Revista Nerd escrita por SumLee


Capítulo 14
O outro lado de Ylsa




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13. O outro lado de Ylsa

- Ihhhh, o mau humor hoje parece grande. – Nessie falou quando eu passei por ela sem nem falar oi.

 Mostrei meu dedo amigo e continuei meu caminho em direção o meu armário. Lá eu joguei tudo na mochila, sem se preocupar se tinha ou não alguma aula que precisaria daquilo, e fui para minha primeira aula, de Inglês.

 - BELLA! BELLA! BELLA, ESPERA! – Alice berrava de algum canto do corredor lotado de adolescentes.

 Mesmo que eu tenha escutado o que ela pediu, eu continuei andando. Meu humor não era o dos melhores, então preferia ficar longe das pessoas para não tratá-las mau como tinha feito com Renesmee. Hoje além de eu ter acordado muito atrasada, tive que ouvir Renée falar sobre a hora que eu chegasse em casa teria que dizer para ela tudo que tinha perdido em Calculo e mostrar que tinha estudado e aprendido. Na hora que ela terminou de falar, eu queria poder dar-lhe um soco no meio da cara e mandá-la ir catar coquinho, mas me segurei e continuei rodando o meu suco no copo.

 - ISABELLA?! – Alice pegou meu braço com força e me virou. – O que deu em você?!

 - Nada. – murmurei.

 - Como nada? Estou te chamando há muito tempo e você fez que não ouvisse. Eu sei que você ouviu! – ela acusou quando fui abrir a boca para negar. – Nossa, sua cara está péssima.

 - Obrigada por falar isso, Alice – agradeci com a voz cheia de ironia. – Mas eu já sabia disso.

 - Desculpa. – pediu.

 Ela me pegou pelo braço e me arrastou na direção da nossa sala. O caminho foi feito em silencio, o que eu agradeci muito, porque não queria mesmo descontar minhas frustrações na Alice. Ela cumprimentava umas pessoas que passavam por nós. A maioria do grupo dos populares. Nós entramos na sala e seguimos para o nosso lugar no fundo. Lá eu peguei meu iPod na bolsa, coloquei os fones no ouvido e aumentei no ultimo volume. Mas, por alguma razão estranha e que afetou meu mau humor, eu não conseguia ouvir a musica. Ela parecia irritantemente irritante, que eu tive que tirar os fones na hora.

 - Merda velha. – resmunguei e joguei o iPod na bolsa.

 - Você não está bem mesmo. – Alice murmurou, me encarando de olhos arregalados.

 - Como você quer que eu esteja bem? Ontem eu mal cheguei em casa e já dei de cara com Renée, que brigou comigo por eu não ter estudado o lixo de Calculo. Então, eu burra como sou. Sim! Burra. – ela fechou a boca na hora que a cortei pra confirmar o que eu sabia que ela iria perguntar. – A anta aqui foi lá e estudou a merda do livro até ou passando das três da manhã. O que é um recorde até para mim. Acordei super-hiper-mega atrasada, tive que ouvir mais uns sermões de Renée, e pior que sem o Charlie pra me ajudar. Agora eu estou aqui, sentada nessa cadeira desconfortável, com raiva das minhas próprias musicas e dando uma de adolescente idiota que conta os seus problemas pra amiga. Droga! – bati a cabeça na mesa, muito frustrada.

 - Calma, Bella. – Alice levantou minha cabeça para eu encará-la. – Isso só é sono. Se você tomar um café, vai melhorar.

 Bufei e revirei os olhos, enfiando novamente a cara na mesa. Eu estava pior que péssima, a falta de uma noite longa de sono me fazia parecer uma velha estressada com a vida. Mas eu não podia fazer nada, não tinha em quem descontar tudo isso – porque eu não queria descontar nas meninas -, e guardava para mim mesma. Me frustrando mais ainda por não ter um saco de areia em que eu pudesse bater.

 As aulas até a hora do almoço passaram tão lentamente que eu tive vontade de pegar uma arma e me matar ali mesmo. E só piorou essa vontade quando eu entrei no refeitório e dei, na minha mesa, com Edward lá. Ele e Nessie riam de alguma coisa que eu não estava nem um pouco interessada de saber. Eu não comprei nada, apenas segui para lá e me sentei o mais longe dele.

 - E então, melhorou? – Nessie perguntou, com uma preocupação exagerada.

 Encarei-a com uma cara de “O que você acha?”, que ela entendeu muito bem.

 - Oi pessoas lindas. – Alice sentou ao lado do irmão, sorrindo mais que mendigo em ceia de natal. – O que fazem de bom? – perguntou ao mesmo tempo em que comia uma maçã.

 - Ah, nada. – Nessie deu de ombros. – Estávamos apenas combinando a hora que vamos para a convenção.

 - E vai ser que hora?

 - Cedo. – Edward respondeu. – Nessie disse que não conseguiu comprar o ingresso pela internet, então vamos comprar lá.

 - Acho meio difícil... – murmurei, e os três me encararam. – Se não tem mais na internet, duvido ter como comprar lá.

 - É. Bella tem razão. – Alice concordou comigo. – Acho que vocês vão ter que tentar a sorte.

 - Não tem nada. – Nessie gargalhou. – Damos o nosso jeitinho e entramos lá.

 - Cuidado, em. – Alice olhou-os como se fosse uma mãe. – Já sabe como você vai escrever, Nessie?

 - Sei sim. – Nessie balançou a cabeça lentamente. – E, acredite, vai ser fantástico.

 Ela e Edward riram de alguma piada interna entre eles, que nem Alice e nem eu entendemos.

 - Eu acho que nós precisaremos de um guia. – Edward falou. – Não sabemos nada sobre Star Wars, então vai ser meio difícil saber os nomes desses personagens, certo? – Alice assentiu. – Acho que precisamos de um nerd.

 Os três viraram para mim, como se estivessem comparando esse nerd guia comigo.

 - Nem sonhem. – falei, com a voz dura. – Não sei nada sobre essa porcaria. Só o básico que eu pesquisei ontem quando Nessie falou.

 - Diga o seu básico, Isabella?

 - Ah, eu sei o nome dos personagens. Sei também um pouco do que acontece na história. É muito pouco, foi uma pesquisa rápida, já que eu não tinha entendido o que Nessie tinha falado. Queria saber o que significava Jedis, Mestre Yoda e Darth Vader.

 - Está ótimo. – Nessie deu um sorriso de um canto a outro. – Bella, você vai ser nossa guia no dia da convenção.

 - Nada disso! Nem pensar. Nem em sonhos. Nunca que vou participar disso. Podem tirando essa idéiazinha idiota da cabeça, porque eu não vou fazer parte de uma dupla – apontei para Edward e Nessie – como vocês dois. Não estou a fim de me encrencar com esses loucos.

 - Como se você fosse normal. – Edward revirou os olhos.

 - Hey! Eu sou mais que normal, ok? Tenho dois olhos, uma boca e um nariz. Mas agora isso não importa. Porque eu não vou na sexta com vocês.

 - Ok. – os dois responderam e deram de ombros.

 Por alguma razão, eu não gostei muito que eles concordassem assim tão fácil, sem nem pedir mais uma vez. Foi estranho. Principalmente para Nessie, que primeiro insistia muito antes de desistir. E claro, sem contar que ela quase sempre conseguia tudo comigo, era só questão de pedir com jeito. Talvez, eles não estivessem precisando tanto assim da minha pessoa. O que era bom, certo? Certo!

 O resto do almoço passou com eles discutindo sobre a convenção, que não me interessava nem um pouco. Alice ainda deu a idéia para eles levarem algum dos nerds que tem na escola. Eu dei a idéia de quem sabe até o nerd que nos abordou - Edward e eu. Claro que não falei assim. Só falei que ele parecia ser o mais normal ali, e indiquei com o dedo ele, que estava na mesa dos nerds, lendo um livro de mais de mil páginas. Só que Edward negou e falou que de normal ele não tinha nada. Alice e Nessie concordaram, e ainda me acusaram de está ficando míope, porque se eu não enxergava o menino direito, tinha que concertar os meus óculos.

 - Não precisamos de nenhum deles. – Nessie falou. – Eu tenho uma idéia de como vamos ter nosso guia. – ela sorriu para mim.

 - O que foi? – perguntei, bufando.

 - Nada, Bella. – ela inclinou um pouco a cabeça para o lado e sorriu.

 O sino tocou avisando que tínhamos, infelizmente, que ir para nossa sala. Eu peguei minha mochila, joguei nas costas e segui para fora do refeitório.

 - Bella! – Alice me chamou e eu me virei. – Depois, temos que falar com a Ylsa para você-sabe-o-que. – ela fez gestos com as mãos.

 Eu balancei a minha, indicando que tinha entendido, e segui para a sala de Biologia.

 - Vocês já sabem como fazer a transformação? – Edward apareceu do meu lado, me assustando.

 - Alice diz que sabe. – falei, apressando meu passo para vê se ele saía do meu pé.

 - Isso vai ser algo que eu quero vê. – ele riu.

 Nós entramos na sala e fomos para nosso lugar. Por incrível que pareça, o Cullen não puxou assunto nem nada, ele ficou quieto, no lugar dele, e... Prestando atenção a aula. Novamente estranhei esse ato, mas não expressei minha confusão, pois se ele estava quieto, não seria eu quem o incomodaria para saber o que ele tinha.

 Depois da aula de Biologia, que passou rápida, a de Ed. Física, que não passou tão rápida assim, foi um pouco calma e até tirou 2% do meu estresse, o que não é grande coisa, eu sei. Em cálculo foi um pouco mais... Complicado.

 - Bella... Bella... – Emmett me cutucava consecutivamente.

 - Fala, droga. – resmunguei.

 - Me explica isso. – ele apontou para o caderno.

 Revirei os olhos e expliquei para ele o que o professor tinha acabado de explicar. Ele assentia com a cabeça, repetindo o que eu falava. Depois que terminei de explicar, voltei à atenção para o meu caderno e continuei a fazer minha própria lição. Por eu ter estudo aquilo a noite inteira, foi muito fácil.

 - Bella? – Emmett chamou novamente.

 Eu evitei soltar um gemido de frustração. Suspirei discretamente e me virei para ele, com uma sobrancelha erguida.

 - O que, Emmett?

 - Er... – ele coçou a cabeça e olhou para o caderno, confuso. – Você pode me explicar novamente?

 Eu expliquei mais uma vez, reunindo a pouca calma que me restava. Expliquei pelo menos duas vezes, para vê se ele entendia mesmo dessa vez, porque na próxima eu não teria tanta paciência.

 - Entendeu? – perguntei.

 - É... Acho que sim. – deu um sorriso, e foi ai que eu me senti um pouco culpada por não criar um pouquinho de paciência com Emmett e tratá-lo melhor.

Sem remorso, Isabella!, me repreendi, como Renée me repreenderia. Pois se fosse como ela, eu iria seguir isso. Não podia ter remorso assim, principalmente por causa de um sorriso tão brilhante e divertido.

 Depois da aula de cálculo, sem Emmett me pedir mais explicação, eu agradeci ao bom Deus por finalmente esse dia de aula estar no fim. Segui para meu armário e lá deixei todos os cadernos e livros que tinha pego sem nem precisar usá-los. Joguei a mochila quase vazia nas costas e segui para fora do colégio.

 - Aonde você vai, mocinha? – Alice me pegou pelo braço, no meio do corredor.

 - Ué, embora?! – fiz cara de óbvio.

 - Claro que não. – me olhou como se eu fosse louca. – Não se lembra? Falar com Ylsa... Compras... Renovar o guarda-roupa... – estalou os dedos na minha frente, vendo minha cara de confusa. – Acorda, Isabella.

 - Isabella não. – resmunguei. – Vamos logo lá falar com ela.

 Nós seguimos para a sala dos funcionários, onde Ylsa deveria estar agora. Bom, era o que nós achávamos. Quando chegamos lá, batemos na porta e uma voz de homem nos mandou entrar. Era o jardineiro do colégio. Claro, tinha que ter um jardineiro no colégio, afinal, quem iria cuidar de todo esse mato que rodeia os prédios?!

 - Sim? – perguntou.

 - A Srta. Lewis está? – Alice perguntou.

 - Aqui, meninas. – Ylsa falou de algum canto da sala. – Entrem.

 Alice entrou e me puxou junto dela. A sala era pequena, com uma mesa redonda e quatro cadeiras. Tinha também um armário ali, um mini fogão e uma cafeteira. Os funcionários do colégio estavam numa vida boa ali, já que o cafezinho parecia sair bem quentinho. O jardineiro, Harry, estava sentado numa das cadeiras, com as pernas cruzadas e apoiadas na mesa, e uma expressão entediada. Ylsa estava sentada no balcão, com uma xícara de café numa das mãos.

 - Oi, meninas. – ela falou.

 - Com licença. – Harry pediu, abaixando as pernas e se preparando para levantar. – Preciso fazer algo... – ele caminhou para a porta. – que vocês atrapalharam. – completou baixinho, mas eu ouvi.

 Olhei de olhos arregalados dele para Ylsa, já pensando em mil coisas que podia ter atrapalhado ele.

 - Não se preocupe com isso, Harry. – Ylsa falou lentamente. – Pode ficar que elas não vão falar nada.

 Harry olhou para Alice e para mim, depois para Ylsa. Então ele voltou para onde estava, se jogou na cadeira e tirou do bolso uma cartela de cigarro, pegando um e acendendo. Ahhh, então era isso que ele estava falando. E eu achando que era algo com Ylsa.

 - E então, Bella? – ela perguntou.

 - Bem... Como eu disse, a Alice – apontei para a pequena. – Pode te ajudar naquilo.

 - Pode? – Ylsa ergueu uma sobrancelha e deu um sorriso.

 - Sim. – Alice foi até ela e lhe estendeu uma folha, que eu não tinha percebido que ela levava. – Bella me explicou o que você pediu, então eu pensei em algo assim.

 Ylsa pegou a folha e analisou, perguntando para a Alice sobre cada parte da roupa. Seus olhos amendoados olharam todas as partes que podiam, não deixando escapar nada. Eu estranhei, afinal, porque ficar analisando cada peça de roupa?

 - Harry? – ela mostrou a folha para o jardineiro, que olhou por um tempo e assentiu.

 - Ok, meninas. – Ylsa virou para nós novamente. – Alice, eu estou impressionada com o seu trabalho. Você conseguiu fazer o que eu pedi e ainda sim deixar as roupas bonitas. Eu aceito trocar minhas roupas e ser a “modelo” da revista de vocês.

 Eu sorri, afinal, mais um trabalho estava feito. Alice foi mais longe que eu, e fez mais do que sorrir, ela soltou um gritinho baixinho e pegou Ylsa pela mão, puxando-a para fora da sala dos funcionários.

 - Vamos a Port Angeles comprar suas novas roupas. – ela falava, seguindo pelo corredor.

 Eu dei um pequeno aceno para o Harry, que estava de olhos arregalados e com o cigarro pendurado torto na boca. Fiz a minha melhor expressão de “desculpas” e segui as duas, indo um pouco mais atrás.

 - Vamos hoje? – Ylsa perguntou.

 - Sim! Ah, Ylsa, você vai ficar tão linda... Mais do que já é. – revirei os olhos. Não foi Alice quem disse que ela parecia uma velha com aquelas roupas? – Quando Bella me contou que você não era uma fora-de-moda e que aceitou ser nossa modelo, eu fiquei muito feliz. E pensei: Eu vou melhorar o que já é bom! Agora, eu tenho você pra...

 E ela continuou tagarelando e tagarelando no ouvido da pobre Ylsa, que estava de olhos arregalados. Fomos no meu carro, já que Alice estava sem o dela. Ylsa foi no banco do passageiro e Alice no de trás, ficando com a cabeça entre os dois bancos e tagarelando mais ainda. Teve uma hora que Ylsa me perguntou desesperada “A bateria dela não acaba, não?” e eu tive que lhe dar a triste resposta: Não!

 - Ahh, Alice. Chega! – falei, quando cansei de ouvir as mesmas coisas.

 - Que horror, Bella. – ela fez careta. – Seu mau-humor hoje está uma coisa.

 - Pois é. – fiz careta. – E você está piorando ele. Então, fica quietinha, fica?

 Alice bufou e encostou-se ao banco, com os braços cruzados. O bico dela era enorme que deu dó, mas eu fingi não ligar, para ela não voltar a falar e me estressar e estressar Ylsa. Essa ai, me agradeceu num movimento de lábios mudos. Sem o blá blá blá da Alice, o carro ficou um silencio, mas ele durou pouco.

 - Já que eu não posso falar que tal uma musica? – Alice perguntou.

 - Você não gosta das musicas que tem aqui. – falei.

 - Elas são melhores que nada.

 - Ok.

 Liguei o som e logo o CD que eu tinha ouvido no dia anterior, preencheu o carro. A voz de Pearl Jam era poderosa ali. Vi pela minha visão periférica um sorriso crescer nos lábios de Ylsa. Estava cada vez mais simpatizando com aquela mulher, já que ela era o que imaginava para o meu futuro distante.

 Até Port Angeles, foram poucas palavras ditas. Alice se ocupou anotando algumas coisas sobre roupa na agenda dela, que já estava lotada. Ylsa cantarolava baixinho as músicas que tocavam. E eu ficava com toda a minha atenção na estrada e com os pensamentos a mil sobre o que Renée irá falar e fazer sobre a matéria de Calculo.

 - Chegamos! – Alice falou, jogando sua agenda de qualquer jeito na mochila e empurrando um pouco o banco de Ylsa para poder sair.

 - Meu deus. – Ylsa sussurrou. – Essa garota é... Bizarra.

 Não pude evitar gargalhar com o adjetivo que ela usou para descrever Alice. Ela, com toda certeza, era mais que bizarra. Ylsa me acompanhou na risada, deixando Alice confusa. Depois que estacionei Ylsa saiu rápido do carro, antes que Alice a empurrasse com tudo. Eu tranquei a porta e fui para a calçada, onde elas estavam.

 - E então? – perguntei.

 - Vamos no... Shopping. – Alice fez uma careta, mostrando que o que Port Angeles tinha não era algo digno de se chamar shopping. – Lá deve ter a Banana Republic, onde nós vamos comprar as roupas.

 Seguimos para o Shopping de Port Angeles. Por estar numa cidade pequena, o shopping era pequeno, então tinha apenas um andar. É, eu sei, não é lá muito atrativo. Lá, nós andamos de um lado para o outro atrás da loja. Por incrível que pareça, Alice não sabia onde ficava a loja, porque ela não gostava muito de vir nesse shopping. Eu também não sabia onde ficava por que não tinha o que fazer lá. Afinal, para que eu iria entrar numa loja como a Banana Republic se eu não posso usar as roupas que vendem lá?

 Quando encontramos a tal loja, Alice arrastou Ylsa pelo braço. Uma atendente veio falar com nós, e a pixel explicou para ela o estilo de roupa que queria. A moça, de uns vinte e cinco anos, começou a pegar várias e várias peças de roupa e jogar na Alice, que jogava para Ylsa.

 - Vai garota, entra lá. – Alice empurrou Ylsa no provador.

 - Mas...

 - Nada de “mas”. Toma, vista essa. – Alice jogou para ela quase todas as roupas que tinha nas mãos.

 Eu sentei num banco que tinha ali de frente, esperando o “Esquadrão da Moda” acabar para eu poder ir para casa  enfrentar a Fera Renée. Alice se sentou do meu lado, balançando as pernas nervosamente e mexendo as mãos.

 - Ela vai ficar legal, não vai? – perguntou, sem olhar para mim.

 - Yeah. – suspirei. – Vai.

 - O que você tem, Bella? – Alice se virou para mim.

 - Nada. – dei de ombros. – Apenas quero chegar em casa, fazer o que Renée mandar e acabar logo com isso.

 Alice me olhou como se sentisse muito pelo que eu passava, e aquilo me deixou um pouco desconfortável. Ela abriu a boca para falar algo, mas Ylsa a cortou sem querer, saindo do provador. Eu fiz uma anotação mental de agradecer depois a ela por me livrar de uma Alice emotiva e cheia de conselhos.

 - E então? – Ylsa perguntou, apontando para as próprias roupas.

 Vi Alice sorrir de orelha a orelha, com a sua “obra-prima”, como ela mesma falaria. Ylsa vestia uma saia de linho preta, que ia até metade das coxas, e era bem grudada. Uma blusa de botões de renda e cetim, algo meio menina. Uma jaqueta azul-marinho no estilo terninho, só que mais rock, como Alice falou que iria usar. Ylsa também usa uma meia-calça fina, que eu vi, quando ela rodou no lugar, está escrito Love atrás, na parte da panturrilha. Nos pés, uma sapatilha bege com preto, um pouco menina demais. Mas tirando isso, as roupas, a combinação, estavam ótimas.

 Eu fiz um ok com a mão, e Ylsa sorriu. Alice elogiou em como a roupa tinha ficado bonita na Ylsa, e depois a mandou trocar de roupa. Ylsa experimentou mais umas dez combinações, que para mim, todas estavam aprovadas, mas que para Alice, apenas algumas, um pouco mais da metade. Depois da Banana Republic, nós fomos em outra loja, que tínhamos passado em frente quando estávamos procurando a Banana Republic. Ali, pelo que percebi, Alice encontrou tudo o que queria, desde as saias mais cools aos tênis da Converse e Nike. Ylsa ficou ao lado da Alice, ouvindo tudo, e eu sai andando pela loja.

 Parei aonde tinha um cabide com camisetas pretas com estampas de desenhos, piadas, frases e bandas. Primeiro me obriguei a sair dali, mas não resisti e voltei para lá, passando lentamente por cada uma de banda e vendo suas estampas. Tinha dos The Beatles, dos Ramones, da Kiss, do Iron Maden, e de bandas novas como Paramore, 30 Seconds to Mars, mas tinha a da banda que eu mataria e roubaria para ter: AC\DC... Ok, não mataria e roubaria verdadeiramente, isso era apenas uma forma exagerada de me expressar.

 - Legais, não? – Ylsa apareceu do meu lado, me assustando.

 - Yep. – assenti e suspirei. – Elas são bem legais.

 - Então porque você não compra uma? – encarei-a com uma sobrancelha erguida. – Quero dizer, você gosta, não é? Pelo que pude perceber, você curte o bom e velho Rock’in’Roll. Então é legal você ter uma camiseta personalizada com o nome da sua banda preferida, ou pelo menos uma delas.

 Olhei para ela por mais dois segundos, depois olhei para suas roupas, que eram como a de todos os dias. Saias de lã até os joelhos, camisetas brancas e feias, e uma blusa de frio. Além dos sapatos feios.

 - Não gosto de fazer propagandas. – murmurei, mentindo.

 - Ah, não. – ela gargalhou. – Eu não ouvi isso. Você está mentindo, Bella. E, com toda sinceridade, é uma péssima mentirosa.

 - Mas é verdade. – disse, mas aquilo não soou firme nem para os meus próprios ouvidos.

 - Aham. – debochou. – Posso fazer uma... Hipótese? – assenti, estreitando os olhos. – Eu acho que você não usa nada disso – apontou para as roupas da loja e para as camisetas. – porque você tem uma mãe super-controladora que quer que você tenha um futuro promissor em alguma carreira de respeito. Então, você estuda e estuda para fazer as vontades dela, e assim joga todas as suas vontades e desejos para um canto escuro, afinal, as coisas que você quer não têm importância. Não tanto quanto fazer sua mamãe feliz, só... – bufou. – Isabella, deixa de ser tão idiota e hipócrita consigo mesma. Siga o que você quer não o que ela manda. É você quem vai viver isso, não sua mãe ou seu pai, eu não sei. Só quero avisar, que nada disso vai lhe fazer bem. Você não é feliz, da pra perceber por causa disso. – apontou para meu rosto. – Pouco sorriso, mau-humor constante, nenhuma piada lhe faz graça. Você não gosta de perder a paciência. É sempre certinha demais.

 - Como...?

 - Você não é tão invisível naquele colégio, Bella. Eu não fico só perto do banheiro dos meninos, eu sou os olhos daquele colégio, e sei sobre cada um dali. Eu vejo você pelos corredores, vejo cada dia como você está. E em quase todas às vezes é com sua amiga baixinha ou a ruivinha de óculos. E em quase todas às vezes elas falam alegremente enquanto você tem uma expressão séria e carrancuda. Nunca parece uma adolescente, sempre com a mentalidade maior que a de qualquer um ali. – ela passou um braço por meu ombro. – Garota, você só tem dezesseis? Dezessete? Bom, tanto faz. Mas você é uma jovem, tem que ser rebelde. Não beber, xingar e bater na sua mãe. Você só tem que... Viver. Como qualquer outra garota adolescente, que gosta de roupas rosa, ou pretas, tanto faz. Só mude isso... – apontou para as minhas roupas. – Você tem alguém que pode lhe ajudar. – olhou para Alice, que conversava com a atendente. – Você pode mudar, Bella. Assim, você não corre o risco de perder suas amigas quando as trata mal por causa de sua mãe. Ou perder sua própria adolescência, que é a melhor parte da nossa vida. Com responsabilidades, mas sem ser responsável. Com obrigações, mas não cumprir todas. Ser inteligente algumas vezes, ser burra em outras, apenas para aproveitar.

 Olhei para Alice, que olhou para nós duas e acenou, sorrindo. Todas as palavras de Ylsa rodaram na minha mente por alguns segundos, e junto com elas imagens de como eu poderia ser se seguisse tudo que ela tinha falado. Vi uma Bella com um sorriso brincalhão e divertido, nada forçado. Vi até os meus próprios olhos mais brilhantes do que agora. As roupas nada extravagantes, mas legais, como a de todas as meninas da escola que usam calça jeans coladas. Me vi fazendo parte do grupo de duas da Alice e da Nessie, porque, mesmo eu estando junto delas, eu não me sentia muito incluída. Às vezes, me sentia mais velhas que elas, ou chata demais para ser como elas.

 Só que então o rosto de Renée com uma expressão de desaprovação tomou tudo, fazendo a minha imaginação ir por água a baixo.

 “- Isabella, ser inteligente é ser tudo. Você vai ser alguém de valor. Reconhecida. Ser inteligente é ter um futuro.”

As palavras que eu ouvia desde pequena rodaram, jogando toda as palavras que Ylsa me disse para o nada. Eu me vi presa nos livros de Direitos, de Literatura, sempre aprendendo mais e mais. Era isso que Renée queria. Não era o que eu queria, mas era a vontade dela.

 - Tudo isso que você disse é mentira. – falei, me afastando um pouco dela. – Eu sou assim porque quero. Eu não quero ser uma adolescente fútil que só pensa em cabelo e roupa. Eu quero ser alguém no mundo, então estudo. E... E... – encarei o chão. – Eu não preciso de ninguém me dando má influencia, falando coisas idiotas como “viver”.

 Ela arregalou os olhos, e naquele momento eu queria saber o que se passava por sua cabeça. Primeiro, Ylsa me encarou, depois caiu novamente na gargalhada.

 - Já disse que você é hilária mentindo? – perguntou, tentando prender o riso que ela segurou depois de ver minha expressão de quem não tinha gostado. – O jeito que você parece convicta, mesmo que não seja tão convicta assim.

 - Você não pode saber se é verdade ou mentira. Não sabe nada sobre mim.

 - Verdade, eu não sei nada sobre você. Mas eu vejo em você Bella, o que eu fui.

 - O... Que? – arregalei os olhos.

 - Isso mesmo. Também fui uma garota que era mandada pelos pais a estudar e ser inteligente. Não, erro meu. Pelo meu pai. – o “meu pai” ela falou com deboche. – Ele queria que eu fosse o que ele não foi. Eu, ingênua e acreditando que ia ser alguém muito importante, seguia o que ele mandava. Era a nerd da escola, era a CDF que todos zombavam. Tentava não me importar com isso, não ligar para o meu jeito de vestir. Mesmo eu querendo ser igual a todas as meninas. Fui assim até acabar meu ano escolar. Na hora de ir para a faculdade, eu percebi que não queria ser médica, nunca quis. Bati de frente com meu pai, fui expulsa de casa só com a roupa do corpo. Mas acredite em mim, garota. Eu sou feliz agora. Eu fui morar com uma tia louca, que ouvia rock dos anos 60, e assim segui a minha vida. Fiz a faculdade que eu queria, que era ser policial. Construí minha própria vida, comprei meu apartamento, meu carro, e to viva. – ela gargalhou. Encarei-a sem entender nada. – Meu pai falava que se eu fosse policial, não ia ter nada e ainda ia morrer no primeiro tiroteio que entrasse. Mas olha para mim! – abriu os braços. – Sem nenhum buraco de bala ou corte de faca. E o melhor, eu sou feliz. Na verdade, mais do que feliz.

 Ylsa sorriu e se virou para as camisetas, passando uma por uma e comentando sobre suas estampas, às vezes rindo das piadas idiotas que tinha lá.

 Eu continuava estática no meu lugar, pensando novamente em suas palavras. Acreditar que Ylsa teve uma vida igual a minha não foi difícil, porque ela tinha cara mesmo de nerd. Mas o que não entrava na minha cabeça era o fato de ela ter se rebelado e mesmo assim, depois de ter brigado com o pai e ele a ter expulsado de casa, ela ser feliz. Será que Renée faria a mesma coisa comigo? Ela chegaria a esse extremo? E mesmo assim eu seria feliz?

 - Espera. – falei, e ela se virou para mim. – Você disse que seguiu a carreira de policia, mas você é inspetora de um colégio. Agora eu não entendi... O que você é? O que aconteceu depois que você comprou seu apartamento e seu carro?

 - Hmm... Falei demais. – murmurou para si mesma. – Bem... É um segredo, mas eu não posso falar. Você se importaria de esquecer a parte da policia?

 - Sim, me importaria. – falei. Poxa, eu era muito curiosa para não querer saber de um segredo. – Agora eu quero saber.

 Sabia que estava sendo uma intrometida, mas e se Ylsa tivesse saído da policia e ingressado no crime? Será que ela iria fazer algum mal para o nosso colégio? Não que eu me importe, era só pra me precaver.

 - Olha... – ela olhou para os dois lados. – Bella, isso é algo bem secreto, então não pode sair daqui, ok? – assenti. – Eu sou da Policia Federal de Seattle, e estou disfarçada no seu colégio por causa de uma coisa.

 - Que coisa?

 - Bem... Eu não posso falar, ou então estarei colocando você em risco. – ergui uma sobrancelha. – Aproveite que eu estou de bom humor e estou sendo legal em contar isso para você. Não insista em mais. Eu sou da policia e estou disfarçada. Por isso que uso essas roupas.

 - Ah. – balancei a cabeça lentamente. – E seu jeito é meio... Rock, então não queria que Alice te vestisse assim para não te descobrirem, certo? – ela assentiu. – E me deixa adivinhar... Harry também é da policia e está junto com você, porque vocês estão atrás de alguém.

 - Como você sabe? – ela arregalou os olhos.

 - Fácil. – dei de ombros. – Ele tem um segredo igual a você. Fuma escondido, tem pose de ex-presidiário às vezes e está sempre pelos cantos. Já percebi isso. Ah, e você perguntou para ele sobre a roupa, como se falasse: Essa pode? E ele afirmou, mas sei que se tivesse negado, você também teria negado. E isso não é porque vocês são um casal – já que isso é coisa de casal -, porque vocês não são. E sobre estar atrás de alguém, sempre é assim. Você falou que repara muito nas pessoas do colégio, então isso foi meio que uma dica. Porque você iria reparar nas pessoas quando se é da policia? Porque está atrás de alguém. É meio óbvio, quando se para pra pensar.

 Ylsa me encarou de boca aberta, como se não acreditasse no que eu tinha dito.

 - Você é bem mais inteligente do que eu era na sua idade. Apesar de ser horrível o que sua mãe faz com você, ela está fazendo um bom trabalho. Mas agora... Já que você pensou em tudo isso sozinha, não quer seguir a carreira da policia? – ergueu uma sobrancelha. – Você seria uma ótima policial com todo esse seu jeito perceptível.

 - Não. Não. – balancei as mãos e ri comigo mesma. – Muito obrigada pelo elogio, mas não.

 - Uma pena. Você seria mesmo uma ótima policia. – ela suspirou. – Então, Bella, eu posso confiar em você? Posso confiar meu segredo?

 Encarei seus olhos amendoados, vendo a suplica ali. Pensei no que aconteceria se eu contasse sobre o seu segredo, e me lembre que ela era uma policial, Harry também, e os dois podiam atirar em mim. Tremi de leve com isso. E também, afinal, para que eu iria contar isso? Ela talvez nem fosse da policia como dizia, porque senão, ela não falaria assim tão rápido sobre o seu segredo.

 - Claro. – sorri. – Seu segredo está seguro comigo.

 - Você é demais, Bella. – ela passou uma mão no meu cabelo. – Uma boa garota, e muito inteligente. Pense no que eu te falei, e reflita sobre sua vida. Agora é sério e sem sarcasmo, não deixe sua mãe acabar com sua adolescência por causa de um sonho dela. Você tem muita coisa pra viver, têm experiências para experimentar, sonhos pra seguir. Mas todos seus. Então, pense e faça o que você ache que é certo... – eu assenti e ela riu sozinha. – Eu sei que quando parar para pensar, vai negar para si mesma só porque sabe o que quer, mas tem medo de seguir. Você não vai pensar. – nós duas rimos.

 - Bella! Ylsa! – Alice chegou perto de nós.

 Ela estava escondida atrás de uma montanha de roupas. E atrás da Alice, vinha à atendente, com várias caixas de sapatos. Nós seguimos para o provador, lá eu sentei novamente em um banco. Alice deu para Ylsa muitas peças, mandando-a experimentar todas, depois veio se sentar ao meu lado.

 - O que vocês conversaram tanto? – Alice perguntou, curiosa.

 - Ah, nada. – menti. – Só falamos sobre bandas e as camisetas. Ela tem um ótimo gosto para isso, é uma pena não poder se vestir assim.

 - É. – ela concordou e suspirou. – Ylsa tem o jeito certo para esse modelo de roupa. É uma pena mesmo não poder se vestir assim. Ah! Falando nisso, eu peguei algo para você... – jogou peças de roupa para mim e me empurrou na direção de um provador.

 - Nada disso! – falei, estancando no lugar. – Eu não vou experimentar nada.

 - Ah, Bella. – ela choramingou. – É só essa roupa. Só essazinha... E – me cortou, quando abri a boca para negar. – não é para você. Só é para eu vê uma coisa. – ela me empurrou com força para o provador e fechou a porta. – É pra vestir!

 Encarei as peças de roupas na minha mão e o enorme espelho do provador. Pensei em formas de sair dali sem precisar experimentar aquilo, mas conhecia Alice, e sabia que ela não deixaria eu sair dali, e me vestiria a força. É só para experimentar, Bella..., falei para mim mesma, começando a tirar minhas roupas. Você não vai morrer ou algo assim por experimentar..., me virei de costas para o espelho e comecei a vestir as roupas que Alice me deu. Renée não vai saber disso.

- Isso. – murmurei. – Só estou experimentando. Renée não vai saber. E isso não vai me mudar.

 Olhei para a porta do provador, pronta para me virar para o espelho. É agora. Com esse pensamento, eu me virei para o espelho.

 A questão ali era: Se olhasse do pescoço para baixo, não era eu. As roupas diferentes gritavam “LEGAL!”, algo que eu não era. Uma calça jeans skinny preta com um rasgo no joelho direito e com a barra dentro do All Star de cano médio. A camiseta branca com a gola em formato de “U”, que caía nos ombros, e como estampa apenas uma pequena bandeira da Inglaterra.

 Um assobio soou no provador, e quando olhei para cima, Ylsa estava apoiada ali em cima, me encarando. Ela tinha um enorme sorriso no rosto.

 - Está uma gatinha. – falou e piscou um olho.

 - Hm... Er... – olhei para baixo. – Idéia da Alice.

 - Espera ai. – ela sumiu dali e segundos depois, com o barulho dela abrindo o seu próprio provador, falando com a pixel para abrir o meu, ela entrou ali. – Vamos fazer a parte de cima combinar com a debaixo.

 - Do que você está falando?

 - Disso.

 Ylsa me virou de novo para o espelho. Ela desfez a trança mal feita que eu mesma fiz no meu cabelo, deixando-o solto. Bagunço-o todo, e por causa da trança, ele estava meio ondulado.  Então Ylsa me virou para ela, e com delicadeza, tirou meus óculos.

 - Agora sim. – falou, sorrindo.

 Ela me virou mais uma vez para o espelho, e ali, eu vi a Bella que eu nunca iria ser. Com os cabelos como se estivessem despenteados, sem óculos, e sem a cara de nerd. Vi a Bella que se encaixaria perfeitamente com Alice e Nessie. A que não seria mais chamada de nerd!

 - Eu quero vê! – Alice falou do outro lado.

 - Você está mesmo uma gatinha. – Ylsa murmurou. – Você é bonita, só precisa se arrumar assim.

 Não falei nada, apenas fiquei me encarando. Ylsa me puxou para fora do provador, e quando Alice me viu, soltou um gritinho fino.

 - Meu deus, Bella! Você está tão linda. Não! Está perfeita. Não está? – ela cutucou a atendente, que assentiu, sorrindo. – Você vai levar!

 - O que?! Alice, você falou que não era para mim. Era apenas pra vê uma coisa.

 - E eu vi. Vi o quanto você fica perfeita vestida assim, e que tem que levar.

 - Eu não vou levar. – bati o pé e entrei novamente no provador.

 Depois que eu troquei de roupa, entreguei aquelas para Alice e esperei Ylsa vestir as outras. Assim que ela terminou, fiz Alice devolver a roupa que ela tinha pegado para mim, e pagar logo as que comprariam para Ylsa.

 - Ah, meu deus. – Alice exclamou. – Está faltando uma peça.

 Ela saiu para o meio da loja a procura da tal peça. Eu saí logo da loja, iria esperar elas do lado de fora, porque eu não estava mais me sentindo bem ali. Minutos depois as duas saíram cheias de sacolas, e rindo de alguma coisa. Nós fomos para a praça de alimentação e compramos lanches no Mc Donald’s. Algo que nos surpreendeu foi vê que finalmente tínhamos encontrado alguém que comia mais do Edward ou eu, e esse alguém era Ylsa. O lanche de Alice foi o menor, o meu o médio e do Ylsa foi o maior de todos. Sentamos em uma das várias mesas que tinha ali, e Alice começou a explicar para Ylsa sobre a revista.

 - É algo bem interessante o que vocês estão fazendo. – ela falou, bebendo um pouco da coca-cola tamanho gigante. – Aquela escola estava mesmo precisando de algo novo. E eu já li uma vez aquele jornal – não tinha nada para fazer – e não gostei nem um pouco. Sabe, era muito sério, sem nenhuma animação. Nada que adolescentes iriam querer ler.

 - É por isso mesmo que nós criamos o nosso jornal. Ele vai ser completamente o oposto desse jornal, pode esperar.

 - Quero ser uma das primeiras a ler. – Ylsa falou.

 - E vai sim. – Alice sorriu. – Você vai está ocupada nesse final de semana? Nós precisamos fazer a seção de fotos com seu novo estilo. Nossa, vai ser tão demais. – ela suspirou sonhadoramente. – Quem vai tirar as fotos é meu irmão, Edward.

 - Ah, o Cullen ruivinho? – um sorriso malicioso se formou nos lábios da Ylsa. – Ele é fotógrafo?

 - É sim. Então, ele quem vai tirar e a Bellinha quem vai fazer a capa e essas coisas.

 - Os dois vão trabalhar juntos? – Ylsa arregalou os olhos. – Pelo que eu vi, eles não se dão muito bem.

 - Mas vão ter que se dar. – Alice me encarou de cara feia e eu arregalei os olhos. O que eu tinha feito? – E eles vão.

 - Yeah. – murmurei.

 Ylsa me olhou e sorriu, vendo minha careta de desagrado.

 Depois de terminarmos de comer, fomos para o carro, onde colocamos as bolsas no banco de trás, e Alice ficou novamente. Ylsa ficou no banco do passageiro, no telefone, conversando com alguém.

 O caminho dessa vez foi cheio de conversar entre Ylsa e Alice, já que Ylsa tinha se acostumado com a pixel elétrica. Eu estava alheia a conversa delas, estava mais pensando em como enfrentaria a Renée hoje. Já tinha planejado o que iria fazer, chegar em casa, tomar um banho, e ir para o escritório para ter as minhas aulas particulares com ela.

 Eu deixei Ylsa no prédio que ela disse que morava. Alice disse que Ylsa não começaria a usar as roupas a partir de amanhã, e sim segunda, quando o jornal saísse. Ylsa concordou sem reclamar e foi embora, com um tchau amistoso. Depois, eu deixei Alice na casa dela. Ela insistiu para eu pelo menos dar um Oi para Esme, mas neguei, pois tinha que chegar em casa. Alice não insistiu muito, o que foi um alívio. Ela chamou Emmett para ajudar a levar as sacolas, e também foi embora com um aceno.

 Segui para casa, ouvindo musica bem alto para me manter calma e assim não tratar mal Renée. Estacionei o carro na garagem e me virei para o banco de trás para pegar minha mochila, mas estanquei ao vê uma das várias sacolas de Alice ali. Peguei-a e a mochila, saindo do carro e seguindo para dentro.

 - Olá, Mary. – falei ao passar na cozinha.

 - Oi, menina Swan. – ela sorriu.

 Subi as escadas da sala correndo e fui para o meu quarto. Lá eu joguei a sacola e a mochila na cama, com o plano de seguir para o banheiro. Mas parei ao vê as roupas que saíram da sacola com o mau jeito que joguei. Eram as mesmas roupas que eu tinha experimentado na loja.

 - Aquela pique filha de uma mãe.

 Peguei meu celular na mochila para ligar para ela, só que já tinha uma mensagem da tal.

De: Alice

Para: Bella

Bella, eu tinha que comprar essas roupas. Não tem devolução, nem tente. São suas. Se não quiser, deixe ai e não use. Beijos.

 Peguei a sacola com raiva e joguei no closet, no canto mais obscuro dele. Nunca iria usar aquilo! Alice comprou por besteira.

 Eu fui tomar meu banho, e tomei também dois comprimidos de Tylenol para vê se passava a minha dor de cabeça, que parecia que ia explodir como uma bomba atômica. Depois segui para o escritório. Renée estava lá, sentada atrás da mesa, lendo um livro que pelo olhar rápido que vi, era de calculo. Sentei na cadeira a sua frente.

 - Você demorou. – ela falou sem nem levantar o olhar.

 - Desculpa. – pedi. – Então, o que eu tenho que fazer?

 Ela me passou duas folhas com vários problemas de cálculo. No começo, eu sabia fazer rápido, mas então foram piorando e eu já demorava a fazer. Estava ficando nervosa com aquilo, mas não podia demonstrar. Principalmente sob o olhar frio de Renée, que estava me matando já. Tentei manter a calma até terminar, e por algum alivio eu consegui.

 Entreguei a folha para ela, toda respondida. Renée me encarou por trás das lentes dos óculos de leitura dela, seus olhos azuis me avaliando, e então ela olhou a folha. Fiquei com as mãos sob o colo, mexendo-as nervosamente, esperando o veredicto final. Ela estalava a língua a cada questão que olhava.

 - Você andou mesmo aprendendo... – murmurou.

 - É. – suspirei. – Eu disse que tinha aprendido.

 - Estou feliz por você, mas... – ela me encarou. – Você errou duas.

 Encarei a folha, tentando imaginar qual foi a que eu tinha errado.  Com certeza uma das ultimas, mas qual?

 - Eu não posso acertar todas, não é? – falei, voltando a olhar para ela.

 - Mas deveria. – ergueu uma sobrancelha. – Você não disse que sabia?

 - Eu posso ter errado em um número, Renée. – levantei com raiva. – Caramba, o que custa errar uma ou duas? Não sou uma máquina de cálculos e nem uma calculadora. Não sou perfeita para acertar todas. Droga! Eu tinha mesmo que errar uma. – joguei as mãos para cima.

 - Isabella... – me repreendeu.

 - Não. – falei. – Você está me enchendo já, Renée. Eu fiquei hoje acordada até as três da manhã para aprender essa droga de matéria e ainda tenho que ouvir que eu errei?! Ah, me poupe, Renée Swan, me poupe.

 Caminhei com passos duros na direção da porta, deixando uma Renée estática e com cara de descrença para trás. Assim que peguei na maçaneta, a porta abriu, revelando um Charlie um tanto assustado.

 - O que está acontecendo aqui? – ele perguntou, me empurrando novamente para o meio da sala. – Eu ouvi errado Bella, que você ficou até tarde estudando?

 - Não ouviu, não. – murmurei. – É, Charlie, eu fiquei. E ainda pra errar hoje! Eu não deveria ter errado, Charlie. Eu estudei, eu juro que estudei. Só que não serviu de nada... – abaixei a cabeça. – Eu vou para o meu quarto.

 Sai de suas mãos e segui para o quarto, lá eu caí na cama, me cobrindo até a cabeça. Eu estava pirando, era um fato. Agora não tinha só Renée querendo mais de mim, eu também queria. A neurose de Renée estava passando para mim, eu podia sentir.

 Minha cabeça doía, mas isso não me evitava pensar no meu dia e nas palavras de Ylsa. Eu ponderei, depois de ter essa briga com Renée, em pegar aquelas roupas que Alice me deu e vestir só para irritar ela. Só que eu fiz o que Ylsa falou que eu ia fazer: Eu sentia e sabia o que eu queria, só que eu não queria pensar naquilo. Então, apenas deixei de lado, como tantas coisas que sempre fazia.


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Notas finais do capítulo

Oi Gatinhas, como estão? Demorei novamente, não é? :/ Acho que vou estourar minha cota de desculpas aqui - kk' , Mas agora é sério, eu vou usar mais uma: Desculpa mesmo. Mais uma vez obrigada pela paciência que vocês têm e por continuarem comentando *---*