Hidden escrita por jduarte


Capítulo 46
Arrancada


Notas iniciais do capítulo

mais um, esse é Bônus.
Beijooos,
Ju!



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- Não devia estar espiando. É contra as regras. – sussurrou ele em meu cangote, fazendo com que o ar quente que saía de sua boca, batesse em meu pescoço, proporcionando ondas de molenguice por todo meu corpo.

   Senti a respiração da pessoa se aproximando, e o cheiro masculino invadindo meu organismo.

- Contra as regras é mais divertido. – respondi sorrindo.

   Bernardo me virou para ficar de frente para seu rosto. Seu lábio inferior estava inchado e sangrando. Assustei-me.

- O que aconteceu com você? – perguntei passando os dedos de leve em seu lábio.

- Nada.                                     

- Isso não parece um nada! – protestei passando a ponta da blusa em seu lábio.

   Ele se esquivou quando a encostei machucado.

- Isso dói!

- E? Não estou perguntando. – rebati. Analisei o ferimento, e constatei que: - não vai precisar levar nenhum ponto.

   Bernardo ficou olhando dentro de meus olhos, e por um segundo pareceu ver minha alma. Pareceu descobrir tudo o que havia dentro de mim, e decifrar cada pedaço de meu ser. Pareceu saber, por um momento, de todas as coisas que eu já havia passado, todos os sentimentos reprimidos que eu tinha dentro de mim, e de toda a minha vida. Por um instante, pareci o reconhecer de algum lugar.

   No fundo de seus olhos, percebi uma luz – lá no fundo – brilhando azulada e perfeita. Aproximei-me de seu rosto, e quase encostei meu nariz no seu. Minha boca estava apenas alguns centímetros da sua, e eu parecia explodir com a sensação fantástica de ter seu rosto tão perto do meu.

   Ele colocou as mãos mais fechadas em minhas costas e puxou meu corpo para encostar-se a seu abdômen perfeito e modeladamente esculpido.

- Não podemos fazer isso.

- Você já disse isso. – murmurou Bernardo.

- Porque é sério. Vamos ser mortos.

- Por causa de um beijo? Duvido. Posso matá-los rapidamente. – disse ele.

   Bufei tirando onda com sua cara.

- Sério? E provavelmente será com sua arma pequenininha, e com suas balas de metal, estou certa?

- Não.

   Surpreendi-me.

- Você me conhece bem demais. Já deveria saber do que eu sou capaz, Mila.

   Conheço?, perguntei a meu inconsciente.

   Sim. Procure em suas memórias. Vasculhe o sótão de seu cérebro, Camila, respondeu ele.

   Legal, conversando com a cabeça. Agora sim sou louca!

- Você tem que entender que não posso!

   Ele baixou a cabeça.

- Mas... Posso te dar isso. – disse eu me inclinando relativamente para seu rosto, e beijando uma pequena parte de seu lábio machucado.

   Ele fechou os olhos e quando me afastei percebi que continuava com as mãos em meu rosto, e em minha cintura.

- O que foi? – perguntei.

- Ainda estou com a sensação.

   A confusão havia se instalado em minha cabeça.

- Como assim?

- A sensação de ter seus lábios contra minha pele, o calor de seu corpo perto do meu, seu cheiro, e também tentando me acostumar, inutilmente devo dizer, com a falta que você me faz quando não está comigo. – sussurrou apoiando sua testa na minha.

   Ele riu e eu também.

- Eu gosto de você. Sinceramente. Não deixe que nada te atrapalhe a seguir seu coração, Camila. Muito menos eu.

   Meu coração foi esmagado pelos pesos das palavras que Bernardo dizia. Tão bonitas, e ao mesmo tempo tão doloridas. Ele parecia saber que não havia futuro neste relacionamento. Por quê? Havíamos nos conhecido aqui, numa prisão, éramos vigiados de perto, e ele era humanos.

- Eu não gosto de você. – disse eu. – Gostar não é o suficiente. – completei quando vi que seus olhos verdes me encaravam com tristeza.

   Bernardo riu e beijou a ponta de meu nariz.

- Quando sair daqui, talvez tenha futuro comigo. – disse ele.

   Assenti abraçando-o, e sentindo o coração forte e saudável pulsar dentro dele.

    Levantei a cabeça para o olhar e ele beijou minha testa.

- Se pudesse, viraria prisioneiro só para ficar com vocês dois. – sussurrou ele referindo-se a meu irmão.

   Meu irmão. Minhas mãos se fecharam em torno da cintura de Bernardo, quando lembrei que teria de ir embora.

- Tenho que cuidar de meu irmão. – o lembrei.

   Ele apertou minhas costas, e sorriu inspirando o cheiro de meu cabelo.

- Ok.

   Quando saí de seus braços, senti o frio vir me cumprimentar, e abraçar meu corpo. Dei um tchau com a mão, e tentei atravessar a parede. Não consegui. Alguma coisa me impedia. Algo como aquele pedaço de asteróide. Ele me impedia de usar meus poderes, e talvez isso esteja em algum pedaço desta parede.

   Desisti de tentar atravessar a parede, e fui andando até o refeitório, onde encontrei meu irmão sentado com a cabeça baixa.

- Rubens? – perguntei indo até ele e tocando em seus ombros.

   Ele levantou os olhos, e percebi que estava com sono.

- Oi. Onde estava? Acordei ontem e você não tava no quarto. Nem hoje.

- É complicado.

- Estava com ele? – perguntou novamente.

- Sim, e não.

   Ele ficou confuso.

- Já comeu? – perguntei.

   Ele negou.

   Peguei em sua mão, fazendo-o levantar, e disse:

- Acho que posso preparar umas panquecas.

   Estávamos em nosso quarto, sentados com as pernas cruzadas, enquanto comíamos nossas recém-preparadas por minha mente, panquecas.

- Isso é bom! – disse Rubens com a boca cheia.

   Eu ri.

- Eu sei. – murmurei.

   Comíamos de uma maneira tão ávida, que a comida acabou em vinte minutos. Bem na hora que alguém bateu na porta. Escondemos os pratos e garfos embaixo da cama, e limpei a boca de meu irmão.

- Vocês vão se mudar. – avisou Norbert.

- Por quê? – perguntei levantando.

- Por causa dos novos mutantes. Ah, e tire o prato de debaixo da cama. – avisou piscando para mim, e saindo.

   Corri para a porta quando percebi que ele já iria sair.

- Ei! Espera!

   Ele se virou.

- Onde vamos ficar?

   Norbert coçou o queixo, e disse:

- Vou pedir para Adam te mostrar o caminho.

   Suspirei já voltando para dentro, quando vi o menino com cabelos pretos e pele branquinha, que havia visto quando soltaram as bombas.

   Segurei seus ombros com medo que ele me desintegrasse, porém ele estava com óculos escuros.

- Oi! – sussurrei. – Onde você estava indo? – perguntei.

- Tô procurando algum quarto pra ficar. Posso ficar aqui? – perguntou ele com aquela voz ligeiramente infantil.

   Vi que meu irmão balançava a cabeça dizendo “NÃO!” enquanto eu dizia:

- Claro. Pode sim.

    Ele balançou a cabeça para meu irmão, como se estivesse o cumprimentando e sussurrou para ele.

- Não precisa gostar de mim, nem vou fazer barulho. Podem voltar a comer.

   Ficamos assustados.

- Que tipo de mutante você é? – perguntou meu irmão.

   O menino abaixou a cabeça.

- Um tipo mortal, e que deveria ficar preso ou morrer. – sussurrou como se fosse para ele mesmo.

   O reconfortei com uma batidinha nas costas.

- Todos nós, para eles, devemos morrer. – disse meu irmão.

- Mas, o que você faz? – perguntei curiosa.

   Ele perguntou se tínhamos algum objeto facilmente quebrável, e é lógico que lhe estendemos os pratos e garfos.

- Nossa! Como conseguiram isso? – perguntou ele.

- Nem pergunte! – disse meu irmão rindo.

   O menino segurou os pratos, e fez com que a porcelana se estalasse, e ficasse em milhões de pedaços. E então logo após, os pedaços se juntaram formando um pequeno dragão branco – por causa da cor da porcelana – que cuspia algumas fagulhas de fogo e voava alguns centímetros do chão.

- Vamos? – perguntou Adam surgindo do nada.

   O dragãozinho se desfez no mesmo instante e Lonlye levantou com medo de Adam.

   Toquei em seus ombros, tentando acalmá-lo, e então Adam pegou um papel dobrado em seu bolso, sinalizando a outra porta, no final do corredor. Caminhamos calmamente até lá, quando ouvi alguns especiais gritando por ajuda. Tentei correr para tentar ajudá-los, mas Adam me impediu.

- Vão te matar! – sussurrou.

   Ri com desdém.

- Já tentaram me matar muitas vezes. Nenhuma bem sucedida.

   Ele se abalou, mas continuou me encarando.

- Não! – disse com uma firmeza estranha. – Você vai ficar aqui!

   Adam empurrou meus ombros para dentro do quarto que eu ficaria.

   Tentei o empurrar, porém ainda estava fraca por causa do Cortizol.

- Adam! – gritei quando ele fechou a porta, e nos trancou. – Filho-duma-ema!

   O vi saindo de perto da porta, e virei para meu irmão.

- Você sabe como nos tirar daqui. Basta explodir a fechadura, mano. – disse eu.

   Ele tremia.

- Mila...

- É o único jeito de sair. – disse eu pegando em seus ombros.

   Rubens olhava para mim com aqueles olhos azuis e os cabelos claros, parecendo um anjinho, e desejando mais do que nunca estar em nossa casa.

   Ele abriu as mãos em direção a maçaneta, e fechou os dedos contra a palma, suando frio. Em um segundo, a maçaneta pegava fogo, e a fechadura já explodida, se encontrava toda esturricada.

- Como fui? – perguntou.

   Fiz um “jóia”, e peguei os dois pela mão, saindo do quarto. Se aquilo iria me causar problemas, eu realmente não me importava. Tivemos de entrar por causa da movimentação lenta no corredor. Vi uma luz azul relampejando na cabeça de alguém, e entrei novamente.

- O que foi? – perguntou Lonlye.

- Vamos ficar aqui até o anoitecer. Quando acontecer, vocês fiquem aqui, e eu vou procurar ajuda.

   Quando a Lua apareceu, umas manchas vermelhas começaram a aparecer em minhas costas. Já disse que eu tirei a faixa? Pois bem, tirei, aquela coisa incomodava.

- Mila, o que aconteceu com suas costas? – perguntou meu irmão quase chorando. – É horrível.

   Irritei-me.

- Nossa! Muito obrigada por me acalmar! – disse a ele e a Lonlye que olhavam para mim como se eu fosse algum tipo de aberração.

   Comecei a coçar as manchas e depois a sentir um tipo de dor extenuante na área onde minhas asas começavam, e terminavam.

- Que dia é hoje? – perguntei.

- Dia 25 de Setembro. Por quê? – perguntou Lonlye.

   Gelei. Ai, droga!

- Nada. Preciso ir. Fiquem aqui! – ordenei.

   Abri a porta encostada e espiei para ver se ninguém vinha. Ninguém. Nem mesmo uma única barata.

   Comecei a caminhar para as escadas e vi alguns mutantes caminhando para lá também. Eles saíam do castelo, e paravam até onde suas tornozeleiras piscavam em vermelho. Alguns se sentavam e punham-se a bater papo e jogar conversa fora. Enquanto eu arrumava um plano para sair dali.


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Notas finais do capítulo

continua?