– Fase três– repetiu Onew. – Pole dance? – Ele olhou para mim. – Como assim? O que significa isso?

– É para descontrair – falei baixo.

– Ela tem fé nisso – murmurou Key. Ele ainda estava sentado naquela cadeira bebericando uma garrafa d’água.

Ah, dessa vez todos estavam de banhos tomados. Na verdade, os meninos ligaram a mangueira e deram um banho de jato – foi bem divertido. Mas apesar de ter nos livrado da tinta grudenta, agora estávamos com roupas ensopadas. E lá vai mais uma dica: nunca use um sutiã vermelho de rendinha sob uma regata branca – sim, essa sou eu. 

– Você acha que um de nós vai se descontrair com pole dance? – O tom que o Jong usou me lembrava a voz do meu pai que raramente usa um tom gentil.

– O que está acontecendo com você? – falou Minho.

Eu me escondi atrás do ombro do Taemin – porque ele era o mais alto do nosso time –, ele foi o único que não me acusou, ele apenas ria.

– Ah, qual é – resmunguei.

– Por isso que eu não gosto de brincar com ela – ouvi Key dizer.

– Vocês sabem dançar, sabem dançar até demais, então não precisa ser exatamente pole dance... Pode ser tipo uma competição. E vocês podem aproveitar para nos ensinar a dançar.

Os meninos se entreolharam e Taemin falou alguma coisa em coreano que fez todos eles rirem.

– Inesquecível – falou Key fechando a garrafa d’água.

– O que é inesquecível? – quis saber, aposto que Sunie e Anna também, dava para perceber só pela cara que elas fizeram. Detesto quando eles falam em coreano. Não porque é uma língua difícil, mas porque é uma língua que eu não entendo, e eles ainda ficam rindo sem eu saber o porquê, e isso me irrita.

Key olhou para mim rindo e colocou a garrafa d’água em cima da cadeira.

– Depois eu te mostro. Ainda temos o poste?

– Então vocês vão dançar? – Meus olhos deviam estar brilhando.

– Não acostuma – falou Jong.

Eu sorri e dei um soco de leve no seu ombro.

Em menos de um minuto Taemin voltou com um daqueles postes de pole dance.

– Vocês têm um poste de pole dance em casa? – Anna franziu o cenho.

– Na verdade, nós ganhamos – disse Taemin rindo.

– Ganharem de quem? – O cenho da Sunie também estava franzido.

– E por quê? – perguntei.

– Por que você está sempre com as piores perguntas? – perguntou Jong. E eu senti que a pergunta foi para mim.

Se você olhar por um lado pode dizer que o Jong simplesmente não vai com a minha cara. Mas não, muito pelo contrário. Esses dias ele me abraçou com um braço e me chamou de maninha. Tipo, maninha. Daí eu fiz um biquinho dizendo que irmãos mais velhos são sempre chatos. Ele riu na hora, mas acho que ele está começando a levar isso a sério.

Eu sorri.

– Foi por isso que eu ganhei a vaga na Seventeen – falei – Estou sempre com as perguntas mais... profundas. Sabe, a qual vocês não responderam ainda.

Eles suspiram.

– Não quero ser entrevistado por ela – murmurou Taemin abraçando a Anna.

Eu ri de novo.

– Nós ganhamos num programa – disse Key ao meu lado. Eu não vi ele se aproximar, por isso quase dei um pulo.

– Eu esqueci o nome daquele gordinho... – suspirou Jong – Key, vai lá ligar o som!

– Vocês vão colocar na rádio? – Sunie estava sentada na grama com as pernas cruzadas em borboleta. Sinceramente, na maioria das vezes que eu olho para ela eu vejo uma criança e não uma... pré-mulher, quer dizer, ela já tem dezoito.

– Eu já... tentei ouvir a rádio coreana – falei me sentando ao lado da Sunie – Sabe, não é uma rádio legal.

Anna estava em algum lugar do quintal com o Taemin, eu tentava não olhar muito pra eles, é meio constrangedor.

– Leva seu iPod para ele, Maggy – disse Sunie – Você está com o cabo USB aí, né?

– Eu não viajo sem o cabo. Eu nem vou à padaria sem o cabo USB – falei me levantando. Ah, claro que exagerei no lance da padaria. Você me conhece.

Key estava na sala, agachado mexendo no mega system procurando uma rádio que prestasse. Ele não me viu entrar, ele estava ocupado fazendo carinho na Roo. Ah, a Roo é um dengo. Ela não perde a oportunidade de pular no colo de alguém, porque ela sabe que ela é irresistível e que nós vamos fazer carinho nela até ela dormir.

– Vai demoraaar – cantarolei.

Ele olhou para mim e sorriu.

– Eu não to conseguindo achar nenhuma música boa.

– E nem vai, me desculpe acabar com as suas esperanças – disse com uma voz quase comovente.

Eu já estava virando o corredor quando o Key me chamou:

– Mag!

– Sim?

Ele ficou olhando para mim de cima a baixo com a boca meio aberta.

– Já disse que você fica linda com esse short?

– Não – Minha expressão poderia estar séria e controlada, mas por dentro meu coração estava acelerando e meu sangue estava quente sob minhas veias. – Mas sei que você está pensando nisso desde a primeira vez que me viu com ele.

Ele riu.

– Convencida – cantarolou ele.

– Aprendi com o mestre – falei dando uma piscadinha para ele.

Corri para o quarto e comecei a revirar minha mala procurando o cabo. Fala sério, eu sempre carrego esse cabo! Ele tem que estar aqui. A não ser que algumas das minhas blusas da D&G tenham engolido-o o que é bem provável.

Quase dei pulinhos quando achei.

Peguei meu iPod em cima da estantezinha e voltei para sala.

– Aqui – Entreguei meu iPod já com o cabo plugado ao Key e me ajoelhei ao lado dele.

No meu iPod tinha mais de quinhentas músicas variando entre pop, rock, eletrônica, R&B, músicas de temas de filmes, músicas de musicais e raramente – muito raramente – aparecia um hip hop. Sou uma das pouquíssimas negras de Nova York que não escuta hip hop. Bom, também sou uma das pouquíssimas negras de Nova York que já foi líder de torcida. Sabe, parece que eles selecionam sempre as loiras ou as morenas de bronzeado perfeito.

Enfim. O Key esperava pacientemente enquanto eu procurava uma música sensual o suficiente para o pole dance. É claro que precisava ter alguma da Britney Spears. Eu selecionei umas vinte e duas músicas para dar a chance de deixar cada um escolher a que queria.  E dentro dessas vinte e duas músicas, além da Britney, havia Beyonce, Katy Perry, Shakira, Christina Aguilera, Avril Lavigne, Emily Osment, Miley Cyrus, Rihanna, Pink, Selena Gomez, Lady Gaga, Fergie e Ciara. Acho que só essas. Na verdade, eu escolhi mais pela música do pela cantora.

Eu estava cantando Baby One More Time da Britney enquanto o Key fazia o iPod pegar no mega system.

– Sua voz não é feia – falou Key.

Eu parei de cantar.

– E você pensou que fosse?

Ele deu de ombros fazendo beicinho.

– Simplesmente não tinha o que pensar. Nunca ouvi você cantando – Ele olhou nos meus olhos. – Só ouvi uma vez você berrando Wake Me Up When September Ends para o chuveiro.

Eu ri escondendo meu rosto na minha mão.

– Qual a sua banda preferia? – perguntou ele, agora um pouco menos irônico.

Eu mordi o lábio inferior.

– Há uma duvida cruel entre Marron 5 e Muse. Mas acho que fico com Muse. E a sua?

– Na verdade, eu estou sempre mudando. Por exemplo, a música que estreou mês passado já é velha para mim – Não pude deixar de rir. – Mas ultimamente eu tenho escutado Justin Bieber.

– Hmmm – fiz com os lábios em uma linha reta e cautelosa.

O Key ainda olhava para mim esperando que eu dissesse alguma coisa.

– O que foi? – perguntei.

– Você não deveria... sei lá, dizer algo do tipo “aaah, Justin Bieber, ele é isso aquilo e blábláblá”?

– Deveria? Quer dizer, eu não escuto Justin Bieber.

– Não conseguiram a entrevista com ele? – disse Key estreitando os olhos como se quisesse ler minha mente.

– Na verdade, conseguimos sim, mas ele foi meio que... err... diferente do que eu achava que ele deveria ser. Ele não tem muito carisma, se é que me entende.

Key fez um biquinho meio desapontado.

Eu sorri apertando suas bochechas e roubando um selinho.

– Vamos lá para fora – falei já me levantando.

Key colocou a Roo no chão e me seguiu.

Quando chegamos lá fora todos já estavam balançando ao som da primeira música. Hot da Avril Lavigne. E Anna era a que estava segurando o poste do pole dance. Ah, claro, ela é louca pela Avril, por isso eu tenho certeza que ela discutiu com a Sunie que era ela quem ia dançar Hot. E essa era uma coisa que eu precisava ver.

Quer dizer, a única coisa que vi a Anna dançando (e isso eu quero dizer em todos os seis anos que a conheço) foi caramelldansen. E mesmo assim ela mudou a coreografia o que resultou em 80% da música apenas com mãozinhas dançantes e quadris de um lado para outro. Então vê-la dançando seria tão legal e tão raro quanto achar uma nota de cem dólares na calçada.

– Pode começar quando quiser – gritei para Anna.

Anna sorriu para mim sem olhar muito para os lados. Ela costuma ser tímida.

Ou costumava.

Ela ergueu uma perna e jogou a cabeça para traz quando a Avril começou o refrão. E eu não fui a única a ficar de boquiaberta.

Ela cantava junto e balançava os cabelos.

Eu me esgueirei até Taemin que não desgrudava os olhos de Anna.

– O que você fez com ela? – sussurrei – Eu sei que você está metido nisso.

Taemin riu daquele mesmo jeito que ele sempre rir quando está meio acanhado, sabe, encolhendo os ombros e abaixando a cabeça. Mas mesmo assim ele não desgrudou os olhos de Anna. Ela estava imitando os passos da Avril agora, naquela parte em que ela aparece de espartilho.

– O que eu fiz foi um trabalho de muito esforço – falou Taemin ainda rindo.

Eu cruzei os braços.

– Que não é isso que você está pensando – Taemin levou a mão à boca e sua risada ficou mais tensa.

Eu ri um pouco e voltei a olhar Anna. Definitivamente ela não é a mesma garota de um mês atrás.

Agora só faltava mais um refrão para a música acabar. E Taemin aproveitou bem esses últimos segundos. Ela finalizou se mexendo suavemente e recebeu aplausos. Eu tive que aplaudir. Em comparação a caramelldansen aquilo era... sei lá, Moulin Rouge!

A música seguinte era Single Ladies. E Key foi o primeiro a começar a bater palmas. Eu não acredito que vou ver isso. Mas acho que é melhor eu começar a me preparar. Já que ninguém se apresentou para ir até o poste, Key começou com os primeiros passos da música. Quer dizer, ele sabia os passos, não era só embromação.

Sabe o que é ter um namorado que dança Single Ladies? Eu não conseguia parar de rir e minhas bochechas estavam doendo.

Peraí! Eu disse namorado na frase acima?

Que seja. Isso não vai se repetir. Levando em consideração que um dia eu meio que terei que partir... Eu o amo e tal, mas não quero embarcar num relacionamento sério. Isto é, não quero mais motivos para me prender a Coréia. E além do mais, ele não me pediu em namoro.

Eu me juntei ao Key no terceiro refrão, na parte em que a Beyonce faz aquele coisinha com a mão. E só parei de dançar no final da música.

Key riu me abraçando e todos aplaudiram mais fervorosamente entre gargalhadas incontroláveis.

Foi quando Britney começou com Break The Ice.

Eu fiz uma coisa aqui e ali, nada demais sabe. Fiz apenas o que uma garota faria se tivesse um poste de pole dance nas mãos. Pendurei-me nele e girei.

– Hein, você tem OMG de Usher? – perguntou Minho.

E eu parei de girar.

– Tenho sim. Você quer?

Minho olhou para Sunie mordendo o lábio inferior e depois olhou para mim assentindo.

– O que está acontecendo com as pessoas tímidas dessa casa? – perguntei jogando os braços para o ar e indo correndo até a sala procurar a música que Minho tinha pedido.

Ela devia estar perdida, mas ainda estava no cartão de memória daquele iPod. Eu achei, apertei o play e saí correndo de volta para o quintal dos fundos porque ver o Minho dançando fora de um palco, ou fora de algum vídeo do YouTube seria totalmente inédito.

E parecia que ele já havia ensaiado toda a coreografia.

Sunie assistia com vigor. Aliás, já é difícil ela desgrudar os olhos do Minho. E agora então... Ela fazia caras e bocas, biquinhos e gemia baixinho “oh my Gosh”, não por causa da música, mas porque ela estava realizando parte de seu sonhos recente. Dá para adivinhar o que é?

Sunie se levantou correndo gritando “oh my Gosh” junto com o término da música e abraçou o Minho que estava quase vermelho – não sei se era porque agora ele ria ou se era porque ele estava cansado ou se é porque o que ele fez não é próprio da sua personalidade recatada. Eu voto na terceira opção.

Enquanto nós aplaudíamos e ríamos começou a tocar California Gurls de Katy Perry.

Digamos que Sunie é californiana e ela se gaba desde que a Katy lançou essa música. No começo ela ficava enchendo o meu saco e da Anna com o refrão: California gurls are unforgettabl [...] California gurls are undeniable­. Sem contar que o clipe tem tudo a ver com ela, sabe, muitos doces, e ela ama doce. E é por isso que agora ela estava pendurada naquele poste.

Quem diria que essa idéia daria certo. Até Jong que protestou no começo parecia estar adorando. E eu também nunca vi o Onew tão animadinho.

Depois nós cantamos Can’t Be Tamed (do mesmo jeito que Sunie enchia o nosso saco com California Gurls, eu enchia o saco delas com Can’t Be Tamed – a Anna deveria receber pelo menos um salário por “cuidar” da gente, porque deve dar trabalho), eu tentei fazer alguma coreografia. Tentei. Todo mundo sabe que coisas improvisadas nunca saem perfeitas.

Pelo menos eles aplaudiram e assobiaram.

Logo veio Shakira com Loca. Anna e Sunie começaram a rir e eu também afundei em gargalhadas – piadas internas.

– Do que vocês estão rindo? – perguntou Key.

– Depois eu te mostro – respondi me sentindo levemente realizada.