Capítulo 12

We'll walk this road together, through the storm

Whatever weather, cold or warm

Just let you know that you're not alone

Not afraid - Eminem

Eram mais de quatro horas da tarde e eu nem sabia o que iria usar para a tal festa – não que eu estivesse verdadeiramente preocupada com aquilo, de maneira nenhuma. Por mim, eu pegaria qualquer coisa que eu uso normalmente e já estaria pronta, mas Alice me importunou tanto com essa questão que eu sabia que, se não comprasse uma roupa nova, ela compraria uma para mim. Com ela por perto, eu nunca precisaria repetir uma única peça.

-Alice, você devia estar preocupada com coisas mais importantes. – eu a adverti, quando estava trancando a minha sala, encerrando meu expediente. Era incrível como alguém como Alice poderia simplesmente tirar os problemas da cabeça. Ela poderia estar correndo perigo, um perigo inimaginável. Ela não poderia ser tão sangue frio quanto a isso.

-Rose... – ela me encarou e de repente sua expressão já não tinha o mesmo brilho. – Festas são verdadeiras distrações para mim e comprar roupas é como um fetiche que eu tenho. – ela riu, mas o humor não atravessou seus olhos. – Deixe-me fazer isso, tudo bem?

Eu não tinha como negar a aquilo, então apenas assenti. Ela não estava tendo o sangue frio que eu imaginava, apenas deveria estar sofrendo calada. Eu, como a boa amiga que tentava sempre ser, tentaria a todo custo distraí-la da melhor forma que arranjaria.

-Então vamos às compras, Allie. – eu sorri. Jasper, que esteve do nosso lado o tempo todo (ele parecia se recusar a sair de perto da Alice desde que soube das “boas novas”), finalmente se manifestou.

-Compras? – ele soou incrédulo, e não era para menos. Alice só tinha se metido naquela confusão toda por causa de sua mania insaciável de comprar.

-Vamos com a gente, Jazz. – minha amiga sorriu de leve e meu irmão acabou por sorrir de volta. Ele deveria ter gostado de se sentir incluído, e abraçou Alice pelos ombros. Os dois ficaram mantendo contato visual e eu já estava ficando constrangida.

-Falta o beijo. – eu apenas disse, e os dois me encararam com os olhos arregalados, como se dissessem ao mesmo tempo algo como “cale a boca, Rosalie”.– Não querem que eu olhe, não é? Tudo bem, vou dar alguns minutos pra vocês.

Eu dei uma risadinha, e os dois me olharam com expressões assassinas. Dei meia-volta em direção à sala de Jasper, onde sua assistente estava com as crianças.

-Vamos? – perguntei, assim que bati na porta. Heidi estava de joelhos, na altura de Ella, arrumando a tiara cor-de-rosa em seu cabelo; enquanto Travis estava sentado na cadeira de Jasper desenhando alguma coisa em um papel.

-Mamãe – Ella abriu um sorriso quando me viu. Travis, que parecia meio chateado com alguma coisa, apenas largou o lápis que usava em cima da mesa e se dirigiu até mim. Eu peguei os dois pela mão e, para minha surpresa, Trav não protestou nenhuma vez.

Arqueei uma sobrancelha em uma perfeita incredulidade e olhei para Heidi. A assistente de meu irmão apenas me retribuiu o olhar incrédulo e balançou a cabeça, em um claro sinal de que não estava entendendo nada. Ela já tinha visto Travis e sua rebeldia outras vezes, já estava acostumada com protestos e má educação; mas nada comparado ao que estava acontecendo agora.

Suspirei.

-Bem, obrigada, Heidi. Por cuidar deles. – eu dei um singelo sorriso, rapidamente correspondido por ela, e saí com os dois ainda de mãos dadas com eles. – Tudo bem com vocês?

Ella começou a tagarelar sobre como passara a tarde, mas a pessoa que eu queria que falasse não pronunciou nem uma única palavra e continuou a caminhar de cabeça baixa. Eu teria que conversar com Travis depois ou, pelo menos, pedir à Jasper que fizesse isso por mim.

-Vamos? – Alice estava com um sorriso tímido quando a encontrei com Jasper novamente. Talvez estivessem prestes a se acertar, ou sei lá. Eu nunca entendi muito bem o relacionamento dos dois, no fim das contas.

-Ahn... – eu olhei para Alice e Jasper e depois para Travis e Ella, interrogativamente. Não sabia se devia levá-los. Na verdade, queria poupar meu filho desse passeio – já que Ella provavelmente adoraria ir – e aproveitar a ocasião para falar com Jasper sobre Travis.

-Talvez Royce possa tomar conta de seus filhos Rose. Vamos ver. – Jasper se manifestou, entendendo meu dilema silencioso, e fez um carinho na cabeça de Travis.

Você sabe o que aconteceu? Perguntei, sem voz. Meu irmão assentiu e, com um movimento de mãos, deu a entender que conversaríamos depois.

Royce, é claro, não estava disponível; contudo, deixei as crianças na casa de seus pais – boníssimas pessoas, apesar do filho problemático que tinham.

Deixei meu carro na garagem de casa e fomos todos ao shopping no carro de Jasper – já que Alice fora ao escritório de táxi. Propositalmente, me sentei no banco de trás, deixando Alice no banco do carona. As coisas entre os dois estavam realmente melhores, já que no meio do caminho eles se deram as mãos, e eu estava realmente satisfeita por aquilo.

O caminho até o shopping de Manhattan não era longo – na verdade, era o shopping mais próximo de onde eu morava.

Bem, para resumir, o resto da tarde e começo da noite de compras não foram tão ruins, mas mais demorados do que eu gostaria. Em um pequeno intervalo que fizemos para tomar um café, finalmente pude conversar com Jasper a respeito de Travis.

-Eu tive uma conversa séria com ele, Rose. – ele explicou depois de um rápido gole em seu capuccino. – E deixei claro que Royce também teve uma parcela de culpa na separação de vocês. Ele pensa que o pai é um santo, pelo amor de Deus.

Respirei fundo, deixando o ar esvair-se em um suspiro. Era verdade.

-E o que ele disse? – perguntei, por fim, ignorando meu café.

-Ele ficou sentido, sim. – ele deixou claro o que eu já imaginava.– Mas eu não consegui falar muita coisa porque essa baixinha chegou. – ele olhou carinhosamente para Alice, que retribuiu o olhar, embora tivesse estremecido um pouco, provavelmente lembrando-se do que fora fazer no escritório de Jasper quando interrompera tal conversa de tio e sobrinho.

-Acha que pode terminar de falar com ele depois? – pedi. Jasper assentiu e todos nós voltamos a comer pão-de-queijo e tomar nossos respectivos cafés. O silêncio perdurou, mas logo Alice o interrompeu.

-Fico imaginando o que aconteceu com aquela mulher de ontem à noite... A que James atacava. – ela disse, como se pensando em voz alta. – Será que ele... Será que ele a matou?

O olhar de Alice ganhou um ar aterrorizado. Eu estremeci quando ouvi sua suposição, pensando em como eu fora ingênua ao ter acreditado na inocência daquele homem para aceitar o seu caso pro bono. Jasper foi a única pessoa daquela mesa a não ter uma reação amedrontada.

-Não vamos pensar nisso agora. – Jasper fez carinho nos ombros de Alice. – Tudo vai ficar bem.

O que ele queria dizer era, na verdade, que nós não tínhamos como saber o que tinha acontecido. Talvez aquela moça o pior pudesse mesmo ter acontecido, mas o melhor era nós não passarmos por detetives policiais por causa de uma curiosidade insaciável. Não tínhamos nada para fazer para mudar o que acontecera, mas faríamos de tudo para que não acontecesse de novo e, principalmente, manteríamos Alice em completa segurança.

-Tudo vai ficar bem. – eu repeti, tentando soar otimista. – Agora levante esse ânimo. Temos uma festa para ir esta noite... Na verdade – olhei para o meu relógio de pulso – já devemos estar bem atrasados.

Nós três nos levantamos rapidamente, seguindo em direção ao carro. Em poucos minutos, eu já estava em casa, entrando no banho. Alice tinha ficado comigo, e entrou no banheiro no quarto de Ella. Jasper nos buscaria em uma hora.

É claro que eu não precisei de todo esse prazo, já que já estava prontíssima em quarenta minutos usando um vestido de inverno em camurça preto. No tempo livre, convenci os pais de Royce a permitirem o pernoite das crianças por lá, e eles não fizeram nenhuma objeção.

Em alguns minutos, Alice apareceu deslumbrante na sala com uma calça social preta e uma blusa branca com detalhes em cristais. A nossa sorte foi que o inverno havia dado uma pequena trégua.

Ao mesmo tempo em que Alice adentrou o cômodo em que eu me encontrava, Jasper buzinou do lado de fora – o que foi uma estranhíssima coincidência.

Apesar de eu não estar com o menor ânimo para uma festa, entrei no carro de boa vontade, escolhendo as palavras cuidadosamente para parecer que eu estava realmente feliz por estar indo à comemoração de Julie Jenkins. A noite nos esperava, calada e misteriosa. Eu só rezava para que nada de muito estranho acontecesse.