Coração Satélite escrita por Ayelee


Capítulo 20
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, tudo bem? Olha eu aqui de novo com mais um capítulo de CS! Estava morrendo de saudades, de vocês e dos personagens. :)
Esse capítulo está bem light, eu acho, e tem umas surpresinhas agradáveis.
Espero que gostem.
Não deixem de comentar, vocês sabem que aprecio muito suas opiniões!
Beijos e boa leitura!
P.S: O que acharam do novo banner? Decidi mudar os banners periodicamente, à medida que a história for evoluindo. :)



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Passei a tarde procurando alguma coisa que pudesse usar como fantasia na tal festa esta noite. Claro que o Davi não tinha me avisado sobre isso, mas com a ajuda da Carina, conseguimos bolar alguma coisa parecida com o visual da Janis Joplin. Foi o máximo que eu consegui, e pelo menos era algo que tinha a ver comigo. Não tinha calça boca-de-sino, então tive que me contentar com meu jeans skinny. Vesti uma camisa estampada bem colorida com um colete de rendas que peguei emprestado da Carina, pendurei um monte de colares de miçangas no pescoço, várias pulseiras nos dois braços e uma sandália rasteirinha. Para completar minha ‘fantasia’, sacudi o cabelo várias vezes no ar para ficar com aquele aspecto selvagem dos anos 70. Não era bem uma fantasia, mas eu estava me sentindo bem – fora minhas costas, ombros e outras partes do corpo ardendo. Para minha sorte, a camisa estampada tinha mangas, então deu para encobrir minha pele queimada, tom vermelho-paixão. Ai!

Esta tarde Davi maneirou mais na bebedeira, toda hora subia até o apartamento para ver como eu estava, perguntava se eu já tinha comido, se minha pele ainda estava ardendo, se eu não queria descer e ficar um pouco com a turma no deck. Recusei as ofertas gentilmente, satisfeita em vê-lo tão atencioso comigo e por ele não estar bêbado como um gambá. No final das contas, acho que todo aquele alvoroço de ontem não passava de excitação do primeiro dia.

Quando saí do quarto toda pronta, a sala estava repleta de personagens de desenho animado, super heróis e personagens de ficção. Todos estavam bem humorados e conversavam animadamente quando apareci, distraindo-os de suas conversas.

O primeiro que reparei foi João, com uma cara de vergonha, fantasiado de Edward Cullen, com uma camisa de malha gola V e uma jaqueta preta com a gola levantada, estava até de lente cor de mel, com topete e maquiagem branca. Natália estava fantasiada de Bella Vamp - ridícula, pele morena, com a cara coberta de pó branco, parecendo massa corrida - com lentes vermelhas, um vestido azul mega curto e colado - o ‘toque personalizado’. Eu imediatamente pensei “Ótimo, Edward Corno e Bella Vadia”. Coitado do João.

A amiga vadia de Natália estava com uma fantasia tão óbvia quanto vulgar: de enfermeira sexy, com um corselet branco, saia curtinha, cinta-liga, e um chapeuzinho de enfermeira.Carina estava com uma fantasia muito bonitinha de Minnie e o Léo era Thor, com uma peruca loira ridícula, um martelo de borracha na mão e chapéu de viking. Havia mais duas pessoas na sala, um fantasiado de Homem Aranha, com máscara e tudo, e o outro – um cara que nunca vi na vida – não consegui identificar bem sua fantasia, era algo entre a roupa do He-man e Sansão, e resumia-se a uma sunga marrom com pedaços de tecido pendurados, um verdadeiro trapo. Por eliminação, deduzi que o Homem Aranha só podia ser o Davi. É claro que ele iria exibir o físico sarado naquele collant azul e vermelho!

O Sansão aproximou-se de mim apresentando-se:

– Oi, meu nome é Henrique! Você que é a namorada do Davi?

– Oi, prazer, sou Mary Jane.

Todo mundo caiu na risada. Davi correu para meu lado e me abraçou, esquecendo-se que eu estava com a pele dolorida.

–Ai...

– Desculpa amor! – Imediatamente me soltou, tirou a máscara e me deu um selinho. – Como você sabia que eu era o Homem Aranha?

– Deduzi por eliminação. – Sorri para o Henrique, curiosa para saber quem era esse ‘novo’ amigo.

– E você está fantasiada de quê? Hippie? – Todos questionaram curiosos.

– Bem, mais ou menos. Esta noite serei Janis Joplin, sorri timidamente.

– Janis quem? – Perguntou a Bella Vadia.

– Janis Joplin, uma das melhores cantoras de rock de todos os tempos. – Respondeu João impaciente.

– Isso. – Assenti aliviada, pelo menos uma pessoa sabia do que eu estava falando.

– Ah... – Natália murmurou torcendo o nariz – você gosta de umas coisas esquisitas né, Ally?

– Olha quem fala... – Sibilei por entre os dentes, quase inaudível. E então abri um sorriso forçado.

– Estamos prontos? Vamos nessa? – Davi interrompeu animado.

Não posso negar, a festa estava muito divertida, principalmente pelas fantasias engraçadíssimas que as pessoas usavam. João sentiu-se menos envergonhado depois que viu mais uns três exemplares de Edward Cullen, um mais gordinho, outro moreno bem alto e outro de cabelos cacheados. Todos com suas respectivas Bellas, sendo que mais próximas do original com cara de ameba. A única Bella Vadia era a Natália, o que a fez se sentir especial por ser “diferente”.

Estava tão contagiada pelo clima animado na festa, que até ensaiei uns passinhos de axé junto com Carina e os rapazes. “Então esse é um Carnaval verdadeiramente divertido,” pensei comigo mesma. Henrique e Davi estavam eufóricos, tirando onda com as fantasias de outras pessoas. Por alguns minutos fiquei preocupada de alguém se irritar com a impertinência deles e começar uma briga, mas depois desencanei ao perceber que todos queriam mesmo era brincar. De vez em quando a dupla desaparecia e retornava minutos depois com as mãos cheias de latinhas de cerveja. Distribuíam entre si e continuavam a brincadeira.

Suellen, a enfermeira vadia amiga da Natália, não perdia uma oportunidade de se oferecer para os garotos, mesmo sabendo que alguns tinham namorada, ela não se incomodava. Não me preocupei, pois sabia que por mais que ele adorasse fazer sucesso com as meninas, Davi nunca ficaria com outra garota –não na minha frente. Entre uma brincadeira e outra, ele vinha me abraçar, me beijar, se meter nas nossas conversas e fazer gracinhas.

A certo ponto da noite, Davi saiu mais uma vez para comprar mais bebida com Henrique. Meus pés já estavam começando a doer de tanto ficar em pé e dançar, então peguei uma cadeira de plástico que estava desocupada, sentei perto do nosso grupo e continuei conversando e brincando. Passaram-se várias músicas, muitas pessoas já estavam sentadas descansando e já podíamos ver os primeiros sinais do amanhecer pintados de laranja no céu. Eu havia bebido bastante, seguindo o ritmo dos rapazes, bebi mais do que o que estava acostumada. Mas estava apenas me sentindo sonolenta. Tudo bem, um pouco tonta, mas nada alarmante. Com os olhos pesados, e eu já não conseguia mais prestar atenção nas conversas.

Nada do Davi aparecer.

Percebi que a Suellen também não estava na roda. Depois de algum tempo, Henrique chegou sozinho, já bem bêbado, perguntando onde estava o Davi. Comecei a ficar preocupada. Será que ele tinha bebido a ponto de apagar em algum canto de muro daquele clube enorme?

Levantei-me e saí em busca do Davi, preocupada com a volta até o apartamento. Quem o carregaria, se todos os garotos já estavam meio bêbados? Eu e as meninas? Isso não ia dar certo.

Encontrá-lo foi mais difícil do que eu imaginava. De cada trinta pessoas, uma estava fantasiada de Homem Aranha, tirando os que tinha estrutura física obviamente diferente do Davi, ainda assim estava difícil identificar qual daqueles Homens Aranha era ele.

Lá nos fundos do clube avistei o que parecia com a fantasia de enfermeira vadia da Suellen, ela estava beijando um cara fantasiado de HOMEM ARANHA! A máscara estava levantada somente até o nariz do rapaz, o suficiente apenas para os dois se devorarem num beijo escandaloso até para um filme com censura 18 anos.

Aquela cena me revirou o estômago. Eu não conseguia acreditar que Davi estava fazendo aquilo comigo. Eu não merecia. Logo com aquela oferecida descarada, que falta de consideração. Eu estava tão cansada que senti apenas a boca seca, as pernas trêmulas e de repente tudo ao meu redor começou a escurecer até que eu apaguei.

Despertei nos braços do Davi, ele não estava tão bêbado quanto eu imaginava, mas eu não havia esquecido a cena que acabara de testemunhar. Ele me olhava atentamente, visivelmente preocupado com meu estado, perguntando a todos se alguém sabia o que tinha acontecido comigo. Todos os nossos amigos nos cercavam, Carina segurava minha mão e me oferecia água. Juntei o pouco de energia que me restava e comecei a esmurrar Davi, perguntando repetidamente entre soluços de choro:

– Por quê você fez isso comigo? Por quê? Por quê?

– Eu? Eu não fiz nada, Ally, do que você está falando?

– Eu vi! Eu vi com meus próprios olhos! – E continuei esbofeteando seu peito e sacudindo as pernas freneticamente na tentativa de me desvencilhar de seus braços. Mas ele era mais forte que eu e não me soltava de seu abraço.

– O que você viu Ally? – Perguntou confuso.

Olhei ao redor na direção de onde havia avistado Suellen beijando o Homem Aranha. Ela estava junto com Natália e as outras pessoas ao nosso redor, e ao seu lado, um Homem Aranha?

– Você... você... – murmurei confusa olhando para o casal e depois para Davi. E então percebi que havia me equivocado. Aquele não era o meu Homem Aranha. Davi não havia me traído com a enfermeira vadia!

Confusa e sem graça, encolhi os ombro e abracei Davi com força, chorando e pedindo desculpas entre soluços. Ao notar o cara ao lado de Suellen com uma fantasia igual à sua, ele juntou os pontinhos e entendeu o por quê do meu ‘surto’. E então me abraçou com força, pedindo desculpa por ter me deixado tão insegura a ponto de não confiar mais nele.

Voltamos todos juntos caminhando pela praia. Eu quase apoiada no corpo do Davi, nem me dei conta quando chegamos no apartamento. Davi me colocou na cama, tirou minhas sandálias, colares e pulseiras. Meio acordada, eu sentia tudo o que acontecia como se estivesse sonhando. Depois de retirar todos os acessórios, Davi gentilmente abriu o botão e o zíper da minha calça, pediu licença baixinho e retirou minha calça delicadamente para não me “acordar”. Eu deveria estar com vergonha, mas naquele momento estava ainda tão inebriada, sonolenta, que não conseguia nem abrir os olhos. Eu sorria levemente, com uma sensação agradável. Eu adorava ter o Davi cuidando de mim. Ele pediu licença novamente, sentou-se atrás de mim apoiando minhas costas em seu peito e retirou meu colete de renda, depois a camisa estampada. Cada movimento seu era muito sutil, cuidadoso para não machucar minha pele. Senti seus lábios mornos beijando meu ombro, desceu um frio na minha barriga, mas permaneci imóvel, apenas desfrutando aquela sensação maravilhosa de “ser cuidada”.

Em seguida, Davi segurou minhas mãos e passou as mangas de uma camisa de malha pelos meus braços, depois pela minha cabeça e a esticou até cobrir meu corpo inteiro.

“O quê? Achei que ele fosse... Lógico que não Ally, você acha que seu namorado se aproveitaria de você nesse estado, quase desacordada? Que tipo de loucura é essa?”

Balancei a cabeça freneticamente para espantar aquela ideia da cabeça. Davi assustou-se pensando que eu estava incomodada.

– Desculpa, amor! Eu só estava trocando sua roupa para você dormir mais confortável. – Explicou-se.

Abri os olhos momentaneamente e fitei seus olhos arregalados, na expectativa da minha reação. Tão lindo! Toquei seu rosto com as pontas dos dedos, traçando o contorno dos seus olhos, nariz, mandíbula, abri um sorriso e adormeci de vez.

Acordei com calor, já devia passar de meio dia. Minha cabeça repousava no peito de Davi e abraçava sua cintura. Fiquei quietinha alguns minutos, apenas respirando leve, inalando o perfume suave de sabonete que emanava de sua pele morna. Era a segunda noite que dormíamos juntos, e, para mim, a sensação era maravilhosa.

Davi era adorável quando não estava sendo chato. E era por esses momentos preciosos que ele era carinhoso, meigo e fofo que eu o amava. Vê-lo dormindo como um anjo me fazia esquecer todas as chateações que ele me fazia e alimentava minha esperança de que um dia vamos acertar nossos ponteiros e acabar com os atritos. No fundo, eu esperava que Davi amadurecesse. Esse era o grande problema. Ele era formado, já trabalhava e era economicamente independente, mas nunca deixou de ser um garoto. Já passara da hora de ele se tornar um homem pleno.

Permaneci imóvel deitada sobre Davi, acariciando seu abdômen com as pontas dos dedos, mapeando seu corpo com a palma da minha mão. Eventualmente ele acordou. Deu um grande bocejo, espreguiçou-se e fitou-me sorrindo, como se estivesse surpreso ao me encontrar ali.

– Bom dia! – Murmurou preguiçosamente, apertando-me contra si.

– Bom dia! Por que você está sorrindo assim? – Indaguei curiosa.

– Hum... não sei se você percebeu, mas você está vestindo minha camisa.

– Sua camisa? – Afastei-me um pouco de seu corpo, para constatar que estava realmente vestida com uma camisa dele. E nada mais além das minhas roupas íntimas. – Ué, não lembro de ter trocado de roupa antes de dormir.

Davi sorriu me provocando.

– Eu troquei você.

– Você me trocou? Como assim? Eu estava dormindo? O que aconteceu? – Perguntei curiosa, sem conseguir me recordar completamente do que aconteceu depois que chegamos em casa. Só lembrava que viemos caminhando pela praia e eu estava muito tonta e sonolenta, me apoiando no Davi.

– Foi, amor. Você estava com muito sono. Mas olha, não tirei casquinha de você, viu? Se é isso que está pensando! – Respondeu na defensiva.

– Não estou pensando nada, seu bobo. Só não consigo lembrar direito o que aconteceu. Então você deu uma de babá?

– Claro, não podia deixar você dormir com aquele monte de roupa, toda desconfortável. Além do mais, foi um prazer! Tentei conversar com você enquanto tirava sua roupa, mas você só gemia coisas sem sentido e sorria. Você até disse que me amava...

– Eu disse? – Perguntei surpresa e ao mesmo tempo sem graça.

– Disse sim. – Sorriu satisfeito. – Seu corpo é lindo, sabia disso?

– Cadê aquele cara que disse que não tirou casquinha mesmo?

– Espera aí, olhar não arranca pedaço. Não vou mentir que a tentação de lhe acordar para fazer amor com você foi grande. Mas seria muita grosseria da minha parte.

– Quem é você? Cadê o Davi? – Provoquei, cutucando sua barriga e deitando-me sobre ele.

– Tá vendo? Não entendo você. Quando eu faço coisas legais você fica tirando sarro, como se preferisse que eu fosse grosso o tempo inteiro!

Percebi que ele estava a um passo de ficar chateado, então, para quebrar o clima, procurei mostrar quão satisfeita e feliz estava com tudo o que ele fez por mim.

– Não é isso, amor! Eu estou nas nuvens com tudo o que você fez por mim ontem. Você foi realmente incrível, um namorado exemplar. Só queria que fosse sempre assim.

Acariciei seu queixo, depositando beijos suaves por todo seu rosto. Ele relaxou, enlaçou minha cintura com os dois braços e me puxou para um beijo apaixonado.

Quando as coisas estavam esquentando, fomos surpreendidos com batidas fortes na porta do quarto.

– Davi, acorda seu preguiçoso de uma figa. Já são duas da tarde, pô!

Reconhecemos a voz de Henrique. Ele falava alto e animadamente. Percebemos que havia outras vozes vindo da sala, e pela insistência das batidas na porta, Henrique não desistiria enquanto Davi não saísse do quarto.

Suspiramos profundamente, trocamos outro beijo longo e apaixonado, e então eu corri para o banheiro para tomar um banho e me vestir.

Quando saí do banheiro, todos, inclusive Davi, já estavam lá embaixo nas mesas do condomínio.

“Ele desceu sem ao menos escovar os dentes?” Exalei.

Tomei um café da manhã reforçado e sem pressa. Pretendia descer para curtir um pouco com Carina, Léo e João e depois voltar ao apartamento para trabalhar um pouco. Estava cheia de energia e feliz.

Todos perceberam minha mudança, inclusive a tal da Suellen, que ficou me medindo de cima a baixo, como se eu fosse um alienígena.

“Além de vadia, é recalcada.” Pensei triunfante. “Hoje nem ela vai ser capaz de arruinar meu humor.” Dei um sorrisinho vitorioso para ela, como um cumprimento, o qual ela retribuiu muito a contragosto, o que me deixou ainda mais satisfeita.

Se ela pensava que com aquele visual apelativo de sex shop conseguiria botar as patas em Davi ontem, enganou-se perdidamente. Ele só tinha olhos para mim, e eu estava confiante disso.

O restante da tarde decorreu tranquilamente, eu estava feliz por reforçar os laços de amizade com os amigos do Davi, o que era algo importante para mim. Tudo bem que o Henrique era muito excêntrico, barulhento e às vezes inconveniente, mas era também divertido e amigável.

Com o cair da noite, subi para tomar uma ducha, lanchar e trabalhar um pouco. Por mais que finalmente estivesse curtindo o Carnaval de verdade, precisava concluir a meta de trabalho que havia estabelecido para o feriado.

O apartamento quieto e vazio era o ambiente perfeito para pôr a mão na massa. Quando liguei o notebook, lembrei imediatamente que ainda não tinha respondido o email do Roger.

Como conseguiria escapar de suas investidas tentando descobrir minha identidade? E se quando ele descobrisse, perdesse o interesse? Eu não sabia o que fazer. Mas queria responder imediatamente. Ter notícias dele era algo viciante. Queria muito poder conversar com ele e trocar idéias. Roger parecia ser um cara inteligente, com senso de humor e muito amável. Será que era muita pretensão da minha parte desejar esse tipo de liberdade?

Bem, só ele poderia estabelecer os limites. O que ele estiver disposto a oferecer, eu aceitarei.

Abri os arquivos do meu trabalho, entrei no MSN, e acessei meu email. Nenhuma novidade além dos spams usuais.

Reli a mensagem “Blue Envelope” várias vezes. Sorri a cada palavra imaginando-as saindo da própria boca do Roger. O que ele estaria fazendo quando me escreveu este email? Onde estaria? E a tal da Cathy, será que não monitora as mensagens dele?

Que horas deveriam ser em Londres? Bem, se aqui já eram cerca de seis e meia da noite, lá deveria ser dez e meia da noite. Era domingo de Carnaval aqui. Será que ele trabalha dia de domingo? À noite?

Comecei a digitar minha resposta em um impulso, sem pensar muito ou escolher as palavras certas. Apenas escrevi de forma sincera o que passava pela minha cabeça.

“Olá, garoto do cinema, como vai?

Também fiquei surpresa com sua resposta rápida por email. Por algum motivo achei que você era um cara muito ocupado. :)

Devo lhe dizer que não há o que ser perdoado, não tem obrigação nenhuma para comigo. Mas fico feliz por ter se preocupado. Foi muito gentil de sua parte.

‘Blue Envelope’, bem autêntico, gostei. E azul é minha cor favorita, então, por mim, está tudo ok quanto ao nome escolhido.

Que engraçado, também sinto que o conheço a muito tempo... confesso que ver seu nome nos noticiários quase que diariamente ajuda a reforçar essa sensação. Rs.

Não sei se estou preparada para revelar minha identidade. Espero que compreenda minha posição. Aprecio muito sua atenção para arriscar perdê-la justo agora. Peço-lhe um pouco mais de paciência, se puder.

Enquanto isso, aguardo ansiosamente sua resposta.

Beijos e até a próxima [eu espero],

Ally C.

P.S.: Uma informação sobre mim, se é que lhe interessa: amo livros e heavy metal. : )”

Reli rapidamente a mensagem e apertei em “Enviar” antes de mudar de ideia quanto ao conteúdo. Suspirei sorrindo, sentindo um friozinho na barriga, daqueles quando a gente faz alguma traquinagem.

Retomei meu trabalho, procurando não ficar sonhando acordada com as possíveis reações do Roger ao ler minhas palavras. Quanto atrevimento! Mas agora estava feito, não tinha como voltar atrás. De repente ele até poderia dar boas risadas me achando uma completa maluca.

Passaram-se cerca de vinte minutos depois que havia enviado o email, quando surge uma janelinha no canto direito da tela do notebook. Tinha até esquecido que o MSN estava ligado.

A mensagem na janelinha dizia:

“Garoto do Cinema (blueenvelope@im.co.uk*) acaba de adicioná-la em seus contatos. Deseja aceitar?”

*Obs:Endereço de email é fictício, criado exclusivamente para esta história. Qualquer relação com algum email real é mera coincidência.

Ai-meu-Deus!

Ele está online! E já leu minha mensagem?! E não está com raiva de mim?!

Congelei no meu lugar por alguns segundos antes de aceitar o convite. Não estava preparada para aquilo. Conversar em tempo real com Roger Peterson... Que coisa mais surreal!

Dei um pulo da cadeira, saí pinotando pelo apartamento feito uma criança até ficar sem fôlego. Quase esqueci que ainda não tinha aceitado o convite, ele poderia sair da internet a qualquer momento. Então corri até a cozinha, bebi um copo de água para acalmar minha excitação e finalmente sentei-me de volta diante do notebook e cliquei “Aceitar”.

Imediatamente subiu uma janelinha de conversa.

Garoto do Cinema diz:

Ally? É você? Boa noite.

Ally Curtis diz:

Oi! Sim, sou eu! Boa noite. :)

Garoto do Cinema diz:

É a minha Ally mesmo? Quero dizer, a Ally das cartas? Como pode provar que é você mesmo?

Ally Curtis diz:

E eu que pensava que eu era desconfiada...

Garoto do Cinema diz:

Desculpe, mas você sabe, não posso me expor.

Ally Curtis diz:

Eu entendo. Bem, como posso provar que sou eu?

Garoto do Cinema diz:

Ligando a webcam já ajudaria...

Ally Curtis diz:

Você está blefando. Não é justo!

Garoto do Cinema diz:

Blefando? Por que eu iria blefar com você?

Ally Curtis diz:

Duh, para me forçar a revelar minha identidade!

Garoto do Cinema diz:

Hahaha! Você é esperta, gostei.

[“OMG, ele gostou de mim!” – Dando pulinhos imaginários pelo apartamento.]

Garoto do Cinema diz:

Mas por quê você tem receio de revelar sua identidade? Acha que vou sair correndo para as colinas quando descobrir quem você é?

Não se preocupe, isso não vai acontecer. Eu garanto.

Ally Curtis diz:

Como pode ter tanta certeza? E se você lembrar de quando nos encontramos e não gostar?

Garoto do Cinema diz:

Estou aqui agora falando com você, não estou? Acha que dou cabimento para toda garota que me envia cartas enigmáticas?

Ally Curtis diz:

...

Garoto do Cinema diz:

O quê? Acha mesmo que eu dou? Agora fiquei ofendido!

Ally Curtis diz:

Desculpa. Isso tudo é muito surreal, não consigo acreditar que a pessoa que está falando comigo agora é Roger Peterson. Quer dizer, poderia ser qualquer um se divertindo às minhas custas, concorda?

Garoto do Cinema diz:

Bem, como pode perceber, esta relação precisa basear-se em confiança. Eu poderia ligar a webcam, para lhe provar que eu sou eu mesmo. Mas gostaria de poder vê-la também e acabar com esse mistério. Preciso saber para quem estou me expondo. Sou uma pessoa pública. Seria muito melhor se você aceitasse.

[Hesitei pelo que pareceu uma eternidade. Ele tinha razão quanto a expor sua identidade. Ele é uma pessoa pública. Eu poderia ser uma maluca qualquer à procura de uma chance de explorá-lo. Diante do meu “silêncio”, Roger pareceu ansioso e insistiu:]

Garoto do Cinema diz:

Se está preocupada com sua aparência, fique sabendo que isso não me importa. Você pode achar que sou o galã de cinema famoso e superficial, mas eu realmente sou apenas um cara como outro qualquer, como seu vizinho, sei lá.

Ally Curtis diz:

Não é isso... você tem razão...

Garoto do Cinema diz:

Então o que lhe preocupa tanto?

Ally Curtis diz:

É que.... as circunstâncias em que “nos conhecemos”... quer dizer...

Garoto do Cinema diz:

Por quê “nos conhecemos” entre aspas?

Ally Curtis diz:

Por que... na verdade não fomos apresentados. É isso.

Garoto do Cinema diz:

Ah não? Então nunca nos falamos?

Ally Curtis diz:

Não! Quer dizer, sim. Nos falamos sim... mas foi uma situação meio incomum. Eu não fui muito educada com você...

Garoto do Cinema diz:

Hum...E quando isso aconteceu?

Ally Curtis diz:

Em outubro do ano passado, faz uns 4 meses...

Garoto do Cinema diz:

Sei, em Londres?

Ally Curtis diz:

Sim.

Garoto do Cinema diz:

Por favor, Ally, liga a webcam, deixe-me ver se reconheço seu rosto? Seria tão mais fácil. Prometo que não vou sumir. Dou minha palavra!

Ally Curtis diz:

Hum, ok... pode esperar um minutinho?

Garoto do Cinema diz:

Claro!

[“Um minutinho? Como vou conseguir fazer uma cirurgia plástica em apenas um minutinho? Deus, o que eu faço, ele vai me odiar! Se colocar maquiagem, vai perceber e vou parecer uma boba. E eu ainda estou de biquíni e entrada de banho!” Corri até o banheiro, dei uma conferida no meu rosto. Ainda estava muito bronzeado da insolação do dia anterior, mas minha pele parecia mais luminosa do que de costume, meus olhos brilhavam e, milagrosamente, eu não estava com cara de ressaca. Arrumei o cabelo em uma trança lateral, com alguns fios soltos, respirei fundo e voltei para o notebook com o pensamento “Bem, ele garantiu que não sumiria. E também, o que importa se ele me achar feia? Ora, sou apenas uma anônima que se atreveu a falar com ele, estou esperando o quê da vida?!”]

Ally Curtis diz:

Pronto, voltei!

Garoto do Cinema diz:

ZZZZzzzZZZZzzzzz

Ally Curtis diz:

O que aconteceu?

Garoto do Cinema diz:

O quê? Nada, eu já estava quase dormindo, de tanto esperar!

Ally Curtis diz:

Desculpa!!! Ai que vergonha!

Garoto do Cinema diz:

Deixa disso. Então, está pronta para aparecer na telinha?

Ally Curtis diz:

Não... quer dizer, não tenho escolha né?

Garoto do Cinema diz:

É, não tem escolha!

(Garoto do Cinema está lhe convidando para uma conversa de vídeo. Clique aqui para aceitar)

Ally Curtis diz:

Espera!

Garoto do Cinema diz:

O que foi??

Ally Curtis diz:

Err... olha só, você tem que entender que eu estou nervosa e... não vou conseguir falar com você em inglês! Uma coisa é digitar, outra é falar!

Garoto do Cinema diz:

Tudo bem mocinha cheia de exigências, seu desejo será concedido.

[Abrem-se na janela do MSN as duas telinhas de vídeo. Desligamos o áudio. Qual foi minha surpresa ao ver a cara de Roger cheia de olheiras, cabelo completamente desgrenhado e barba por fazer! Mas nem assim ele conseguia ficar feio. Será que ele estava tentando me fazer sentir melhor? Fiquei me perguntando... “Deus, é ele mesmo! Estou falando com Roger Peterson no MSN. Será que estou sonhando? Se for sonho, por favor, não quero acordar nunca!”]

Garoto do Cinema diz:

Olá moça bonita! :)

Ally Curtis diz:

Tá bom, não precisa tentar me fazer sentir melhor. Soa muito falso, sabia?

Garoto do Cinema diz:

Poxa, estou falando a verdade!

[Abriu um sorriso lindo e tímido, quase perdi o fôlego. Mas tinha que me controlar para não demonstrar tanto minhas reações. Precisava manter em mente que ele estava me vendo o tempo inteiro.]

Garoto do Cinema diz:

Você está bronzeada, está na praia? Você mora perto da praia?

Ally Curtis diz:

Estou na praia. É Carnaval aqui no Brasil, já ouviu falar?

Garoto do Cinema diz:

Claro que já ouvi falar! Interessante. E o que você faz no carnaval?

Ally Curtis diz:

Err... [Como falar isso sem mencionar Davi?] Bem, normalmente aproveito o feriado de quase uma semana para viajar para algum lugar frio. Mas este ano resolvi fazer diferente.

Garoto do Cinema diz:

Você não gosta do Carnaval?

Ally Curtis diz:

Não sei como explicar... bem, eu gosto de Carnaval sim, mas da tradição. Acontece que nas últimas duas décadas as pessoas esqueceram a tradição e o Carnaval passou a ser apenas um motivo para passarem sete dias se embriagando e fazendo bobagem nas ruas, ouvindo música de má qualidade.

Garoto do Cinema diz:

Oooh, você não gosta MESMO hein? Hahaha.

[Às vezes precisava me concentrar para não me distrair cada vez que ele passava a mão nos cabelos ou lambia o lábio inferior enquanto lia minhas respostas.]

Ally Curtis diz:

É, acho que não. Rs.

Garoto do Cinema diz:

Ally...

Me perdoa se eu disser uma coisa?

Ally Curtis diz:

Que coisa?

[Gelei da cabeça aos pés. “Será que ele não quer mais falar comigo?”]

Garoto do Cinema diz:

Não lembro do seu rosto... quer dizer, não consigo lembrar de onde nos conhecemos.

[Roger deu um sorriso apologético e ficou observando fixamente a webcam, estudando minha reação. Fiquei um pouco desapontada, mas o que eu queria? A vida do cara é uma correria, ele deve encontrar com centenas de pessoas toda semana. Por que se lembraria de uma maluca que gritou com ele na livraria no ano passado?]

Ally Curtis diz:

Claro que perdôo! Nos encontramos apenas uma vez, coisa de 5 minutos, como se lembraria?

Garoto do Cinema diz:

Sei... mas você fez uma carinha triste...

[“Droga, ele notou!” Neste momento, ouvi um burburinho alto vindo das escadas. Reconheci a voz de Léo e Carina, da Natália e João. Davi provavelmente viria em seguida, já estava na hora do jantar. Fiquei confusa sem saber o que fazer. Roger deve ter percebido, pois ele logo perguntou:]

Garoto do Cinema diz:

Está acontecendo alguma coisa, Ally?

Ally Curtis diz:

Não, nada demais. São meus amigos chegando da praia. Acho que vou precisar desligar.

Garoto do Cinema diz:

Tão cedo? :(

[Roger fez beicinho e eu quase ataco a tela do notebook para dar um beijo. “Olha a compostura, Alicia!”]

Ally Curtis diz:

É que são várias pessoas, eles não vão me deixar em paz. E é capaz de virem bisbilhotar nossa conversa. Você não quer ter sua identidade revelada, não é?

Garoto do Cinema diz:

Está blefando?

Ally Curtis diz:

Não! É sério, não dá para conversar com esse pessoal aqui...

Garoto do Cinema diz:

Quando podemos nos falar novamente?

Ally Curtis diz:

Bem, o Carnaval acaba na quarta-feira, até lá, estarei por aqui todos os dias. : )

Garoto do Cinema diz:

Nos falamos amanhã nesse mesmo horário? O que acha?

Ally Curtis diz:

[“Isso é vida real? Eu não só falei com Roger Peterson por webcam, mas ele está pedindo para falar comigo novamente amanhã? Alguém me belisca!”]

Por mim tudo bem.

Garoto do Cinema diz:

Então fica combinado! Caso eu não possa aparecer por algum motivo, envio um email avisando. E você faz o mesmo, certo?

Ally Curtis diz:

Certo.

Garoto do Cinema diz:

Ally, obrigado por aceitar minhas ‘exigências’. Foi um prazer enorme conversar com você. Até amanhã!

Ally Curtis diz:

Até! Boa noite.

Garoto do Cinema diz:

Boa noite, beijo.

Ally Curtis diz:

Beijo

Roger fez uma caretinha, acenou e desligou a webcam. Em seguida ficou offline. Saí do MSN e reabri a página do meu trabalho, mas continuei matutando.

“Isso significa que ele entrou no MSN só para falar comigo? Acho que sim, não é possível que use aquele nickname bobo com outras pessoas conhecidas!”

Tentei me recompor antes que as pessoas entrassem no apartamento. Chequei o relógio, já passava das nove da noite. “Minha nossa, ficamos conversando por duas horas e meia!” Era bom demais para ser verdade. Esperava o pessoal entrar no apartamento a qualquer momento para me acordar daquele sonho.

Permaneci diante do notebook, olhando para a tela aberta no Word, lendo cada parágrafo três, quatro vezes, sem processar na minha cabeça o que estava escrito. Eu não conseguia me concentrar. Que dia incrível!

A turma adentrou o apartamento conversando animadamente, porém Davi não estava junto com eles. Aguardei alguns minutos fitando a porta, esperando que ele aparecesse. Como se estivesse adivinhando meus pensamentos, João aproximou-se para explicar o motivo da ausência de Davi.

– Ally, o Davi pediu para avisar que voltaria logo. Ele foi deixar o Henrique em casa.

Fechei todos os arquivos que estavam abertos e desliguei o computador para conversar com meus amigos.

Não vou mentir que fiquei surpresa com a preocupação do Davi de “avisar” onde estava indo. Isso meu deixou feliz e ajudou a diminuir a inquietação pelo fato de ele ter saído.

– Foi de carro? – Perguntei séria.

– Não, não. Foram caminhando pela praia. A casa onde o Henrique está fica no Morro Branco Velho, é pertinho daqui.

– Hanram. Por que o Davi teve que ir deixá-lo, se é tão pertinho? – Questionei um pouco desconfiada. Eu não estava gostando da proximidade entre o Davi e o Henrique, quero dizer, ele é um cara legal, mas parece meio sem noção de limites.

João hesitou um pouco, encarou as outras pessoas na sala e pigarreou antes de responder:

– É que o Henrique meio que passou da conta. Bebeu demais, estava sem condições de voltar para casa só.

– E o Davi não?

– O Davi bebeu, mas estava muito bem, consciente. Achou melhor acompanhar o Henrique, pois do jeito que ele estava, era capaz de adormecer pela praia e ser roubado, ou sei lá...

Puxou a cadeira do lado oposto ao meu na mesa e sentou-se recostando-se relaxadamente no encosto da cadeira, com as pernas cruzadas.

– Fica tranquila, Ally, daqui a pouco ele deve estar chegando.

– Não é perigoso ele voltar sozinho pela praia à noite?

Léo adiantou-se e respondeu:

– A praia está lotada, tem muitos carros com som, fazendo luau, tem fogueiras iluminando, tá tranquilo.

– Luau? – Indaguei curiosa. Léo percebeu que tinha falado demais. Aquela informação ao invés de me deixar menos preocupada, só alimentou minha desconfiança. Léo tentou consertar.

– Mas ele nem vai demorar, Ally. Deixou até o celular e a carteira com a gente, para não correr o risco de ser assaltado. O que ele vai fazer na praia sem dinheiro?

– Me diga você... – Respondi ceticamente.

Ainda era cedo da noite e o tempo estava quente e úmido, sinal que em breve certamente choveria. Talvez a chuva acabasse com o tal luau, diminuindo as chances do Davi ficar vadiando pelo caminho. E pelo que os garotos disseram, Henrique estava muito bêbado, então a possibilidade de fazer companhia para o Davi em uma possível ‘escapada’ era mínima.

Procurei não ficar irritada fazendo suposições. Aquilo não me levaria a lugar nenhum, nem faria o Davi voltar mais rápido. Além disso, nos dois últimos dias ele tem sido um namorado atencioso e tem procurado moderar nas farras, merece um crédito de confiança por isso.

Relaxei e mudei de assunto para quebrar o clima tenso. Meu espírito estava leve após a conversa surreal que acabara de ter com Roger, meu Garoto do Cinema.

– E então, vocês devem estar com fome. O que vão querer jantar? – Levantei direcionando-me para a cozinha encarando Carina sorrindo, convidando-a para me acompanhar.

Ela me seguiu deixando Léo, João e Natália conversando na sala. Carina entendeu que eu queria mais detalhes que os garotos não disseram, então já chegou explicando:

– Ally, não se preocupe, o Davi estava de boa, só ficou preocupado com o estado do Henrique. Daqui a pouco ele está de volta.

Sorri virando-me de costas enquanto retirava da geladeira os ingredientes para o jantar. Virei-me para ela e respondi:

– Está tudo bem, estou tranquila, o Davi tem se comportado melhor do que eu esperava, merece um voto de confiança. Sorri novamente estudando sua expressão. Ela parecia surpresa com minha tranquilidade. É compreensível, sabendo que ela já havia testemunhado as chateações que o Davi me causou nos primeiros dias do Carnaval. Mas ela preferiu não estender o assunto, apenas assentiu com a cabeça e sorriu de volta, retirando a louça e talheres do armário.

Como eu havia previsto, a chuva começou a cair levantando o cheiro de terra molhada junto com mormaço do piso de cimento que passou o dia inteiro sob sol escaldante. Pela janela da varanda eu observava ao longe a porteira do condomínio que dava saída para a praia. Havia uma lâmpada na marquise da porteira que, no meio do vazio iluminava pouco ou quase nada. Não era possível enxergar nem cinco metros além dos limites do condomínio. O mar ficava distante da entrada cerca de trezentos metros.

Comecei a ficar genuinamente preocupada com Davi. Como ele conseguiria enxergar o caminho naquela escuridão da praia, debaixo de chuva? As nuvens carregadas encobriam a luz da lua, impedindo que ele pudesse ter noção do rumo que estava seguindo. Fiquei em pé observando fixamente o horizonte, mal reparei nas pessoas se retirando para dormir e desejando boa noite. Silenciosamente desejei que Davi estivesse bem e que fosse sensato a ponto de não vir nessa chuva. Não conseguiria dormir enquanto ele não chegasse são e salvo.

Seria uma longa noite de espera e angústia.


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Notas finais do capítulo

O.M.G! O que foi esse papo no msn hein? Quero mais!!!
E o sumiço do Davi? Mais dor de cabeça para a Ally!
Vamos ver o que vem por aí.
Beijos, e não esqueçam de comentar e compartilhar a fic. :)
Alê