Desta vez nós estávamos assistindo um filme de comédia – toda noite nós assistíamos a um filme diferente, era o Jong que alugava. Já disse que não gosto muito de filme de terror? Tudo bem que eu assistia ao filme até o final, mas, pensa bem, é uma ótima desculpa para agarrar o braço do Minho toda vez que eu me assustava. Só que agora era uma comédia romântica, Vestida Para Casar, não tinha como eu agarrar o braço do Minho. Para falar a verdade, eu estava sentada no sofá com as pernas dobradas em borboleta, Minho estava sentado no chão, na minha frente, com a cabeça no meu colo enquanto eu acariciava seus cabelos macios e grossos.

Anna também estava agarradinha com o Taemin, e Maggy estava dormindo no ombro do Key – ainda bem que ela não baba enquanto dorme – pela terceira noite consecutiva. Ela disse que o Key tem mãos de Morfeu, cinco minutos de cafuné e ela já está em sono profundo (ah, e também pode se usar a desculpa de que ela estava cansada de toda aquela brincadeira lá fora hoje à tarde). E a Roo estava dormindo no colo do Jong.

Já disse o quanto eu amo cachorros e que a Roo tem orelhas enormes?

Oh, e a Anna vai sair com o Taemin amanhã. Sim, par mais um encontro no parque. Ela nos contou enquanto estávamos no quarto trocando de roupa após sair do banho. Bom, na verdade eu estava trocando de roupa, Maggy penteando o cabelo e Anna nos contando isso.

– Tae me chamou para sair – anunciara Anna dando pulinhos. Dando pulinhos. – De novo.

– Sorte sua – falou Maggy sem tirar as mãos do cabelo. Pentear o cabelo era um ato sagrado para ela.

– Ah, Mag, do que você ta falando? – me exaltei – Pelo menos o Key já te levou no tal do Kekus & Caffe.

– Keikeus – corrigiu Maggy.

– Tanto faz! O Minho nunca saiu comigo.

– E você está insatisfeita? – perguntou Anna.

Maggy olhou para mim com aquele sorrisinho esperando minha resposta.

– Não. – Eu ri de nervosa – Eu to satisfeita até de mais. Mais do que deveria, sabe, ele...

– Nós entendemos – interveio Maggy.

– Mas vocês precisam se por no meu lugar – suspirei – Eu nunca tive um encontro.

– Nunca? – Anna se surpreendeu.

– Você quer dizer... nunca? – enfatizou Maggy.

– Vocês entenderam – murmurei – Vocês sabem que o único garoto que me chamou para sair foi o nerd do Peter. E mesmo assim eu não considero aquilo um “encontro” – fiz aspas no ar.

– Definitivamente ir à cantina da escola não é um encontro – concordou Maggy – Você poderia chamar o Minho para sair.

– O quê? – Minha voz saiu mais aguda do que costuma ser. – Como assim? Eu vou ter que pedir ele em casamento também?

Anna e Maggy riram. Eu não via graça em nada, isso era sério.

– Provavelmnete sim, se você quiser se casar com ele... – Anna deu de ombros.

– Você precisa ser mais paciente – disse Mag ainda rindo – Você precisa ter... jogo de cintura – Maggy pronunciou as últimas palavras estalando os dedos como se fosse um “eureca”.

– Lá vem ela – murmurou Anna.

Eu cruzei os braços para ouvir o que ela tinha a falar. Ao todo, as dicas da Maggy não são ruins. Ok, são ótimas! Lembrando que se não fosse por aquelas travesseiradas dela eu nunca teria tomado coragem para beijar o Minho.

– Você precisa atrair a presa sem atacá-la – dizia Maggy – Isso é um dom que só nós, mulheres, temos.

– Legal. E como eu faço isso?

– Seja atraente – disse Anna – Dãããã!

– Dããã – fez Maggy.

– Dãããã – debochei.

E cruzei os braços, indignada. Como eu faria a próxima pergunta sem que elas me achassem idiota, incompetente e infantil?

– Você não sabe como ser atraente – falou Anna como se estivesse lendo meus pensamentos, resultado de uma amizade de seis anos!

– Não – murmurei concordando.

– Vista um espartilho vermelho e uma lingerie francesa – sugeriu Maggy sendo irônica. – Fala sério, Sunie! Uma fragrância, um gesto, uma palavra... isso tudo é sinônimo de ser atraente. É só você saber usar esses fatores a seu favor.

– Ela não sabe usá-los – Mais uma vez Anna lendo meus pensamentos.

– Então aja naturalmente! Você é uma menina fofa, engraçada, divertida e... eu sei que você tem o seu lado sensual. Mais cedo ou mais tarde...

– Deus queira que seja mais cedo – murmurei.

–... o Minho vai te chamar para sair! – E foi assim que Maggy concluiu nossa conversa.

E essa última frase ainda não saiu da minha cabeça. Era quase perturbador.

Agora estamos mais ou menos na metade do filme, Onew já havia ido dormir e Anna não parava de bocejar.

– Quer ir pro quarto, noona? – sussurrou Taemin perto da orelha de Anna.

– Éaaah – disse Anna bocejando.

Taemin se levantou ajudando Anna a se levantar também, e a levou para o quarto.

Depois de uns dez minutos ele voltou. Tipo, nossa! Ele demorou dez minutos para levar a Anna pro quarto? Sei, aconteceu muita coisa no caminho. Sinceramente, Anna e Taemin é o casal mais harmonioso dessa casa. Eles são completamente fofos juntos.

Quer dizer, já a Maggy e o Key... num tem aquele lance do imã? Pólo norte e pólo sul? Digamos que ambos são pólo norte, eles têm exatamente tudo em comum – tirando a parte física e genital –, mas vivem se repelindo apesar de que um não resiste ao outro. Mas quando eles resolvem se juntar e serem felizes... Eu estou falando de Maggy e Key. Cometas caindo do céu perdem para eles.

E eu e o Minho... bom, tem a teoria da engrenagem, eu já tomei a iniciativa, custa ele agir de vez em quando? Eu não vou chamá-lo para sair. Não mesmo. de jeito nenhum. Isso é coisa que os meninos têm que fazer! Enquanto ao beijo, eu confesso que agi por total impulso porque se eu tivesse parado para pensar durante dois segundos eu não teria beijado.

Agora o Jong foi dormir... Eu acho. Ele dorme com os olhos meio abertos o que eu acho meio bizarro porque não dá para saber se ele está realmente dormindo ou prestando atenção com vigor no filme.

– Jong – sussurrei – Jooong! – chamei baixinho.

– Ele está dormindo – sussurrou Minho rindo.

Sua voz resvalou como veludo nos meus tímpanos. Ele passou o filme todo em silêncio.

– Acho que eu vou dormir também – disse Key bocejando. Outro que estava quieto demais durante o filme. Isso porque Maggy estava dormindo, porque se ela estivesse acordada eles estariam tagarelando insensatamente. 

– Leva a Mag pro quarto, se ela dormir aqui ela vai acordar com uma baita dor na coluna – disse para o Key que estava se levantando.

Ele ajeitou seu braço esquerdo nas costas da Mag e enfiou seu braço direito debaixo das pernas dela erguendo-a com facilidade. Sério, sem respirar fundo ou soltar aquele gemido habitual toda vez que nós pegamos um peso. Não que a Maggy seja pesada. Também nunca tive a oportunidade de pegá-la no colo então...

– Ela é mais leve que o Tae – disse Key antes de ir andando para o quarto.

Certo, agora era só eu e o Minho, e três garotos – Onew, Jong e Taemin – dormindo em colchonetes no chão. Mas ainda assim era só eu e Minho. Agora o Key que já havia voltado e já estava se ajeitando para dormir também.

O Minho ainda estava concentrado no filme, e eu, juro, que também estava tentando me concentrar, mas tendo a visão do seu rosto de perfil, cada traço desenhado tão perfeitamente e... aqueles lábios... quem quer saber de ver filme?

Lembre-se, você é a engrenagem mestre – pensei – então faça o que a Mag lhe diria para fazer. Seja sensual, seja você mesma, seja atraente.

Eu bocejei.

– Eu vou dormir – murmurei com a voz manhosa já me levantando – Boa noite.

Caramba, será que eu fui rápida demais?

– Ok. Boa noite – disse Minho.

Como assim “ok, boa noite”? Eu usei minha voz manhosa e ela não falha com ninguém, não que eu já tenha usado ela com muitos garotos. Quer dizer, eu uso esse tom de voz para pedir coisas que eu sei que a Anna não vai deixar e ele nunca falha. Será que ela precisava soar mais sensual? Do que eu to falando? Urgh! Maggy!

Eu fui direto para o banheiro lavar o rosto e respirar bem fundo antes de dormir com mais esse trauma.

Fala sério! Acho que nunca passei por uma coisa tão frustrante em toda a minha vida! Eu definitivamente deveria parar de ouvir as coisas que a Maggy fala. Não que o que ela diga seja errado, mas porque eu realmente não levo jeito para isso como a própria Magggy ou a Anna (ah, a Ann com certeza tem jeito para fazer isso, só que ela não faz com freqüência, ou quase nunca).

Eu estava com um bolo enorme de nós na garganta quando saí do banheiro. E antes de ir para o quarto eu parei mais uma vez em frente ao espelho do corredor, só para verificar que não havia nenhum vestígio de frustração no meu rosto.

Porém, quando eu ergui o rosto para treinar um sorriso (caso as meninas ainda estivessem acordadas e me viessem com perguntas do tipo “o que houve?” e eu conseguisse ser cínica o suficiente – ou por apenas alguns minutos – para responder que estava tudo bem­) eu perdi a cor e meu coração deu um salto – não um pulinho, um salto mesmo, de quicar.

– Minho – ofeguei me virando

Ele sorriu e abaixou a cabeça.

– Estou sem sono – sussurrou ele se aproximando de mim.

– Hmmm – fiz com os lábios em uma linha reta me encostando a bancada, os nós ainda estavam na minha garganta. Se eu pronunciasse uma palavra ela sairia rouca, e fina e estranha.

– Por causa de você.

Eu senti meu coração vibrar. E podia sentir também minhas bochechas começarem a ficar vermelhas.

Eu passei minha língua entre meus lábios e engoli em seco. Tudo isso enquanto o Minho ainda se aproximava de mim e eu expremia minha bunda da bancada e fitava meus pés... Bom, num é isso que eu quero?

Eu ergui os olhos engolindo em seco mais uma vez – os nós se dissolveram e agora minha garganta estava estranhamente seca – porque meus olhos ficavam na altura dos lábios dele, que estavam entreabertos. Ele se inclinou na minha direção e minhas mãos instintivamente foram para o seu peito enquanto as mãos dele deslizavam para a base das minhas costas.  

Não foi como o primeiro beijo. Não mesmo. Seus lábios estavam mais doces que antes, mais macios que antes, mais deliciosos que antes.

Ele me abraçou, apertando meu corpo contra o seu fazendo com que eu perdesse meu chão – literalmente falando, já que para isso ele teve que me levantar um pouco. Um de seus braços deixou meu corpo enquanto o outro me apertava firmemente. Senti os dedos de sua mão livre deslizar de minha cintura até a minha coxa, o seu toque deixava rastros de fogo na minha pele. Ele pegou minha coxa por baixo e a levantou fazendo com que minhas pernas abraçassem sua cintura.

Seus lábios não desgrudavam dos meus por nada. E eles se moviam maravilhosamente.

Ele me sentou na beirada da bancada, só então seus lábios e seus braços me deixaram – minha pele queimava aonde seus braços me apertaram. Suas mãos ainda estavam na minha cintura, sua testa estava colada na minha e ele estava ofegando... e eu também, só que com o coração descomunalmente acelerado, as pernas trêmulas e mãos suando frio.

– Saranghae – sussurrei sem pensar. O Onew nos ensinou muita coisa, inclusive a falar “eu te amo” em coreano.

Os olhos do Minho encontraram os meus, eles estavam arregalados, surpresos e assustados e um sorriso bobo surgia em seu rosto.

Ele voltou a me beijar profundamente.