Coração Satélite escrita por Ayelee


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem com vocês? Espero que tenham curtido bastante a virada do ano!

Para iniciar 2011 muito bem, trago uma surpresinha para vocês neste capítulo. Espero que gostem!

Algumas observações:

Os nomes de filmes e personagens aqui citados são fictícios, criados por mim para compor a história. Qualquer semelhança com um filme real, é mera coincidência.

Qualquer semelhança com um tal "Britpack", não é coincidência. Hehe.

Boa leitura. Por favor, deixem seus reviews para que eu saiba como estou me saindo como "escritora"!

Beijos

***
Trilha Sonora:
You really got a hold on me - The Beatles
Writing to reach you - Travis



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A avenida Beira-Mar estava movimentada. Passear na orla no final da tarde em pleno domingo é quase uma atividade obrigatória para os moradores de Fortaleza.

Caminhei distraída pelo calçadão até chegar à sorveteria mais tradicional da cidade. Era também minha favorita. Coloquei o envelope com a carta para Roger dentro de minha agenda e a guardei na bolsa. Não me surpreendeu que sorveteria estivesse lotada, já que era domingo.

Comprei meu sorvete de doce de leite flocado com pistache. A oitava maravilha do planeta. Não, a nona maravilha, pois a oitava sem dúvida era Roger Peterson!

Atravessei a rua satisfeita com meu sorvete gigante de duas bolas e encontrei um lugar para sentar: a mureta em torno da estátua de uma figura histórica da cidade. A estátua se apoiava sobre um pedestal maciço de base quadrada, que devia medir cerca de um metro de largura.

Repousei as costas no pedestal de granito e saboreei meu sorvete lentamente, observando o movimento de pessoas e a linda paisagem que se formava diante de mim: o sol espetacularmente desaparecendo no horizonte como se estivesse mergulhando no mar. As jangadas dos pescadores locais e as embarcações de maior porte ajudavam a compor aquela visão que parecia uma pintura.

Fique ali um bom pedaço, refletindo sobre minha idéia de enviar o cartão para Roger. “Será que existe pelo menos uma mínima chance dele receber essa carta? Mesmo assim, mesmo que receba, será que ele vai dar-se ao trabalho de lê-la? Respondê-la então? Impossível. Ally, você está tentando se enganar, como você fazia em relação ao Davi. Esperando sempre o melhor dele. Olha só o que aconteceu!”

O pensamento me perturbou, eu deveria estar curtindo este tempo livre para espairecer, e não ficar enchendo minha cabeça novamente com caraminholas. “Quer saber? Vou jogar essa carta ridícula no mar. Vai que Iemanjá resolve dar uma forcinha.” Pensei ironicamente. 

No entanto, não consegui mover um músculo para me levantar e cumprir minha nova resolução. Permaneci lá sentada na mureta tentando manter o equilíbrio e não fraquejar diante de minha decisão. Havia me apegado àquilo de tal maneira que doía só em pensar em me desfazer da idéia.

Ouvi vozes se aproximando atrás de mim. Pude perceber que eram dois rapazes e aparentemente haviam escolhido sentar no mesmo lugar que eu, porém no lado oposto. Por causa da proximidade pude ouvir parte de sua conversa:

- Mas depois você falou com ela? – Perguntou o primeiro.

- Não cara, não tive coragem. Eu a conheço, sei que ela ficou muito chateada comigo.

“Peraí, eu conheço essa voz. Ai meu Deus, é o Davi! E... ele está falando de... mim?” Congelei no meu lugar, me encolhi desesperada pensando o que faria para escapar dali. Não sabia se queria ouvir o restante daquele diálogo revelador.

Continuei quieta ouvindo mais um pouco a conversa. Quem sabe agora eu saberia se o que Daisy me contou na praia esta manhã tinha algum cabimento.

- Também meu irmão, você pisou na bola feio né. Se você sabia que a garota era afim de você, por que ficou provocando?

- Sei lá... não sabia como lidar com isso. Ela é irmã do meu melhor amigo, nada a ver sabe? Mesmo que eu quisesse ficar com ela desde o começo, simplesmente não tinha como dar certo.

- Mas agora você se ferrou.

- É, me ferrei legal. A garota não quer me ver nem pintado de ouro, justo agora que eu...

- Agora você tá afim da menina??? Tá brincando? Ha ha o feitiço virou contra o feiticeiro.

- Vai se ferrar seu baitola! Se você ficar tirando onda com minha cara, não falo mais nada para você.

Dei uma risadinha contida. Agora eu tinha certeza que era ‘meu’ Davi, ogro incorrigível. Continuei ouvindo a conversa, curiosidade tomando conta de mim.

- Tudo bem, foi mal. É que é muito irônico depois de você queimar seu filme totalmente, descobrir que gosta dela.

- Eu não disse isso... bem, depois daquela confusão toda... ah, esquece. Que droga!

- Calma brother, tá nervoso por que?

- Não vou mais falar sobre isso!

“O quê? Ah não, logo agora que estava perto de descobrir a verdade. Ele tem que continuar falando!” Pensei ansiosa. Mas uma longa pausa se deu após o final brusco da conversa.

Depois os dois engataram um assunto bobo sobre baladas, garotas e sei lá mais o quê. Decidi que aquele era o momento para sair de fininho, sem ser percebida. Peguei minha bolsa e caminhei na direção oposta, procurando um caminho onde pudesse voltar para casa sem ser notada por ele.

Ao entrar no meu apartamento me deparei com uma cena rara: minha mãe, Max e Gabi sentados na sala conversando animadamente.

- Oi! Olha só que lindo a família reunida! – Cumprimentei contagiada pelo clima familiar.

- Oi querida, por onde você andou? – Isis indagou preocupada.

- Fui tomar um sorvete à beira-mar, se eu soubesse que estariam todos em casa, teria lhes convidado. O dia está muito agradável lá fora.

- É verdade. Deveríamos aproveitar essa oportunidade de estarmos reunidos e sair para jantar, o que acham?

- Excelente! Eu topo. Só preciso me arrumar rapidinho. – Concordei.

Max olhou para Gabi como se esperasse algum tipo de permissão, e ela assentiu.

- Acho que vou ligar para o Davi e convidá-lo para ir conosco... – Max comentou pensativo.

- NÃO! – Não consegui conter minha reação imediata. Coloquei a mão sobre a boca ao perceber a besteira que fiz. Todos se voltaram para mim espantados esperando uma explicação.

Baixei a cabeça envergonhada e respondi olhando para minhas mãos, que brincavam com a barra da camisa.

- É que... faz tempo que não saímos em família. Só nós. Eu gostaria muito se pudéssemos fazer isso hoje, só para variar.

- Você tem razão. – Mamãe respondeu. – Então vá se aprontar rápido, enquanto isso vou fazer algumas ligações.

Max e sua namorada Gabi permaneceram na sala vendo televisão enquanto esperavam.

***

No dia seguinte levantei cedo e preparei minha mesa de trabalho. Havia decidido iniciar a primeira tradução hoje, segunda-feira. Mas antes precisava elaborar um cronograma de trabalho, distribuir todas as tarefas de modo que pudesse fazer mais de uma tradução simultaneamente, o que me possibilitaria entregá-las dentro de um prazo menor. Isso agradaria meus clientes.

Finalmente minha rotina voltava à normalidade depois de Londres e dos altos e baixos que sucederam ao meu retorno.

Era bom ocupar meus pensamentos com coisas concretas e que não envolviam tantas emoções. O trabalho era um terreno firme no qual eu podia caminhar com segurança, ciente de cada passou que dava sem me preocupar em esperar nenhuma retribuição além do retorno financeiro e a satisfação de exercer minha profissão com dedicação e oferecendo o máximo de mim.

Mas antes de retomar as atividades profissionais, ainda precisava cumprir minha última travessura inconseqüente. Corri para os correios para finalmente enviar o cartão de Roger. O dia não estava tão agradável como o domingo. Parece que o humor do meio ambiente também varia de acordo com os dias da semana. O sol estava inclemente produzindo um calor abafado somado ao mormaço, conseqüência do excesso de concreto e pouca arborização na cidade.

Mas dessa vez nada me impediu de postá-la. Meu coração acelerou quando a atendente da agência finalmente colou os selos no envelope. Meus olhos brilhavam de excitação e um sorriso inconsciente brotou em meus lábios quando meu envelope azul se juntou ao mar de correspondências que se formava na esteira que ficava atrás da funcionária, que percebeu minha empolgação, e com um sorriso maroto puxou conversa comigo, curiosa.

- Pelo sorriso em seu rosto, posso apostar que essa cartinha é para alguém especial – Corei ao perceber que realmente estava sorrindo feito uma boba em plena agência de correios.

Sacudi a cabeça de um lado para o outro confusa e respondi, tímida:

- Err... sim, é para uma pessoa especial.

- Namorado, huh?

- Oh, não, não... longe disso!

- Querida, seu sorriso e o brilho em seus olhos dizem o contrário.

“Oh não, será que era tão óbvia assim minha paixonite?” Se ela ao menos soubesse o papel ridículo que estou passando agora. Era uma pena que ela tivesse feito esse comentário depois que minha carta já havia desaparecido em meio à correnteza de envelopes formada sobre a esteira. Caso contrário eu pediria que ela removesse meu envelope azul de lá e o jogasse fora.

“Preciso sair daqui agora. O que está feito, está feito. Não seja covarde!”

- Ah, é apenas um amigo muito querido. – Sorri de volta para ela, desconcertada, me despedi e saí apressadamente, como se estivesse tentando escapar das conseqüências que minha travessura me traria.

Minha sorte estava lançada.

***

Roger PDV

Londres

Sentado diante da grande mesa de mogno no escritório de meu pai Ronald, com a cabeça explodindo de ressaca, o que me fazia lembrar a noitada com meus amigos em um pub na noite passada. Eu havia praticamente desembarcado do aeroporto direto para o bar.

Meus amigos Mark e Simon foram me receber no aeroporto internacional, com um elaborado esquema de disfarce para que eu passasse despercebido. Como eles também eram relativamente conhecidos na mídia, um seguiu por um caminho dentro do saguão despistando alguns possíveis paparazzi, enquanto o outro me aguardava na saída da tripulação, uma porta mais reservada e pouco notada pelo público em geral que, sabendo que sou uma pessoa de hábitos simples, certamente não me importaria em sair junto com os demais passageiros.

Mark despistou a maioria dos fotógrafos na área de desembarque internacional, e Simon encontrou-se comigo e Dave, meu segurança, e nos conduziu até seu carro onde Jim nos aguardava com o motor e aquecimento já ligados. Nos cumprimentamos e seguimos nosso destino, parando um pouco mais adiante para coletar Mark, que nos esperava na outra entrada do aeroporto.

Fomos direto para um velho bar conhecido nosso, nas vizinhanças de onde Jim morava e só saímos de lá quando faltavam alguns minutos para o sol começar a apontar no horizonte e estávamos todos completamente bêbados. Por sorte, ou precaução, Dave não bebia em serviço, portanto conduziu o carro de Simon deixando cada um de nós, um a um em suas residências, como se fosse um transporte escolar. – Ri para mim mesmo com a comparação ridícula.

Minha mãe Carly estava tão feliz por eu estar de volta em casa, que nem se importou com minha bebedeira. Coisa que naturalmente faria em outras circunstâncias.

Era bom estar de volta em casa depois de duas exaustivas semanas nos EUA em eventos promocionais do último filme da Trilogia “A Profecia dos Deuses” na qual trabalhei pelos últimos dois anos e conheci Cathy Seymour, minha parceira nos filmes, e agora na vida real.

Não vou negar que já estou de saco cheio de tudo isso. Reconheço que soa um pouco egoísta e ingrato da minha parte me referir dessa maneira a um trabalho que me ofereceu tantas oportunidades e me permitiu atingir um patamar que eu não esperava alcançar tão cedo, não fosse o grande sucesso dessa franquia que me lançou imediatamente ao estrelato.

Mas toda rosa tem seus espinhos, e às vezes essa atenção excessiva cansa. Não tive muito tempo para me acostumar com as vantagens e desvantagens de ser famoso.

Para complicar mais as coisas, meu relacionamento com Cathy era constantemente dissecado nos tablóides, sites de fofocas e programas de televisão, que faziam previsões de quanto tempo ficaríamos juntos, testavam se nossos signos eram compatíveis, enviavam seus fotógrafos inconvenientes que nos perseguiam cada vez que saíamos de casa. E cada saída era motivo para uma grande manchete espetacular: “O ‘casal avestruz’- Sim, a mídia fez o favor de nos honrar com esse apelido bizarro - R-Peter e CatSey finalmente desenterra suas carinhas lindas para fazer as compras domésticas. Para que casar, se já vivem como um verdadeiro casal da vida real?”

Era isso que mais me irritava em morar nos Estados Unidos. Era impossível levar uma vida normal naquele país onde as pessoas são obcecadas em espiar a vida alheia, como se fossem um monte de abutres, prontos para atacar ao menor sinal de fraqueza, ou carne exposta. Detestável. Simplesmente detestável.

Tentávamos nos manter reservados em relação a nossos assuntos pessoais, mas era inegável que todo esse alvoroço nos afetava diretamente, ocasionando constantes discussões entre nós, na maioria das vezes por que tínhamos formas bastante diferentes de encarar tudo isso.

Cathy era uma garota linda. Alta, com a pele levemente dourada, que quando pegava um pouco de sol ficava com um bronzeado adorável que combinava perfeitamente com suas madeixas loiras que caíam sobre seus ombros e costas feito uma cascata de ouro, e ressaltavam ainda mais o verde-escuro de seus olhos. Ela era uma verdadeira garota da Califórnia. Tinha amigos descolados que passavam muitas horas conosco nos longos períodos em que eu fixava residência por lá. Nos divertíamos bastante juntos, e acredito que muito disso era favorecido pelo fato de fazermos parte de um meio em comum.

No entanto, quando se tratava de visibilidade, Cathy era o oposto de mim. Eu não era muito bom em aparições públicas. Até me divertia dando atenção a todas aquelas pessoas que ficavam horas esperando por minha aparição. Mas sempre rezava para passar despercebido e saía de casa com meu espírito preparado cada vez que ia participar de um evento relacionado a trabalho.

Já minha namorada, bem ela gostava de atenção. Digo, ela gostava mesmo de atenção. Não só minha, como do resto do mundo. Ela encarava os tapetes vermelhos como um momento sagrado onde ela dava tudo de si para parecer o mais deslumbrante possível. Porém, ela não tinha muita paciência com pessoas gritando ao seu redor. Então, creio eu, combinávamos perfeitamente: ela me dava força enquanto atravessávamos o ‘tapete da morte’, como eu havia apelidado, e eu a ajudava na hora de encarar o mar de fãs e fotógrafos que se formava sempre que aparecíamos juntos.

As duas últimas semanas que passamos divulgando o filme foram uma tortura para mim e o paraíso para ela. Havíamos conversado exaustivamente sobre nossas diferenças naquele fatídico dia chuvoso ainda em Londres, há duas semanas atrás, quando perdi a paciência e saí caminhando na chuva e deixei-a sozinha no café, para só depois perceber que alguns paparazzi estavam nos observando a algumas horas. Que inferno!

Corri o quanto pude e me enfiei na primeira porta aberta que vi. Era a Barnes & Noble, se não me engano. Lembrei da garota nervosa que esbarrei ao entrar na livraria. Fiquei tão atordoado que mal consegui me desculpar apropriadamente. Coitada, deve ter ficado com uma péssima impressão de mim. Sua reação quando saí do meu esconderijo foi a prova disso. – Sorri com a lembrança dela transtornada, me dando uma lição de moral com todas suas forças. Parecia uma gatinha brava tentando se defender de um leão. Tão bonitinha...

Sacudi a cabeça, mandando para longe todos os devaneios, tomei um gole em minha caneca de café e me ajeitei na cadeira, planejando cumprir o que havia prometido à minha agente antes de deixar os EUA. Iria conferir toda minha correspondência e em seguida nos encontraríamos em seu escritório aqui em Londres.

Observei atentamente toda a papelada disposta organizadamente em pequenos grupos de envelopes enrolados com um barbante, alguns grandes, outros menores, alguns volumosos, outros muito pequenos para serem notados, tentando decidir por onde começar. “Isso pode levar dias.” Pensei ao encarar o festival de pilhas de correspondência.

Sarah como sempre procurou facilitar minha vida separando-as em pequenas pilhas classificadas por dia do mês, e colocando observações com post-its coloridos para que eu pudesse identificar a importância de cada um. Era o trabalho de uma perfeccionista inveterada.

Eu já sabia decorado o significado de cada cor: o laranja era o mais urgente de todos, convites para grandes eventos, premiações, entrevistas, etc. O verde representava tudo relacionado a despesas, grande parte somente a título de conferência, pois em sua maioria já havias sido devidamente saldados pelo meu contador. O azul reunia tudo que fosse relacionado à minha família, amigos, e demais assuntos pessoais. Os cor-de-rosa eram os roteiros. E finalmente, o mais divertido para mim: os amarelos. Eram as correspondências de fãs do mundo inteiro.

Infelizmente nem sempre era possível dar conta da quantidade de cartas que a agência recebia de todos os continentes, mas eles faziam uma espécie de triagem, por questão de segurança, para evitar que algum tipo de ameaça chegasse até mim. Eu achava bobagem, mas era algo que precisava ser feito, e no final das contas facilitava as coisas para mim. Era o mínimo que eu poderia fazer por essas pessoas que me colocaram nessa posição confortável na qual vivo hoje.

Para me animar um pouco e afastar a ressaca decidi começar pela pilha de cartas de fãs. Acho que precisaria de um dia inteiro só para ler e responder todas. Eram muitas, cerca de duzentas cartas e pequenos pacotes. Presentes de verdade. A essa altura eu já havia recebido todo tipo de assédio imaginável, desde pedidos de casamento, a tímidas declarações de admiração pelo meu trabalho.

Eu sempre ficava me perguntando se essas pessoas têm noção de que sou um cara normal, como o vizinho delas provavelmente, e não um galã de Hollywood, como tentam pintar a todo custo. Fico muito satisfeito e lisonjeado com os elogios vindos das fãs, mas sempre tenho a impressão de que sua admiração não passa de uma reação hormonal à minha boa aparência. Mesmo assim, me fazia bem ver quantas pessoas dedicavam seu tempo a mim, me desejando sempre o melhor, às vezes até estendendo seu amor à minha família, o que eu achava simplesmente incrível. Minha mãe adora tudo isso. Costumo separar as cartas nas quais as fãs mencionam minha família e mostro de uma por uma a ela, que as guarda carinhosamente em uma caixinha que decorou especialmente para as cartas de fãs de seu filhinho.

Abri primeiro os pacotes de presentes. Eram menor quantidade e definitivamente mais excitantes. Algumas fãs eram muito criativas em seus presentes.

Desta vez recebi uma camisa legal com uns gráficos retrôs, espero que caiba em mim. Assim não precisarei enfrentar o inferno para comprar roupa nas lojas de departamento que costumava freqüentar antes da fama. Entre outros presentes, o que mais me chamou atenção foi um porta-retratos em preto-e-branco com mosaicos de vidro. Uma verdadeira obra de artesanato. Na carta, a fã dizia que ela mesma havia feito a peça, e que lhe demorou cerca de duas semanas para ficar pronto. Impressionante. Respondi sua carta imediatamente, autografando uma foto minha do meu personagem ‘Troy’ em “Nada é para Sempre”, filme que gravei nos intervalos de gravações de “A Profecia dos Deuses” e que teve lançamento quase simultâneo com o último capítulo da trilogia. Felizmente a crítica estava recebendo bem o filme e elogiando meu “esforço para me desvincular da franquia que colocou meu nome entre as grandes estrelas de Hollywood.”

“Acho que ela está tentando me agradar. Mostrar que não é mais uma das pessoas que só se importava com meu papel na trilogia.” Fiquei satisfeito com isso. Na carta ela também diz que sua idade mais madura lhe dá experiência suficiente para reconhecer um verdadeiro talento quando se depara com um, e foi isso que aconteceu quando ela me viu pela primeira vez nas telas.

Ganhei meu dia. Eu amo minhas fãs!

Continuei lendo avidamente as cartas e autografando todas, uma a uma. Meu estado de espírito mudava de acordo com o conteúdo das mensagens. Algumas contavam seus dramas pessoais, diziam que a única alegria de suas vidas era me ver nos filmes. Isso era muito inspirador. Como não me sentir abençoado por ter o poder de proporcionar uma felicidade extrema a alguém tão sofrido, apenas por escrever algumas palavras? Não posso nunca me queixar do que tenho hoje, quando há tantas pessoas passando por maus bocados por aí.

Algumas outras cartas me faziam rir bastante. Fãs quando queriam chamar atenção eram verdadeiramente hilárias. Algumas enviavam fotos de si próprias usando roupas íntimas, outras escreviam “Eu te amo” um milhão de vezes em uma faixa de papel que chegava a medir mais de dois metros de comprimento...

No meio dos envelopes se destacava um azul, de tamanho comum, mas acho que chamou minha atenção por ser minha cor favorita.

Quando o abri, havia uma espécie de cartão postal com uma foto curiosa. Eram prateleiras de vidro repletas de livros, DVDs, CDs, e umas miniaturas de guitarra muito legais! Uma delas era meu modelo favorito, a clássica Les Paul semi-acústica, guitarra muito usada para tocar blues. Também tinha uma ESP Explorer e uma modelo Fender Stratocaster. “Essa garota curte Rock n’ Roll,” pensei bem-humorado. Observei mais atentamente os títulos dos DVDs e livros. Havia uma edição em inglês atualizada da obra de Shakespeare – “Hum, Dostoiévski...” – e alguns outros títulos que eu não soube identificar porque eram em outro idioma. Talvez espanhol ou português.

Imediatamente uma série de curiosidades invadiu minha cabeça, me bateu uma vontade de conversar com essa garota, ela parecia ter algumas coisas em comum comigo. Trocar idéias com desconhecidos é uma coisa que me agrada muito, mas ultimamente não posso mais praticar isso, já que, para mim as pessoas são desconhecidas, mas o contrário não acontece.

Virei o cartão para ver se havia algo escrito e fiquei ainda mais intrigado com o que encontrei:

Não sei por que estou fazendo isso. Também não faço idéia de por que você me deu este endereço. Aquele foi o pedido de desculpas mais estranhos que já recebi. Se foi este o caso, bem, está desculpado. Espero que meu pequeno monólogo não o tenha assustado a ponto de tirar-lhe a noite de sono...

 Não espero que lembre-se de mim nem do acontecido. Mas acredito que você merecia uma resposta. Seguindo seu padrão enigmático, para saber quem eu sou, basta observar o que está retratado nesta foto. Tudo diz um pouco sobre mim. Se é que você se importa...

Seja feliz,

A.C.”

"Como assim?"

Li e reli a curta mensagem várias vezes completamente atônito. A forma como essa garota, A.C., se dirigia a mim, parecia que já me conhecia. Quer dizer, todas se dirigem a mim como se me conhecessem de longa data, mas esta em especial, parecia que já havia me encontrado pessoalmente... E ela menciona um pedido de desculpas? Que desculpas? Pelo quê? Nada do que estava dito naquele cartão fazia o menor sentido para mim.

Peguei o envelope e chequei o carimbo para ver de onde esta carta havia sido enviada: Brasil???

Minha mente ficou completamente atrapalhada e, sem perceber, mergulhei em uma concentração tão profunda procurando encontrar em minha memória algo que tivesse relação com o que estava escrito na carta, que acabei adormecendo lá mesmo na cadeira do escritório do meu pai.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do PDV do Roger? E do apelidinho dele? Hehe... digam o que acharam, adorei escrever este capítulo, quero saber se vocês gostaram tanto quanto eu!
Não percam o próximo cap!!