Revista Nerd escrita por SumLee


Capítulo 19
Motivos e mais motivos




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18. Motivos e mais motivos

- Bella, para com isso! – Alice me deu um cutucão nas costelas.

 - Não posso. – murmurei, ainda com os olhos mirados em Jacó, que parecia estar ficando desconfortável com meu olhar. – Esse garoto... Jacó... – balancei a cabeça.

 - É Jacob, idiota.

 - Tanto faz, não estou nem ai para saber o nome do Jacó.

 - Isabella, para com isso. – Alice puxou meu rosto para olhá-la. – A Nessie sumiu e você fica ai, encarando o garoto com esse olhar de “Eu sei o que você fez no verão passado”?!

 Bem... Depois que Alice disse a certeza, que era Jacó Black nesse colégio, nós saímos em busca de Renesmee, mas esta simplesmente sumiu do colégio. Fomos em todos os tipos de lugares que ela pudesse estar, mas não a encontramos. E Nessie não tinha saído do colégio, pois seu carro ainda estava no estacionamento. Nós só desistimos quando ouvimos pelas caixas de som do colégio que todos os alunos deveriam ir para o pátio central, onde ficava as escadas, para ouvir algo que o diretor Hell iria comunicar aos alunos. Com certeza sobre o jornal, claro.

 - Vai saber se não foi ele quem a seqüestrou? – arregalei os olhos. – MEU DEUS, ALICE, E SE FOI?! Nós temos que ajudá-la! – peguei a mão da Alice e tentei puxá-la comigo, mas a pixel empacou no lugar. – Vamos logo, antes que seja tarde! VAMOS, AL...

 - Bella, você está fazendo vexame... – Alice sussurrou no meu ouvido, ao mesmo tempo em que tampava a minha boca e mandava sorrisinhos constrangidos para os que nos encaravam, no meio daquele pátio. Eu tentei falar um “Foda-se”, mas saiu algo ilegível. – Agora – voltou à atenção para mim. – para de ser burra e pensa, ok? Jacob Black estava no refeitório quando Nessie sumiu então ele não a seqüestrou.

 Tentei argumentar contra, mas percebi que Alice tinha razão, então balancei a cabeça em concordância e assim ela me soltou.

 - Você tem que parar de assistir série policial e ler livros policiais. – falou negando com a cabeça.

 - Nunca! São os melhores. – bufei e cruzei os braços. – Mas e agora? – olhei para os dois lados, descruzando os braços. – Como vamos encontrá-la?

 - Eu não sei. Mas acho que Nessie está precisando de um tempo, entende? Para ela por os pensamentos em ordem e superar esse medo que ela tem do garoto.

 Nós duas encaramos Jacó, que olhou de canto e quando viu que o estávamos encarando, virou rapidinho para o outro lado.  Mesmo eu não indo com a cara desse Jacó, ele não parecia ser uma má pessoa. Principalmente porque Emmett só gargalhava e sorria ao lado dele. Tudo bem que Emmett estava sempre sorrindo, mas... Ah, tanto faz! Eu não ia com a cara desse garoto.

 - Por favor, alunos da Forks High School, atenção aqui! Silêncio, por favor! – o diretor Hell tentou chamar a atenção dos alunos, mas obvio que fracassou. – Por favor... – nada... – SILÊNCIO! – berrou no microfone, fazendo todos calarem a boca e olharem para ele. – Assim está melhor. – assentiu. – Eu quero avisá-los sobre algo novo que está havendo no colégio.

 Um garoto de cabelos lisos – mas tipo bem, beeeeem lisos de dar inveja – levantou a mão, e todos olharam para ele. O diretor se segurou para não revirar os olhos, já que ele não gostava que o atrapalhassem, e indicou com a cabeça para que o garoto falasse.

 - Nova como aquela mulher ali? – apontou para uma mulher um pouco afastada do Hell, com os braços cruzados sobre o peito.

 Bem... Não era uma mulher, era apenas Ylsa. Ok, não era apenas, era a Ylsa totalmente e fantasticamente bonita e de roupas novas. Todos ali presentes encararam ela sem saber exatamente quem era, com a curiosidade estampada em seus olhares. Claro, ninguém imaginaria que Ylsa, a inspetora que parecia uma velha, pudesse ficar daquele jeito, então com certeza não passava na cabeça de nenhum daqueles idiotas que era ela ali.

 - Ah, sim... – o diretor suspirou olhando para Ylsa. – Essa é a Srta. Lewis.

 A surpresa para eles foi grande. A maioria não acreditava que era mesmo Ylsa ali, e ficavam fazendo perguntas como “O que ela fez?”, que é claro algo meio obvio. Os burburinhos foram muitos, e os únicos que não estavam assim éramos nós do jornal e os nerds, que tinham visto na capa da revista.

 O diretor tentava novamente chamar a atenção de todos, só que a euforia era grande, e nem os seus berros conseguia fazê-los calar a boca. Olhei para Ylsa, que parecia procurar alguém no meio daqueles adolescentes barulhentos, e quando seus olhos encontraram os meus ela sorriu e fez um “O.K” com a mão, piscando um olho. Eu repeti seu gesto, sorrindo cúmplice com ela. Pelo menos Ylsa conseguiu sair das garras super-protetoras de seu pai e agora ela era alguém, mostrando para ele que ela podia. Mesmo se vestindo daquela forma, que era uma saia jeans de pregas que ia até um pouco acima do joelho e uma camisa de seda creme com umas florzinhas rosa bebê e gola pólo. Por cima tinha um bolero de couro. Nos pés uma sapatilha com o que parecia ser enfeitada por tachinhas. O cabelo totalmente rebelde. Ylsa estava linda, como Alice sussurrou no meu ouvido.

 - CALEM A BOCA! – Hell berrou e dessa vez ouviram ele. O homem estava roxo, e acho que de tanto gritar. – Nem parecem que seus pais o educam. Deus, como vocês conseguem falar tanto? Sabem o poder que vocês têm quando falam todos juntos? São capazes de deixar um louco. – resmungou, arrumando a gravata. – Como eu ia dizendo, está havendo algo novo além da mudança da Srta. Lewis – suspirou novamente ao falar o sobrenome de Ylsa. – Que é o novo jornal que os colegas de vocês estão fazendo. – o burburinho retornou e mais uma vez Hell gritou. – Agora, quem falar quando eu disser algo irá ganhar uma detenção! – eu bufei e revirei os olhos para o drama dele. – Como a escola só dá renda para um jornal, eu pensei em fazer uma disputa entre os dois jornais.

 - É O QUE?! – Alice e eu berramos, chamando a atenção de todos dali.

 Mas como esse diretorzinho tinha a capacidade de mentir dessa forma na nossa frente? De pegar todo o crédito da idéia para ele? Era muita cara de pau mesmo para uma única pessoa.

 - Srta. Swan e Srta. Cullen, detenção para as duas!

 - Mas... – tentei argumentar, incrédula.

 - Sem reclamações, Srta. Swan. Ficou claro que quem me atrapalhasse iria levar detenção. – ele me encarou nos olhos e eu revirei os meus, bufando e cruzando os braços. – Então, alunos, essa disputa serão vocês quem iram resolver. Os dois jornais: Forks High School e Revista Nerd terão três meses para publicar coisas que vocês acharam legais e a cada mês haverá uma votação para que no final nós contemos os pontos e assim sabermos qual jornal permanecerá. Hoje mesmo já tem uma publicação para vocês olharem.

 Dessa vez quem levantou a mão foi uma garota, que fazia parte do grupo dos populares. Sabe, aquele grupo onde são pessoas conhecida e inteligentes, não como os esportistas que são conhecidos e burros!

 - Sim? – o diretor perguntou.

 - Mas que jornais? Eu não vi nada. – ela falou.

 - Não? Ué... – ele olhou para Alice e para mim depois para o outro lado do pátio.

 Alice levantou a mão e ele fez um gestou para ela falar.

 - Sr. Diretor, nós entregamos poucas cópias hoje, mas temos mais algumas com nós. – virei minha cabeça para ela, que deu de ombros.

 - Sim... Sim... Então, quem estiver interessado fale com a Srta. Cullen ou com o Sr. Yorkie. Bem... Era apenas isso mesmo que eu tinha para falar para vocês. Agora podem voltar para as suas salas... Menos a Srta. Swan e a Srta. Cullen. – ele sorriu para nós duas.

 Aos poucos todos foram saindo do pátio e seguindo pelos corredores, enquanto Alice e eu sentamos no degrau que tinha ali para esperar um pouco antes de irmos buscar nossa detenção.

 - Oi, Alice! – a garota loira que tinha levantado a mão apareceu na nossa frente, com mais duas garotas loiras ao lado dela.

 - Oi, Wanda! – Alice disse animada pulando para ficar em pé.

 - Nossa, garota, você está mesmo participando de um jornal? – balançou a cabeça, com um sorriso. – Com certeza tem moda nisso!

 - Pode apostar que sim.

 Eu segurei um gemido vendo toda aquela baboseira de patricinha. Era irritante aquele papo todo. Ugh!

 - Então, amiga, cadê? Eu preciso ler urgentemente e mostrar urgentemente.

 - Ah! – Alice exclamou de olhos arregalados. – Bem... – olhou para mim. – Agora não tem como eu ir buscar por que... – levantou um ombro. – Como você viu, tenho que pegar minha detenção e...

 - Vai lá, Alice. – falei entediada. – Eu falo com o Sr. Hell.

 - Ah, Bella! Obrigada! Você é demais. – Alice me deu um beijo na bochecha e pegou a bolsa dela. – Até daqui a pouco.

 - Até. – acenei.

 As garotas abriram um sorrisinho para mim e seguiram Alice, que ia na direção do corredor que dava na sala dos funcionários. Eu levantei e peguei minha bolsa, subindo as escadas de dois em dois degraus para ir mais rápido.

 Falar com o Hell foi fácil, já que ele não reclamou que Alice não estava porque foi buscar mais jornais. Ele pediu desculpas por falar na frente de todos que estávamos de detenção, mas nós não estávamos exatamente. Sabe, o poder da briga entre jornais tem seus lados bons, porque ele falou que ia me dar papeis dizendo que era da detenção, mas não era para nós irmos. Com um sorriso eu peguei a dela e minha detenção, que eram de uma hora e meia, sentadas numa sala com mais alguns alunos bagunceiros e olhando para a cara da velha chata da Sra. Smith, que só sabia pintar as unhas e pedir silencio. A velha era considerada a professora mais chata do colégio... E graças a Deus nós nos livramos disso.

 Eu segui para a minha aula de Biologia, caminhando devagar para assim enrolar. Pedi licença para o professor e me sentei ao lado do Cullen, que segurava uma risada. Lhe dei um soco por debaixo da mesa, fingindo prestar atenção no que o professor falava. Assim que ele nos entregou uma folha para respondermos, o Cullen falou comigo, e claro, para falar alguma gracinha.

 - A Swan toda certinha na detenção. – estalou a língua e negou com a cabeça. – Que decepção.

 - Cala a boca, imbecil. – rosnei. – Você sabe que eu não fiz nada.

 - Além de atrapalhar o Sr. Hell, que é algo sagrado.

 - Aquele idiota. – resmunguei comigo mesma, para insinuar e para xingar também.

 O Cullen estendeu a mão sobre a mesa e pegou as duas detenções.

 - Porque a da Alice não está com ela? – perguntou calmamente.

 - Porque ela teve que ir pegar mais alguns jornais para umas garotas. – dei de ombros, concentrada na minha folha.

 - Hm... – fez, analisando os papeis. – Que garotas?

 - Ah... Umas lá do seu grupinho. – dei de ombros e respondi uma questão.

 Senti o ar ao meu lado esquerdo ficar tenso e ergui os olhos da folha. O Cullen parecia não respirar e eu, não querendo um morto do meu lado, o balancei, fazendo-o acordar.

 - O que aconteceu com você? – perguntei.

 - Garotas populares... Jornais... Fofoca... Namorando... Você... Eu... – ele disse lentamente.

 Juntei as palavras dele e olhei para os dois lados, entendendo realmente o que ele queria dizer. Algo óbvio: As garotas populares vão ler a coluna de fofocas onde está dizendo que nós dois estamos namorando.

 - Merda... – murmurei. – Porque tudo na minha vida dá errado? – enfiei a cara na mesa. – O que eu fiz, meu Deus?

 - Temos que impedir isso! – ele falou desesperado.

 - Não da mais tempo. – gemi, ainda com a cara enfiada na mesa. – Elas já devem ter lido. Faz tempo que Alice saiu com elas.

 - Quem era a garota? – perguntou, ainda desesperado.

 - Uma... Tal de... Vanda... Wanda... Sei lá!

 - Ah não... – ele também enfiou a cara na mesa, me encarando. – Essa é uma das garotas mais fofoqueiras dali.

 Nós dois gememos. Pronto, agora que o colégio inteiro iria mesmo achar que estamos namorando sem nem estarmos! Eu não merecia isso. Não mesmo.

 A aula de Biologia pareceu uma eternidade para acabar, e eu quase não consigui chegar ao ginásio com meus passos lentos. Minha mente ia a mil pensando no que falariam sobre esse assunto, e com certeza o Cullen também pensava isso. Agora eu iria ganhar inimigas mesmo sem querer, e não seria mais tão invisível naquele colégio. Minha vida estava virando um caos...

 O treinador fez as garotas jogarem vôlei e os garotos basquete. Ele estava com preguiça de dar alguma coisa a mais. Eu agradeci por isso, e por um minuto o amei, só que no minuto seguinte, quando ele disse que todos, mas todos mesmo, inclusive os descoordenados tinham que jogar, eu o odiei. Ninguém me queria no time, e eu achando que isso iria me livrar de jogar foi uma esperança jogada fora, porque o professor me incluiu em um time, deixando as garotas nem um pouco felizes. Agora eu só não sabia se era por causa do meu péssimo jogo ou por causa do Cullen.

 Nessie não estava ali, e eu comecei a ficar preocupada com a ruivinha. Já tinha passado mais de uma hora e meia que ela tinha sumido e nenhum sinal. Não fazia a menor idéia de onde ela podia estar, e isso me preocupava mais ainda. O terror em seus olhos quando olhou para o garoto foi... Estranho. Tudo bem que Nessie é uma garota cheia de traumas, só que aquele olhar não era apenas terror, tinha algo a mais. Talvez, algo bom... Eu não sabia. Foi rápido e misterioso.

 Eu consegui ficar atrás no jogo, mas a bola parecia ter um amor platônico por mim e só vinha ao meu encontro, e eu sempre com medo desviava, deixando o time adversário fazer ponto. Só que essa insistência da bola sempre vir na minha direção estava já ficando suspeito, principalmente por causa dos sorrisinhos sacanas que Tânia Denali dava na minha direção. Teve uma hora que ela se deu ao luxo de ter um monólogo comigo, falando:

 - Você está ferrada. – apenas com o movimento dos lábios e apontando para mim.

 Fiquei confusa no começo querendo saber o motivo daquilo, mas foi então que um clique se fez na minha cabeça e eu percebi que aquilo era por causa de Edward. Só que bem no momento desse clique eu não vi a bola vindo em minha direção e mais uma vez fui acertada por ela. Mas que dessa vez não foi na barriga, foi na clavícula mesmo. Eu senti meu peito doer e minha respiração ficar presa, além de meu coração perder uma batida. Cai no chão, me sentindo tonta. Essa garota queria era me matar, só pode!

 Tânia Denali para mim não era considerada a garota mais legal do colégio. Na verdade para mim Tânia era apenas uma garota fácil demais e fútil demais. Loira, porte atlético, pele de marfim, olhos azuis e voz doce. Só que a minha opinião não era a mesma que a maioria do colégio. Para todos, ela era a melhor, mais bonita, e a garota perfeita. Cegos, claro!

 - Bella! Bella! Você está bem?

 - Ela se machucou?

 - Meu Deus, por que ela não desviou?

 Várias garotas me rodearam e ficaram fazendo perguntas, e aquilo me deixou ainda mais tonta. O ar entrava e saia com dificuldade por causa da batida, e minha cabeça doía por causa da queda. Eu estava começando a odiar mortalmente a aula de Educação Física. E estava também pensando seriamente em pedir para trocar essa aula ou então um dia eu iria sair daqui morta.

 Esse pensamente me fez tremer. Era um pensamento ruim. Muito ruim.

 - Eu estou bem. – falei, mas saiu como um gemido.

 - Você ficou louca,Tânia?! Quer matá-la?! – uma garota se virou para a loira.

 - Não... Eu não... Queria. – ela fez cara de coitada. – Me desculpe, Isabella?

 Eu rosnei um “Bella” que a loira fingiu não ouvir. Já cheia daquelas garotas na minha volta eu comecei a levantar, mas uma mão com unhas grandes e bem feitas apareceu na minha frente. Eu reconheci logo de primeira, claro. Peguei a mão de Alice e ela me ajudou a levantar.

 - Você está bem? – perguntou preocupada.

 - Estou sim. – assenti. – O que você está fazendo aqui?

 - Precisamos achar Nessie. Não agüento mais ficar sem saber dela. – concordei com a cabeça. – Ela sumiu há muito tempo.

 - Vamos logo.

 - Não vai se trocar... – olhou para as minhas roupas. – Com certeza lá fora está mais quentinho que aqui dentro para essas roupas mini.

 - Verdade. – suspirei e puxei-a para o vestiário.

 Vesti minha roupa sem nem mesmo tomar um banho, pois queria logo achar a monstrinho – como o tal de Jacó a chamava. Assim que prendi meu cabelo em cima, peguei minha mochila e nós seguimos para fora do ginásio, indo para o campo de futebol-americano. Aquilo me lembrou quando eu fui atrás do Cullen. O garoto era estranho por correr de mim vindo para cá. E idiota, pois passei um frio danado aquele dia.

 - E agora? – perguntei.

 - Nós já fomos em muitos lugares, menos no observartório que tem aqui atrás do campo de futebol-americano.

 - Mas o que ela esta... – revirei os olhos e bufei. – É obvio, um lugar preferido, mas que não é dela.

 - Isso! E de quem é? – ela sorriu maliciosa para mim.

 - Ah, Alice, não enche. – cruzei os braços. – Não tem nada haver eu gostar de ficar lá. É calmo, longe de todos e melhor, ninguém vai lá.

 - E claro, você pode olhar de perto algo que tem no seu teto, mas que não é real.

 - Vamos logo e esquece isso. – resmunguei e puxei a baixinha comigo.

 Nós atravessamos um pequeno caminho de terra e logo chegamos ao que parecia o portão da frente da escola, só que esse era interno. Se continuássemos um caminho de terra daríamos na floresta e ainda poderíamos sair do colégio sem ninguém nos ver.

 Eu empurrei o portão que tem ali, resmungando a falta de óleo no lugar, já que o portão rangia demais. Atravessamos o pequeno jardim e entramos pelas portas de madeira, que também rangeram ao serem abertas.

 O observartório era um dos lugares mais bonitos do colégio. Como em todo observartório tinha aquele teto arredondado e com uma brecha onde tinha um telescópio grande que dava para ver as estrelas. Mas para chegar lá tinha que subir umas escadas em curva, e lá em cima, como um corredor, tinham estantes e mais estantes de livros, além de mesas. No andar de debaixo tinha também estantes e mesas, além da mesa que ficava uma senhorinha para quando os alunos fossem lá. Era como uma biblioteca só que apenas para astronomia.

 Nós subimos a escada em forma de curva e caminhamos pelo corredor. Sentada atrás do telescópio estava Nessie, abraçando as pernas e com a cabeça encostada nos joelhos. Eu joguei minha mochila ao lado da dela e me sentei ao seu lado, imitando se jeito. Alice se encostou ao telescópio com os braços cruzados.

 - Era... Ele. – a ruiva sussurrou com a voz rouca.

 Sua maquiagem estava totalmente borrada, fazendo-a parecer uma pandinha com a pele branquinha e só aquela parte preta. Isso mostrava de longe que ela estava chorando.

 - Nós sabemos. – Alice disse. – Mas... A forma como você o encarou não era apenas medo, Nessie. Sabe, parecia ter algo a mais...

 Eu assenti, vendo agora que não fui apenas eu que percebi o olhar de Nessie para o tal Jacob. Como eu tinha pensado, parecia mesmo ter algo a mais.

 - Eu... – ela suspirou e nos encarou. – Eu não vim para cá por que estava fugindo dele. – sussurrou.

 - Não? – Alice arregalou os olhos. – Mas...

 - Bem... Tecnicamente foi mesmo por isso, eu estava fugindo de Jacob. Só que... Tem mais.

 - Você vai falar? – Alice perguntou.

 - Como eu tinha dito, no outro colégio eu era a garota mais popular e Jacob era o capitão do time de futebol. Eu... – ela corou. – Sempre gostei de Jacob, só que ele parecia nunca me notar, entende? Mesmo eu sendo popular e líder de torcida, ele só tinha olhos para as outras garotas. Eu não sei se era pelo que eu “era” antes, ou simplesmente eu não era bonita o suficiente para ele.

 - Como assim era? – pela primeira vez falei.

 - Antes do colegial, no Junior, eu era gordinha e cheia de sardas. Isso fazia as crianças não gostarem de mim. E desde criança eu sempre estudei com Jacob, e ele era o único que não gostava de fazer brincadeiras de mal gosto comigo. Só que então... Eu admiti para ele que tinha uma quedinha infantil por ele, e o covarde simplesmente se afastou.

 Eu arregalei os olhos, entendendo o ponto de vista da Nessie. Eu não era nem gordinha e nem tinha quedinha por crianças estúpidas. Ao contrario, eu era mais que magrela, e tinha umas orelhas bonitas até demais. Isso chamava a atenção das crianças malvadas e por isso elas gostavam de “brincar” comigo. Sempre odiei crianças por causa disso. Elas podiam ser más quando queriam. E mostravam essa maldade sempre para mim.

 - Então, depois de desistir de chamar a atenção de Jacob, eu me surpreendo com um pedido dele para um encontro. Claro que aceitei e foi uma das minhas melhores noites que tive. Cinema, sorveteria, conversar no carro até tarde. Sabe, uma noite romântica. – ela riu. – Mas no dia seguinte eu descobri que eu fui uma simples aposta. Que os garotos duvidaram que Jacob Black não conseguiria levar Renesmee McCarty para sair, e o imbecil conseguiu com facilidade.

 - Mas como você descobriu? – Alice perguntou, totalmente presa a história da ruiva.

 - Ele mesmo me falou, no outro dia. Foi algo... – ela tremeu. – No meio do estacionamento quando eu fui falar com ele, do nada o garoto começou a falar alto que não me queria que fosse para eu sair do pé dele e que eu fui uma aposta. Mas... Eu não fui atrás dele, só fui apenas dar um “Oi”. – riu novamente. – Muitos viram, e eu fui zoada novamente. Tentei levar tudo em uma boa, mesmo sendo motivo de brincadeiras. Eu não sei o que aconteceu depois, mas Jacob veio se redimir e falou que não queria fazer nada daquilo comigo no estacionamento, mas era parte da aposta. Eu disse que não queria saber, só que Jacob continuava insistindo. Insistindo muito mesmo. Dizendo que não conseguiria se sentir bem sabendo que eu não o tinha perdoado pelo que fez. E não agüentando ser motivo de brincadeiras e sendo perseguida por Jacob, eu mudei de escola. E aqui estou eu. – deu de ombros. – Só que agora ele está aqui, para me infernizar novamente.

 Ficamos um minuto em silêncio, sem saber mais o que falar. Quero dizer, por praticamente um ano Renesmee mentiu para mim e para Alice, com uma meia verdade. E agora ela nos conta realmente o motivo de sua vinda, e logo agora que o animal está no colégio.

 - Vamos bater nele! – falei animada, fazendo Nessie rir. – Não é brincadeira, é sério. – insisti.

 - Eu sei. – ela riu de novo. – Mas é que você lembrou o Emmett agora.

 Fiz uma careta para ela, vendo se ela não estava tirando uma com a minha cara, mas não. Ela não estava! Que absurdo...

 - O que você vai fazer agora? – Alice perguntou para Nessie.

 - Não sei... Mas não quero encará-lo.

 - Você tem... Medo dele? – perguntei.

 Ela deu de ombros, sem nem saber responder. Sabia que Nessie era mesmo cheia de traumas, e agora não duvidada que ela também tivesse esse.

 - Ok, então. – Alice se sentou de frente para nós, com as pernas cruzadas em forma de índio. – Vamos ficar aqui até da à hora de irmos embora. Já que não temos mesmo que ir para a detenção.

 - Yeah. – assenti.

 - Que detenção? – Nessie perguntou.

 Eu expliquei para ela e a ruivinha caiu na gargalhada.

 Nós três ficamos por praticamente uma hora e meia conversando e rindo. Algo que não fazíamos a um bom tempo... Contamos piadas sem graça, que apenas quem contava era a que entendia. Falamos da nossa semana corrida. Faltavam apenas os doces para nós parecermos que estávamos numa festa do pijama no observartório. Alice até arrumou a maquiagem da Nessie Pandinha.

 Quando fomos perceber já passava da hora de ir embora, então sabendo que o tal de Jacó já tinha ido, pegamos nossas coisas e fomos para o estacionamento. Estranhei ao ver lá um carro a mais. Tinha o meu Mini, o New Beatle da Nessie, o Porshe canário da Alice e o Volvo prata. E encostado ao Volvo, de presente – um mau presente – estava Edward Cullen, de braços cruzados e fones de ouvido. Nós fomos até ele, e eu encostei-me a seu carro, ao seu lado. O Cullen tirou um lado do fone e sorriu para Alice e Nessie, que estavam na sua frente.

 - O que você está fazendo aqui ainda? – Alice perguntou.

 - Esperando a Isabella. – ele deu de ombros.

 Eu soltei um “O que?!” mudo e as meninas arregalaram os olhos. Claro que elas levaram para o outro lado, como sempre. Aprendi que elas sempre levariam, mesmo que seja o meu “inimigo” que esteja falando algo como “Esperando a Isabella”. Eu neguei com a cabeça, não acreditando.

 - Ah... – Alice fez. – Ok, então, maninho. Até em casa. – ela acenou e seguiu para o carro dela.

 - Tchau. – Nessie deu um sorriso e acenou, praticamente correndo para o dela.

 Assim que os dois carros saíram do estacionamento Edward se virou de frente para mim.

 - O que você quer? – perguntei educadamente.

 - Eu consegui. – abriu um sorriso do tamanho do mundo.

 - Conseguiu... O... Que? – perguntei lentamente.

 Estiquei minha mão e peguei o fone que ele tinha tirado do ouvido e coloquei no meu, vendo que ele ouvia Creed, uma banda um pouco atualizada. Comecei a balançar minha cabeça no ritmo da musica, que era boa.

 - Consegui fazer a noticia não se espalhar.

 Encarei-o com uma sobrancelha erguida. Aquilo me fez lembrar-se de algo.

 - Você tem certeza?

 - Claro! Falei com a Wanda e perguntei o que ela queria em troca. A garota aceitou na hora e disse que não espalharia para ninguém.

 - Você tem certeza? – perguntei em um rosnado e o Cullen deu um passo para trás.

 - Eu te-tenho. – falou.

 - Sério? – fiz com cinismo. – Se você tivesse feito isso mesmo eu não estaria com isso! – abaixei o zíper da jaqueta e a gola da blusa, mostrando o formato redondo vermelho que tinha na minha clavícula.

 - Mas... – o Cullen se aproximou e bem devagar ele tocou no lugar, com as pontas dos dedos. Aquilo me incomodou, como uma sensação de formigamento, então eu empurrei a mão dele e fechei a blusa. – O que foi isso? – perguntou.

 - Foi a vadia da sua namorada. – falei com raiva.

 - Eu não tenho namorada.

 - Fale isso para Tânia Denali, garoto. Foi ela quem fez isso, e eu tenho a mesma certeza que você tem que falou com o Wanda, que foi por sua causa. Ela quase me mata hoje!

 - Essa garota é uma sem noção. – ele revirou os olhos. – Wanda deve ter mostrado para ela antes de eu pedir.

 - Aham. – assenti. – E eu me ferro bonito nisso tudo. Eu espero realmente que você tenha falado com essa tal de Wanda e que ela não fale para mais ninguém porque eu não estou nem um pouco a fim de chegar em casa roxa até no rosto por causa de um mauricinho como você, Cullen. Não quero ter que me meter com essas patricinhas idiotas que você pega ai e depois larga. Eu não tenho nada haver com você e nem quero ter, não sei por que essas garotas idiotas acham que poderíamos ter algo. – bufei e cruzei os braços. – Escutou?

 Ele arregalou os olhos e me encarou por um minuto com uma expressão indecifrável, até ele assentir.

 - Escutei. – falou com a voz fria. – Não me aproximarei de você a não ser que seja para coisas do jornais, afinal, não queremos que as patricinhas acabem com você.

 O Cullen puxou o fone da minha mão e entrou no carro dele, batendo a porta. Ele ligou o carro e saiu rápido do estacionamento, fazendo uma manobra legal com a ré. Fiquei encarando para onde o carro tinha ido, sentindo raiva do Cullen, de mim e do maldito formigamento que eu ainda sentia onde ele tinha tocado.

 Dois meses. Dois meses haviam se passado e mais duas publicações saíram do nosso jornal. Duas publicações que foram um sucesso, como Alice tinha dito, pulando.

 No outro dia depois da primeira publicação foi à votação e não sei como, mas nós ganhamos com os votos acho que dos nerds. Além de eles votarem, as meninas que leram começaram a usar as dicas da Alice, aparecendo cada vez mais bonitas e bem vestidas. Aquilo fazia um sorriso crescer na face de cada um dali do nosso jornal, mas principalmente na da pique, que só faltava não dormir de tanta alegria. Nessie e eu tínhamos muito que agüentar Alice falando sem parar o quanto ela estava feliz e blá blá blá, mas o bom era que sua felicidade era contagiante até para mim, a mau humorada.

 Nessas duas publicações nossas noticias melhoram bastantes, além das fofocas do Emmett serem o “bafão” do mês. Ou o garoto se ferrava ou se dava muito bem, algo que ele adorava. Sim, ele adorava até se ferrar. A pior vez que ele se ferrou mesmo foi com Shannon, que eu não sei porque não falou comigo em um mês sobre sua suposta vingança. Comecei a achar depois do segundo mês que ela já não precisava de mim.

 A minha parte no jornal tinha se tornado a pior de todas, assim como minha aula de Biologia. O Cullen ficou mesmo com raiva de mim naquele dia, o que eu achei injusto, pois quem deveria ficar com raiva era eu, quem tinha levado uma bolada quase que na cara! O caso era que ele tinha mesmo resolvido lá com o Wanda, e essa não falou para ninguém o que tinha no jornal, algo bom. Quero dizer, tudo bem que varias outras pessoas leram, mas foi ela quem espalhou para todos que aquilo era uma mentira e que quem contou foi pago para aquilo, mesmo o nerd esquisito jurando de pé junto que quem lhe falou foi mesmo Edward Cullen.

 Na hora de nós dois – Cullen e eu – trabalharmos juntos, falávamos apenas o necessário e tinha que ser muito necessário mesmo, ou então nós não falávamos nada. Ele era osso duro de roer, como Nessie tinha falado dos seguranças. Na aula de Biologia quando tinha algo para fazermos juntos não trocávamos mais que cinco palavras, e olhe lá. A única vez que ele falou comigo fora do jornal ou da aula foi para entregar o meu CD depois de um mês certinho. E não foi mais nada do que: “Está aqui e obrigada”, pronto, só isso. Admito que todo aquele silêncio e frieza estava me matando, mas era melhor assim, afinal, eu não gostava nem um pouco do Cullen, então quando não falava com ele era bom. Ok, talvez seja um pouco ruim não ter ele me irritando, mas estava tudo bem. Estava tudo ok! E nada do que mais OK.

 Tânia não tinha parado com as frescurinhas idiotas dela, mas eu comecei a relevar de forma boa, fazendo-as ficarem todas sem graças. Nenhuma foi tão longe quanto aquele dia no ginásio, o que meu corpo agradeceu, porque mais um roxo de bola era demais.

 Nessie e Jacó – eu continuo a insistir em chamá-lo assim – até que se resolveram. Bem... Eles não se resolveram. Eu que os resolvi. Falei para o tal de Jacó que quando Nessie quisesse falar com ele, ela falaria. E que se ele estava na FHS para enchê-la, eu quem iria enchê-lo e ele iria ficar louco. O garoto ficou com medo e disse que estava tudo bem, mas que ele não estava na FHS para falar com Nessie – ou uma parte era. Tudo isso aconteceu sem que Renesmee soubesse, claro. Mas agora ela já sabe, e não brigou nem nada comigo, para meu alivio. O Jacó e eu até nos falávamos de vez em quando. No começo ele odiava que eu o chamava de Jacó, mas depois se acostumou. Ele tinha que se acostumar.

 Estávamos na ultima edição para escolher quem ficaria com o jornal até o final do ano. Todos estavam caprichando em tudo: Alice em suas dicas de moda, Emmett com suas fofocas que aumentariam, Rosalie pensando em fazer um desenho novo do Arnold – demos um nome para o bonequinho que se tornou nosso xodó – e Nessie estava preparada para uma entrevista nova com um criador de um jogo novo do PSP que o Tony – SIM, O TONY! – conseguiu para ela. Mas contanto que não tirasse foto e Tony estivesse lá, já que ele era amigo da garoto – SIM, GAROTO! – que criou o jogo.

 Ah, e sobre o Tony, bem... Ele me ligou duas semanas depois da Convenção Jedicon, e me explicou que não ligou antes porque estava ocupado. Nós conversamos muito naquele dia, tanto que eu até parei de ler o enorme livro que Renée tinha me dado e fui conversar com ele. Então, de vez em quando ou ele me ligava ou eu ligava, e nesses dois meses nós nos tornamos grandes amigos. Eu descobri tudo que ele gostava e odiava, além de que seus pais pareciam serem muito legais. Não sei por que não os conheci. Apenas a irmã dele, que um dia conversou comigo porque estava com o celular dele. Yeah, Tony era muito legal. E pelo menos teve um lado bom naquela convenção maluca.

 Agora Renée... Bem, essa daí continuou a mesma nesses dois meses. Eu admito que teve algumas vezes que eu pensei “Que se foda!” e quase arranjei uma grande confusão com ela, mas como sempre me controlei. Admito também que a minha paciência com ela está por um fio bem fino, e se ela insistir mais eu vou acabar explodindo e ficando louca. Ganhei mais um livro para a coleção e aprendi mais algumas coisas com Charlie, que nesses dois meses tentou de todas as formas me ajudar. Só que como ele disse: “Renée é Renée, e ninguém pode contra ela, apenas...”, mas meu querido pai não terminou a frase e eu fiquei sem saber quem podia contra minha querida mãe. Só que um dia eu iria descobri... Ah se ia! Ou eu não me chamava Bella... Tudo bem que eu não me chamo exatamente Bella, e sim Isabella, mas vamos levar como Bella, que é mais legal.

 Com a última edição numa correria, Alice me mandou procurar alguém para ser a nova “estrela” da capa. Não alguém, mas um garoto. Nossa ultima edição falaria sobre garotos. Não o quanto eles são chatos, irritantes, crianças, bonitos só que sem nada na cabeça e outros adjetivos lindo que eu tenho para eles. Ela quer falar sobre roupas e que os garotos podem sim serem cavalheiros. Não sei de onde ela tirou isso – talvez do papai doutor dela -, mas eu relevei.

 Eu tinha alguém na minha mira, que seria perfeito para o papel da revista. Eu estava de olho naquele garoto a dias, vendo como ele era, e percebi que além de inteligente – yeah, um meio nerd – o garoto era bonito por trás dos óculos com armação legal. Esse garoto estaria na capa dessa edição com toda certeza.



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Notas finais do capítulo

Hey, Gatinhas !! E eu apareci, com um capítulo grande. Eu estava com ele pronto desde segunda, mas fiquei sem internet nesses dois dias - quase entrava em desespero para postar logo , KK
Obrigada pelos reviews - que estão aumentando *----* . E bem vinda as leitoras novas ;)

Beijos;