Angela e Tulio foram levados para um dos quartos do esconderijo subterrâneo. Fay os conduziu até uma das camas e os mandou sentar. Nenhum dos cachorros se preocupou em amarrá-los ou prendê-los de alguma forma, não era preciso, quando os dois já estavam acorrentados mentalmente pela vontade de Fay. Tulio ainda tentava resistir a vontade de Fay mas a única coisa que estava conseguindo era se cansar sem nenhum resultado. Seus esforços não passaram despercebidos por Fay que começava a sentir pena do pobre rapaz desesperado.

“Eu se fosse você pararia de tentar se libertar de meu controle”A voz de Fay era fria porém bem no fundo ela estava realmente preocupada com Tulio. Embora não o conhecesse, ela conseguia simpatizar com o desespero dele de tentar se libertar, de tentar ao máximo se defender mesmo quando não se tem chance nenhuma.

“Porque ? Por acaso você ficaria irritadinha se eu conseguisse?” Tulio mais do que assustado estava frustado e com raiva de si mesmo por não conseguir fazer nada. Não conseguir controlar o próprio corpo, não conseguir entender como aquela garota conseguia fazer isso, não conseguir fazer nada para ajudar Angela. A única coisa que ele podia fazer agora era descarregar sua raiva na garota que o controlava. Mesmo que essa não fosse a mais sábia das decisões, ele não se importava.

“Não, porque se você forçar demais vai acabar se machucando” Fay sabia que tentar ir contra o controle de uma Peeira era perigoso para o lobo que tentasse. Por isso ela estava surpresa com a determinação daquele lobo.

“Isso por acaso é uma ameaça garota?”

“Eu estou tentando ser legal com você. Agora eu estou deixando meu controle meio frouxo mas se eu quisesse você nem conseguiria pensar sem minha permissão. Agora eu se fosse você pararia agora, seu nariz já está sangrando se você continuar pode ter uma hemorragia cerebral. Nem um lobo pode resistir a algo assim e você sabe disso. Se comporte que nem sua amiga.”

Tulio viu que Angela parecia sem vida, como se tivesse se desligado do mundo e se escondido nas partes mais profundas de sua mente. Enquanto isso, Tulio lutava contra a dor de cabeça que ficava cada vez pior, ele sabia que se não parasse logo ele estaria com sérios problemas mas agora ele não estava se importando com isso. Nessa hora, o brutamontes entrou no quarto e ao ver Tulio com o nariz sangrando e com cara de poucos amigos se aproximou de Fay.

“O que ele tem?” O brutamontes perguntava sem entender o estado de Tulio.

“Está tentando lutar contra meu controle mesmo eu já tendo avisado para ele que ele vai morrer tentando.” A voz de Fay continuava fria e ela parecia ter preguiça de responder a pergunta.

“Huum. Então ele quer bancar o machão. Muito bem, vai ser ele que a gente vai interrogar.”

“Acha mesmo que é uma boa ideia Ricardo? Ele parece que tá quase desmaiando.” A mulher loira apareceu na porta. Tulio já não conseguia ver com clareza mas percebeu que ela estava um pouco abalada com o estado dele. Ele odiava isso até os inimigos estavam com pena dele isso era humilhante.

“Ninguém mandou ele ser idiota, Erika. Além disso acho que a outra tá bem pior que ele.” Ao ouvir Ricardo dizer isso, Erika se virou para Angela que ainda estava parada olhando para o nada.

“O que você fez garota? Ela parece que está morta olhando pro nada desse jeito.” Erika estava realmente assustada. Se uma Peeira conseguia fazer isso ela estava muito feliz em não ser afetada.

“Eu não fiz nada ela tá assim desde o início.” Fay respondia sem muita vontade. Porém ela sabia que aquele comportamento não era normal aquela garota devia ter passado um trauma e tanto por causa de uma Peeira. Essa era a única explicação que ela tinha.

“Bem mas vamos parar com a enrolação. E começar o interrogatório.” Ricardo já estava impaciente. Ele queria saber logo o que eles tinham ido fazer ali.

“Como se eu fosse dizer alguma coisa a vocês.” Tulio embora dissesse isso ele não sabia de nada já que estava apenas seguindo ordens. Porém ele não podia resistir em fingir que sabia de algo, ele queria ver a cara deles quando descobrissem que aquilo era só um blefe.

“ É para isso que essa garota está aqui. Erika, fique com as crianças, e quando o líder chegar me avise. ” Ricardo falou apontando para Fay depois se virou para Erika que ainda estava parada encostada no vão da porta.

“ O Max não vai gostar nada de ouvir você chamando ele de criança.” Erika falou olhando para Ricardo com um sorriso. Max odiava ser tratado como uma criança por Ricardo e ele sabia muito bem disso.

“ Como se eu me importasse. Enquanto ele agir como uma criança eu vou tratá-lo como uma.”

“Está bem então, quando ele chegar eu venho te avisar.” Erika disse isso fechando a porta. Agora só havia os dois lobos, Ricardo e Fay no quarto.

“O que você quer perguntar a ele?” Fay disse olhando para o teto desinteressada.

“Porque eles vieram nos procurar.”

“Isso não é da sua conta!” Tulio estava determinado em fazer eles de bobos. Já que não havia como ele se libertar do controle, ele iria usar suas poucas forças restantes para isso. Embora sua visão estivesse um pouco embaçada pela dor de cabeça que estava sentindo ainda, ele podia ver que Ricardo estava determinado em fazê-lo falar. Tulio tinha que se segurar bastante para não sorrir e deixar seu plano transparecer.

“Aff.Responda.” Fay continua olhando para o teto como se fosse a coisa mais interessante de se fazer. Porém ela parecia um pouco irritada de ser obrigada a forçá-lo falar.

“Essa foi a missão que nos foi dada. Encontrar a matilha da cidade” Tulio sentiu algo que nunca havia sentido antes. Era como se ele não pudesse mentir como se ele fosse obrigado a responder aquela pergunta como se a vida dele dependesse disso. Dessa vez ele não tentou ir contra o controle mas ele sabia que se tentasse não ia conseguir nada.

“E para que vocês queriam nos encontrar?”

“Eu não sei.” Tulio mal conseguiu disfarçar o sorriso em seu rosto. Seu plano estava dando certo ele podia ver que Ricardo estava muito irritado em ouvir essa resposta.

“Como não sabe? Force mais garota.”

“Não posso ele já está muito sobrecarregado por ter tentando quebrar o controle. Mas ele está falando a verdade não é como se ele pudesse mentir.” Essa foi a única hora que Fay parou de olhar para o teto para encarar seriamente Ricardo. Ela não queria sangue nas mãos dela nem por acidente.

“Tsc. Garoto inútil. Seguindo ordens sem nem saber o porque. Quem é seu líder?”

“Lúcio dos Andarilhos.”

“Lúcio?! O que ele está fazendo aqui?”

“Nós só estamos de passagem.” Tulio tinha ficado curioso como ele conhecia Lúcio? Os Andarilhos eram até bastante conhecidos por ser uma alcateia incomum, mas não parecia que ele conhecia Lúcio por causa disso e sim o conhecia pessoalmente.

“Se estão só de passagem porque vir nos encontrar?” Ricardo agora queria saber isso a todo custo se era Lúcio que estava na cidade tinha que haver um motivo muito bom para procurá-los.

“Eu não sei.” Tulio agora tentava o máximo para se manter acordado. Sua dor de cabeça estava muito forte que nem conseguia mais pensar direito

“É realmente um inútil. Pode parar garota isso já foi o bastante deixe ele descansar agora antes que ele morra. De qualquer jeito Ionel não irá ficar nenhum pouco feliz ao saber que Lúcio está aqui.”

Essas foram as últimas palavras que Tulio ouviu antes de finalmente desmaiar. E a última coisa que ele viu foi Angela finalmente mexendo a cabeça como se ela finalmente tivesse acordado do transe.

“I...Ionel?” A palavra saiu com um pouco de hesitação como se ela não quisesse aceitar o que tinha acabado de ouvir.Angela falava um pouco assustada e ainda um pouco distante como se ainda não tivesse percebido totalmente o que se passava.

“Olha ela deu sinal de vida.” Ao ouvir Ricardo dizer isso, Fay se virou para Angela. Parecia que aquele nome tinha mais influencia sobre ela que o trauma. Não que Fay não entendesse o porque, Ionel tinha esse efeito sobre as pessoas.

“Ionel está aqui?” Angela falava com raiva. De todas as pessoas no mundo tinha que ser logo ele? Mas é claro que tinha por um segundo ela esqueceu que Ionel não era uma pessoa e sim um monstro.

“Ah você conhece ele? Amigo seu também?” Ricardo falava zombando dela. Conhecendo Ionel como ele conhecia, sabia que ele teria feito algo muito ruim com ela. Ionel não tinha piedade de lobos ou humanos.

“A....a..aquele monstro nunca seria meu amigo!” Angela esqueceu por completo o medo da Peeira. A raiva era muito maior que o medo. Porém ela não esqueceu que ela não podia fazer muita coisa sobre o controle da Peeira mas parecia que a Peeira estava disposta a deixá-la falar o que quisesse e já que essa era a única coisa que ela podia fazer ela faria. Ela era um animal acuado agora e faria de tudo para parecer maior do que era nem que fosse na base do berro.

“Cuidado com a língua garota. Não ouse chamar de monstro nosso salvador.” Ricardo ficou irritado na hora. Quem ela achava que era para falar assim de seu líder?

“Lógico que um monstro ajudaria outros monstros.” Angela faria de tudo para irritar ele. Assim como Tulio tinha tentado. Embora ela estivesse agindo como se não percebesse o que estava acontecendo ao redor dela, ela sabia exatamente tudo que havia se passado. Mas na hora seu estado de submissão estava a dominando.

“Você acha que é muito diferente de nós só porque você parece um bichinho fofinho? Então deixe te contar uma novidade, você é um monstro como nós a única diferença é que você tem uma coleira e nós não.” Ricardo a pegou pelo pescoço ela já o estava irritando bastante. Alguém tinha que mostrar qual era o lugar dela. E jogar na cara dela que ela estava em desvantagem ali.

“Sinto muito se minha fofura te irrita.” Angela nem se abateu pelo que Ricardo disse tudo que ele tinha falado era verdade e ela aceitava aquilo perfeitamente. Mas só de ter uma chance de tirá-lo do sério já a fazia sorrir.

Fay embora ainda estivesse completamente inexpressiva estava rindo por dentro. Aquela garota tinha bastante coragem de bater de frente com um monstro daquele mesmo em total desvantagem. Uma pena ela não a ter conhecido em outra ocasião. Tinha sido uma ótima ideia a deixar falar o que ela queria, no início, Fay tinha deixado apenas por curiosidade para ver o que ela diria e porque ela já estava com pena de todo o medo que ela tinha feito Angela passar. Mas agora ela estava deixando apenas para rir das coisas que ela falava para Ricardo.

“Não brinque comigo garota! Você tem sorte de Ionel ter deixado bem claro para não matarmos ninguém mas você não tem noção do como eu gostaria de arrancar sua cabeça agora. Ei, Fay, faça com que ela não possa mais falar não quero mais ouvir uma palavra vinda dela.”

Pena que tudo que era bom durava pouco. Frente a essa ordem Fay tinha que obedecer e mais uma vez Angela parecia ter se paralisado só de pensar que sofreria o controle mais uma vez. Fay se sentia mal de ver o medo que ela causava naquela garota mas ela não podia fazer nada quanto a isso. Ela sabia que o medo de Peeiras já era muito profundo em alguns lobos. Mas quando ela ia usar o controle mais uma vez, ela ouviu a porta abrir uma voz que a irritava e a assustava.

“Ora, ora, para que tanta tirania? Deixe ela se expressar um pouco Ricardo, quero ouvir seu choro de saudade. A quanto tempo não é Angela?” Ionel, um garoto de uns 20 anos olhos e cabelos pretos meio espetados apareceu seguido de Erika.

“Sim, Ionel embora eu não possa dizer que estou feliz em te ver.” Angela olhava para ionel com um olhar mortal como se Fay não a estivesse controlando, ela já teria pulado para cima dele.

“Assim você fere meus sentimentos Angelazinha.” Ionel dizia fingindo uma cara triste o que fazia Erika começar a rir.

“Isso não é nada comparado ao ferimento que você fez em minha mente.” Angela falava isso amargamente. O que fez Ionel parar de fingir que estava triste e abrir um sorriso sádico que assustou ela e Fay.