Agora faltava pouco para começar a missão,não demoraria para o sol começar a se por. Angela e Tulio foram para os limites entra a parte abandonada e habitada da cidade. Não era muito diferente da parte abandonada tinha o mesmo aspecto decrepito do resto da região, porém era mais claro que o resto por causa da proximidade de ruas iluminadas e os prédios eram mais pixados que os do resto da região, talvez pelos pichadores terem medo das historias e só se aventurarem nas partes mais próximas. Angela olhava para a lua que agora estava com menos da metade visível. Tulio não conseguia entender muito bem esse habito que lobos de nascença tinham de ficar olhando a lua. Afinal, a pouco tempo atrás ele era humano, por isso não conseguia entender coisas que eram instintivas para os outros. Não era como se ao ter se tornado um lobo ele tivesse ganho entendimento sobre todos os novos instintos automaticamente. Esse tipo de coisa levava tempo para se habituar, então era como se ele sentisse a mesma coisa que os outros mas não conseguisse explicar direito o que era. Até agora, ele só tinha entendimento sobre os instintos básicos de sobrevivência que eram os primeiros a serem compreendidos por aqueles que eram transformados.

Angela se virou para ele o que o fez virar sua atenção para ela. Estava na hora de começarem a missão. Pelas leis da alcateia deveriam reportar o início ao líder pessoalmente. Porém nenhum deles estava disposto a voltar apenas para isso. Só iria atrasar o inicio da missão, Tulio então assumiu sua forma de lobo e uivou para sinalizar estavam começando e logo depois voltou a forma humana. Como iriam procurar nas áreas habitadas discrição era tudo.

“Que os espíritos da lua e da noite nos protejam durante a caçada” Angela, como de costume, pediu proteção aos espíritos antes da missão. Tulio não acreditava em espíritos ou deuses embora a crença fosse muito forte entre os lobos. Os dois começaram a andar em direção as luzes da cidade. Eles tinham algumas pistas de onde começar a procurar. Segundo Angela, eles muitas vezes se escondiam no subterrâneo pois era mais provável da luz da lua não os alcançar. Ao contrário dos lobos os cachorros só conseguiam se transformar quando a luz da lua tocava suas peles e bastava apenas uma pequena parte entrar em contato com a luz que eles se transformavam por completo. Porem tinham alguns que conseguiam controlar a extensão da transformação desde que uma parte muito grande do seu corpo não entrasse em contato com a luz. Mas se a lua não estivesse cheia era muito mais fácil eles controlarem a transformação e só se transformarem quando quisessem. Assim como os lobos, os poderes deles também eram diretamente relacionados com a lua porém, em vez da lua nova os deixar mais fracos que o normal ela os impedia completamente de se transformarem.

“Como hoje a lua não está cheia é bem provável que eles estejam andando pela cidade agora. Então temos duas opções: andar por ai sem rumo e se acharmos um segui-lo ou tentar achar o território deles logo de cara,qual você prefere.”

“A mais fácil.” Tulio sempre fora do tipo de seguir os caminhos mais fáceis. Por isso ele respondeu quase que imediatamente.

“Bem acho que a mais fácil seria achar o território deles e ficar de tocaia até eles aparecerem.”

“E como faremos isso? Não é como se pudêssemos olhar nas paginas amarelas onde o território deles fica.”

“É fácil, é só procurarmos por sinais. Os cachorros, embora tentem ser mais discretos que nós, são muito territoriais por isso sempre deixam sinais a vista de todos mas que não os conheça muito bem não vai dar atenção.”

“Se é assim como vamos saber que tipo de sinal procurar?”

“Eu conheço alguns.” Tulio começava a perceber que Angela sabia bastante dos cachorros porém parecia que ela conhecia algumas coisas que não eram conhecimento comum entre os lobos. Mas ele preferiu não falar nada, não era como se ela fosse responder mesmo. Angela tinha uma ótima habilidade de evitar responder questões que ela não queria.

“Bem isso já melhora nossa situação. Aliais o que Lúcio quer com isso? Porque ele quer que nós encontremos esses tais cachorros?”

“Não sei, mas para ele se quer querer encontrá-los deve ser algo muito importante. Normalmente ele só os ignoraria. Mas me preocupa ele ter mandado a gente, algo me diz que ele não nos escolheu por acaso.” Angela estava apreensiva. Ela tinha alguma ideia de porque Lúcio escolheu eles. Dentre todos dos Andarilhos Angela era a que mais tinha conhecimento sobre os cachorros além de ser uma das poucas que tinha coragem de enfrentá-los, embora esse ultimo fosse relativo.

“Você pode estar certa, talvez aja mais coisa nessa missão do que pensamos. Mas não podemos deixar isso nos distrair,se os cachorros nos encontrarem primeiro podemos ter problemas” Tulio também tinha duvidas quanto a essa missão era muito estranho. Ele podia sentir que Lúcio odiava os cachorros, Tulio só conseguia pensar em uma explicação para ele querer saber onde eles estão e era preparar um ataque. Mas eles não ganhariam nada com isso. Isso não fazia sentido.

“Sim você tem razão, eles em geral são muito desconfiados. Se nos acharem mesmo que estejamos falando a verdade podem não acreditar. E ai teremos problemas.”Angela nem queria pensar nas coisas que eles poderiam fazer. Até que ela se lembrou de algo importante e se a Peeira estivesse do lado deles? Angela gelou com a possibilidade porém conseguiu esquecer isso ao ouvir a pergunta de Tulio, que não tinha percebido que ela tinha se abalado.

“Porque há tanta hostilidade entre nós e eles?”

“Não sei, mas algo me diz que no começo não havia motivo nenhum pra isso. Tanto que se você perguntar nenhum dos dois lado sabe responder o porque. Mas não importa agora porque isso tudo começou,mesmo que soubéssemos a resposta os dois lados já deram motivos demais para se odiarem.”

“Como assim?”

“Já vi lobos massacrarem matilhas inteiras aproveitando a lua nova quando eles não podiam se defender direito. Como já vi cachorros aproveitando a força da lua cheia para acabarem com os nossos. Na lua cheia não temos chance contra eles ela deixou de nos fortalecer há muito tempo.” Angela havia presenciado a crueldade dos dois lados. Ela sabia o quão profundo o ódio corria nos dois lados. Tinha vivido o inferno na terra, ela conhecia crueldade melhor do que ninguém, a crueldade dos humanos,dos lobos,dos vampiros e de monstros que ela nem sabia se nome tinham. Com eles aprendeu que o único jeito de conseguir sobreviver era aprender a ser cruel também. E isso ela aprendeu muito bem. Não era atoa que a lua os tinha abandonado, talvez algum dia a lua abandonaria os cachorros também.

“Não consigo entender isso todos nós só queremos sobreviver por que não nos unimos? Juntos poderíamos ter mais chances.” Tulio não conseguia aceitar que o ódio tinha divido os lobos e os cachorros tanto assim. Todos só queriam sobreviver porque não se unir para conseguirem isso?

“Tipica ideologia humana. Se o mundo funcionasse assim não precisaríamos nem nos esconder dos humanos, e você deveria entender isso melhor do que ninguém não acha?” Angela havia cutucado uma ferida que ainda não havia nem começado a cicatrizar em Tulio. Quando Tulio havia se tornado um lobo, ele tinha aceitado e decidiu usar os novos poderes para proteger as pessoas que eram importantes para ele. Mas no final aqueles que ele queria proteger ficaram com medo dele. E foi quando Angela apareceu para ajudá-lo. Se não fosse por ela ele não sabia o que teria acontecido com ele. Porém esse ainda era um assunto delicado para Tulio e Angela sabia disso.

“...” Tulio fechou os olhos tentando permanecer calmo e não respondeu nada. Pois ele sabia que era isso que Angela queria, jogar a resposta dele contra ele.

“Que foi te irritei?” Angela perguntava já sabendo a resposta. Era raro vê-la agindo assim mas não era a primeira vez que Tulio presenciava essa atitude dela. Ela sabia que ela conseguia ser bem cruel e cínica quando queria.

“Você não precisava jogar isso na minha cara.” Tulio não tentava esconder o quão irritado ele tinha ficado. Mas ele tentava se controlar se ele se irritasse demais acabaria se transformando e isso não era uma boa ideia no meio da cidade com varias pessoas em volta.

“Pelo contrário parceiro, você precisa disso. Só assim pra você ver que essas ideias de unidos temos mais chances, que conseguiríamos uma vida melhor fazendo isso, não tem lugar no mundo que vivemos. Já te falei isso uma vez não existem heróis nem vilões apenas sobreviventes em nosso mundo. Nem nós nem eles somos heróis você entende o que eu quero dizer? Esqueça essas ideologias humanas, você não é mais humano.” De algum jeito ele sentiu que Angela estava tentando ajudá-lo mas ela estava conseguindo irritá-lo daquele jeito, ela definitivamente precisava de aulas de como dar lições de moral. Mas ele conseguiu entender o que ela realmente queria dizer. Se a situação fosse essa, realmente seria difícil fazer os dois lados cooperarem seja qual fosse a necessidade era bem provável que eles escolhessem a morte a cooperar.

“Não preciso que você me lembre disso. Eu sei muito bem, mas velhos hábitos são difíceis de mudar.”

“Se não conseguir, você não vai durar muito. Nós evitamos conflitos mas não dá para evitar todos o dia que tivermos um se você continuar assim pode não sobreviver.” Ela falava bem seria mas não demonstrava nenhum tom de preocupação com ele. Mas Tulio sabia que ela nunca demonstraria preocupação com ninguém além de Sandro mas que isso não significava que ela não estivesse preocupada.

“Me lembrarei disso. Agora depois dessa lição de moral lupina podemos nos concentrar na missão ou você vai querer me dar outro sermão?” Depois de tudo isso ele só queria que ela ficasse quieta se não ele iria realmente se irritar.

“Como quiser.”

Depois disso os dois trocaram poucas palavras e todas relacionadas a missão. Não demorou muito para eles começarem a achar os sinais que Angela tinha mencionado. Pichações com símbolos estranhos começaram a aparecer mais conforme andavam. Realmente para uma pessoa comum aqueles símbolos passariam despercebidos, provavelmente só pensariam que era de um mesmo pichador. Os dois começaram a perceber que cada vez mais estavam chegando na área mais remota da cidade um lugar com poucas casas e bem distantes entre si. Eles então começaram a procurar ao redor por possíveis locais. Até que acharam o que procuravam. Uma pequena entrada para o subsolo. A entrada tinha um portão de grade que estava aberto os dois decidiram entrar. Começaram a descer a escada tentando não fazer barulho. Não precisaram nem descer toda a escada para perceberem que esse era o lugar certo. O lugar por fora parecia abandonado mas por dentro era iluminado e tinha a aparência de um pequeno bar com televisão e videogame. Ao chegarem no final da escada viram que o lugar ainda tinha dois sofás-camas e dois pequenos quartos sem contar um pequeno banheiro com chuveiro. Não havia duvidas que esse era o esconderijo dos cachorros.

“Eles realmente vivem com estilo.” Angela só pode concordar com o comentário de Tulio. Ao ver que esse era o lugar certo os dois decidiram subir e ficar escondidos para ver os cachorros chegando porem ao chegar do lado de fora foram surpreendidos por cinco pessoas do lado de fora da entrada. Um era um brutamontes branco de cabelo raspado e olhos castanho escuros que aparentava ter uns 39 anos. O outro era um garoto mais novo de boné, cabelo ruivo,pele bem clara e olhos azuis de uns 18 anos se agarrando na perna dele estava uma garotinha de uns 9 anos morena, olhos verdes e cabelo preto. Uma mulher branca de uns 23 anos vinha logo atrás ela tinha cabelo loiro e olhos que pareciam vermelhos e do lado dela uma garota mais nova que devia ter uns 18 anos com uma pele bem branca cabelo loiro quase branco e olhos cinzas.

“Nossa olha o que temos aqui. Parece que alguns lobinhos se perderam na cidade. E agora o que faremos com eles?” o homem mais velho se aproximou.

“Não podemos deixar eles irem agora que sabe onde estamos.” A mulher loira também foi se aproximando de Angela e Tulio. Quando perceberam os quatro tinham feito um circulo ao redor deles. E a garota de olhos cinza estava só um pouco atrás. Angela e Tulio sabiam que tinham que sair dali logo, os dois se transformaram e pularam por cima dos que o estavam cercando quando começaram a correr ouviram uma voz não muito alta mas com um tom muito autoritário.

“Parem.” Quando perceberam eles pararam Tulio não conseguia entender o que estava acontecendo ele não conseguia se mover. Angela sabia o que estava acontecendo e não gostava nada disso.

“Muito bom garota, agora traga eles até aqui não podemos deixar eles fugirem sem saber o que eles queriam.” A garota fez como ordenado pelo brutamontes mandou Angela e Tulio retornarem. Tulio fazia de tudo para não obedecer os comandos mas não conseguia. Então esse era o verdeiro poder de uma Peeira? Agora ele entendia o medo que Angela sentia. Foi então que ele percebeu que Angela nem estava tentando apenas obedecia os comandos era como se ela aceitasse completamente a submissão dela. Quando chegaram perto Tulio começou a rosnar para a garota. Porém ela não parecia nem um pouco intimidada apenas o olhava com olhos frios como gelo sem demonstrar emoção alguma.

“Vamos levar eles lá para baixo e mande esses lobinhos se livrarem do casaco de pele Fay” Fay fez como ordenado obrigou os dois a assumir a forma humana de novo e os mandou segui-la. Enquanto desciam as escadas novamente, Tulio só conseguia pensar uma coisa 'a missão falhou' não que ele se importasse com isso agora tudo que ele não queria agora era um game over para ele e Angela.