Coração Satélite escrita por Ayelee


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, tudo bem? Este capítulo está bem divertido. Espero que gostem!Acho que já estão familiarizados com o vocabulários ris da Anita, mas de qualquer maneira, aqui estão as palavrinhas estranhas que nossa amigaris usa ao longo da história.Boa leitura!Vocabulário da Anita:socialris - socialgeloris - gelocomigoris- comigoamiguinharis - amiguinhagatinhoris - gatinhointeressanteris- interessanteaquiris - aquimesmoris - mesmoligouris- ligouprovaris - provaliberadoris - liberadoentãoris - entãoladoris - ladoamigaris - amigaconteiris- conteisaicow - louco/louca



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Ally PDV

Fortaleza – Brasil

O convite de Anita despertou em mim uma vontade enorme de curtir, conversar bobagens e tomar uns drinks. Há muito tempo não fazia isso, então preparei o melhor visual do meu acervo de roupas ‘de balada’: um sapato plataforma peep toe na cor da pele, com a sola vermelha – meu favorito – saia de cintura alta pretinha e justa, na altura do meio da coxa, e uma camiseta rosa-seco, de alcinhas com uma renda linda contornando o decote. Prendi o cabelo em um rabo-de-cavalo no alto da cabeça, formando um pequeno topete na frente. Fiz uma maquiagem levinha, com sombra e batom claros e mandei ver no rímel, meu item favorito de maquiagem, que destacava ainda mais meus cílios que já eram enormes.

Tinha ligado para a Daisy pedindo uma carona, pois todos de casa saíram e me deixaram a pé, e ela como sempre chegou super – pontual. No carro, procurei falar dos assuntos mais variados para que ela não tocasse ‘naquele’ assunto que eu não queria falar. Ela pareceu perceber isso, e respeitou minha vontade, o que me deixou aliviada. O único comentário foi “Posso saber para quem é essa produção toda?”, ao qual respondi confiante “Para me sentir bem!” e ela concordou assentindo com a cabeça e sorrindo enquanto dirigia.

Quando chegamos ao M Bar, o local estava lotado e Helena e Anita já haviam chegado e escolhido uma mesa estrategicamente localizada no lugar mais visível, perto do palco, e por isso o mais disputado também. De lá, era possível ver e ser vista, portanto se adequava perfeitamente às minhas intenções para aquela noite.

Cumprimentei alegremente minhas companheiras de Euro Trio Feliz abraçando-as e fui recebida com uma piadinha clássica de Anita:

- Mas o que a ausência de vida socialris não faz, hein? – Comentou aprovando meu visual.

- Ah minha filha, hoje eu vim com sede de diversão. Já pediram alguma bebida? Cadê o garçom? – Respondi já olhando ao redor de nossa mesa para chegar se tinha algum gatinho por perto.

- Alix, você está linda, amiga! Que bom ver você assim animada, é contagiante! – Helena me cumprimentou recatada como sempre.

- Vamos logo começar os trabalhos né, você estão parecendo aquelas vovozinhas que se reúnem uma vez a cada dez anos para tomar chá das cinco. Ô Romário!!! – Daisy nos interrompeu levantando e sacudindo o braço vigorosamente na tentativa de chamar atenção de algum garçom.

A banda que tocava no bar estava animando tanto que ninguém conseguiu ficar sentando em suas mesas, todos dançavam ao som dos hits do verão e de alguns flashbacks estrategicamente escolhidos pela banda, desses que todo mundo adora.

- E então, o que vamos beber hoje? – Daisy questionou apontando para cada uma de nós, com aquele ar de general típico de sua personalidade.

- Até parece que você não sabe: Heineken, lógico. – Gritei do outro lado da mesa, torcendo o canto da boca com a afirmação mais-do-que-óbvia sobre minha bebida favorita.

- Ai, não sei... não queria beber hoje, amanhã levanto cedo para trabalhar... – Helena hesitou.

- Deixe de ser ridícula, eu também vou acordar cedo, nós não iremos ficar até tarde, então vamos aproveitar. – Daisy comandou, desaprovando Helena.

-Tudo bem... então acho que vou tomar uma Smirnoff Ice.

- Eu quero um ‘Sex on the Beach’ com muito geloris! – Anita gritou interrompendo Helena.

- Ok. Querido, traga uma Heineken, um ‘Sex on the Beach’ com muito gelo, uma Smirnoff Ice e para mim um ‘Cosmopolitan’ com muito gelo também. – Daisy comandou para Romário, quer dizer, para o garçom, como se fosse seu empregado.

- Amiga nunca conheci ninguém tão mandona como você! – Ri de seu jeito autoritário.

- Ah minha querida, alguém tem que ser o homem da relação. Se eu for depender de vocês, volto para casa sem ter tomado meu ‘Cosmopolitan’! Eu tenho mesmo esse dom para ser rainha, fazer o quê? – Brincou fazendo cara de superior.

Meu pensamento foi lá na Inglaterra e voltou, porém mantive a pose e tratei de esquecer Roger e minha carta antes que arruinasse meu estado de espírito, que estava super-animado.

As primeiras batidas de “Please, don’t stop the music” da  Rihanna começaram a tocar, e nós fomos à loucura, parecíamos adolescentes saindo para a balada pela primeira vez. Mas Eu, Anita e Helena estávamos um pouco mais animadas, por que essa música era parte da trilha sonora de nossa viagem para Londres.

Contornei a mesa com minha long neck na mão, e com a outra puxei a mão de Anita que agarrou o braço de Helena e saímos em trenzinho enquanto Daisy nos assistia em pé, diante da mesa. Saímos correndo para a frente do palco, serpenteando entre as pessoas que curtiam a banda em pé, e cantamos todas as palavras da música como se o mundo fosse acabar.

Eu estava me sentindo muito bem, a companhia das minhas amigas me fazia sentir completamente à vontade, livre para ser eu mesma, e parece que isso acabava refletindo na minha aparência, pois todos os garotos da balada não paravam de me encarar. Primeiro pensei que fosse por causa de nosso espetáculo cantando e dançando escandalosamente a música da Rihanna, mas depois percebi que estava sendo observada.

Quando voltávamos à nossa mesa, eu caminhava olhando para o chão para não tropeçar nos desníveis do piso, quando de repente esbarrei em um tórax forte, coberto por uma camisa preta de malha com o logo do Alice in Chains impresso em branco e azul. Meus olhos brilharam e levantei a vista curiosa para saber quem era o rapaz de bom gosto e o que ele estava fazendo ali naquela balada que não tinha nada a ver com rock n’ roll.

Me deparei com um par de olhos azuis me estudando e um sorriso torto no canto da boca. Meu coração disparou quando reconheci que ele era o cara que estava sentado na mesa vizinho à minha. Fiquei completamente sem ação, pois não imaginei que ele fosse se colocar no meio da minha passagem e me abordar tão diretamente.

“Ai meu Deus, esqueci como é que se paquera! O que eu faço agora?” Pensei nervosa, procurando algum assunto para puxar conversa com o gato que se materializou na minha frente. Para minha sorte, ele facilitou minha vida dando o primeiro passo:

- Oi. – O desconhecido sorriu apertando os olhos.

- Errr...oi?

- Bem autêntica sua dança. – Comentou debochado.

“Me enterrem, agora! Que vergonha...”

Apressei-me em explicar o porquê do entusiasmo:

- Ah, é... eu estava comemorando com minhas amigas. – Dei um sorriso amarelo e mordi as partes internas da minha bochecha, corando sob seu olhar atento.

- Percebi.

- E você, o que está fazendo aqui? Pelo visto esse tipo de lugar não é sua praia. – Questionei colocando as mãos na cintura, procurando mudar o foco da conversa.

- Aniversário de uma amiga, sabe como é. – Ele abriu um sorriso e estendeu a mão para se apresentar, mas antes que minha mão tocasse a sua, senti meu braço sendo puxado e ouvi a inconfundível voz de Anita me chamando apressadamente:

-Allyris, você tem que vir comigoris!

E saiu me arrastando entre as pessoas, sem que eu pudesse ao menos me despedir do gato que acabara de conhecer. Ela mal percebeu que eu estava conversando com ele.

- Para onde você está me levando? – Protestei relutando em acompanhá-la, caminhando pesadamente atrás de minha amiga, e olhando para trás à procura do deus grego que ela fez o favor que espantar, mentalmente dando ‘tchauzinho’ao meu ex-futuro-namorado.

- Anita, droga, eu estava conversando com um cara, você não percebeu? – Esbravejei meio irritada.

- Ah amiguinharis, não esquenta. Vou te apresentar um gatinhoris muito mais interessanteris! – Respondeu toda animadinha, sem se virar para me encarar.

“Duh, mais interessante do que esse filé, com 1,80m e tanto de pura sedução que ainda por cima que curte Alice in Chains? Esse com certeza é peça única da coleção, querida!”

Pensei comigo. Preferi nem comentar, ela estava tão excitada que era incapaz de ouvir qualquer coisa. E eu já podia sentir o cheiro de roubada no ar, que sem dúvida incluía no pacote uma boa dose de constrangimento.

Chegando à nossa mesa, percebi que havia duas pessoas a mais, uma delas era Michel, namorado de Anita.

 - Olha só quem está aquiris! – Anita me empurrou diante de seu namorado, que conversava com outro rapaz, que eu não conhecia.

- Você não disse que seríamos só nós quatro? O que o Michel está fazendo aqui? – Assobiei com os dentes cerrados, sem que as outras pessoas pudessem ouvir, e sorri para o namorado de Anita e para o desconhecido.

- E era isso mesmoris! Mas o Michel me ligouris da faculdade, dizendo que hoje era dia de provaris, por isso foi liberadoris antes. Entãoris como a faculdade dele é aqui do ladoris, resolveu vir me ver. E trouxe esse – ham ham– amiguinhoris.

Fez uma cara de inocente, levantou as sobrancelhas e me deu um cutucão com o cotovelo bem no meio das costelas, me fazendo dar um salto e um gemido abafado de dor.

O cara de fato não era de se jogar fora, tinha olhos lindos, verdes... e cabelo escuro. Além disso era alto e esbelto, mas nem por isso magrelo. Parecia com um apresentador da Globo que não lembro o nome. No entanto, eu ainda estava chateada por minha amiga ter interrompido meu momento conquista, então cumprimentei os rapazes friamente e me sentei ao lado de Daisy emburrada.

Mas Anita não desistiu. Ela estava decidida a ‘resolver’ minha vida naquela noite e encontrou no amigo do Michel uma oportunidade ‘imperdível’ de me ‘desencalhar’. Pegou a mão do tal amigo e o conduziu à cadeira ao lado da minha e sentou-se diante de mim com um ar satisfeito de ‘dever cumprido’. Eu mal conseguia ter raiva dela, pois sabia que sua intenção era das melhores e estava acostumada com seu jeito estabanado de ser.

- Eric, esta é a Ally, minha amigaris querida que viajou para Londres comigoris, lembra que eu te conteiris?

“Lembra que eu te contei? Então Anita anda fazendo propaganda minha para os amigos do Michel, como se eu fosse uma solteirona encalhada? Eu vou ma-tar essa cretina!”

- Lembro sim, você só não disse que ela era tão linda. – Eric respondeu voltando-se para mim com um olhar de conquistador barato.

- Obrigada - Sorri à força com a cantada de mau gosto, e agradeci educadamente sem dar continuidade à conversa.

Mas Eric entrou na onda de Anita e engatou uma conversa sobre baladas, viagens e música, se esforçando para despertar meu interesse. Como eu não tinha como escapar da armação da minha amiga saicow, decidi ser mais sociável com Eric e dar-lhe uma chance para mostrar a que veio.

- Então Ally, quer dizer que você gosta de curtir uma balada? – Perguntou interessado.

- Sim, de vez em quando é bom, para quebrar a rotina... – Respondi reticente.

- Ah eu também adoro, todo sábado vou para o Forró no Sítio, já sou quase sócio, todos me conhecem por lá, do porteiro aos atendentes de bar. – Disse orgulhoso, fingindo espreguiçar-se e passando um braço por trás de mim, apoiando-o no encosto da minha cadeira.

“Era só o que me faltava” – pensei tendo um princípio de ataque de pânico “esse cidadão forrozeiro parece que não percebe que não estou interessada! O que faço para escapar dele?”

Afastei minhas costas do encosto da cadeira para que seu braço não encostasse em mim, mas o cara-de-pau não se tocou e começou a alisar meu ombro.

Levantei a vista procurando me recompor e quando eu pensava que já tinha pago todos os micos do zoológico, meu olhar encontrou-se justamente com o do meu gato do rock n’ roll, que estava sentado na mesa em frente assistindo minha tortura, me fuzilando com o olhar, como se não aprovasse meu ‘comportamento’.

“Ah não, tudo que eu menos precisava era que ele visse isso! Agora meu príncipe do rock vai pensar que dou mole pra qualquer Zé Mané que aparece. Alguém me tira daquiii!”

Naquele momento me passou uma idéia pela cabeça, era a única maneira de fugir desse saicow que queria a todo custo me conquistar.

Levantei-me e afastei-me da mesa, encarei o cara, que ainda me observava de longe e digiri ao bar me desculpando “Com licença, vou pegar outra bebida”.

Antes que Eric respondesse qualquer coisa, apressei-me em direção ao bar, rezando para todos os santos que meu paquera percebesse meu sutil sinal para que me seguisse.

Com a barriga apoiada sobre o bar esperando que o barman trouxesse minha cerveja, senti uma mão sobre meu ombro e automaticamente virei-me, com um sorriso de contentamento que não durou um segundo quando percebi que a mão que havia me tocado na verdade era de Eric.

“Droga!” Murmurei vencida, inconformada com minha falta de sorte.

- Se tivesse me pedido pra vir pegar sua cerveja, não precisaria ficar em pé aqui. Sabe, esses atendentes de bar nem sempre respeitam as garotas. – Eric sorriu com seus dentes brilhantes de apresentador de televisão.

- Que é isso, estou bem. Obrigada pela preocupação – Foi o que consegui responder.

Ao retornarmos à mesa, olhei para a mesa do meu paquera e ele não estava mais lá. Mas a essa altura eu já nem me importava mais. Estava cansada e queria ir logo para casa, mais para me livrar desse encosto do que por qualquer outro motivo.

Foi quando Daisy, que esteve muito quieta durante maior parte da noite, aproximou-se e falou ao meu ouvido:

- Gata, estou morrendo de dor-de-cabeça, você se importa de irmos embora agora? Se quiser ficar, tenho certeza que as meninas podem te dar uma carona.

- Está brincando? Vou demais! – Olhei torto na direção do saicow e ela entendeu na hora que eu não via a hora de me livrar dele.

Assim, nos despedimos de todos, concordei com Eric que “era uma pena não podermos conversar mais, mas outras oportunidades surgirão”. “Ou não”, completei em pensamento.

Saímos do estacionamento e Daisy seguiu dirigindo lentamente, pois sua concentração estava afetada devido à enxaqueca.

 - Amiga, se você quiser posso dirigir. – Ofereci.

- Não, você bebeu a noite inteira. Pode deixar, estou bem. – Recusou meu convite sem tirar os olhos da estrada.

Seguimos silenciosamente pela avenida, com o som do carro desligado até que uma pancada forte seguida de um solavanco provocou uma tremedeira horrível no carro, fazendo com que Daisy reduzisse a velocidade até parar. Ela não havia percebido um buraco fundo no asfalto, na lateral da avenida, do lado do motorista, e passou por cima sem reduzir a velocidade, o que deve ter danificado o pneu dianteiro do carro.

- Droga! – Exclamou enquanto abria a porta e descia para verificar o estrago.

Desci do carro, peguei a chave da ignição e fui até o porta-malas para pegar o triângulo sinalizador. Àquela hora da noite havia muitos motoristas imprudentes, dirigindo a toda velocidade, então todo cuidado era pouco. A última coisa que precisávamos naquele momento era de outro acidente.

- O pneu está rasgado. – Daisy constatou agachada na lateral do carro.

- É melhor você levantar daí. Vamos ligar o pisca-alerta e vamos para a calçada decidir o que faremos. – Murmurei pensativa e olhando ao nosso redor, percebi que a rua estava deserta.

 Eu queria evitar de toda forma que minha amiga tivesse aborrecimento, pois sabia como uma enxaqueca podia incomodar ao ponto de nos deixar completamente zonza. E além disso, estava morrendo de medo de que algum assaltante ou vagabundo aparecesse para nos importunar.

- Tem razão. – Ela respondeu levantando-se, apoiada no capô do carro.

Caminhamos até a calçada enquanto Daisy tirava o celular do bolso da calça. Não me dei conta de que ela estava ligando para Davi até que a ouvi pronunciando seu nome:

- Davi, onde você está? Ainda bem. Eu preciso de um favor. O pneu do meu carro furou, nós estamos no meio da rua sozinhas morrendo de medo, e para completar estou com uma enxaqueca horrível. (...) É a Ally. Sim, é ela... – e falando meu nome, direcionou o olhar para mim, balançando a cabeça de um lado para o outro.

Senti um frio na barriga imaginando as coisas mais loucas possíveis. “Será que ele não quer vir ajudar a gente por minha causa?”. Me perguntei.

- Meu irmão está vindo nos ajudar.

- Err... não precisava incomodá-lo, eu poderia ter chamado o Max. – Tentei parecer natural, mas estava tremendo nas bases.

- Pelo contrário, quando eu disse que era você quem estava aqui comigo, ele rapidinho se prontificou para vir.

Meu queixo caiu e eu fiquei completamente sem reação. Devo ter ficado um minuto com cara de babaca até sair do meu estado de transe quando Day perguntou se eu tinha algum medicamento para dor de cabeça. Por sorte, sempre ando com uma cartelinha de analgésico caso tenha alguma crise de alergia, que sempre vem acompanhada de uma irritante seqüência de espirros - nariz entupido – sinusite – enxaqueca.

Cerca de quinze minutos depois, avistei o carro de Davi se aproximando e comecei a tremer feito vara verde. Este seria nosso primeiro encontro depois de nossa fatídica discussão, que parecia ter sido há meses, mas na verdade fazia apenas algumas semanas.

Como sempre, antes mesmo de Davi se aproximar, o cheiro de seu perfume nos alcançou. Respirei fundo, fechei os olhos e mentalizei: “Haja o que houver, seja lá como ele lhe trate, não se deixe abalar. Você já superou isso. Davi é passado.”

Abri os olhos e encarei-o, caminhando em nossa direção com um aspecto preocupado.

- Vocês estão bem? – Lançou-me um olhar alarmado e ao mesmo tempo tímido.

- Estamos bem, só o pneu do carro que estourou e nós não conseguimos trocar. – Daisy respondeu mecanicamente, sentando no bando de motorista.

Davi me olhou novamente, depois virou-se para Daisy e perguntou:

- Como está o step do seu carro?

- Sei lá, acho que está novo, nunca precisei usá-lo.

- Beleza, então vou trocar o pneu rapidinho. Fiquem esperando no meu carro.  – Ordenou.

Eu continuava encarando o chão, quieta, esperando qualquer que fosse a decisão deles, desde que eu pudesse cai em minha cama e dormir o quanto antes.

Daisy levantou-se e antes de seguir para o carro do irmão pegou a chave do bolso da calça dele e disse:

- Sabe de uma coisa? Davi é o seguinte, eu não to agüentando mais de dor, vou pegar seu carro e seguir direto pra casa, por favor, deixe a Ally em casa. Sã e salva, está ouvindo? Amiga, espero que não se importe, mas essa dor está acabando comigo.

- É melhor mesmo, ainda vou demorar um pouco, e a casa dela fica logo ali. Assim você pode descansar logo. O que você acha Ally?

Olhou para mim esperando eu que concordasse com a idéia, que para mim era a última opção.

Arregalei os olhos e engasguei, não acreditando que minha noite acabaria daquela forma, com aquele infeliz encontro. Mas infelizmente eu não tinha opção. Precisava fazer esse sacrifício pela minha amiga. Então resignada, baixei a cabeça e respondi baixinho:

-Tudo bem, pode ir. Espero que melhore logo.

Abracei-a despedindo-me e a observei afastar-se, entrar no carro de Davi e partir.

“Por que isso tinha que acontecer? Eu estava tão bem...”

Fiquei quieta na minha, sentada no meio-fio, arrasada porque estava sujando minha saia preta, esperando pacientemente que Davi terminasse de trocar o pneu.

“Não vou falar com ele, a menos que ele puxe conversa primeiro.” Decidi. “Espero que não toque naquele assunto. Não quero nunca mais ter que falar sobre isso.”

No fundo eu sabia que mais cedo ou mais tarde a lavagem de roupa suja aconteceria, mas aquela não era a hora, nem o momento adequados para termos a tão temida conversa.

Fiquei brincando distraidamente com a alça da minha bolsa-carteira, lembrando da oportunidade perdida com meu paquera do M Bar. “Vou ter um papo sério com Anita. Que espírito malfeitor foi esse que se apossou do corpo dela esta noite? A safada me meteu na maior barca furada, melou meu esquema com o gatinho... Ela vai se ver comigo!”

Suspirei alto, inconsciente de que Davi estava me observando de vez em quando enquanto trocava o pneu do carro.

Quando finalmente acabou o serviço, com as mãos sujas de graxa e todo suado, levantou-se e dirigiu-se a mim decidido.

- E então, de onde vocês vêm a essa hora? – Tentou ser gentil, mostrando um sorriso acolhedor.

- Estávamos no M Bar. – Respondi sem levantar o olhar, e continuei brincando com a corrente da alça de minha bolsa.

Ainda tentando ser o mais gentil que podia, agachou-se diante de mim e falou, seus olhos procurando os meus:

- Você está linda. Hoje mais do que nunca.

Meu coração disparou e senti minhas bochechas esquentando, e a essa altura eu já devia estar roxa de vergonha, mas encarei-o sem medo e agradeci. Pela primeira vez na vida ouvi elogios dirigidos a mim saindo da boca do Davi. Se alguém me contasse eu não acreditaria.

“Será que as meninas tinham razão mesmo? Será que ele mudou de verdade, ou está apenas tentando bancar o bonzinho para limpar a própria barra?”

Minha inquietação não parava de aumentar, então para quebrar aquele clima desconcertante levantei-me rapidamente e perguntei indiferente:

- Já podemos ir?

Davi ficou alguns poucos segundos agachado pensativo, até que levantou-se e caminhou em direção ao carro, passando por mim e me deixando para trás.

“Esse é o Davi que conheço!” Pensei ironicamente, não satisfeita em perceber que se houve alguma mudança em seu comportamento, foi uma mudança muito sutil.

Entramos no carro sem dizer uma palavra e seguimos viagem silenciosamente.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam da saidinha frustrada de Ally? E a aparição inesperada do Davi? Maldito buraco na rua! Heheh.Obs: Preferi não dar um nome ao "gatinho rock n' roll" por que ele é apenas um personagem passageiro, que só aparece neste capítulo.Espero que tenham gostado!"Show me the love!"Quero muitas reviews hein? Já percebi que tem algumas pessoas acompanhando a história, quero que saibam que isso me deixa muito, muito muito feliz, mas adoraria saber o que estão achando. Portanto peço mais uma vez que deixem suas opiniões, por mais que sejam críticas negativas. Tudo é válido para meu crescimento como 'escritora de fanfics'. Exceto xingamentos, lógico.Grande beijo, até a próxima!