Changing Lifes escrita por Maty


Capítulo 15
Quando tudo é um jogo




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   O álcool que descia pela minha garganta, dose após dose, já não parecia fazer o efeito de antes. Apesar de não ter consciência do que fazia e sentir meu corpo inteiro dormente eu não conseguia parar de pensar na minha filha, não conseguia me livrar da culpa de tê-la largado para beber. Não conseguia deixar de sentir a frustração de hoje á tarde, a sensação de imaginar Beatrice com outra pessoa, o jeito como ela ignorou a mim e a Tessie por Adolph ainda fazia meu sangue ferver. A bebida não me dava a sensação de melhora, só de confusão. Eu simplesmente não sabia o que fazer e muito menos se o que já tinha feito era certo ou errado.

-Querida, cheguei! – gritei ao escancarar a porta do pequeno apartamento. Estreitei os olhos tentando enxergar o relógio do outro lado da sala. – E olha só! São 3 horas da manhã!! – comecei a rir, mesmo sem saber qual era a graça. – Eu ralei meu Cadillac em um dos postes dessa porra de estacionamento minúsculo, me lembre de...

-Tom! Onde está a Teresa!? O que você fez com ela?! – Beatrice gritou aparecendo na sala correndo em minha direção e segurando forte em minha camiseta, mas seus gritos eram abafados pela minha repentina raiva. Ele estava lá. Adolph estava na minha casa ás 3 horas da manhã.

-Seu surfista de merda! – tirei Beatrice do meu caminho e avancei na direção de Adolph acertando um soco em cheio no seu maxilar. – Não quero você aqui!!

-Para com isso! – ela depositou a mão frágil e magra em meu peito – O que você está fazendo? - sua expressão chorosa me manteve estático e apesar dela não estar fazendo nenhuma força eu não fui capaz de me mover um centímetro sequer. – Ele só estava me ajudando... Tem idéia do quanto fiquei preocupada quando cheguei em casa e não encontrei nem você nem a Teresa?! – suas lágrimas finalmente eclodiram. – Eu quero a Teresa de volta! Nunca mais quero minha filha sozinha com você! Como pode fazer isso?

-Ela está no Bill... Eu dei a mamadeira e a deixei dormindo lá. – expliquei, sentindo-me culpado por tê-la deixado tão preocupada. Não era a minha intenção. Apesar de toda aquela culpa, bastou só um pequeno olhar para o rapaz com a mão no rosto, no lugar onde eu havia acertado-o, para toda a raiva voltar. – E quem é você para falar alguma coisa?! Foi você que nos trocou por... Ele.

-Olhe como fala comigo... – Adolph sussurrou entre os dentes – Você é um fracassado! Todo bêbado desse jeito... – riu debochadamente. – Não merece a fama, o dinheiro, a Beatrice ou a sua filha! É somente mais um homem fraco e patético que esqueceu de amadurecer! - gritou avançando em minha direção, o empurrão que me deu fez-me bater contra a parede, que junto com a tontura causada pelo álcool me fizeram desabar no chão completamente desnorteado.

-Chega, Adolph... Vá para casa. – ela pediu. Depositou-lhe um beijo na bochecha e deu-lhe um rápido abraço. – Me desculpe por tudo isso, te ligo outro dia, ok? – tentou sorrir apesar do quão machucada estava.

-Vai ficar mesmo bem? – ele perguntou pegando no pescoço dela, ela assentiu que sim com a cabeça. Adolph pegou a jaqueta e saiu pela porta rapidamente, não sem antes me lançar um último olhar de desprezo. Beatrice trancou a porta atrás dele e apoiou sua testa nela.

     Eu tentei me levantar, mas a vertigem novamente me derrubou no chão. Foi somente com os braços de Beatrice segurando forte em meus ombros que eu consegui me erguer. Ela estava me ajudando e ao mesmo tempo chorando pelo que eu havia feito. Até eu tinha consciência de que estava deplorável, e o modo como Beatrice chorava não me fazia sentir nem um pouco melhor.                                   

-Você está fedendo... Tome um banho e depois nós conversamos. – ela sussurrou me guiando até o banheiro enquanto eu ainda lutava contra os efeitos da bebida.

     A água fria banhando meu corpo e o tempo que ia passando enquanto eu ainda me encontrava embaixo daquele chuveiro foram trazendo minha consciência de volta aos poucos. Sentei-me no fundo da banheira e permaneci lá até que conseguisse organizar meus pensamentos e tivesse certeza que não ia fazer mais nenhuma besteira. Não tenho certeza de quanto tempo se passou, mas quando sai, somente com uma toalha enrolada na cintura e já quase sóbrio, Beatrice se encontrava sentada no final da cama, encostada na cabeceira, abraçada aos seus joelhos. Apesar da expressão perdida e tristonha ela não chorava mais. Permaneci parado ali, procurando qualquer palavra, qualquer sentença que fizesse alguma diferença.

-Onde está a Biene? – perguntei recostando meu corpo sobre o contorno da porta e cruzando os braços.

-Deixei-a na casa da sua mãe... Não agüentava mais ouvir latidos. – ficamos em silêncio, ela ainda se recusava a olhar para mim. - O que você fez, Tom? – perguntou com uma voz tão rouca e machucada que o peso da culpa pareceu duplicar sobre meu peito. – Você estragou tudo o que havíamos conseguido até agora... As coisas estavam boas, sabe? Pela primeira vez em um bom tempo eu não me senti mal por você ser o pai da minha filha. Achei que seu sonho, ou o jeito como passou a cuidar da Tessie significasse alguma coisa. Achei que se importava.

-Eu me importo. Talvez me importe até demais. – me aproximei alguns passos. – Desculpe, eu fiquei puto por você ter me ignorado na presença do Adolph, fiquei puto por ter arruinado todo o dia que havia planejado com você e a Tessie. Eu estou me esforçando, e estou gostando dos resultados de tudo isso, mas... – novamente eu não sabia o que dizer, procurei as palavras por alguns segundos, frustrado por não conseguir pensar em nada soquei a parede. Eu tentava raciocinar qualquer coisa para tornar as coisas melhores, mas não conseguia nem ao menos terminar minhas frases.

-Quantas vezes eu já passei a noite inteira sozinha com a Tessie enquanto você sumia e aparecia só no dia seguinte de tarde cheirando a bebida e perfume feminino barato? Você se acha mesmo no direito de agir dessa maneira por que eu optei por passar a tarde com meu amigo? – estreitou os olhos me acusando. - Eu precisava desse tempo! Eu precisava de um gostinho de como tudo era antes de você aparecer... Precisava me lembrar de quando eu vivia para mim e era feliz assim! Eu sinto falta de como era, Tom... – ela voltou a chorar se ajoelhando na cama como se implorasse para que eu a ouvisse e compreendesse como se sentia. – Minha vida virou um inferno, ter que cuidar de um bebe recém-nascido sozinha, lidar com você, com suas traições, com seu descaso com toda a situação, ter que fazer tudo sozinha sem ninguém que me amparasse.

-Eu estou tentando mudar isso. Agora é diferente, e você sabe disso.

-Mas o agora não apaga o antes. – suspirei, no fundo sabia que ela estava certa. Sabia que eu era o único estragando tudo e fazendo merdas o tempo todo. Senti pena de Beatrice. Parecia tão machucada e perdida que o simples ato de observá-la, ali ajoelhada na cama, me machucava. - Toda essa situação é uma mentira e uma verdade ao mesmo tempo. Estamos mentindo para o mundo, mas não podemos mentir para nós mesmos. A nossa filha não é uma mentira, nós não somos pais de mentira, isso não é uma família de mentira! È uma família desestruturada, mas continua sendo a única coisa que eu tenho agora. E para você é como se estivesse brincando de casinha e pudesse desistir do jogo a qualquer momento!! – gritou aos prantos. As palavras ecoaram pelo apartamento e pareceram me atingir como um enorme tapa na cara. Beatrice se levantou passando direto por mim e correndo em direção á porta.

-Aonde vai? – perguntei, mas ela continuou concentrada em destrancar a porta com suas mãos trêmulas de nervoso. A porta se abriu e ela seguiu correndo pelo corredor, estava prestes a entrar no elevador quando eu segurei seu braço, ignorando completamente o fato de estar somente de toalha.

     Encaramo-nos por um pequeno instante antes de eu a puxar com força para fora da pequena caixa de ferro. Apertei minha mão direita fortemente em torno de sua cintura e a esquerda em sua nuca prensando seu corpo ao meu e aproximando nossos rostos. Beatrice ofegou e seu hálito tocou meu rosto, ela não desviou seus olhos dos meus nem um segundo sequer.

                                       

-O que está fazendo?

-Você diz que sente que para mim é tudo um jogo. Você quer que tudo seja real, então eu vou fazer com que tudo seja de verdade de agora em diante. Teresa é a minha filha e eu vou tratá-la como tal, você e ela são parte da minha família agora e eu vou manter isso sempre em mente de agora em diante.  Você é a minha noiva e é assim que eu vou te tratar. Como minha, e minha... Noiva. – sussurrei no final do meu pequeno discurso.

    Beatrice não proferiu uma palavra sequer. Ela me encarava com uma expressão de completa surpresa, e ao mesmo tempo repleta de emoção. Eu fiquei ali, observando as lágrimas rolarem pelo seu rosto. Acariciei de leve suas bochechas, sentindo meu coração acelerando de uma maneira que há muito tempo não acontecia. Encostei minha testa á dela e esperei alguns segundos antes de encostar nossos lábios de leve. Beatrice fechou os olhos e entrelaçou suas mãos frias e magras em minha nuca, quase como uma permissão. Ofeguei e prensei-a ainda mais forte contra meu corpo beijando-a como há muito tempo não beijava ninguém. Semi nu naquele corredor vazio e escuro eu beijei Beatrice com sentimento, a beijei com urgência, beijei como alguém que se importa e está decidido a mudar as coisas.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:

" Meio que rindo sem graça eu me decidi e dei-lhe um longo selinho que ela retribuiu sorrindo também. "

" -Não, isso significa que nós estamos de volta á mídia! Mesmo que sem querer! – Jost bateu na mesa agora em completo êxtase. – Mostra que nosso guitarrista está recuperado de sua fase escura e que a banda está pronta para voltar á ativa... "