, novamente. E novamente Alice ficou no banco de trás, com a cabeça entre o banco do passageiro e do motorista. E também ela ficou mais uma vez tagarelando até eu mandá-la calar a boca.

Chegamos ao shopping e Alice arrastou Daniel, assim como foi com Ylsa, para Banana Republic, onde Alice fez Daniel sair com muitas sacolas. Logo entramos em uma loja esportiva, para comprar as roupas que mudariam um pouco o estilo dele. Quando já estava escurecendo, por alguma razão estranha, Alice fez Daniel e eu irmos dar uma volta porque ela iria fazer uma coisa sem importância. Mas se era sem importância, porque no podíamos ir junto com ela? Alice estava aprontando, era obvio.

Daniel e eu compramos um sorvete e fomos andar pela cidade, já que naquele shopping no tinha nada de interessante. Pelo menos no para nós dois.

- Mas e então, qual a do tênis... Nike?  - perguntei, olhando para seus pés.

 - O que? Não pode mais usar? - ele riu.

 - Não. Não é isso. É que... Você é um... Bem... - procurei um adjetivo.

 - Um nerd?

 - Yeah... Vamos supor assim. E, bom... Os nerds são mais de usar All Star, não Nike todo esportivo. - dei de ombros.

 - É só que... - olhou para o lado. - Porque você acha que tem um motivo? E se eu gostar? - ergueu uma sobrancelha.

 - Eu sei que talvez você possa gostar, mas não parece isso. Você é inteligente, senta com o pessoal daquela mesa e mesmo assim usa Nike e cabelo bagunçando, ao invés de gel. É algo diferente, e que não tem muito haver com... "gostar".

 - Ok, e você pensou em tudo isso por causa do tênis? - Daniel riu. - Sabe, Bella, você é meio estranha e só percebe coisas estranhas.

 Bufei e revirei os olhos. Eu não era estranha, e não sei por que as pessoas insistiam nisso.

 - Tanto faz. Vai falar se tem um motivo ou não?

 - Se você falar porque se veste assim, mas não parece ser uma nerd.

 - Ok, então. Vamos deixar isso para lá, e terminar esse sorvete.

 Caminhei mais rápido, vendo que Daniel estava rindo de mim! Ele apressou o passo e começou a me acompanhar.

 - Vamos fazer assim, Bella, eu conto o meu motivo e se você quiser, me conta o seu. Tudo bem?

 Eu parei e o encarei, pensando em sua proposta, que não era tão má assim, afinal, eu tinha o poder de escolher se contava ou não, ao contrário dele, que iria me contar. Assenti e então nós voltamos a andar.

 - Ok, me deixa ver como vou começar... - ele murmurou consigo mesmo. - Eu sou assim por causa da minha família.

 Eu arregalei os olhos, sem acreditar nisso. Quero dizer, quantos adolescentes são o que são por causa dos pais? Eu ficaria surpreendida com a resposta, com certeza. Podem não serem muitos, mas nessas condições, com toda essa manipulação, isso é até demais. Primeiro eu conheço Ylsa que tinha isso, e agora Daniel. Será que mais algum daqueles nerds sentados naquela mesa são daquele jeito por causa dos pais?

 - Como assim? - perguntei.

 - Vamos dizer assim que eu não era o filho mais perfeito do mundo. Então, eles me colocaram na linha e agora eu tenho que ser assim. Antes, eu eraskatista, por isso os Nike. Foi à única coisa que eles não brigaram para mudar. Minha mãe acha que o que eu uso influencia na minha vida.

 - Eu te entendo. - murmurei, abaixando a cabeça.

 - Entende?

 - Yeah... Eu tenho uma noção de como é a sua mãe. Posso até chutar que ela é manipuladora, quer a qualquer custo que você aprenda, e te dar um livro para ler por pelo menos uma vez no mês.

 - Sinto muito. - ele murmurou.

 - Ah, qual é. Somos iguais, não tem o que você sentir. - ri, tentando deixar o clima mais leve. - Acho que nossas mães devem é se internarem.

 - Concordo plenamente.

 Rimos, quebrando totalmente o clima pesado que estivesse entre nós. Terminamos o nosso sorvete e sentamos em um banco, tendo uma conversa agradável. Daniel era uma pessoa fantástica, e pela forma que conversava, dava para perceber que ele não era mesmo um nerd, e sim um skatista, como ele tinha contado. Não conversamos sobre livros e essas coisas, mas sim sobre manobras de skate. Mesmo que eu não saiba fazer nenhuma, adorava ter mais alguma informação sobre algo tão legal.

 Alice me ligou e disse que estava nos esperando em frente ao carro. Encontramos ela e seguimos para o colégio. Claro que eu reparei nas duas sacolas na mão da Alice. Nada passa por mim quando é referido a ela. Deixamos Daniel onde o carro dele estava, com o aviso de está no colégio amanhã para pode tirar as fotos. Então, eu segui para a casa da Alice, para poder deixá-la lá.

 - O que tem na sacola? - perguntei.

 - Nada. - deu de ombros. - Apenas uma roupa que eu comprei para mim e para o Daniel.

 - Mas já não tínhamos comprado? - desviei os olhos cinco segundos da rua para olhar para a baixinha.

 - Yep. Só que eu queria uma jaqueta, e fiquei com medo de ele não aceitar. - deu de ombros.

 - Como é?

 - Preta e de couro.

 - Hm.

 Eu estacionei o carro na frente da casa dos Cullens e Alice desceu, levando todas as sacolas com as roupas do Daniel, já que ele não podia levar para a casa dele. Dei tchau para Alice e segui para casa.

 Foi como um dejà vú, e eu ri com aquilo. Ao virar para trás para pegar minha mochila eu dei de cara com uma sacola. E adivinha? Era a sacola que Alice disse ter a jaqueta de couro. Peguei minha mochila e a sacola, indo para dentro de casa.

 - Isabella? - Renée chamou da cozinha quando eu estava subindo as escadas.

 Me virei para trás e dei com ela, que não tinha uma expressão nada feliz.

 - Sim?

 - Você está atrasada para o jantar. - disse curta e fria.

 Eu me controlei para não fazer uma careta, pois sabia o que toda aquela frieza significava. Mau humor. Renée Swan estava de mau humor e quem iria pagar por aquilo era eu, já que ela me amava de paixão avassaladora. Era nessas horas que eu queria ter Charlie, para assim ele deixar Renée um pouquinho feliz, ou acabar com o mau humor dela.

 - Desculpe. - sussurrei.

 - Tudo bem. - suspirou. - Depois você pede um lanche para Mary, mas não fique com fome. - eu assenti. - Que sacola é essa?

 - Ah... Bem... É que Alice esqueceu no meu carro. - dei de ombros. - Amanhã vou entregar para ela.

 Renée assentiu e voltou para a cozinha. Eu subi as escadas correndo e entrei no meu quarto, trancando a porta. Joguei a mochila no chão e sentei na cama, abrindo a sacola para ver o que tinha lá dessa vez. E foi uma surpresa grande ao ver que tinha mesmo uma jaqueta de couro ali, só que feminina. Senti meus olhos brilharem ao ver aquilo ali, na minha frente, e sem ser de ninguém. Me sentia uma criança boba e fútil que quando ganha um presente fica assim, mas para mim, aquilo era simplesmente demais.

 Só que então eu caí na real. Qual era a lógica de ter uma jaqueta de couro e não poder usá-la? Claro que não tinha lógica! Eu me sentia uma estúpida ao ter ficado daquela forma com uma peça de pano e não poder usar. Uma idiota completa.

 Com raiva eu joguei a jaqueta do outro lado do quarto e me joguei de costas na cama, suspirando profundamente. Encarei meu teto, me imaginando usando aquela roupa, mas logo parei com aquela idiotice e me levantei, seguindo para o banheiro. Tomei um banho quente e vesti uma calça de moletom e uma regata. Prendi meu cabelo em cima e me encarei no espelho.

 Eu virei minha cabeça na direção de onde estava a jaqueta. Dentro da minha mente eu estava tendo uma briga interna entre a jaqueta e minhas roupas que Renée me mandava usar. Tudo bem que era loucura, mas foi a melhor forma de eu me convencer que eu NÃO devia usar aquela jaqueta. Então, com uma expressão de indiferença para a pobre jaqueta, eu a peguei com as pontas dos dedos, a coloquei na sacola novamente a enterrei no fundo do meu closet, junto da outra sacola com a outra roupa.

 Aquela jaqueta, se dependesse de Renée, iria ficar lá até o dia que a Isabella Swan cansasse de tudo.

 - Muito bem. - Alice falou, andando de um lado para o outro. - Eu quero que as fotos dessa edição fiquem melhores que a do mês passado. Ouviu, Edward? - ele assentiu, nem prestando atenção na pique. - Claro que elas estão boas, mas temos que sempre nos superar. E com o nosso modelo - sorriu para Daniel - bonitão - piscou um olho para o garoto, que ficou vermelho. Eu ri da cara dele, e Daniel me deu um cutucão que doeu. - vamos nos sair muito bem. Agora, vamos para a seção de fotos.

 Edward parecia com a mente meio longe dali, mas mesmo assim fez um ótimo trabalho. Dessa vez não começamos a tirar as fotos ao ar livre, foi logo mesmo dentro da sala, com um fundo bege. Daniel não parecia se sentir muito a vontade, então Alice me obrigou a começar a conversar com ele e fazê-lo rir. Yeah, eu que paguei o papel de palhaça ali, contando piadas nem um pouco engraçadas. Quem estava se divertindo as minhas custas era Edward, que se segurava ao máximo para não demonstrar que queria rir de mim. DE MIM!

 Quando saímos para fora, foi mais fácil. E não sei de onde, mas Alice arranjou um skate para Daniel tirar foto. O garoto ficou tão feliz em poder ter por algumas horas um skate que sumiu completamente com a vergonha. Foi legal ver a felicidade dele, e eu imaginei me olhando do lado de fora ontem, e vi no meu rosto a mesma expressão de Daniel: uma criança feliz!

 Quando as seções de fotos acabaram, como foi em todas as outras seções, até as com a Ylsa, ficamos nas mesas de piquenique. Alice e Edward estavam vendo as fotos, e Daniel e eu estava conversando.

 - E então, o que achou? - perguntei.

 - Ah, até que não foi tão mal assim. - Daniel deu de ombros. - Eu, por algum tempo, pude usar meu antigo estilo.

 - Yeah. - concordei. - Bem, não posso dizer que eu sei como é, porque sempre fui assim.

 - Mas... - ele riu e revirou os olhos. - Não, esquece.

 - Ah, pode falar agora. E nem vem com charminho. Desenrola.

 - Porque você não, sei lá, tenta ir contra sua mãe? Eu sei que não podia está falando isso, afinal, eu mesmo não faço, mas é que você...  Parece tão confiante que dá a impressão que você consegue.

 Eu encarei a mesa, mexendo em uma flepinha da madeira, e pensando no que Daniel falou. Aonde...? Aonde eu parecia confiante? Eu era uma boneca nas mãos de Renée, onde ela podia fazer o que quiser - e não era colocar roupinhas. Eu nunca tinha a coragem ou a confiança para enfrentar Renée, nem se quisesse eu conseguiria.

 - Erro seu, Daniel. - murmurei.

 Ele deu de ombros e sorriu, negando com a cabeça. Alice nos chamou para entrarmos. Daniel foi com Edward um pouco mais a frente, e Allie e eu fomos atrás.

 - Hummm... Então a Bellinha está de amiguinho novo, não é? - Alice me cutucou.

 - Para com isso, idiota. - empurrei ela. - Não vem com essas suas idéias malucas porque não tem nada rolando.

 - Para com isso você, Bella. Olha como ele é lindo.

 - Yeah. Ele é lindo, mas mesmo assim. Não começa com as idéias, Alice.

 - É que vocês fazem um par tão perfeito. - suspirou sonhadoramente. - São comandados pelos pais e são nerds. Você vai chamá-lo de "Meu nerd".

 - Cala a boca, Alice. Por tudo que é mais sagrado, cala a boca. - pedi em um gemido. - Eu não mereço isso. - respirei fundo. - Agora, me diz, de onde você tirou que ele é controlado pelos pais?

 - É algo meio obvio. - apontou para os pés do garoto.

 - Você descobriu isso por causa do... Tênis Nike?

 - Claro. - revirou os olhos. - Bella, eu sei muito sobre roupa, e sei sobre estilos. E o Nike não tem nada haver com a roupa de nerd, o que significa que é algo que ele é apegado. - deu de ombros. - Então, se ele só usa o tênis e não a roupa, é porque ele é obrigado.

 Eu olhei para os pés de Daniel, me perguntando por que eu não tinha pensado aquilo. Balancei a cabeça e me concentrei no que Alice falava, que era sobre as fotos.

 - O que você acha desse efeito? - perguntei para Edward, que assentiu.

 Voltei minha atenção para o computador e continuei o que estava fazendo. Assim que terminei, comecei a enviar para Jasper. Aquele processo demorava então eu me encostei-me à cadeira e encarei o teto.

 Alice e Daniel tinham ido embora enquanto Edward e eu tivemos que ficar ali para terminar as coisas da revista. Eu ainda não tinha me acostumado com todo aquele silencio do Cullen, e começava a me incomodar. Eu preferia dez vezes as nossas brigas a todo aquele gelo. E já que ele não iria falar, eu iria começar uma briga para pelo menos ter algum som ali.

 - Até quando você vai ficar assim? - perguntei e me virei para encará-lo, que estava no sofá.

 - Até quando não for mais um perigo para você falar comigo. - deu de ombros. - Ou seja, até acabar o ano.

 Arregalei os olhos. Nós estávamos praticamente no meio do ano escolar, o que significava que eu teria que ficar mais seis meses nesse clima?! Eu iria morrer dessa forma. Não que eu me preocupasse em falar com o Cullen, é só que era extremamente irritante todo esse silencio que tinha entre nós.

 - Ah, Cullen, qual é. - bufei. - Isso não questão da minha segurança. Isso é porque você ficou chateado com o que eu falei naquele dia no estacionamento. São águas passadas, vai.

 - Você não falou nada demais, Isabella. - revirou os olhos.

 Eu sei que deveria repreendê-lo por me chamar de Isabella, só que fazia tanto tempo que ele não me chamava pelo nome que eu não consegui simplesmente fazer isso. Se fosse só assim para ele me chamar pelo nome, então que seja. Qualquer coisa é melhor que gelo.

 - Tem certeza, Edward? Não foi o que pareceu.

 - Porque você acha que eu me importaria com o que você fala? Não iria fazer nenhuma diferença para mim, Swan. Você simplesmente falou que não queria ter alguma encrenca com as meninas, e é isso que eu estou evitando. Agora, se você tem toda essa certeza de que eu estou preocupado com o que você diz ou não, tudo bem, que se ilude. Mas acredite em mim, não é isso. - ele sorriu.

 Encarei-o de boca aberta, não crendo no que ele tinha falado.

 - E porque você acha que eu me iludiria com algo assim, envolvendo você? Não, Cullen, quem está errado aqui é você. Eu sei o que disse naquele dia, e sei que falei que não queria ter nada haver com aquelas patricinhas, mas isso não iria fazer você, Edward Cullen, parar de fazer o quer só porque eu mandei.

 Edward ficou me encarando e então começou a rir. Não, a rir não. A melhor definição é gargalhar. Eu levantei da cadeira, com raiva.

 - Sabe o que eu não entendo em você, Swan? - começou, quando parou de rir. - É que você é cheia de si para cima de qualquer um aqui do colégio, e tem respostas na ponta da língua, sempre querendo ter a ultima palavra. Mas com sua mãe você abaixa a cabeça. Eu sei que ela é a sua mãe e essas coisas - revirou os olhos. - só que isso não vai matá-la se você quiser mudar. Você parece ter uma dupla personalidade, e tudo só porque não consegue quebrar as regras que sua mãe lhe impôs.

 - Não começa... - rosnei. - Renée e suas loucuras não têm nada haver com nossa discussão.

 - Claro que tem! Ué, não foi você agora que acabou de me dar uma resposta grossa para ter a razão. E com Renée você pode fazer a mesma coisa, mas não faz. Você é tão covarde perto dela. Consegue ser apenas uma garotinha controlada pela mãe, e que não tem opinião própria.

 Eu fechei os olhos para não voar no pescoço do Cullen. Respirei lentamente e contei até dez, vendo se isso me acalmava. Quando abri os olhos, Edward estava me encarando de modo desafiador com uma sobrancelha erguida.

 - Você é um imbecil. E eu te odeio. - falei.

 Peguei meu notebook e sai daquela sala, que naquele momento parecia extremamente apertada.

 - Você só  está correndo porque sabe que o que eu falei é verdade. - ele falou da porta.

 Eu tentei fingir que não ouvi, mas nós estávamos num corredor vazio, e as vozes iam como ecos. E esses ecos ficavam se repetindo na minha cabeça, porque, é claro, eu sabia sim que aquilo era a mais pura verdade. Eu estava correndo porque Edward tinha razão em algo. Eu era fraca perto de Renée, enquanto com os outros eu conseguia me virar.

 Eu virei o corredor no impulso rápido dos meus pés, e acabei trombando em alguém. Sem levantar a cabeça, eu continuei a andar, só que essa pessoa me segurou pelo braço.

 - Bella? - reconheci a voz de Ylsa.

 - Oi. - murmurei e dei um sorriso sem mostrar os dentes.

 - O que aconteceu, garota?

 - Er... Nada. - mordi o lábio. - Eu... Só estava indo embora.

 - Você não parece bem. - ela colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, e eu abaixei a cabeça, mordendo o lábio com mais força. - O que houve?

 Eu fechei os olhos mais uma vez, procurando me controlar. Senti a maldita queimação nos olhos, e também o nó na garganta. As palavras do Cullen ainda se repetiam na minha cabeça, e isso me deixava com raiva.

 - Não é nada. - murmurei, olhando para os lados. Ylsa ergueu as duas sobrancelhas, e pegou meu notebook. Entendi aquilo como um recado de "Se você não contar, eu não vou te entregar." E então, eu explodi. - Você quer mesmo saber? Foi aquele maldito Cullen idiota que simplesmente disse a verdade idiota. - as lágrimas começaram a sai desesperadamente. - Eu to cansada, Ylsa. Eu to cansada de ser o fantoche da Renée e de todos jogarem isso na minha cara. Ou me mandar ir contra ela. Ninguém entende que eu não posso ir contra a Renée! Deus, ela é a minha mãe, eu tenho que... Eu tenho que fazer o que ela manda. Não tenho culpa se Renée é neurótica. Sabe... - passei a mão no rosto, por debaixo dos óculos, enxugando as lágrimas. - As pessoas acham que é fácil, mas não é! Droga, não é mesmo. Se fosse, eu já tinha feito. Só que ninguém vê isso. Ninguém! E ficam me julgando. Fica falando a verdade, que eu sou uma fraca porque eu não faço o que eu quero! Eu odeio isso, Ylsa. Eu odeio.

 Ylsa me puxou para os seus braços e me apertou com força. Enterrei meu rosto em seu ombro e chorei ali tudo que podia, e falei o que queria. Quando eu percebi o que tinha feito, me afastei dela, tirei os óculos, sequei meu rosto e a encarei.

 - Me desculpe. - murmurei, envergonhada. - Acho que... Exagerei.

 - Não, querida. - ela passou a mão no meu rosto. - Você apenas desabafou. Tirou o que estava te sufocando. - sorriu. - Isso é porque você sabe que eles estão certos, não é? - assenti. - Então, Bella, porque não tenta sair desse circulo da Renée? Porque não cria o seu e o expande a tudo que você quer? Seja o que você deseja, se preocupe com a sua felicidade, e esqueça por um minuto as regras e as obrigações exageradas. Porque, não vão ser elas que farão seu futuro bom. Não são elas que vão lhe dar histórias interessantes para você contar para seus netos. E não são elas que a fará pensar "Sim, eu fiz tudo o que tinha que fazer."

 - Mas Renée... - choraminguei.

 - Bella, o que eu quero dizer é pra você esquecer Renée. Meu amor, quem fala isso para você, é quem quer te ver feliz. Você não é feliz assim, dá para ver. - ela pegou minha mão. - Você tem o apoio do seu pai, não tem? - assenti. - Então, o que custa tentar? Renée não pode fazer nada além de te fazer trocar de roupa e lhe dar mais algum livro para estudar. Mas, ela não faz isso mesmo que você siga tudo na linha? Então, arrisque.

 Eu assenti, com a cabeça baixa. Não estava com cabeça agora para pensar, e eu só queria ficar um pouco sozinha.

 - Eu vou... Pensar. - falei.

 - Agora me fale, o que o Edward fez para você ter ficado triste ao invés de raiva? - riu e eu a acompanhei.

 - E quem disse que eu não estou com raiva? Eu quero enforcar ele! - ela arregalou os olhos. - Mas não é nada que tenha importância agora.

 - Bem... Hoje é sábado, então você só pode está aqui por causa da revista. Como vai a edição que vai dizer quem vai ganhar?

 - Ah... - eu me sentei no chão, encostando-se à parede. Ylsa me imitou. - Vai bem. Nós conseguimos um modelo bem... Interessante. Então, vai ficar legal.

 - Hm... Esse interessante quer dizer alguma coisa, não é? - sorriu maliciosa.

 - Oh, não. Não. - neguei rápido com a cabeça, e mexendo as mãos. - O Daniel é só um colega. Alguém que acabei de conhecer. Não... É nada disso.

 - Sei... - me olhou desconfiada e eu revirei os olhos.

 - Mas me fala, como vai as coisas com Harry?

 O rosto pouco bronzeado de Ylsa ganhou uma cor nas bochechas, e eu comecei a rir, vendo o quanto ela parecia uma adolescente daquela forma.

 - Eu o convidei para sair. - murmurou.

 - Mentira?! Sério? Nossa, Ylsa, isso é tão demais. - falei, animada.

 Eu estava mesmo feliz por ela.

 - Nós fomos à Starbucks, aonde você mandou. Eu sei que demorei, ok? - me cortou quando abri a boca para repreendê-la. - Lá ficamos conversando, mas nada que envolvesse trabalho. Depois, saímos para andar, e então ele me levou em casa. - ela sorriu. - Repetimos uma semana depois.

 - E...? - a incentivei a continuar.

 - E... Ele me beijou. - falou como uma adolescente e então nós comemoramos como adolescentes.

 O Cullen apareceu naquele momento no corredor, e eu fechei a cara na hora. Ele falou um Oi para Ylsa e continuou andando até sair do colégio. Ylsa me olhou, e nós sorrimos.

 - O que te falei? Ele estava na sua, só você que não percebia. Bobinha. - bati no nariz dela e nós rimos.

 Eu fui embora meia-hora depois de nós termos ficado conversando. Quando entrei em casa, coloquei a chave em cima do balcão da cozinha e fui na direção da sala, percebendo que estava escura, tendo apenas uma luz fraca. Andei nas pontas dos pés até a porta e me deparei com uma cena que não via a algum tempo. Renée e Charlie sentados no sofá e assistindo um filme. Mas eles não estavam simplesmente sentados, eles estavam como um casal realmente ficava. Eu me senti feliz com aquilo, porque apesar de Charlie me ajudar, Renée ainda o tratava como seu marido. Os dois trocavam caricias e sorrisos, e em seus olhos eu vi aquele brilho deles.

 Fui na ponta dos pés na direção da escada para não estragar o clima.

 - Bella? - Renée chamou. Eu falei um "merda" baixinho e me virei. - Você não quer assistir um filme com nós?

 - Ah não, mamãe. Hoje não. Tenho umas coisas para fazer e... - dei de ombros.

 - Tudo bem, então.

 Eu sorri e subi o resto das escadas, indo para meu quarto. Lá joguei minha mochila no chão e cai na cama, suspirando. Pensei no que Ylsa disse e me perguntei "Porque não?". Porque eu não podia arriscar? Dessa vez eu não iria deixar isso de lado, mesmo que meu lado racional mandasse, eu não iria.

 Levantei da cama e fui até meu closet, parando de frente para ele. Vamos lá, Bella. É só experimentar, não é nada mais que isso, falei para mim mesma, mas aquilo não me deu a coragem para desenterrar as roupas. Então, fui um pouco mais louca. Vista essa roupa agora, Isabella. Ou então lhe darei mais um livro, pensei como Renée e pareceu adiantar, pois eu abri o closet e peguei as sacolas. Jogue-as na cama e corri para trancar a porta, caso Renée resolva dar uma olhadinha em mim.

 - É só para experimentar. - murmurei.

 Eu peguei a sacola aonde tinha a calça jeans preta e a camiseta branca com a bandeira da Inglaterra. Joguei as sacolas no chão e estendi as peças de roupa ali, colocando do lado o All Star de cano médio e a... Jaqueta de couro. Olhando por ali, aquela combinação parecia perfeita.

 Tirei a calça jeans que eu estava vestida, antes que me arrependesse. Vesti a preta e logo tirei a blusa, colocando a camiseta. Coloquei o All Star e pegando a jaqueta de couro, fui até meu espelho de corpo inteiro. Como no vestiário da loja, aquela não parecia eu. A roupa... Não eram minhas. Mas ao mesmo tempo era. Eu as sentia fazerem parte de mim, mesmo não sendo minhas. Se eu estivesse ficando louca, nunca mais a tiraria do corpo.

 Eu peguei a jaqueta e coloquei, sentindo o coro pesar. Me encarar ali fora algo diferente, e eu não estava acostumada. Mas faltava algo... Prendi meu cabelo em cima. Muito mal prendido, mas prendi. Agora sim aquela não era eu. E se fosse ontem, nunca seria. Só que agora, depois de quem ter falado aquilo para mim fora o Cullen, eu iria mostrar para ele que eu não seria para sempre capacho da Renée. Eu usaria aquela roupa na segunda-feira, e mostraria para todos - mas principalmente para ele - que eu podia sim ser confiante e ter as minhas próprias escolhas.

 Renée podia arrancar meus cabelos, ou me dar cem livros com mil páginas para ler, mas eu iria com aquela roupa.


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Notas finais do capítulo

Hey, Gatinhas, o que acharam da atitude de Bella? Parece que ela ficou nervosa dessa vez, hein. Vim mais cedo dessa vez porque quando comecei a escrever o capítulo e vi como ele iria ser, não me aguentei, afinal, todos querem essa mudança, certo? Bem, cometem muito e recomendem *-*, que na próxima eu prometo aparecer com grandes emoções, KK Beijos