Sandro acordou pouco tempo depois, ainda um pouco assustado. Não acreditava que ainda estava vivo, sabia que aquilo tudo não tinha sido sua imaginação pois sentia dor onde os garotos o acertaram. Porém deixou isso de lado com o choque que teve quando percebeu onde estava. Não estava mais na rua onde tudo havia ocorrido e sim em frente a sua casa. Ele não conseguia acreditar. Como a criatura podia saber onde ele morava? Ele tentou se acalmar e pensar que a criatura não lhe queria fazer mal. Afinal alem de tê-lo salvo ele ainda estava vivo. Pelo menos era nisso que ele queria acreditar.

Ele então se levantou e entrou em casa assim que entrou sua gata Noite veio correndo ao seu encontro miando e passando entre suas pernas.

“Desculpa a demora você deve estar com fome já vou botar sua comida” dizendo isso a gata miou em aprovação as palavras dele e saiu correndo pra cozinha para esperar sua comida. Depois de tirar a jaqueta e os sapatos Sandro foi para a cozinha colocar a comida da gata esta já estava impaciente.

Enquanto colocava a ração para ela ele repensava tudo que havia acontecido naquela noite “Você não vai acreditar no que aconteceu hoje no caminho de volta” parecia besteira contar coisas a um gato mas ela era a única amiga dele. Contou tudo que havia acontecido enquanto a gata comia como se tivesse passado fome durante um a semana, assim que terminou ela se espreguiçou e o olhou, este se levantou e foi para o quarto pesquisar sobre o que ele achava que a criatura era, um lobisomem.

A gata o seguiu e pulou na cama dele e se ajeitou ali para dormir um pouco ela já conhecia os hábitos de seu dono sabia que ele ficaria acordado a noite toda pesquisando e não se importaria dela estar ocupando a cama dele. Ele folheava as páginas a procura de algo que o esclarecesse o porque do lobisomem o salvar. Pois em quase todas as lendas que lia eles eram feras que simplesmente matavam tudo que viam pela frente mas esse não lhe fez mal nenhum, então talvez as lendas estejam erradas, essa foi a conclusão que ele chegou. Não era uma das melhores mas era o que ele tinha conseguido pensar. O dia tinha sido muito agitado não estava com cabeça para pensar em assuntos como esse e decidiu ir dormir, já era madrugada e ainda tinha escola amanha assim após tirar uma gata muito preguiçosa de sua cama adormeceu.

Assim que acordou teve que correr para se arrumar, dar comida para a gata e sair correndo para a escola. No meio do caminho ele viu uma garota muito estranha ela parecia ser estrangeira tinha a pele clara e cabelo loiro claro quase branco e o observava. Ele achou muito estranho ela estava bem a frente dele teria que passar por ela para seguir seu caminho. Assim que passou por ela a ouviu dizer “Pelo seu uniforme parece que estudamos na mesma escola eu sou nova por aqui então acabei me perdendo será que você poderia me mostrar o caminho?” ele gelou na hora a voz da garota era calma porém dava a impressão que ela queria na verdade dizer outra coisa.

Agora ele prestou mais atenção nela ela estava com uniforme de sua escola antes estava distraído demais olhando o rosto da garota e vendo o quão claros eram, os olhos dela que pareciam até cinza, para ver que roupa usava. Ele então se acalmou afinal o que ele esperava? Que ela dissesse algo como 'nem vai me agradecer por tê-lo salvo ontem?' até parece. Só porque uma garota aparece do nada na frente dele logo depois de acontecimentos estranhos não quer dizer que ela tem algo haver com isso.

Ele saiu de seus pensamentos quando percebeu que a garota ainda esperava uma resposta. “Ahn claro”. Os 2 retomaram o caminho para o colégio. Para Sandro essa era uma experiência incomum já que normalmente era evitado pelos outros. Ele não conseguia se lembrar de nenhuma outra vez que estivesse em uma situação semelhante a essa. Não que sua memoria fosse das melhores, que não era. E ainda tinha o agravante de que todas as memorias de antes da morte de sua mãe estavam confusas e borradas. De qualquer jeito isso era algo novo para ele.

Os 2 caminhavam em silêncio, Sandro queria perguntar algumas coisas mas não sabia como. Nunca fora bom conversando com outras pessoas. A garota pareceu perceber isso e tomou a iniciativa “ Parece que nós 2 somos mais parecidos do que eu pensei. Você também tem dificuldade para falar com outras pessoas, não é?”

“Sim … um pouco” ele não tinha o que dizer além disso pelo menos ela parecia entender que ele não estava tentando ser antipático.

“ Entendo eu me dou muito melhor com animais do que com pessoas mas por algum motivo eu me sinto bem falando com você” por essa Sandro não esperava. Nunca na vida ouvira algo do tipo ainda mais de uma garota. Mas teve que sair dos pensamentos novamente já que tinha que responder algo a garota.

“Ah eu também me dou melhor com animais principalmente com minha gata as vezes acho que ela me entende” ela se vira parecendo um pouco surpresa

“ Gata? Hum que curioso você parece mais do tipo que teria um cachorro”

“Bem é que meu pai odeia cachorros então ele só me deixou ter um gato. Minha mãe que adorava mas ela já morreu talvez ela conseguisse convencer meu pai. Mas eu gosto bastante da minha gata, dizem que gatos não se apegam aos donos mas ela sempre fica ao meu lado quando preciso”

“Parece que ela gosta muito de você . Eu tenho 2 cachorros mas eles odeiam qualquer outra pessoa que não seja eu. Eu tinha muitos problemas com minha família por causa deles até que decidi morar sozinha”

“Nossa você deve gostar muito dos seus cachorros pra fazer isso”

“Assim como sua gata parece te entender eles são assim comigo as vezes eu acho que eles me entendem melhor que minha família”

“ Você não parece ser daqui por acaso é estrangeira?”

“Sim minha família é da Europa grande parte da Noruega e outros países nórdicos mas eu sou da Inglaterra”

“ Você fala português muito bem para uma inglesa”

“Uma parte da minha família vive em Portugal. Embora o português daqui e de lá tenha várias diferenças” eles estavam conversando tanto que nem perceberam que estavam na porta do colégio “ Bem parece que chegamos obrigado por me trazer até aqui, eu me chamo Fay e você?”

“ Eu me chamo Sandro”

“ Não vou me esquecer disso. Até mais então”. Sandro nunca tinha falado tanto com alguém. No início estava um pouco receoso mas tinha sido como a garota havia dito, ele se sentiu bem conversando com ela.

O resto do dia foi bastante normal e calmo, calmo até demais. Foi quando ele percebeu que os garotos que estavam batendo no cachorro tinham faltado. Mas até ai não era nada de mais eles de vez em quando faltavam, mas Sandro tinha quase certeza que o motivo não tinha sido esse. Eles deviam estar em choque assim como ele tinha ficado. Mas parecia que eles estavam vivos, não havia nenhum rumor de estarem mortos ou desaparecidos. Quando as aulas terminaram, ele queria continuar falando com Fay mas não a encontrou em lugar nenhum.

Ele decidiu ir para casa. Sabia que a essa hora Noite já estava impaciente esperando a comida e ela ficava de muito mau humor quando estava com fome. Nessa hora ele estava passando pelo lugar onde tudo tinha acontecido, nem parecia que havia tido um ataque ali. Algumas pessoas passavam na rua nessa hora, realmente se não fosse os hematomas dos socos que levou tudo pareceria um sonho.

Chegando em casa Noite, como sempre, veio correndo miando por comida. Depois de por a comida dela, Sandro preparou o próprio jantar. Após terminar a refeição, tomou um banho e foi dormir. Assim que Sandro dormiu, Noite aproveitou para sair e dar uma volta. Ela só fazia isso quando o dono estava dormindo ou fora de casa. Ela não gostava de deixá-lo sozinho enquanto ele estava acordado. Assim que Noite saiu pela janela ela viu duas figuras em cima do muro alto da casa.

Ela foi em direção a eles era uma garota da mesma idade de Sandro e um garoto um pouco mais velho. Ela pulou no colo da garota.

“Olá Noite faz bastante tempo né” A gata miou em resposta e colocou a cabeça embaixo da mão dela pedindo carinho.

“Ele não se meteu em nenhuma confusão enquanto eu estava longe?” A gata balançou a cabeça negativamente e ficou encarando a garota.

“Um lobo? Ah não se preocupe era apenas o Tulio. Falando nisso obrigada pela ajuda.” O garoto se virou para ela e sorriu.

“ Não foi nada, embora eu não entenda porque você se importa tanto com esse garoto” A garota que até agora estava nas sombras, pulou do muro para o quintal se aproximando da janela com Noite ainda nos braços. A luz do luar finalmente iluminando suas feições ela tinha um cabelo preto e olhos ambares e era um pouco morena. Ela ficou observando Sandro dormindo da janela.

“ Simplesmente porque ele me ajudou quando eu precisei embora ele nem deva se lembrar mais” O garoto também pulou do muro mas ficou a uma certa distancia dela mas agora era possível ver que Tulio tinha um cabelo castanho escuro e olhos também ambares mas tinha uma pele mais clara que a garota.

“Se esse é o caso porque não falou com ele quando passou por nós na rua?” ela não se virou para responder mas seu sorriso sincero se transformou num sorriso triste.

“ Porque eu tenho medo do que ele pode lembrar.” ela se virou e colocou Noite no chão

“ Tome conta dele. Não sei o que está havendo aqui mas alguns lobos estão por perto por isso que eu voltei” a gata deu um miado triste então a garota se abaixou e fez carinho na cabeça da gata

“ Sabe que eu não posso ficar não quero trazer problemas para ele”. Tulio já estava impaciente mas quando ouviu um uivo ele ficou alerta.

“ Angela temos que ir agora!”

“ok até depois Noite, qualquer coisa você sabe como me achar” Angela e Tulio pularam o muro de novo e foram embora. Noite então voltou para a cama de seu dono tentando cumprir a promessa que acabara de fazer. Parece que os passeios teriam que ficar pra depois.