Eu não sei mais o que se passava pela minha cabeça antes. Aliás, isso era de se esperar. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde nós íamos receber uma noticia como essas, ou, de qualquer maneira – por importuno do destino – uma desculpa iria nos arrastar de volta para Nova York. Então não era para nós estarmos tão tristes assim.

Key me disse que a SM Enterteriment queria que eles partissem logo no dia seguinte, mas eles conseguiram adiar o evento para semana que vem. Isto é, eles estavam praticamente traindo suas fãs para ficarem só mais uma semana com a gente, o que, mais uma vez, eu achava injusto e me sentia egoísta por não fazer – e não querer fazer – nada contra isso, que, aos olhos de Ann e Sun, era uma coisa boa tipo “que fofo, eles vão ficar mais uma semana com a gente” enquanto eu pensava “se as fãs deles descobrirem da nossa mera existência, nós teremos uma morte lenta e bem dolorosa”.

Mas preferi não pensar muito nisso, quer dizer, no tipo de morte que nós teríamos.

Queria dizer que nós aproveitamos a única e última semana que nós tínhamos ao extremo, mas acho que já fizemos tudo que era para ser feito no período em que ficamos aqui. Até guerra de tinta nós fizemos! A diferença era que essa semana o tempo estava frio e o sol resolveu tirar férias atrás das nuvens, o que nos deixava poucas opções sobre o que fazer a não ser ficar em casa, enrolados num edredom, assistindo a filmes e comendo pipocas de micro-ondas.

O que mais me deixava impressionada era que a variedades de filmes bons era grande.

– Vamos sair? – Key sussurrou no meu ouvido.

Ele estava sentado no sofá e eu estava aninhada nele porque, mesmo que eu não gritasse vendo filmes de terror, eu precisava abraçar qualquer coisa humana, eu precisava de calor humano. E nós também estávamos dividindo um edredom. Key não olhava muito para o filme, brincar com meu cabelo parecia ser mais interessante para ele, ou então ele não gostava de filmes de terror.

Sunie, por incrível que pareça, não expressava nenhuma emoção assistindo ao filme. Nem o Minho. Anna, a mesma coisa, mas isso já é de se esperar dela. Uma vez ou outra ela abraçava o Taemin como se ele fosse uma criança e dizia que ele não precisava sentir medo, mas ele só dava uns pulinhos e arregalava os olhos. Enquanto ao Jong, eu tinha quase certeza de que ele estava dormindo, e o Onew não parava de se mexer.

Será que o Key sabia que o Onew sentia algo a mais por mim há algumas semanas atrás? Bom, se ele sabia teve o cuidado de não deixar transparecer isso, porque, sinceramente, esse era o tipo de assunto que eu sei que ele enterraria antes de deixar morrer.

– Sair? Mas lá fora tá frio – murmurei me aninhando mais ainda.

Ele riu baixinho, o que fez seu peito vibrar sob o meu.

– Não quero sair para o quintal – Cada palavra que ele pronunciava fazia seu peito vibrar. – Queria sair de verdade.

– Tipo para aonde? – perguntei me virando para olhar seu rosto. E me perguntei quantas vezes eu precisaria fazer isso para me acostumar. Me perguntava em que década eu iria olhar para ele sem que a respiração fosse levada de mim.

– Tipo... – O canto dos seus lábios se esticou num sorriso enquanto ele pensava. – Pra um lugar qualquer.

Eu mordi o lábio inferior e pensei no assunto.

– Só nós dois? – perguntei.

– Ué, se a Sun e Ann quiserem ir também...

– E como fica o Jong e Onew?

Key pressionou os lábios como se realmente tivesse se esquecido deles.

– Tenho certeza de que eles não vão querer ir. Quer dizer, o Jong mal deixou a gente conhecer Kyung direito, e tenho certeza de que você não conhece muito a Yuna. E se eles levarem elas, elas vão se sentir deslocadas.

Ergui as sobrancelhas e assenti. Eu também me sentiria completamente deslocada se tivesse que sair com amigos do meu namorado, e o fato desses amigos terem namoradas não facilitava muito. Não que eu fosse uma antissocial, ou um bichinho do mato. Adorava conhecer pessoas novas, mas situações como estas eram simplesmente desconfortáveis para conhecer pessoas novas.

– Para onde exatamente o Key pretende nos levar? – perguntou Anna pretendendo suas madeixas negras com mexas azuis num rabo-de-cavalo.

– Não faço a mínima ideia – respondi abotoando meus shorts jeans.

Nós nos entreolhamos.

Nós três estávamos vestindo roupas simples e neutras (isto é, não importa para onde eles nos levássemos, nós estaríamos bem), mas ainda assim descoladas. Anna estava com uma camisa baby-look branca com alguns detalhes em azul que lembrava o corpo do R2D2 e um short de jeans escuro. Sunie estava com uma blusa preta da Colcci e um short jeans claro. E eu estava com minha camisa xadrez de flanela e um short jeans azul. E para os pés, obviamente, um par de all star bem confortável.

Quando abri a porta do quarto dei de cara com um Taemin de olhos arregalados e a boca meio aberta, mas depois de alguns segundos ele sorriu pra mim. E eu fiquei aliviada ao ver que ele não vestia nada demais além de camisa e uma bermuda.

Eu passei por Taemin, deixando ele entrar no quarto e vi que Key estava parado no corredor, em frente ao espelho que havia ali, ajeitando e re-ajeitando aquele cabelo que, não importa para que lado ele jogasse, ficaria lindo do mesmo jeito. E Minho deveria estar na sala porque eu vi Sunie correr para lá.

Eu me aproximei do Key devagar. Ele mal notou minha presença ali porque estava irritado demais com o seu cabelo – vestia uma calça capri preta, uma camisa azul e um par de Vans Slip On branco. O afastei o suficiente para que eu pudesse me enfiar entre ele e a cômoda onde que quase aconteceu o nosso primeiro beijo, mas foi pior, foi a nossa primeira provocação...

... eu ia sentir saudades daquela cômoda.

Key sorriu e apoiou as mãos na cômoda atrás de mim, com seus braços na minha cintura.

– Você tá bonita – sussurrou ele.

Ergui uma sobrancelha.

– Eu sei – disse reprimindo um sorriso e erguendo as mãos para começar a ajeitar seu cabelo, para deixá-lo, no mínimo, descente.

– Você não pode deixar de ser convencida por dois segundos e agradecer pelo elogio? – perguntou ele sorrindo.

– Não agradecemos por fatos. Eles existem e ponto final – Sorri com o canto dos lábios. – Você não me agradece quando digo que te amo. O que é basicamente um fato. Então por que agradeceria por você me chamar de bonita?

Ele riu abaixando a cabeça. Eu passei a mão na parte de trás da sua cabeça para abaixar alguns fios que teimava em ficar arrepiados e só depois eu me toquei que o Key estava concentrado demais olhando para o meu decote.

– A vista daí de cima é agradável? – perguntei. Minha camisa xadrez estava com os três primeiros botões desabotoados e a blusa que eu usava por de baixo era branca com o decote quadrado que ainda deixava transparecer a fenda entre meus seios.

Key olhou nos meus olhos e sorriu maliciosamente antes de pegar a minha mão e sair me arrastando.