Capítulo 11

Will we burn in heaven like we do down here?

Will the change come while we're waiting?

Everyone is waiting

Witness – Sarah Mclachlan

Rosalie POV

-Não, não, não. – eu repetia inconformada. Alice não podia estar falando sério. Senti meus joelhos fraquejarem e sentei-me na cadeira mais próxima. Jasper, ao meu lado, parecia estar em choque. Ele sabia com o que eu estava lidando.

-Infelizmente, sim. – a voz de Alice estava embargada. – James, o seu cliente pro bono, não é mesmo inocente... Eu posso afirmar isso com toda a certeza. Foi... horrível.

-Alice – eu já estava prestes a chorar também. – No que você se meteu?

Alice deu a volta e se sentou na cadeira de Jasper, levando suas mãos a cabeça. Jasper, por sua vez, ainda encarava o nada, imóvel. Aquela situação toda estava me assustando.

-Eu estava voltando pra casa... Tinha ido ao shopping de Manhattan para jantar e fazer algumas comprinhas. – abri a boca para reclamar da sua maldita mania de compras sozinha à noite, mas ela não me deu brecha para dizer nada. – Não era tão tarde, Rose. Eram umas dez horas. – ela explicou, respondendo minha pergunta inexistente.

-E você estava com alguém por acaso? – era uma pergunta retórica. Ela suspirou e continuou.

-Tudo já estava meio escuro, apesar de ser sexta-feira e a maioria das pessoas supostamente estar fora de casa, mas parece que alguma coisa aconteceu e tudo mundo decidiu não sair de casa ontem à noite.

-Alice, você não sabe como anda a onda de crimes em Manhattan? – Jasper se pronunciou pela primeira vez. Ele soava anormalmente irritado, mas eu podia notar o temor em sua voz e em seu olhar. – Você tinha a obrigação de saber disso. Você sabe tudo o que eu te falo sobre os casos da Rosalie principalmente; todos muito sérios. A coisa está bem feia. Você deveria começar a ler mais os jornais!

Jasper terminou seu argumento com um suspiro profundo. Ele não era daquele jeito. Era sempre ele que transpassava paz e tranqüilidade, que conseguia acalmar a todos – mas parecia que, quando se tratava da segurança de Alice, tudo isso se esvaía.

-Eu não perco o meu tempo com baboseiras sobre corrupção e futebol, Jasper, e basicamente os jornais só falam nisso. – Jasper revirou os olhos e eu não pude deixar de fazer o mesmo. – Vocês podem me deixar continuar?

Ela estava irritada e não era para menos. Os Hale não eram exatamente compreensíveis e era disso que ela mais precisava naquele momento: compreensão. Decidi levantar a bandeira branca e, como uma boa amiga que eu sempre procurei ser, calar a boca e não demonstrar nenhuma reação precipitada. Jasper bufou e sentou-se ao meu lado, fazendo com que Alice ficasse na frente de nós dois, como se nós fôssemos seus clientes.

-Eu estava indo para o meu carro no estacionamento. E, antes que vocês perguntem, sim, era o estacionamento anexo. – ela explicou. E era justamente nesse lugar que vinham acontecendo uma série de crimes noticiados o tempo todo. Alice era uma louca por gostar de parar ali, onde, segundo ela, “era o lugar perfeito por ser mais perto da saída e sempre ter vagas de sobra”.

Minha melhor amiga ajeitou uma mecha de seu cabelo que insistia em cair em seus olhos antes de prosseguir. Jasper e eu ainda a encarávamos, com perplexidade por sua momentânea falta de interesse. Bem, nada que pudesse nos surpreender realmente, afinal era com Alice que estávamos lidando.

-Eu já estava perto do meu carro quando ouvi um grito ensurdecedor. – ela levou as mãos ao rosto, provavelmente tentando se livrar da memória em sua mente. – Era uma mulher... Ela estava com tanto medo, eu precisava saber se podia ajudar... – agora ela só olhava para Jasper, como se aquelas palavras fossem pedidos de desculpas. Meu irmão fechou os olhos, inquieto.

-Você foi até lá. – aquilo não era uma pergunta.

-Sim. – ela respondeu mesmo assim, confirmando. – Eu não podia ficar sem fazer nada, Jasper! E se eu pudesse ajudar? – ela se exaltou.

-Calma, Alice, ninguém está te julgando aqui. – enfatizei, deixando transparecer uma calma que surpreendeu até a mim mesma. Uma calma que era tão característica de Jasper. – Continue.

-A mulher não estava longe. Com alguns passos para a última fila de carros, eu o vi em cima dela.  – algumas lágrimas escaparam de seus olhos. – Foi horrível. Eu não consegui me mexer e, antes que eu percebesse, ele já tinha me visto.

Estremeci e vi quando as mãos de Jasper se fecharam em punhos.

-Ele... Ele fez alguma coisa com você? – notei a fúria faiscar de seus olhos. Nunca o tinha visto tão descontrolado antes. Alice pareceu se assustar um pouco, assim como eu, mas negou com a cabeça, fazendo Jasper relaxar um pouco.

-Foi como se eu tivesse voltado a mim. Eu corri tão rápido que teria ganhado uma maratona. – ela sorriu um pouco, sem nenhum humor. – Acho que foi uma descarga de adrenalina. A última coisa que me lembro foi acelerar o carro e vê-lo pelo retrovisor... Eu já o vi aqui com você, e eu tenho certeza que é ele, Rosalie. James.

-A audiência é em menos de uma semana, Alice... Eu não posso simplesmente abandonar o caso. – foi a minha vez de levar minhas mãos a cabeça, apoiando meus cotovelos na mesa. – Não é ético.

-E ela também não pode te representar. – Jasper se fez ouvir. – Ela não pode representar você e ele ao mesmo tempo quando você está contra ele.

-Você tem que perder, Rose. – Alice disse subitamente. –Se ele não for para a cadeia... Bem, ele sabe quem eu sou. Assim como sabia quem ele era, ele deve saber quem eu sou. Ele vai vir atrás de mim.

-Por isso mesmo que você precisa procurar a polícia, Alice. – Jasper se exaltou um pouco, perdendo a paciência com aquela conversa. –Você não pode ficar sozinha no seu apartamento, muito menos voltar para as compras à noite. Você não pode e nem vai. – ele foi incisivo e ninguém teve nem ao menos coragem para argumentar.

-Alice, Jasper tem razão. Você não pode ficar sozinha. Não é nem um pouco seguro.

Pelo canto do olho, vi meu irmão assentir. Alice bufou baixinho.

-Eu não posso ir para casa? – ela olhou para ele.

-Não sozinha. – ele respondeu, sem lhe dar margem para mais argumentos.

Eu pensei por alguns minutos e então uma idéia floreou minha mente.

-Você vai com a gente na festa da Julie. – sorri. – Que lugar melhor para esquecer os problemas e mais cheio de gente que uma festa?

Alice pareceu-me incrédula, e encarou Jasper com olhos questionadores. Este apenas deu de ombros.

-Ela tem razão.

E então o sorriso tão característico de Alice voltou a brotar em seus lábios. Quem conhecesse uma pessoa que gostava mais de festas do que a minha melhor amiga, deveria ganhar alguma espécie de prêmio. Ela era completamente fissurada por aquele tipo de coisas, além de fazer compras, é claro.

Então estava decidido. Nós iríamos à festa de Julie afinal.