Hidden escrita por jduarte
Notas iniciais do capítulo
Mais um!
Beijos,
Ju!
- O que você faz aqui? – rebateu rindo cinicamente.
- Acho que o soro, os equipamentos de emergência e a maca já te dizem tudo.
- Aham... Aquele gás de repreensão contra mutantes fez um grande estrago em você não é gracinha? Posso apostar que primeiro você ficou com falta de ar, depois disso, ficou fraquinha como um pão murcho, e depois tudo ficou preto.
- Você fez isso de propósito não foi? – perguntei olhando para a agulha em minha mão e sentindo a cabeça girar e o estômago chicotear minhas costelas.
A sombra balançou o que parecia a cabeça como um “sim”.
- Como foi que você descobriu isso? – perguntou cínica.
Onde Norbert estava quando eu apaguei? Pelo que soube ele estava atrás dessa... coisa que se encontra na minha frente.
- Onde Norbert está? – perguntei inexpressivamente.
- Bem, pelo que eu soube, ele sumiu no meio daquela fumaça enquanto estava me perseguindo, e eu o matei.
Meu coração acelerou. Como é que ele poderia matar alguém sendo que nem tinha mãos? Oh, Deus, e se ele me matar?
- É o que? – perguntei novamente esquivando-me de suas “mãos”.
A sombra riu novamente.
- Está vendo? É por isso que é divertido zoar com você. A bobinha acredita em tudo,Hertz! – berrou a sombra para alguém invisível.
Hertz? Hertz! Onde é que eu havia ouvido esse nome mesmo? Esquece, pensei isolando este nome em algum canto obscuro de minha mente.
Tremi mais uma vez.
- Onde está Norbert? – perguntei.
A sombra bufou.
- Porque não falamos de seu namorado?
- Porque você estava fugindo? – rebati levantando da cama, e alcançando com a mão sem as agulhas, uma calça jeans puída e rasgada nos joelhos e coxas. Coloquei-a com cuidado, e depois peguei a blusa que estava ali.
Do banheiro, ouvi um barulho pequeno e quase imperceptível aos ouvidos humanos.
Vesti a camiseta grande demais em mim, e senti um cheiro masculino penetrar em meu organismo e se alojar em meu nariz. Esse cheiro me era familiar... quase como se fosse algo memorável!
- Quem mais está aqui? – perguntei tirando uma das agulhas de minha mão, e sentindo quase que instantaneamente a aflição de algo perfurando minha pele.
- Hertz? Ah, tudo bem, ele é só mais uma das minhas personalidades.
Ri fraco tirando a outra agulha. Menos duas, porém ainda faltam três.
- Como você, uma sombra idiota, pode ter “personalidades múltiplas”? – perguntei tentando ganhar mais tempo.
- Eu não tenho personalidades, eu tenho servos, se é assim que prefere chamar.
Engoli seco.
- Seu irmão foi um de meus servos, mesmo que por alguns segundos. – disse ele.
Olhei para a cabeceira da cama de hospital, e vi o deslumbre de um copo de vidro. Sem pensar duas vezes, atirei-o em cima da sombra. Ela se esquivou voltando para mim e se arrastando pelo chão, subiu pelo meu calcanhar, e puxou minha perna. Bati a cabeça no chão com o puxão, e senti algo escorrer por minha cabeça. Passei a mão atrás da cabeça, e senti molhado, dolorido também.
- O que...? – sussurrou a sombra, quando eu levantei cambaleando, e recuperei-me mais rápido do que o normal.
- Nunca mais, em toda a sua existência, tente por algum motivo me provocar. – avisei pegando sua “mão” que se encontrava enrolada em minha perna.
Puxei a sombra até que ela se desgrudasse do chão, e a balancei um pouquinho.
- Diga-me: qual é a graça de ser um ser sem olhos, sem mãos, nariz, boca, órgãos?
- A graça é que eu não posso morrer tão fácil.
- Mentira. – sussurrei fechando minha mão em torno de seu “pescoço”.
- Mentira? Bem, eu só morro se meu criador morrer. E se meu criador morrer, eu posso roubar a alma de outra pessoa.
- Ok, e se suas opções estiverem acabadas? – perguntei fechando mais ainda a mão em seu “pescoço”
- Minhas opções só estarão acabadas quando o mundo acabar, e, creio eu, que isso não irá acontecer muito brevemente. – zombou a sombra mais uma vez.
Fiquei cega por alguns segundos, e parecia que outra coisa dominava meu corpo. Antes que pudesse perceber, havia torcido o “pescoço” da sombra, e arrancava sua “cabeça” que virou pó logo após de ser separada do corpo.
Como é a sensação? Perguntou alguém em minha cabeça. Provavelmente minha consciência. Que sensação? Rebati. Ótimo, agora eu falava comigo mesma! A sensação de ter um ser fragilmente ridículo e totalmente indefeso em suas mãos, e em um segundo arrancar a cabeça fora. É boa, não é? Perguntou Consciência novamente. Não, eu me sinto um monstro. Respondi me encolhendo em algum lugar de minha cabeça. E o que você acha que a palavra “mutante” significa, Camila?
Respirei fundo por alguns segundos, e minha visão voltou.
Fui até o banheiro, e não encontrei nada. Agradeci mentalmente por não ter nada ali, e a sombra estar blefando.
Como era uma pessoa organizada, – mentira, só não queria que soubessem que tinha alguém ali – tirei os cacos do chão, arrumei a cama, e depois que terminei de tirar as agulhas de minha mão, joguei-as no lixo.
- Hora de ver meu irmão.
Nunca se perguntou onde está Norbert? Uma voz soou curiosa em minha mente.
Uma batida ecoou na porta, e assustei-me. A pessoa nem pediu licença, e já foi abrindo a porta.
- Senhorita Camila? – perguntou uma voz rouca e bem fraquinha.
- Aqui. – estiquei a mão para fora da porta do banheiro, e saí.
- Ah, olá! Vim ver como você está, mas pelo visto está perfeita.
Quem havia me chamado de “Senhorita Camila”, era um velhinho de cabelos bem brancos e ralos, com a barba por fazer, óculos caindo do nariz pontiagudo e meio torto, e ficando na altura do final de seus olhos cansados e pálidos. Seus olhos eram quase como duas bolinhas de gude maciças e violetas.
- Pai! – alguém berrou.
- 292 – berrou o velhinho respondendo ao chamado do que parecia ter vindo de seu filho.
Quando a pessoa apareceu na porta, meu coração acelerou e minhas mãos suaram. Cara, como ele era gato! Pisquei os olhos como uma retardada, e fiquei pensando: Oh, meu Deus! Será que eu vim para o lugar certo? Será que nessa droga não têm ninguém de beleza média, ou baixa? Espera um pouco, eu sou o único ser inferior aqui?
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continua?