Coração Satélite escrita por Ayelee


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Olá amigos, tudo bem?
Primeiramente, gostaria de me desculpar pelo atraso na postagem de Coração Satélite. Estive ausente por duas semanas viajando e quando retornei,meu pai estava bastante doente e minha mãe também adoeceu. Precisei prestar-lhes assistência e ainda cuidar de alguns probleminhas domésticos. Enfim, agora meus pais estão bem melhores e as coisas estão entrando nos eixos.
Eu AMO escrever, AMO minhas histórias e meus personagens e não irei abandoná-los!
Agradeço àqueles que aguardaram pacientemente por uma nova atualização e asseguro-lhes que a história só irá esquentar daqui por diante.

OBS1: Os nomes de filmes aqui citados são fictícios, criados por mim para a história, qualquer semelhança com algum título real de filme é mera coincidência.
OBS2: Neste capítulo o vocabulário de Anita está bem extenso, espero que entendam!
baladaris - balada
músicaris - música
eletrônicaris - eletrônica
quelhida - querida
fugindoris - fugindo
amiguinharis - amiguinha(s)
bobaris - boba
motivoris - motivo
recusouris - recusou
confessaris - confessa
garantoris - garanto
Daviris - Davi
entãoris - então
Daisyris - Daisy
legalris - legal
saicow - louco(a)
prometoris - prometo
êbaris - êba

Beijos e boa leitura!



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Roger PDV

Londres

“Roger, querido. Acorde. Já está na hora do jantar. Você vai ficar com dor nas costas dormindo na poltrona nessa posição.”

Ouvi a voz de minha mãe distante chamando meu nome, como se estivesse em um sonho, mas o toque dela no meu ombro me fez ter certeza de que não estava sonhando. Emiti um grunhido preguiçoso e permaneci imóvel sobre a mesa de estudo de meu pai, mantendo os olhos fechados por alguns segundos até que Carly pressionou meu ombro com mais força e falou um pouco mais alto, decididamente tentando me acordar.

- Ok mãe, já ouvi, estou indo.

Respondi com a voz baixa, espreguiçando-me na poltrona e imediatamente me levantando. Olhei para as pilhas de cartas sobre a mesa e decidi que bastava por hoje, estava com a vista cansada e mentalmente exausto também. Passaria o restante do dia com meus pais, quem sabe até poderia fazer uma visita à minha avó Grace, que não via há meses.  Amanhã daria continuidade à leitura de correspondências.

Senti um aroma delicioso de creme de aspargos que só minha mãe sabe fazer e imediatamente segui para a sala de jantar, onde meus pais me aguardavam sentados à mesa, que já estava posta para três.

Meu pai, Ronald, sentado na cabeceira da mesa fitava-me com um olhar terno cheio de amor e admiração. Eu realmente sentia falta de casa, de fazer coisas normais como tomar a sopinha da mamãe e conversar com meu pai sobre os negócios de sua revendedora de carros. Apesar de não entender nada sobre o assunto, adorava ouvi-lo contando sobre as situações engraçadas que aconteciam com os clientes que ocasionalmente apareciam na loja com intenção de comprar um carro “velho” e acreditavam que, por se tratarem de carros antigos, seu valor era baixo. Na verdade, os modelos de carros que meu pai vendia eram raridades, muitos deles peças de colecionadores. O que o fazia sentir muito orgulho da empresa que construiu ao longo de sua vida inteira. E eu me orgulhava por ser filho de um homem que construiu um belo patrimônio e uma bela família com bastante esforço, dedicação e dignidade. Meu pai era meu grande exemplo, por isso, eu parava o que quer que estivesse fazendo sempre que ele solicitava minha atenção, mesmo que fosse para contar uma das clássicas anedotas do vovô.

- Então Pete – papai e alguns dos meus amigos me chamavam assim, é uma contração de meu sobrenome ‘Peterson’ – como anda a divulgação do filme? – Perguntou interessado.

- Foi tudo muito bem. Na verdade, mais uma vez os fãs conseguiram superar as expectativas da produção.

- O que eles aprontaram dessa vez? – Sorriu bem-humorado.

- Nada fora do padrão. O que me surpreende é o fato deles não cansarem disso tudo. Você pensa que com o tempo a obsessão com a história vai esfriando, mas não com os fãs de “A Profecia dos Deuses”...

Comentei pensativo, me perguntando se algum dia isso acabaria de fato. Como que lendo meus pensamentos, meu pai tentou argumentar em um tom consolador:

- Tenha um pouco mais de paciência, meu filho... – Assenti transferindo o olhar para minha mãe, que me observava com uma expressão de adoração que me deixou inquieto.

- Por favor, mãe, você também não. Sou eu, Pete, aqui.

Sem se dar conta do que estava fazendo segundos antes, Carly balbuciou magoada:

- Mas o que estou fazendo de errado afinal?   

- Esse seu olhar de adoração, me assusta, me faz lembrar das pessoas gritando e querendo pular em cima de mim.

Ela sorriu e balançou a cabeça – Querido, esta aqui é apenas uma mãe admirando o próprio filho, de quem ela sentiu muita falta nos últimos dias.

De repente me dei conta de minha paranóia. As coisas mudam muito rápido na minha vida, às vezes não dá tempo converter a chave do “modo estrela de cinema” para o “modo família”.

- Sinto muito mamãe, acho que estou ficando louco. – Sorri desconcertado – Quando eu finalmente retomar minha “rotina normal”, inevitavelmente outro processo se iniciará. Ando meio cansado ultimamente.

- Percebe-se – Meus pais replicaram em uníssono, caindo em gargalhadas em seguida, em uníssono também.

- Como eu estava dizendo – Ronald prosseguiu – Agora que a Trilogia finalmente acabou e com seu novo filme, que é um gênero completamente diferente, você terá um pouco mais de paz.

-Eu sinceramente espero que sim, pai.

- Seu pai tem razão, Roger...

Meu celular, que estava sobre a mesa de jantar, vibrou, me distraindo do que minha mãe falava e eu, sem graça, rapidamente peguei-o sem ao menos checar quem me ligava e o enfiei no bolso do meu moletom surrado.

- Desculpa mãe, o que você estava dizendo?

Antes mesmo que ela retomasse seu discurso o celular vibrou no bolso da minha calça, me fazendo dar um sobressalto, interrompendo-a novamente.

- Atenda a ligação querido, deve ser algo importante.

- Desculpem, esqueci de desligar o aparelho. – Levantei-me da mesa de jantar e caminhei até a cozinha atendendo automaticamente a ligação, sem checar o identificador de chamadas.

- Alô?

- Olá Roger Peterson, estou ligando para lembrá-lo que você tem uma namorada. – O sarcasmo na voz de Cathy atravessou o telefone e atingiu meu humor implacavelmente, transformando o que então era um sorriso relaxado em uma carranca, daquelas que as crianças fazem quando são repreendidas injustamente por algum professor chato.

- Boa noite amor, também estou com saudades! – Retribuí o sarcasmo.

- Como você tem coragem de fazer isso? Você mal me deixa aqui nos EUA e já cai na farra com seus amigos na sua amada terra natal. Quer dizer que nosso relacionamento só é válido enquanto estamos no mesmo continente?

Engasguei exasperado ao ser surpreendido com a suposição absurda de Cathy. Faz pouco mais de 24 horas que nos vimos pela última vez e ela já está me acusando de abandono!

- Amor, do que você está falando? 

- Eu já sei de tudo, pelas minhas contas, considerando a diferença de fuso horário, você seguiu direto do aeroporto pro bar. Aqueles seus amigos bêbados nem deixaram você chegar em casa para trocar de roupa! E Dave? Onde está Dave, que não está cuidando de você?

- Você está ficando louca, onde viu isso? E Dave não é meu baby- sitter para ficar cuidando de mim! – Revirei os olhos impressionado com o nível de absurdo daquela conversa. Como as mulheres conseguem mudar de temperamento tão rápido?

Quando deixei Nova Iorque e peguei o vôo para Londres, nos despedimos numa boa, estava tudo OK entre nós, apesar das duas semanas intensas trabalhando na promoção do filme, que definitivamente deixam nossos nervos à flor da pele.

Agora essa explosão de cobrança? De onde vem isso?

- Sua pequena farra com seus ‘mates’ já está em todas as revistas de fofoca baby.

- Ah, está explicado! Quer dizer que ao invés de ligar para mim e me perguntar diretamente o que estou fazendo, você prefere se atualizar das novidades através de revistas de fofoca? Onde você está com a cabeça baby?

- Eu liguei para seu celular depois que vi a notícia, mas você não atendeu!

- Você quer dizer então que me ligou hoje, depois que toda essa baboseira foi publicada, e certamente foi no momento em que eu estava adormecido sobre a mesa de estudo do meu pai, exausto depois de ler e responder dezenas de correspondências?

- Vo-você estava dormindo? No meio da tarde?

- Sim, Cathy, eu estava dormindo. Você quer que eu coloque minha mãe no telefone para confirmar? – Meti o nome da minha mãe na conversa porque sabia que Cathy não se submeteria ao constrangimento de ter que falar com Carly para comprovar minhas palavras. Além do mais, ela sabe que não costumo mentir, seja o que for, eu sempre falo a verdade.

- Não! Não precisa chamar sua mãe... é que eu estava com saudade de você, gato. Mas você saiu mesmo com os garotos?

- Saí sim. Que mal tem nisso? Sinto falta de estar com meus amigos em uma saída normal, como costumávamos fazer quando eu morava aqui e tinha muito menos compromissos.

Eu andava de um lado para outro na cozinha, impacientemente esfregando minha barba por fazer, louco para desligar o telefone e voltar a tomar minha sopa de aspargos. Não suporto esse tipo de cobrança.

- Não tem mal nenhum... – Percebi pelo tom choroso de sua voz que Cathy se sentia envergonhada por ter me acusado injustamente – É que achei que você não via a hora de se livrar de mim... sinto muito.

- Mas que absurdo! Às vezes não reconheço você sabia? Nós estávamos super-bem nessas duas últimas semanas, nos divertimos bastante, houve algum estresse, mas no final das contas ficamos bem. Por quê isso agora?

-Não sei o que deu em mim... eu já pedi desculpas, ok?

- Tudo bem, mas por favor, estou de folga em casa, vou fazer minhas coisas normais, aproveitar o tempo com minha família e amigos, sem me importar com essa insanidade de paparazzi e revistas de fofocas. Não se impressione com o que você vir nas manchetes por aí.

- Quer dizer que você vai curtir a vida adoidado em Londres e eu não tenho o direito de achar ruim? Quem você pensa que eu sou para agüentar este tipo de comportamento?

- Não foi isso que eu quis dizer. Só estou pedindo para que você não dê crédito ao que sair sobre mim nos tablóides. Confie em mim. Se podemos nos falar diretamente pelo telefone, para quê buscar informação na internet?

- Tudo bem então. Eu só peço que você se comporte e lembre que tem uma namor... – A interrompi irritado.

- Ah, faça-me o favor Catherine! Olha só, não quero discutir no telefone, muito menos por bobagem. Vou terminar de jantar com meus pais, que estão esperando que eu termine essa conversa para continuarmos nossa refeição em família. Nos falamos depois. Beijo. Tchau!

Esperei que ela se despedisse para poder desligar o telefone e voltar para a sala de jantar. Ela despediu-se contrariada:

- OK, tchau.

Quando retornei para a sala, meus pais já estavam sentados no sofá que fica ao lado do piano, assistindo um programa de calouros chamado The X Factor. Os dois se voltaram para mim com um olhar curioso e antes que abrissem a boca para falar qualquer coisa, disparei um avalanche de explicações sobre a ligação que acabara de atender, mas não foi necessário que eu dissesse quem havia me ligado, eles deduziram que havia sido Cathy.

Ao longo de meu relacionamento de quase dois anos com Cathy, meus pais tiveram oportunidade de conviver com ela em várias ocasiões, incluindo festas familiares, eventos públicos, e algumas férias que passamos juntos com a família.

Eu poderia dizer que todos se dão muito bem e se gostam, se não conhecesse profundamente a natureza daquelas duas pessoas que me geraram e me proveram a educação e os valores que tenho hoje em dia. Meus pais são bastante cordiais com Cathy, a tratam como uma filha, mas no fundo sei que estão apenas fazendo o que bons pais fazem: tentando agradar o filho.

Isso me deixa um pouco preocupado, pois eu e Cathy estamos juntos a algum tempo, eu a amo e quero que ela participe da minha vida em todos os momentos. E por mais que eles tentem recebê-la bem na família, se não gostam de verdade dela, mais cedo ou mais tarde um desentendimento pode acontecer, e não quero ver as pessoas que mais amo em clima de animosidade.

- Como está Cathy? Perguntou minha mãe educadamente.

- Bem, ela está bem. Mas não sei o que deu nela hoje. Deu um ataque bobo de ciúmes que me tirou do sério.

- Ciúmes por quê?

- Porque saí com meus amigos noite passada, e aparentemente algum paparazzo descobriu e publicou em algum tablóide...

- Eu vi... – Mamãe corou sem graça por admitir que lia as fofocas nos tablóides. – Mas eu só olhei porque tinha seu nome em uma manchete bem grande e escandalosa, juro!

- Como era a manchete? – Perguntei sem ter certeza se gostaria mesmo de saber.

- “Enquanto CatSey trabalha duro nos EUA,  R- Peter retorna ao grande Reino e cai na farra com seus soldados.”

Dei uma risada desaprovadora, balançando a cabeça de um lado para o outro.

- Hum, vou ver se Sarah pode fazer alguma coisa em relação a isso.

- É filho, deixe que ela cuida disso pra você. Mas não deixe de aproveitar que está em casa, aproveite cada momento. Você passa tanto tempo longe...

- É o que estou tentando fazer. Sabe o que me deixa indignado? É que esses tablóides ridículos inventam as histórias mais absurdas sobre mim, as pessoas pagam para ler e ainda acreditam! Acho que vou desenvolver uma nova estratégia: vou começar a cobrar porcentagem nas vendas de cada revista com notícias falsas sobre mim. Não suporto a idéia desses canalhas ganhando dinheiro às minhas custas, denegrindo minha imagem.

Meu pai interveio na conversa, sugerindo que eu saísse com Jim ou Simon para me distrair um pouco.

- Mas pai, eu tinha planos de ir visitar a vovó esta tarde...

- Não se preocupe Pete, já a convidamos para jantar conosco no próximo fim-de-semana. Pode sair com os garotos! – Deu-me um tapinha nas costas e entregou-me o celular, que estava em cima da mesa.

(...)

Quando cheguei ao apartamento de Jim, Simon e Mark já estavam jogados nos sofás, cada um com seu violão e uma garrafa de cerveja na mão. Havia metade de uma pizza na mesa de centro, pontas de cigarro, papéis rabiscados espalhados por todo lado. Parece que me atrasei para a festa.

- E aí pessoal, fizeram uma festinha e nem me convidaram né? – Brinquei.

- E aí Pete, beleza? A gente acabou vindo pra cá ontem, depois que vocês nos deixaram em casa – Responderam todos ao mesmo tempo, e Jim apareceu depois na porta da cozinha com um pedaço de pizza pendurado na boca e um copo de coca cola na mão:

- Beleva meu irmão? Vofê viu noffa foto na vevista hove? – Jim falou alto com a boca cheia de comida.

- Pô brother, termina de comer para depois começar a falar! Sua mãe não lhe deu modos?  Eu vi essa palhaçada, sim. Me ferrei, a Cathy viu na internet e me ligou soltando o verbo.

- Precisamos incrementar mais nosso esquema de fugas. Os paparazzi estão cada vez mais audaciosos. – Comentou Simon lá do sofá.

- Putz, a Cathy ficou sabendo? Que merda, bro. – Comentou Mark, o mais quieto dos meus amigos.

- Foi, mas eu já expliquei pra ela. Cathy sabe que não vim para cá para virar monge e ficar enclausurado em casa. Dei o maior sermão, a coitada acabou a ligação se desculpando.

Dei uma risadinha safada ao lembrar da voz chorosa de Cathy ao telefone.

- Até parece que ela não sabe que o namorado dela é um tremendo mamão! Hahaha. Ela tava só fazendo charme, seu bocó! – Falou Jim dando um tabefe no topo da minha cabeça. “Dê um pound, mas não dê liberdade” Pensei bem-humorado sobre meus amigos folgados.

- E então, o que você fez o dia inteiro, seu inútil? Perguntou Simon tocando alguns acordes em seu violão, tirando sarro porque estou de folga.

- Tive que ver todas as minhas correspondências.

- Mas que divertido hein? – Brincou Jim ironicamente.

Fui até a cozinha pegar uma cerveja na geladeira e respondi de longe:

- Na verdade até que me diverti sim. – Lembrei da tal carta do envelope azul, aquela da fã que dizia que me perdoava por alguma coisa que eu não fazia idéia do que era. – Adoro ler as cartas das fãs. Me faz sentir muito bem.

- Mas você é muito emo mesmo, Roger Peterson! -  Falou Simon caindo na gargalhada.

- Vai se ferrar! – Joguei a tampinha da garrafa de cerveja nele e continuei:

- Teve uma carta de uma garota, muito estranha. Quer dizer, era legal, mas eu fiquei altamente intrigado. – Comentei pensativo.

- E o que ela dizia? – Perguntou Mark mais interessado do que os outros rapazes.

- A carta era tipo um postal, com uma foto cheia de coisas legais, uns livros, umas miniaturas de guitarras, DVDs fantásticos, livros... acho que deve ser no quarto dela, sei lá. Ou em uma sala de estudos.

- Aê a garota é roqueira, já gostei, qual o nome dela? – Perguntou Jim, tirando sarro.

- Não sei o nome! Ela assinou apenas como A.C.

- Meu irmão, você já pensou que pode ser um cara, e não uma garota? – Jim continuou me provocando, e todos caíram na risada.

- Não é não. Pela forma como ela escreveu atrás do cartão, sinto que é uma garota.

- Ah é, e o que “ela” disse, então?

- Disse que eu talvez não lembrasse dela (óbvio), mas que me perdoava, seja lá o que eu tenha feito. Porque também não lembro disso. Ela disse que não sabia porque estava me escrevendo, mas esperava que eu fosse feliz e tal. – Confuso, tentei explicar o conteúdo da tal carta.

- E você já parou para pensar que pode ter sido alguma armação da Cathy? – Ponderou Mark, muito concentrado como se estivesse tentando decifrar um mistério de Hercule Poirot.

Todos paramos e olhamos para ele, sérios e confusos com a colocação inusitada de nosso amigo.

- Porquê a Cathy faria isso, Mark?

- Ah, sei lá meu irmão, a namorada é sua. Ela é louca, uma hora ama, outra hora odeia... vai ver que ela está querendo testar você...

- Ó o doido! – Riu Simon.

- Isso não faz o menor sentido - Comentou Jim.

- Ela não é louca, pô! – Tentei defender minha namorada, sabendo que no fundo Mark tinha um pouco de razão. Mas eu não acho que Cathy seria capaz de se dar ao trabalho de criar toda uma história só para tentar provar que sou um namorado infiel. Até porque não é do meu feitio trair namoradas.

- Seria mais fácil contratar um detetive particular e botar ele na cola do Roger do que criar toda essa história mirabolante de cartão com foto e blá blá blá. – Simon continuou, ainda sem levar a história a sério.

- Você está é com a consciência pesada, não é Pete safadinho...? – Jim provocou, conhecendo perfeitamente minha posição em relação a esses assuntos de traição.

- Claro que não! – Respondi indignado. – Podem me chamar de tudo, menos de cafajeste infiel!

- A gente sabe seu boboca, deixe de ser chorão! – Jim replicou satisfeito por ter conseguido me afetar.

- Enfim, não acho que isso esteja relacionado a Cathy, mas também não faço idéia de quem seja essa tal A.C. Não vou sossegar enquanto não descobri. Fiquei tão curioso que sonhei com isso esta tarde. Ainda tem mais!

- O quê??? – Os três questionaram virando-se para mim.

- A carta veio do Brasil!

- Do Brasil? Mas que coisa mais sem sentido. Até eu estou ficando curioso agora. É sério. – Simon respondeu, desta vez com expressão pensativa, de quem está realmente levando o assunto a sério.

- E o que você decidiu fazer em relação a essa tal A.C.?

- Acho que vou respondê-la. Quero saber quem é essa garota e o que ela quer comigo.

A tarde decorreu alegremente, com meus amigos tirando sarro de tudo que eu falava e vice-versa. Tocamos bastante, improvisando e compondo algumas melodias, sem compromisso, somente pelo puro prazer de criar música. Os momentos mais felizes da minha vida se resumiam em tardes como essa de ócio criativo, fosse com meus amigos, com minha família ou com Cathy.

***

Ally PDV

Fortaleza - Brasil

Pouco mais de uma semana se passou desde que enviei o cartão para Roger, se ele estiver em Londres, deve ter recebido minha correspondência ontem ou hoje. “Será que ele já recebeu?” Me perguntei aflita, interrompendo um pouco a digitação da tradução na qual estava trabalhando e sentando em minha cama para um intervalo de descanso. “Será que a carta ao menos foi parar em algum lugar relacionado a ele? Quem quer que tenha recebido o cartão, não deve ter compreendido nada, afinal minha mensagem mais parecia um enigma...”

Desde que havia postado o bendito cartão, não conseguia pensar em outra coisa, às vezes ultra-animada com a possibilidade de obter uma resposta, às vezes completamente desesperançosa e me sentindo ridícula por ter me deixado levar por um impulso tão infantil.

“Isso não vai dar em nada mesmo.” Refleti procurando ser realista, mas desejando do fundo de meu coração que eu estivesse errada.

Não saí de casa nos últimos dias, exceto para executar pequenas tarefas como ir ao banco, à padaria, levar o carro para manutenção, etc. A desculpa era que precisava me concentrar em meu trabalho e cumprir o cronograma de atividades que havia estabelecido para cumprir os prazos conforme o acertado com meus clientes. Eu também precisava economizar para montar meu pequeno escritório futuramente.

Bem, essa era a desculpa.

A verdade é que eu estava ansiosa demais com todo esse lance de Roger Peterson rondando meus pensamentos o tempo inteiro para conseguir desenvolver e me concentrar em alguma conversa, por mais simples que fosse o assunto. Eu estava literalmente “no mundo da lua”. A outra razão para eu sumir dos circuitos sociais, lógico, era o Davi.

Depois de ouvir aquela conversa dele com o amigo na beira-mar, meus pensamentos pareciam aquele diabinho e anjinho falando no meu ouvido: um sugerindo as coisas mais absurdas do mundo, que me deixavam para baixo e o outro tentando me manter confiante, insensível a qualquer coisa que viesse dele, mesmo que fosse algo inofensivo. Eu já estava magoada demais, parecia um bichinho amuado, com medo de ser judiado mais uma vez.

Estava evitando a todo custo a possibilidade de encontrar com ele e até mesmo falar sobre ele. Minhas amigas sabiam disso, elas não eram bobas e já estavam desconfiando das minhas desculpas esfarrapadas. Uma vez Helena me chamou para ir ao cinema ver o filme novo do Colin Firth – safadinha jogou baixo, sabendo que eu não resistia ao charme dele!- mas recusei porque cinema me lembrava o Roger, ainda mais quando o ator principal era lindo, charmoso e britânico como ele. Outro dia, Anita me chamou para ir a uma “baladaris” com “músicaris eletrônicaris” - porque assim eu não tinha como ficar depressiva, pensei – e também recusei, alegando que precisava manter minhas noites de sono em dia, para não atrapalhar meu cronograma de trabalho.

E assim segui a semana, escapando de uma e de outra, fugindo da realidade a que mais cedo ou mais tarde eu precisaria enfrentar. Mas... Porque fazer hoje o que posso deixar para amanhã, não é mesmo?

Meu telefone tocou e atendi apressadamente, não reconhecendo o número indicado no identificador de chamadas, achando que era um dos meus clientes.

- Aaaaaaaaaaaaaaaaloooow! – Ouvi a voz fanha de Anita e fiquei com ódio de mim mesma por ter atendido o bendito telefone.

- Oi amiga, tudo bem? – Respondi desanimada.

- Quelhiiida você está fugindoris de suas amiguinharis, não pode!

- Como assim Anitz?

- Pensa que nós somos bobaris? Você está se escondendo em casa por algum motivoris, todas já lhe convidamos para sair e você recusouris, confessaris logo!

Nem morta que eu iria contar sobre o cartão que enviei para Roger! Mas conhecendo minha amiga como eu conheço, decidi entregar os pontos e confessar que estava com medo de encontrar Davi por aí.

- Mas amiguinharis, você vai sair com a gente, eu garantoris que não vai encontrar o Daviris, a menos que você queira!

Anita falou com tanta convicção que quase me convenceu.

- Eu? Querer encontrar o Davi? Não mesmo hein!

- Entãoris, o que você acha de reunirmos o Eurotrio Feliz e a Daisyris em algum lugar legalris, com músicaris, só para nos vermos? Hein hein?

Como resistir aos pedidos da Anita? Ela é simplesmente a criatura mais fofa que eu conheço, além do mais, eu estava precisando rir um pouco, e a companhia dela era garantia de muitas risadas.

Me fiz de difícil só para ela implorar mais um pouquinho.

- Hum... sei não.. quem, além das meninas você vai convidar? Quero todos os nomes. Os namorados irão?

- Não sua saicow, é só a gente mesmo, eu prometoris! Vamos, pleaaaaaase? – Anita riu fanhosa, como se estivesse eternamente gripada.

- Ok, ok. Eu vou!  - respondi confiante, sorrindo para o telefone.

- Êbaris, vou confirmar com as meninas então. Hoje à noite, no M Bar. Não esqueça!

- Tá, estarei lá!

Desliguei contente por ter falado com minha amiga mais divertida, me sentindo um pouco mais segura do que há poucos minutos antes. Definitivamente ficar muito tempo sozinha, sem conversar com ninguém me deixava meio louca, incapaz de medir a real dimensão dos acontecimentos da vida.

Aumentei o som que estava tocando em meu notebook e corri para o closet, para escolher uma roupa legal, afinal o M Bar merecia uma produçãozinha. De repente até poderia aparecer algum gatinho para me distrair dos meus casos complicados.

***


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo. Eu já me sinto parte do grupo de amigos de Roger e de Ally!Por favor, deixem suas opiniões, é um grande estímulo para mim ver que vocês se importam com a história.Grande beijo, até o próximo capítulo!