Após uma noite mal dormida por causa do pesadelo, Sandro estava parecendo um zumbi. Havia acabado de acordar. Mal se aguentava em pé que andava se escorando na parede. Ele tinha acordado mais cedo que o normal, não conseguia mais dormir mesmo ainda estando com sono. Ele normalmente acordava 6:30 para chegar as 7 no colégio. O que dava tempo para um banho rápido, lanchar, por a comida da Noite e chegar na escola tranquilamente já que morava perto. Porém ainda eram 5 da manha. Ainda estava escuro e silencioso a essa hora.

Ele precisava arranjar algo para fazer até as 6:30 e provavelmente não estava passando nada de bom na TV. E nesses últimos dias tinha lido todos os livros sobre lobisomens que tinha. Ele então recorreu ao seu último recurso, a internet. Sandro não gostava de pesquisar as coisas na internet, pois quase sempre achava erros e informações falsas. Ele então entrou no Wikipédia e foi procurar sobre as criaturas que não saiam de sua cabeça. Porém todas as informações no site ele já sabia exceto por uma. Na parte das lendas portuguesas sobre lobisomens havia algo que ele nunca tinha ouvido falar.

Peeira. A chamada fada dos lobos. Que eram descritas como mulheres jovens que eram guardadoras ou companheiras dos lobos. Elas podiam se comunicar com os lobos e controlar alcateias. Sandro ficou espantado com essa informação. Pois essa descrição o lembrou o que a mãe dele falou no sonho. Ela podia entender o que os lobos queriam, essa tinha sido a primeira vez que ele ouvia falar em algo como uma telepatia entre humanos e lobisomens. Mas ele ainda tinha dúvida sua mãe seria mesmo uma Peeira ? O que era uma Peeira exatamente? Perguntas não paravam de surgir e 2 miseras linhas na página do Wikipédia não saciaram nem um pouco sua curiosidade. Ele então se lembrou que Fay disse que tinha parentes em Portugal. Talvez ela conhecesse algo dessa lenda, não custava nada tentar. Ele então viu no relógio do computador e viu que já eram 6:38. A hora havia passado tão rápido que nem percebera. Começou a se arrumar para ir pro colégio enquanto Noite miava impaciente por comida. Era incrível como aquela gata era esfomeada.

Após fazer isso tudo ele saiu andando. Sandro ficou um pouco desapontado de não encontrar Fay pelo caminho, mas a encontraria na escola. Nessa hora ele percebeu que nem sabia de que série ou turma ela era. Excelente! Como a encontraria agora? Perguntar aos outros seria algo difícil. Pronto, todos seus planos para o dia tinham ido por água abaixo e bem no início do dia. Depois de algumas aulas, o recreio havia finalmente chegado. Sandro ainda estava pensando se iria procurar Fay ou não. Por mais bobo que parecesse, falar com os outros era algo extremamente complicado para ele. Enquanto estava pensando nem percebeu que uma certa garota acabara de se sentar na carteira atrás dele.

“Pensando em algo interessante?”

“ De onde tu saiu?!” Sandro deu um pulo da cadeira ao ouvir a voz de Fay, ela apenas riu da ação assustada do rapaz.

“Eu acabei de chegar. Mas você estava tão perdido em pensamentos que nem viu.”

“A culpa não é minha se você usou alguma técnica ninja pra chegar aqui.” Ela apenas riu mais um pouco.

“ Uma ninja inglesa isso seria algo muito digno de algum jogo de luta.”

“Claro, jogos de luta e seus personagens estranhos.”

“ Isso mesmo. Não sabia que também era gamer.”

“ Não sou, mas de vez em quando algumas pessoas comentam e eu acabo escutando. Eu prefiro ler.”

“Ler sobre o que?”

“Lendas e mitologia, esse tipo de coisa.”

“Entendo. Também leio lendas de vez em quando, são muito boas para ter ideias para personagens de rpg de fórum”

“Tô vendo que você gosta muito de jogos e internet”

“Um pouco, é mais fácil falar pela internet do que pessoalmente por isso que eu gosto.”

“ Então você só tem dificuldade de falar com as pessoas pessoalmente?”

“Sim. Embora eu não tenha problema nenhum em falar com você”

“É eu sei o que você quer dizer. É o mesmo comigo” Os dois ficaram se olhando por algum tempo até que Sandro decidiu falar algo.

“ Ah ontem você sumiu, te procurei a escola toda e nada.”

“É que ontem eu só vim resolver algumas coisas, hoje que eu começo a estudar aqui mesmo”

“ Hum e de que série e turma você é só pra eu saber onde te achar pra falar com você” Ela apenas sorriu e apontou para a mochila em cima da mesa onde ela estava sentada. Porém Sandro não pareceu entender e ela resolveu explicar.

“ Sou daqui mesmo. Serei sua colega de classe.”

“Sério ?!!. Mas você parece mais velha que eu”

“ Eu repeti.”

“Ah foi mal. Algumas matérias são difíceis mesmo”

“Não, eu repeti por falta. Aconteceram algumas coisas ano passado que eu acabei faltando muito.”

“Entendi.” Sandro não sabia se podia perguntar o que causou as faltas dela. Eles tinham se conehcido ontem, não queria se intrometer na vida da garota. Como o assunto tinha acabado de morrer, ele decidiu perguntar o que tinha na cabeça desde cedo.

“Escuta Fay, você conhece algumas lendas de Portugal?”

“Algumas porque?”

“Você conhece alguma sobre Peeiras?” Nesse momento ela pareceu se espantar com a pergunta mas logo voltou ao normal.

“Sim conheço mas porque a pergunta”

“ É que eu li sobre elas hoje no Wikipédia.”

“ Hum sei, e porque o interesse repentino sobre lendas envolvendo lobisomens?” Ela agora não estava mais falando do mesmo jeito descontraído de antes. Ela estava tratando aquilo como algo muito sério.

“ Você não acreditaria se eu contasse.”

“ Bem tente, não posso não acreditar em algo que ainda não ouvi” Fay parecia magoada dele não confiar nela. Porém quando ele ia começar a contar o sinal do recreio bateu anunciando seu fim. Fay então deu uma ideia.

“Porque você não vem pra minha casa depois da aula e me conta?” Nunca tinha sido convidado para casa de alguém, ainda mais uma garota.

“ Bem só tem um problema minha gata vai ficar com fome. E ela fica insuportável quando eu não ponho comida para ela.”. Não era que ele não quisesse ir, mas estava nervoso para algo do tipo. E não era total mentira, Noite realmente ficava insuportável quando ele esquecia de por a comida dela.

“ Então eu posso ir na sua?”

“Que-han...claro” Sandro não pode dizer não a garota. Já Fay apenas sorriu.

“Então a gente vai junto pra sua casa depois da aula” Sandro apenas acenou com a cabeça e se virou para o quadro. O professor já havia entrado na sala há algum tempo, mas até todos se sentarem e se acalmarem levou o tempo necessário para terminarem a conversa.

As aulas correram normalmente. No meio da aula de matemática porém, alguns alunos começaram a comentar sobre os encrenqueiros da turma. Pelo que Sandro ouviu parecia que um estava hospitalizado em estado grave por causa de uma pancada nas costas. E os outros pareciam estar em estado de choque. Alguns estavam falando que eles tinham enlouquecido, pois falavam que tinha sido um monstro que os atacara. Porém todas as evidências apontavam para um cachorro. Mas Sandro sabia que não tinha sido um cachorro. Fay pareceu se interessar também na história quando ouviu algum dos alunos falando sobre um monstro. Mas antes que algum dos 2 pudesse ouvir algo mais, o professor deu uma porrada no quadro e mandou todos calarem a boca. O assunto morreu imediatamente e continuou assim pelo resto da aula.

No final da aula, Sandro e Fay começaram a andar em silêncio. Sandro então percebeu que várias pessoas da turma olham para os 2 enquanto passavam pelos corredores da escola. Pareciam espantados, Sandro então percebeu que essa era a primeira vez que ele andava lado a lado com alguém. Sempre andara entre, nunca ao lado das pessoas. Devia ser por isso que todos estavam espantados. Sandro, o garoto recluso da turma, andando lado a lado da aluna transferida que não falou com absolutamente ninguém além dele. Com certeza que achariam aquilo estranho, mesmo que eles não tivesse nada com aquilo. Sandro tinha certeza que amanhã eles começariam algum rumor estranho. Aquela turma só tinha fofoqueiros.

Eles andaram o caminho todo em silêncio. Sandro já estava se perguntando se tinha falado algo que não devia. Chegando na casa de Sandro, Noite veio correndo pedir comida mas parou ao ver Fay.

“ Então essa é a famosa Noite?” Quando Fay tentou chegar perto, Noite começou a rosnar e a arrepiar o pelo para parecer maior.

“Noite? O que houve?” Sandro se assustou. Normalmente Noite se dava bem com as pessoas. Quando alguns amigos do pai dele iam na casa, Noite fazia a festa. Pois quase todos adoravam gatos. Ela sempre ignorava Sandro nessas horas. Mas ele nunca a tinha visto ela agir desse jeito com alguém.

“Talvez ela esteja sentido o cheiro dos meus cachorros”

“É verdade esqueci que você tinha dito que tinha cachorros.” Sandro então pegou Noite nos braços e botou no quarto e fechou a porta.

“ Vou trancar ela no quarto só por precaução” Sandro então se sentou no sofá e fez sinal para Fay se sentar.

“Mas então me fale porque o interesse” Sandro então contou tudo. Desde o ataque até o sonho que tinha tido. Fay tinha ficado calada ouvindo tudo sem nenhum momento ter demonstrado que não acreditava nele.

“É por isso que eu quero saber mais, pode parecer loucura mas eu juro que é verdade.” Ele disse quase que implorando para ela não achar que ele era mentiroso ou louco.

“Eu acredito em você.” Sandro olhou para ela como se quisesse ter certeza que tinha ouvido certo. Fay estava com uma cara muito séria mas ao mesmo tempo gentil.

“ Se é esse o motivo de você querer saber eu vou contar tudo que sei. Agora é a minha vez de pedir para que você acredite em mim.”

“' Como eu disse ontem minha família é em grande parte de países nórdicos e de Portugal. Nesses 2 lugares há histórias sobre homens-lobo. Os lobisomens que você conhece, e os ulfsarks que são a versão lupina dos berserkers. Mas esses não são os únicos lugares com lendas assim. Em toda Europa a lendas sobre pessoas que se transformam em lobos. As vezes povos inteiros levam essa fama como os Neuri no mediterrâneo e os Ainu no japão. O que eu quero dizer é que embora pareça loucura existem lobisomens por todo o mundo. Mas eles aprenderam a se esconder para continuarem vivos.”

“Mas por que eles precisariam se esconder?”

“ Seja honesto Sandro, você adora essas lendas mas ficou com medo quando ficou cara a cara com um não é? Sandro não respondeu. Ela tinha razão, tinha ficado apavorado.

“ Agora imagine se eles aparecessem na frente das pessoas eles seriam mortos na hora.”

“Mas eles não podem ser feridos apenas com prata?”

“ Não acredito que você acredita nessa besteira. É verdade que a prata atrasa a cicatrização das feridas neles mas eles podem ser mortos por qualquer coisa se o estrago for muito grande. Nas lendas falavam balas de prata pois se coloque na situação. Você é um aldeão na idade média sozinho no meio da floresta a noite. Ao se deparar com uma criatura dessas você vai ficar atacando até matar? Claro que não o máximo que você faria seria atacar uma vez e sair correndo. E é claro que um lobisomem vai se recuperar logo de um ataque desses. Agora com balas de prata. Você ouviu dizer que elas são o único jeito de matar um lobisomem, já ficou mais confiante. Está indo caçar lobisomens com o resto da aldeia, mais confiante ainda. Quando encontrar um você atacaria com tudo sem nem pensar em correr. É dai que vem a história das balas de prata.”

“ O que você disse faz muito sentido, mas como tem certeza que é assim?” Não que ele não acreditasse nela. Mas para Sandro acreditar em algo que contrariava tudo que havia lido era bem difícil.

“Não pedi para você acreditar em mim?” Fay disse com uma cara um pouco triste. Ela sabia que seria difícil para qualquer um acreditar numa história dessas, mas ao vê-lo duvidar dela assim ela não podia deixar de ficar triste.

“...Desculpe.”

“Tudo bem. Mas se quer mesmo saber meu avô que me disse.”

“ E como ele sabia?”

“Ele era um lobisomem.”

“QUE?!! Mas pera aí se ele era um então isso quer dizer que você também...” Ele estava surpreso com a tranquilidade com que ela tinha dito que o avô era um lobisomem e também com a notícia. Mas ele nem conseguiu terminar a frase pois ela o cortou”

“ Não, eu não sou uma loba. O sangue da família da minha avó inibiu que os descendentes fossem.”

“Como assim?” Sandro agora estava confuso. Havia um jeito dos descendentes de um lobisomem não serem lobisomens?

“Minha vó era o que você chama de Peeira. Assim como minha mãe e eu.”