Hidden escrita por jduarte


Capítulo 55
Enroscada




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– Não acredito! Isso é ridículo, Mila! – disse Odete. – Como é que ele consegue ficar sem dor de cabeça?

– Sei lá.

– Você vai sair mesmo com ele? – perguntou.

– Sim.

– Sério?

– Não vou descumprir com minha palavra, né Odete.

Ela riu descaradamente.

– Sabe de uma coisa, você é até agora, a única pessoa que eu vi até agora saindo com ele. Finja que não tá interessada.

– Eu não tô interessada. Não nele, pelo menos. – sussurrei a última parte, bebendo a água no bico, e tendo um olhar de nojo mais uma vez direcionado a mim.

– Ok, quem é? Jeff? Carlo? – perguntou toda animada.

Jeff era um moreno de olhos tão verdes, carregava uma corrente de ouro no pescoço, e sempre mandava piscadas para as mulheres que trabalhavam conosco. Já Carlo era um Latino bem apessoado, que caia de amores por Odete, e mandava cantadas para ela com aquele sotaque quente.

– Nenhum dos dois. Não sei por que é que você não fica com Carlo. Ele é tão... quente. – disse fingindo me abanar.

Nessa hora, Carlo passou por nós, sussurrando com seu sotaque, – já disse que era totalmente sedutor – algo como: “Meu amor”. Coitado.

– Ele é um gato, maravilhoso e tudo de bom, mas não vou largar Henry.

– Você ama o Henry? – perguntei.

– Não sei.

– Como é que não se sabe se ama alguém? Isso é meio impossível, Odete.

– Quando ele me beija, eu não sinto aquelas fagulhas loucas e nem quando ele me toca...

– Então você não ama. – disse eu, mas ela ainda não havia terminado.

–... mas quando ele me olha nos olhos, e eu deito a cabeça no ombro dele, desabafando horrores, ele me trás paz interior.

Fiquei confusa.

– Não é mais fácil você desabafar com o padre?

– Querida, isso é confessar pecados. E sim, eu já tentei fazer isso. Não colou. – disse ela se apoiando no cabo de vassoura velha que estava por aí.

– Odete? – perguntou uma voz masculina no fundo do teatro, ecoando por todo ele.

Ela se escondeu atrás de minhas costas.

– Atrasa ele pra mim? – perguntou.

– Claro. Só se ficar com meus irmãos hoje.

– O que? Nem morta!

– Henry? – perguntei acenando.

Ele meio confuso, acenou de volta.

– Ok, ok, só me cobre.

– Tá.

Deixei-a se esconder atrás de um baú velho e desci o palco.

– Ela não tá. Sabe como é... Foi buscar umas coisas na casa dela.

Ele pareceu não acreditar muito.

– Eu acabei de voltar de lá.

Esse era Henry? Ele era um magricela, alto pra caramba, calçando oitenta e oito, e pesando dez. Ele era extremamente branco, o que não era normal para uma pessoa que mora em uma cidade litorânea, e era muito arrogante. Loirinho, jeito de nerd meio descolado, e muito, muito babaca.

– Ah, é? Eu disse na casa dela? Eu quis dizer na minha. Foi mal. – disse quando ele tentou avançar no palco.

Carlo, para ferrar ainda mais, viu que Odete precisava de ajuda, e praticamente gritou no teatro.

– Calma que eu te ajudo, Odete.

– Com licença? Odete?

– Não! É a Claudete, a moça que limpa o teatro.

– Que? Você é louca.

Nesse momento, Leroy, a única pessoa deste mundo que eu não queria que aparecesse aqui, apareceu.

– Você chamou minha namorada do quê? – perguntou ele bravo.

Henry riu.

– Baixinho, caí fora. – disse ele.

De baixinho só para Henry mesmo. Leroy era um palmo mais alto que eu.

– Vai embora. – disse Jeff descendo do palco, e empurrando Henry para fora.

– Só vim pegar a Odete. – disse ele forçando Jeff para trás.

Carlo desceu de uma das cadeiras que limpava, e gritou algo em português. Henry pareceu entender.

– Todos nós sabemos o que fez, seu idiota. – disse Carlo.

Henry se encolheu, enquanto eu virava para Leroy e perguntava:

– O que ele fez?

– Bateu em Odete, mais de uma vez. Saiu da prisão ontem e disse que iria matá-la.

A raiva que me consumiu, era a mesma que eu tinha dos homens do castelo.

– Você encostou nela? – perguntei irritada, prensando os lábios depois de falar.

Henry riu.

– E se encostei? Vai fazer o que?

– Pergunte a você mesmo. Você é medroso, bate em quem não tem condições de se proteger. Eu tenho condições de me defender. E se fosse sua namorada, já teria te matado há muito tempo. – ameacei.

– Eu tava bêbado. – disse ele.

– Azar! Nem bêbado, nem lúcido, muito menos lúcido, se deve bater em uma mulher. É crime, sabia? Foi preso, né? – cutuquei.

– Não se mete comigo, garota. – ameaçou.

– O que vai fazer, me bater?

– Não. Não. Muito pior.

– Vai se ferrar, Henry! – ouvi uma voz vinda lá de dentro. – Já liguei pra polícia. Eles vão te dar agora, uma cela com seus amigos.

Odete parecia melhor por enfrentá-lo.

– Eu te amo, Odete! – gritou Henry para que ela ouvisse bem.

Ela pareceu fraquejar, mas se recuperou.

– Eu não. Amo o Carlo, que é bem melhor que você. – disse ela.

Todos olharam assustados.

– Tenho dó de você, Henry. Isso é ruim. Péssimo, na verdade. – disse Odete.

Henry disse:

– Ok. Fui um idiota, mas você ainda vai voltar para mim. Escreva minhas palavras, Odete.

Ela ficou mexendo os dedos da mão na direção dele, abrindo e fechando os dedos.

– Fala com a minha mão, Henry. Ela é a única que vai voltar. E se voltar, vai ser pra te dar um soco. – disse.

Henry saiu quando a sirene da polícia começou a soar.

Todos voltaram a seus afazeres, menos Leroy e Carlo.

– Me ama, señorita? – perguntou Carlo.

– Sim. Alguém abriu meus olhos. – disse Odete beijando seu rosto.

Carlo ficou bem corado, enquanto Leroy tentava passar os braços por minhas costas. O impedi.

– Não.

Ele fingiu estar se espreguiçando.

– Tudo bem.


Depois de nosso turno, Odete me puxou pelo braço, e perguntei:

– Por favor, fique comigo até você se ajeitar?

Sorri serenamente.

– Sabe que estou me hospedando em um hotel...

– Sei. – ela me interrompeu. – Só que estou tão sozinha ultimamente. Estou sem ninguém para conversar.

– Compre um cachorro. – disse eu.

– Ele não responde.

– Ora, então compre um papagaio.

– Não, ele faz muito barulho.

– Tá, Odete. Mas, - disse eu levantando o dedo indicador. – quando eu arrumar minhas coisas irei embora.

– Ok! Ok! Vou pro hotel com você. – disse ela.

Assenti pegando minhas coisas e saindo do teatro, chamando um táxi até lá.

– Ele é gato, Latino, mais velho, me escuta... – começou Odete com aquela sua conversa de como Carlo era “O” cara para ela.

E depois de listar as características de Carlo por quase vinte minutos, passei a ouvir a conversa de como Henry era um completo e total babaca. Passei mais vinte minutos a ouvindo dizer que Leroy não era o cara certo para mim, e sim um cara que havia conhecido no Barney’s and Fantasy Bar.

– Sério? – perguntei animando-me um pouco mais.

– O cara era um pitél! Um pedaço de um belo e gostoso caminho.

– Odete! – reclamei.

– O que? Não posso nem dizer que o cara é gostosinho que já levo bronca? – perguntou.

– Não, não pode. Nem o conhece.

O motorista do táxi riu. Odete, grossa como sempre, perguntou:

– Tô suja? Não? Então não tem o porquê dar risada.

– Eee, grossa! – disse eu batendo em seu ombro.

Ela riu.

– Desculpa. Enfim, acho a maior enrascada você sair com Leroy. Depois ele irá querer um segundo encontro, você irá dizer que passou mal no último e ele ficará incomodando. E quando você menos esperar, CABUM – ela abriu os braços fazendo com que eu me assustasse -, está apaixonada pelo traste.

Afaguei seu braço.

– Não diga que Leroy é um traste só porque Henry era. Não generalize as coisas. – disse eu.

Ela assentiu cabisbaixa.

– Você tem toda a razão, Mila.

– Eu sei. Posso te contar uma coisa? – perguntei.

– Claro!

– Eu só quero sair com Leroy para esquecer o carinha que eu sou apaixonada. – disse eu.

Ela arregalou os olhos falsamente.

– Ah, não! Sério?

– Pára! É sério!

Odete sorriu.

– Continua...

– Enfim, nos conhecemos em um lugar aí...

– Em que lugar? – ela interrompeu-me. – No Barney’s and Fantasy Bar?

– O que? Não. Então, ficamos muito amigos, e meu irmão também, só que ele tem amigos ruins e por isso me afastei. Vou almoçar amanhã com um dos meus amigos e dele em comum.

Odete pegou com o dinheiro dela nossa corrida, e enquanto eu protestava, disse:

– Economiza pra você comprar um andador pro bebezão que você vai jantar hoje.

Eu ri. Ela nunca gostou de Leroy, nem mesmo quando ele era iniciante. Quase fez ele ir embora quando disse que achou um maço de cigarros na bolsa dele. Ela jura de pés juntos que é verdade, mas...

– Então, vai dar uma fumadinha com ele à noite? – perguntou.

– Eca! Não! Odete, ele não fuma!

– Ok, honey, acredite no que quiser.

Revirei os olhos entrando no hall, passando pela planta verdinha e que me dava um medo básico, e entrando no elevador que me dava claustrofobia.

– Respira Camila. Cê tá azul. – disse Odete brincando quando chegamos ao quarto.

– Meninos? – perguntei.

Ninguém respondeu.

– Devem estar comendo. – disse eu jogando a mala em cima da cama, e fechando novamente a porta.

– Camila, porque tem um homem parado no seu quarto? – perguntou Odete morrendo de medo, com os olhos arregalados.



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Notas finais do capítulo

Continua??