Hidden escrita por jduarte


Capítulo 35
Abismada


Notas iniciais do capítulo

mais um!
Beijoooos,
Ju!



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   Seus olhos eram de um azul escurecido e brilhante, os cabelos eram bem castanhos e lisos, ele nem era tão alto, corpo definido na medida certa, e seus lábios não eram tão finos quanto os de Adam. Ah, e mais um detalhe que não podia faltar: enquanto o nariz de seu pai era parecido com o de uma bruxa malévola, o desse carinha era fino, e parecia ser esculpido em carrara.

- Oi. – disse ele sorrindo de lado para mim, e fazendo com que eu ficasse sem ar.

- Olá! – disse eu animada demais.

   Vi pelo canto dos olhos o velhinho revirar os olhos.

- Eu vi isso. – sussurrei quase imperceptivelmente, e com o sorriso congelado.

- E eu não estou nem ai. – rebateu ele.

   Enquanto o gato olhava minha ficha, o analisei. Ele parece servir para algo. Se ele fosse uma laranja, eu com certeza não jogaria o bagaço no lixo!

- Ah que rude, meu nome é Davil. – disse ele.

- Camila, prazer. – disse acenando com a cabeça.

   Davil suspirou quando olhou para o chão.

- Quem morreu no chão? – perguntou ele.

- Ninguém, eu só bati a cabeça.

   Ele se exaltou.

- Impossível! Com essa quantidade de sangue, era para você estar morta! – exclamou o velho.

   Revirei os olhos e levei as mãos ao lugar que havia batido a cabeça. Ainda estava meio dolorido, mas nada muito absurdo.

- Aonde foi que você bateu a cabeça? – perguntou Davil.

- É... Eu...

   Eles não me deixaram terminar de falar.

- Quero dizer, você não pode simplesmente ter caído no chão e ter batido a cabeça!

   Irritei-me.

- É, mas parece que foi isso que aconteceu. Quer ver o machucado? – perguntei colocando as mãos nos quadris.

- Se não se importa... – disse o médico inoportuno.

- E você é o...?

- Remi.

- Ah, ok. Remi, eu não sou uma psicopata, suicida, demente, problemática e nem drogada, você pode confiar em mim.

   Ele riu esganiçado.

- Eu sei. E o pior disso é que eu sei!

   O que significa: E o pior disso é que eu sei!? Por algum caso sou uma piadista? Comediante, talvez?

- O que você faz Camila? Qual é o seu dom? – perguntou Davil. – Na sua ficha tem alguma coisa falando sobre os mutantes, mas as características físicas e emocionais não combinam com nenhum tipo descrito.

- Primeiro: para mim, o que eu tenho não é um dom, é uma doença incurável; Segundo: minha espécie não está descrita ai, porque eu acho, particularmente, que não existe. – disse eu listando as coisas com os dedos levantados.

   Davil pareceu ficar mais excitado ainda em relação a ver um simples corte na parte de trás de minha cabeça.

- Tudo bem. Então o que você faz?

- Eu tenho uma coisa estranha. – respondi.

   Deixei minhas asas rasgarem o tecido frágil da blusa que eu estava usando, mas elas pareciam estar meio amassadas. As pontas estavam bem lisas, e quase se encostavam a Davil, que se projetou bem para trás com o susto.

   Ele tocou-as, e percebi pela primeira vez que suas mãos eram ásperas.

   Davil engoliu seco.

- Hmm... será que você poderia deixar eu examinar o corte em sua cabeça? – perguntou ele meio gaguejando, e se esquivando de minha asa direita que entrou na sua frente quando ele tentou passar.

   Dei de ombros encolhendo as asas até elas voltarem para dentro de mim. Davil chegou por trás da minha cabeça com seus dedos ágeis, e ficou tateando minha cabeça.

- Algum hematoma? – perguntou Remi.

- Não. Impossível.

   Revirei os olhos e bufei.

- Eu ainda não acredito que você caiu aqui.

   Mais uma revirada nos olhos, e eu falei.

- Remi, tem algum bisturi ai com você? – perguntei torcendo para que a resposta fosse não.

   Ele revirou em uma mini maleta que tinha nos bolsos, e constatou que sim, tinha um bisturi.

   Porque é que essa criatura tem um bisturi no bolso, eu não quero saber, mas pelo menos irá me servir de algo, pensei.

   Peguei o bisturi de sua mão, e fiz um corte no braço. Não foi muito fundo, mas se eu fosse humana, seria o suficiente para ter de levar uns dez pontos. O corte que eu fiz não ardeu, – pelo menos não no começo – mas foi o suficiente para sair uma boa quantidade de sangue. Um sangue que eu não gostaria nem de ver. Senti alguns segundos depois, o machucado ser reconstituído, e a pele se juntar novamente, provocando um arrepio filho da mãe em mim!

- Satisfeitos? – perguntei limpando o sangue do braço com a ponta da camiseta já rasgada pelas asas, e meio puída.

   Ninguém me respondeu.

- Posso ir agora que vocês se convenceram de que não sou um mutante psicótico ou suicida? – perguntei novamente, mais impaciente do que nunca.

- Magnolos. – disse Davil.

- Isso.

- O que? – perguntou Remi que ainda parecia perdido em tudo aquilo.

- Magnolos, pai, aqueles que agente estudou em Michigan.

   Fixei-me mais ainda na conversa.

- Espere um pouco, tem mais de mim? – perguntei.

- É óbvio! Ou você acha que é única?- perguntou Remi.

   Encolhi-me sombriamente para o canto oposto em que eles estavam. Abracei meu próprio corpo, mas não consegui ouvir nada além do bater acelerado de meu coração.

- Isso é impossível! – exclamei baixo.

   Os dois me olharam.

- Sabe Camila, nada é impossível. – disse Davil.

   Balancei a cabeça dizendo que sim, e uma imagem veio em minha cabeça quase que imediatamente.

   Minha mãe estava com sua jardineira suja de tinta e me abraçava do vento frio que fazias as árvores lá fora abalarem. Caminhei até a porta que havia aberto com uma chuva chata e fina que havia acabado de começar, e vislumbrei meu pai conversando com um homem.

- “Isso é inaceitável!” – gritou meu pai.

- “Senhor, creio que terei de interferir. Mas, pelo que lembro, fizemos um acordo de que, meu filho, e sua filha iriam se casar.”

- “Eu não lembro de acordo nenhum desse tipo!” – esbravejou meu pai apontando o martelo na direção do homem.

   De repente, tudo ficou mais silencioso do que de costume, e por isso, desliguei-me um pouco. Algo caiu do céu, e tudo ficou iluminado por alguns segundos.

- “O que ele faz aqui?” – perguntou meu pai.

- “Ele está aqui como prova de que o acordo foi selado.” – exclamou o homem.

- “Silver, Gold e Iron vão saber que você quebrou o contrato!”

- “Olhe para a minha cara e veja se eu estou preocupado com isso.” – disse o homem despreocupado. – “A única coisa que quero é que sua filha se case com meu filho, e mais nada!”

   Meu pai ficou em silêncio enquanto eu escorava-me pelos arbustos, e me aproximava da conversa. Quando cheguei a uma árvore grande o suficiente para esconder meus ombros, atrevi-me e agachei para ouvir melhor.

- Porque quer que eles se casem tão cedo?

   O homem ficou quieto, enquanto o garoto com asas grandiosas e prateadas a luz do Luar virava-se para a árvore que eu estava escondida, e estreitava seus olhos verdes.

   Fiquei assustada, e tropecei em um galho que estava caído ali. Gemi de dor muito baixo para qualquer um ouvir.

   O garoto com asas grandes sobrevoou o lugar que eu estava, levantou-me e parou pegando meu rosto entre suas mãos.

- Você não deveria estar aqui! – ele avisou voltando ao chão e olhando para todos os lados, como se tivesse medo de que alguém nos visse junto.

- Eu não ligo. Sou eu quem deveria saber que vai se casar com um completo estranho. – rebati batendo as mãos no vestido sujo de terra.

- Parece-me que agora não irá se casar com um completo estranho. Prazer, Estranho. – disse o garoto.

   Estreitei os olhos, e apertei sua mão que estava estendida para mim.

- Porque seu pai quer que nos casemos? – perguntei a mesma coisa que meu pai há pouco.

- Ele diz que sou especial, e que você também, e diz que podemos criar uma nova raça, ou algo assim. – respondeu o garoto.

- Quantos anos você tem? – perguntei sem querer.

- Não sei. Nunca parei para contar, mas da última vez que chequei, tinha treze e alguns meses.

- E há quanto tempo foi isso? – perguntei.

- Muito tempo. – respondeu.

- Kingsmore! – berrou um homem.

   O garoto ficou branco.

- Tenho que ir. – avisou.

   Concordei.

   O menino se inclinou gentilmente sobre meus ouvidos, e disse:

- Agente se vê no futuro, Mila.

   E beijou o canto de meus lábios deixando-me curiosamente ruborizada de uma hora para outra.


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Notas finais do capítulo

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