Hidden escrita por jduarte


Capítulo 47
Consagrada


Notas iniciais do capítulo

Mais um! Amei todos os reviews do outro capítulo!
Beijoooooos, e amo todos vcs,
Ju!



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   A Lua se estendia redonda, gorda e vermelha no alto do céu. Ela jogava toda sua luz em cima de mim, e fazia sua beleza magistral jogar a minha no chão, deixando-me cabisbaixa. Todos nós éramos servos e seguidores da luz da Lua. Potente e bela, a Lua tinha um poder excessivo sobre nós. Alguns se dobravam para ela, pedindo arrego.

   Diz a lenda, que um servo do Sol e da Lua, desobedeceu à rainha da noite, e como castigo, ela o deixou apodrecer na Terra. A origem dos restos mortais do servo foram jogadas em cima de uma flor, e de lá brotou um ramo de rosas azuis. Tão azuis e bonitas, que faziam a Lua chorar sangue. O sangue que caía da Lua, um dia tocou as pétalas desta flor, e um homem a cheirou. O aroma da flor penetrou em seu organismo o tornando um mutante e conseqüentemente um servo da Lua.

   Dizem que a Lua tem influência paranóica em nós, porque somos amaldiçoados por ela. E toda vez que a Lua se estende gorda e vermelha, ela chora sangue de desgosto. Desgosto de seus servos e seus filhos.

- Onde vai? – ouvi alguém perguntar.

- Jogar umas coisas fora. – respondeu a pessoa depois de muito mexer.

   A pessoa deixou a coisa que carregava num canto, e marchou para fora. Senti minhas asas rasgarem a blusa que eu usava, e se impulsionarem para frente. As pontas pretas encostavam no chão e traçavam desenhos imaginários.

   Bernardo saiu do castelo, e correu para a floresta que ficava na frente dos jardins secos. Alguns minutos agonizantes, vi algo cruzar a Lua vermelha e pairar no ar com grande leveza.

   Bati as asas algumas vezes, e, como elas não faziam barulho, decidi voar um pouco. Bati as asas até a janela do quarto que estávamos, e percebi que havia mais uma pessoa com eles. Foquei os olhos naquela pessoa, e percebi que era... Yana!

   O susto foi tanto, que cai no chão com as asas já de volta em minhas costas. Meu punho machucado havia se curado melhor, e então, era mais fácil me levantar agora.

   Como pode? Ela morreu, pensei aturdida tentando levantar, e entrando novamente no castelo. Teria que voltar para o quarto sem que ninguém notasse.

   Vi Adam virado para uma caixa abarrotada, vasculhando algo.

- Droga! Cadê? – perguntava ele para si mesmo.

   Cadê o que, Adam?

­- Aqui! – disse ele levantando um arquivo, e o deixando em cima da caixa.

   Ele deixou a mesma aberta por algum motivo idiota, muito burro mesmo, saiu com ela para fora do castelo, enquanto eu, que estava escondida num canto, o espiava para cair fora.

   Quando ele passou, e eu fui levantar, percebi que um dos arquivos estava jogado embaixo da cadeira de tecido.

- Adam, você deixou uma coisa cair... – disse tão baixo que nem minha consciência ouviu direito.

   Abaixei-me calmamente e discretamente, - lê-se que eu abaixei afobadamente, praticamente deitei no chão para pegar o arquivo que havia se esquivado mais para baixo da cadeira, e depois percebi que algo segurava o arquivo.

- Solta! – disse puxando mais ainda. Puxei com tanta força, que a cadeira se moveu. Percebi que embaixo da cadeira, havia o que parecia ser uma passagem.

- O que é isso ai fora? – ouvi alguém dizer lá fora.

   Corri para longe e senti meu coração criar asas e voar para longe de meu peito.

- Quem está aí? – perguntou alguém.

   Descobri que a voz era de Bernardo.

   Levantei e corri para ele, mantendo o arquivo em minhas costas. Limpei o sangue que tinha em sua bochecha, e disse:

- O que faz aqui fora?

- O que você faz aqui fora?

- Vim procurar umas coisas. E você? – perguntei.

- Afugentar pombos gigantes.

- O que cruzou a Lua não parecia ser um pombo gigante. – sussurrei.

   Ele ficou sombrio de repente.

- O que você viu? – perguntou.

- Nada.

- O que você viu? – perguntou novamente, parecendo gritar em minha cara.

- Nada! Eu juro! – disse quando ele agarrou meu braço, e chacoalhava-me para obter respostas.

   Bernardo me soltou, e caminhou para o lado oposto do meu, entrando numa sala.

- Pai? Foi descoberto. – sussurrou ele.

   Meus olhos se encheram de lágrimas por causa da brutalidade de Bernardo e depois parei. Deveria subir, e ficar com meu irmão. Não poderia deixar esse arquivo cair em mãos erradas, e deveria fugir para longe. Bem longe.

   Comecei a abrir o arquivo. Primeiro tinha uma foto, e várias cartas de recomendação. Porém, a foto estava tão amassada, que não era possível identificar quem era. Somente o nome era destacado com uma caneta preta e grossa: ASTIF; B. K. F.

   Ao Sr. Shenid Benson Tewis, mando meu melhor mutante. Cuidadoso, corajoso e não se apaixona. Treinado para ser frio e viver uma mentira. Bom mentiroso e pode manipular facilmente as pessoas. Porém possui um gênio explosível e fácil de ser irritado. Lua de Sangue o afeta completamente. Sua mudança fica visível até mesmo ao dia, e por isso é bom o manter perto de florestas e longe de lagos.

Com grande apreciação,

A.P. D

   (Andrew Phillips Dennis).

   E é agora que eu me pergunto: Quem é B.K. F. Astif?

- O que é isso? – perguntei muito baixo, folheando algumas outras cartas. Algumas podiam ser de décadas. Estavam tão amareladas e emaranhadas, que pareciam ter sido folheadas há muito, muito tempo mesmo!

   A. P. D. Quem diabos é APD? Deve ser alguém daqui. Ou não.

- Ok, cara, já sei suas iniciais, agora me diz seu nome, infeliz! – disse para mim mesma.

   Folheei mais algumas coisas, e percebi que havia uma ficha de cadastro.

NOME: B. K. F. ASTIF.

IDADE: não descoberta.

CAPACIDADE: E.X SIBELÉIS. OITENTA DE FORÇA; TRINTA DE PESO;

RAÇA: não descoberta.

PEDIDO DE TRANSFERÊNCIA: 20 de Outubro de 19--

TREINAMENTO: Completo.

   Minha respiração estava presa na garganta, e uma pedra parecia barrar a passagem do ar para meus pulmões. Quando respirei profundamente, algumas folhas viraram, mostrando mais fotos desgastadas e riscadas com a caneta. Algumas outras fotos eram pequenas e tinham um risco vermelho em cima, e uma pequena legenda em baixo: DESATIVADO, ou MORTO EM COMBATE.

   Meu coração se apertou quando percebi que havia uma foto de Bernardo e Adam perto um do outro, segurando suas armas – queria matar quem havia dado esta arma para os dois – e sorrindo. Embaixo havia uma legenda: LOCALIZAÇÃO NÃO DESCOBERTA.

   Suspirei exausta.

- Tem alguém aqui?- uma voz cansada perguntou.

   Afobada, fechei o arquivo, e o enfiei embaixo da cadeira novamente, levantando ao ouvir o clique absurdo do gatilho, e logo após, a mesinha de cabeceira explodir ao meu lado. Levantei as mãos em rendição quando vi Grayse parada apontando a arma para meu peito.

- Dê-me uma razão para não atirar! – ordenou ela segurando a arma bem perto do peito, mas ainda assim apontando para mim.

- Posso te livrar dele. – murmurei.

   Sem razão alguma, seu rosto ficou vermelho, e seus olhos cheios de lágrimas.

- E qual é a razão de você pensar que pode me livrar daqui e dele? – perguntou balançando a arma enquanto dizia.

- Ele tem segredos, e eu sei todos. Posso destruí-lo. – disse abaixando as mãos, e caminhando.

   Ela abaixou a arma, deixando-a no chão. Eu queria a ajudar, mas quando ouvi uma voz brava e escandalosa vindo de alguma parte do castelo, e ecoando por ele todo, encolhi-me totalmente e corri para meu novo quarto.

   Tropecei algumas vezes nas escadas, e quando olhei para trás uma vez, vi algo como uma planta puxar meu pé, e escorregar para debaixo de uma pedra.

- Mas que droga...?

- Planta-guarda. – sussurrou alguém para mim.

   Dei um pulo para trás, quase caindo quando encontrei os olhos pretos como ônix de uma pessoa que não estava ali.

- Tentando escapar? – perguntou ela.

   Seu cabelo era bem preto, e sua pele bem morena, fazendo com que sua boca roxa pelo frio, ficasse bem aparente.

- É nova aqui? – rebati.

- Sim. E quero sair logo daqui.

   Levantei-me e murmurei a ela.

- Você não vai sair. Depois de alguns dias, vai agradecer por estar viva, disse mostrando a ela as marcas em minhas costas. Ela foi para trás, se fundindo com a parede, e virando uma grande e grotesca planta.

- Deus livrou os anjos! Livrou Senhor! – sussurrava a mulher grudada na parede.

   Fui me afastando devagar dela, e quando ela fez a menção de sair da parede, piquei a mula. Corri tanto, que acabei derrapando quando fui entrar no quarto que agora eu habitava.

   Fechei a porta atrás de mim, e suspirei.

- Senhorita Camila? – perguntou uma pessoa que eu conhecia bem.

- Yana? Yana! Oh, Deus! Você estava morta! Rubens disse que você estava morta! – murmurei correndo até ela, e a abraçando fortemente.

   Ela riu.

- Morta não, camuflada, sim. – respondeu.

   Minhas sobrancelhas se juntaram com a confusão.

- Como assim? – perguntei soltando-a.

- Me disseram que eu iria ser livre, porém que eu não contasse a ninguém. Foi horrível. Depois de estar camuflada, disseram que eu poderia dar um adeus somente. E por isso escolhi vocês.

   Camuflada?

- Camuflada? – perguntei novamente.

- Sim. Eles conseguem fazer você parecer humana! – exclamou ela com aquele sotaque puxado e que só ela tinha.

- Conseguem?

- Sim! É um milagre, senhorita Camila.

   Rubens abraçava a cintura grande de Yana, e se agarrava a roupa branca que ela usava.

- Você vai embora? – perguntou ele.

- Sim, meu anjo.

   Rubens começou a chorar e as luzes do castelo começaram a piscar. Piscaram tão rapidamente, que pensei por um segundo que iriam explodir.

   Yana tocou no coração de Rubens e sussurrou:

- Estarei sempre com você. Só que longe. Você pode falar comigo pelo coração, Rubens.

   Onde ela o tocou, apareceram umas luzes saindo de seus dedos, deixando uns desenhos alaranjados contornando seu coração, e depois indo parar no meio de seu peito, se espalhando até sumir.

- Promete? – perguntou meu irmão.

- Prometo. – disse ela beijando seu rosto melado de lágrimas azedas.


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Notas finais do capítulo

Continua?