Coração Satélite escrita por Ayelee


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Nem vou perder tempo com introduções. Sei que estou em falta com vocês. Espero que gostem do capítulo. Está divertido e com algumas surpresas!
Meu muito obrigada a todos que continuam apoiando e pedindo para eu não desistir, recebi muitas mensagens carinhosas no twitter, aqui no Nyah e no Formspring!
Beijos e boa leitura!
P.S.: Por favor, não deixem de recomendar a história compartilhando no twitter ao final do capítulo! :)
Obrigada.



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As semanas seguintes passaram rápidas como um relâmpago. Meus dias estavam cronologicamente divididos entre trabalho e Davi, por isso os encontros com minhas amigas eram cada vez mais escassos. Eu estava tão envolvida e acomodada com esta rotina de namoro que não me dei conta disso. Estava negligenciando minhas amizades.


Num domingo, já perto do fim de janeiro, Helena me ligou convocando para uma reunião do Eurotrio para combinarmos a festa de aniversário surpresa de Daisy, nossa amiga – e agora, minha cunhada. Marcamos de nos encontrar no shopping à tarde, já que nesse horário Davi costumava ir jogar futebol com os amigos no aterro da Praia de Iracema, até o fim do dia.


Estava animada para rever as meninas, sentia que elas estavam um pouco ressentidas comigo, pois desde que eu e Davi começamos a namorar nunca mais nos encontramos, nem para tomar um sorvete no fim da tarde como costumávamos fazer pelo menos uma vez por semana.


Tomei um banho rápido e troquei de roupa apressadamente. Queria aproveitar a carona de Ísis. Ela estava a caminho da casa da minha tia, que fica perto do shopping.


Nos encontramos na praça de alimentação, Anita, efusiva como sempre, disparou na frente da Helena para ser a primeira a me cumprimentar. Me deu um abraço gostoso e prolongado, me sacudindo de um lado para o outro.


– Quelhiiiiiida que saudaderis! Você é uma tratanteris, mas mesmo assim eu te amoris!
– Oi Alix, a quanto tempo! – Exclamou Helena me abraçando também, um tanto mais contida do que Anita.
– Também estava com saudade de vocês, meninas! – Só me dei conta agora ao reencontrá-las. – Reconheço que a culpa por não nos vermos mais com tanta freqüência é minha. – Admiti. – Ainda não me acostumei completamente com esse lance de namorar. Sabe como é né...


Sorri, mais envergonhada do que deveria estar. Estas são minhas amigas afinal, não tem por que ficar assim. Puxei assunto para me atualizar sobre os últimos acontecimentos em suas vidas.


– Então Helena, como anda a vida de solteira?
– Ah, nada mal. Descobri umas coisas meio chatas sobre meu ex que, no final das contas, acabou me ajudando a esquecê-lo. E estou redescobrindo coisas que eu amava fazer e que havia completamente esquecido. Sempre dei prioridade aos interesses dele... Conselho de amiga: Nunca abra mão das coisas que você ama de verdade por causa de namorado.
– Hum, nossa, estou sentindo um pouquinho de amargura nesse discurso?
Helena ficou um pouco desconcertada e tentou se explicar atrapalhadamente:
– Não, claro que não... garanto para vocês, estou muito melhor agora. É sério. Descobri que o que sentia pelo Ricardo não era amor, estava apenas acostumada com ele. Senti falta nas primeiras semanas, mas agora estou bem. Estou curtindo a mim mesma, me redescobrindo. Namoros muito longos às vezes nos fazem perder um pouco nossa identidade, sabe?
– É, faz sentido... – Concordei, pensativa.
– Vocês acham que eu perdi minha identidaderis por causa do Michel? – Anita questionou preocupada.
Eu e Helena respondemos em uníssono: Não!
– Anita, você é única e tem uma personalidade muito definida. Impossível se deixar influenciar por namorado. – afirmou Helena.


Enquanto as meninas tagarelavam, minha mente divagava sobre meu relacionamento com Davi. Será que com o tempo eu perderia minha identidade por causa dele? Será que mudaria a ponto de me afastar completamente das minhas amigas? Não acredito que um namoro saudável possa ter esse tipo de conseqüência. É normal que, com o tempo, a gente passe a pensar em conjunto, fazer planos a dois, mas não a ponto de anular meus interesses pessoais e amizades.Não quero isso para mim. Espero que meu namoro com Davi nunca venha a causar mudanças tão radicais.


– Alix... Ally... ALICIA! – Helena chamou minha atenção.
– Oi, desculpa. Estava distraída pensando...
– Sobre seu namoro com o Daviris? – indagou Anita animada. – A coisaris está ficando séria né?
– Acho que sim. Sei lá, nos apegamos rápido. Criamos uma rotina que nos deixou muito dependentes um do outro. – Refleti, mais pensando alto do que mesmo conversando.
– Ally, não deixe que isso aconteça. Pense sempre em você primeiro, nos seus planos, nos seus sentimentos. Promete para mim. – Helena me fez jurar solenemente.
– E já rolouris...? Você saberis do que eu to falandoris. – Anita perguntou maliciosa e eu corei surpresa com a pergunta constrangedora.
– Ah não, vocês não vão querer entrar nesses assuntos né! – Protestei.
– Ué, qual o problema Alix, conta pra gente. Já faz quase um mês que estão juntos. E pelo que você mesma disse, a coisa está ficando séria, então nada mais natural! Você é adulta e vacinada, então qual o problema?
– Éeee... fala logo Allyris, deixa de ser puritanaris!


Ai, eu mato essas duas! Certo que não tem nada demais discutir a vida sexual com minhas melhores amigas, mas é o tipo de assunto que sempre me deixa sem graça. Sou muito reservada, e falar sobre minha intimidade é algo que nunca me acostumei. Nem faço questão de saber da intimidade de ninguém. Mas vou fazer essa indulgência, elas merecem minha confiança.


– Tá, tá... então... errr... – gaguejei desconcertada – Bem, ainda não rolou.
Pisquei rapidamente, séria.
– Como assim não rolouris?
– Pois é, não rolou.

Olhei para as duas, paradas, boquiabertas, esperando uma explicação mais detalhada, como se estivessem assistindo um programa de fofoca na TV.


– Não sei... não é que não exista a vontade e a atração. Existe, e muito. – Balbuciei dobrando e desdobrando um papel de propaganda em minhas mãos. - É que... acho que, sempre que as coisas esquentam, eu meio que recuo. Não sei por que. – Expliquei confusa.
– Hum... – Helena hesitou – Mas vocês não estão apaixonados? Durante tanto tempo você sofreu para ter o Davi, e agora que está tudo certo, o que está te impedindo?
– Acho que vai soar meio estranho para vocês...Não sei, acho que estou ficando louca... Nós convivemos tanto tempo, desde criança praticamente. Eu meio que sinto como se estivesse cometendo um incesto.
Anita não resistiu e caiu na risada.
– Ha ha ha ha, desculpa amigaris – fungou com sua voz fanha – de onde você tirou issoris? Vocês são homem e mulheris, estão juntos a um mês, esse papo de incestoris não está colando nãoris.
– Eu entendo o que você quer dizer amiga, mas você tem que tirar esses grilos da cabeça. Você é cautelosa demais. Pensa mil vezes antes de dar um passo. Tem que parar com isso.
– Eu sei Helenz, vocês têm razão. Eu penso demais.
– Pois é, quem pensaris demais, faz de menos. Aproveitaris seu namorado sua bobaris, antes que alguémris roube ele de você!


Nos entreolhamos em silêncio, Helena beliscou a perna de Anita repreendendo-a, eu fiquei com cara de paisagem me dando conta do que Anita acabara de dizer. No fundo ela tinha razão. Eu mesma já tinha pensado nisso antes, mas estava elaborando um plano para ‘resolver’ essa questão – do meu jeito.


Mudamos de assunto e passamos mais uns trinta minutos fazendo planos para o aniversário surpresa da Daisy, minha cunhada, que será depois do Carnaval, daqui a umas duas semanas. O tempo passou e nem percebemos, quando, ao mencionarmos o Carnaval, Anita deu um pulo falando com a voz estridente:


– Ai meu Deus! Estou atrasadaris para encontrar o Michelris. Combinamos de comprar umas coisas de acampamentoris pro Carnavalris. Tenho que ir amigaris, depois nos falamos.


E saiu correndo feito uma louca pelo saguão do shopping.
A sós com Helena, acertamos mais alguns detalhes da festa surpresa e, no meio da conversa, voltamos a comentar sobre o Carnaval.


– E então, você já decidiu onde vai passar o primeiro Carnaval solteira? – Brinquei.
– Sim. Adivinha?
– Não faço idéia. – Respondi empolgada. – Onde?
– Olinda!
– No creo!!! Com quem você vai?
– Com minhas primas! Já fechamos o pacote no começo do ano. Tudo incluso: passagens,hospedagem, traslados, etc. Vai ser uma loucura!
– Tô vendo! Nunca te vi tão empolgada com esse tipo de coisa. – Sorri honestamente.

É uma pena que a fase de liberdade da Helena tenha coincidido com o início do meu namoro. Eu gostaria de experimentar uma viagem como essas junto com ela. Eurotrio em Olinda. Seria mágico!


– E você Ally, já tem algum plano em mente? Só faltam duas semanas praticamente.
– Pois é... - mudei de posição na cadeira, meio contrariada – O Davi tem planos. Decidiu que nós vamos para o apartamento da família dele no Morro Branco.
– Ah, é legal o Carnaval do Morro Branco, já passei lá a alguns anos atrás. Mas, o que está te incomodando? Você não gosta de lá?
– Gosto, gosto sim! Só que Carnaval lá tem tudo, menos música de Carnaval. E sei lá, todos os amigos do Davi vão para lá, já compraram uma pilha enorme de bebida, daí já viu...
– Entendi... mas vem cá, quem vai com vocês? Vocês vão sozinhos?!
– Bem que eu queria! Na verdade esse era meu plano. Mas o Davi convidou dois casais de amigos dele para dividir o apartamento conosco.
– Mas que Zé Mané, hein? Vocês teriam quase uma semana em ‘lua de mel’, com o apartamento inteiro só para vocês!
– Pois é... mas isso na verdade não é um problema.
– Não?
– É que cada casal vai ter seu quarto...
Dei uma risada meio tímida.
– Ah, olha só a safadinha, já premeditou tudo!
– É, andei pensando na melhor forma de fazer acontecer. Não vou mais adiar. Eu estou afim, o Davi está afim. Quero que seja algo especial. Só falta um pequeno detalhe...
– Que detalhe? – Helena questionou curiosa.
– Lingerie.


Caímos as duas na risada e rapidamente Helena se prontificou a ir comigo percorrer todas as lojas de roupa íntima do shopping pelo restante da tarde.
Ótimo, agora minha primeira noite com Davi se transformou no evento do ano!


Cheguei em casa à noitinha, estava o silêncio de costume, interrompido somente pelos ruídos do vídeo game do Max – o que também era de costume.


Passei direto para meu quarto e tirei meus sapatos, relógio, bolsa, todos os acessórios, deixando somente o vestido de malha fresquinho cobrindo meu corpo. Coloquei as sacolas de compras no chão ao pé da cama.


Liguei o notebook e a TV ao mesmo tempo, em seguida peguei meu celular e o controle da TV e joguei-me na cama.
Estranho, desde que saí do shopping já liguei umas dez vezes para o Davi e o telefone chama até cair na caixa postal. Já anoiteceu, será possível que ele ainda esteja no futebol?


Mil idéias assustadoras começaram a permear meus pensamentos. Será que ele foi assaltado? Ou pior, será que foi seqüestrado? Ou será que resolveu esticar o futebol até um bar? (aí ele me paga!) Ah, meu Deus, o que terá acontecido?


Um princípio de pânico começou a tomar conta de mim, senti um frio na barriga, uma sensação de perda, mas então me dei conta de que estava tendo uma reação exagerada. Procurei ser razoável antes de espalhar meu desespero para nossos amigos, ou pior, para a família dele.


Foi então que tive a idéia de ligar para a casa dele e checar se ele estava por lá. Era a melhor coisa a se fazer. Quem sabe ele estava no banho e não ouviu o celular tocando?


– Alô?
– Pois não?
– Por favor, o Davi está?
– Não senhora, quer deixar recado?
– Humm... não, aqui é a Ally. É que eu tentei falar com o Davi pelo celular, mas não atendeu. Achei que ele pudesse estar em casa.
– Oi dona Ally
Dona Ally? Suspirei. Será que a Célia está pensando que eu sou alguma tia do Davi?Como ela não reconhece minha voz? A vida inteira eu freqüento a casa do Davi e ligo para lá. Tadinha, acho que está caducando!
– Sem o ‘dona’, Célia, sou eu, a Ally!
– Aah sim, Ally. Então minha filha, o Davizinho chegou do futebol, se arrumou e saiu de novo.
– Sei.. e ele não disse para onde ia?
– Não falou não.
– tudo bem. Obrigada Célia!


Bem, pelo menos assaltado e seqüestrado ele não foi. Agora a pergunta que está martelando na minha cabeça é ‘para onde meu namorado foi todo arrumado em pleno domingo à noite?’


O sangue me subiu à cabeça, as lembranças das farras que Davi aprontava com os amigos antes de começarmos a namorar.


Liguei mais umas três vezes para o celular dele e nada.


Estava começando a ficar chateada, me bateu uma vontade de ligar para a Daisy e perguntar pelo paradeiro do irmão dela. Mas antes de discar me dei conta de quão infantil eu estava sendo. Também não queria envolver minha amiga/cunhada nessa confusão.


Decidi não deixar que uma desconfiança tola acabasse com o astral super positivo com o qual voltei do shopping.


Tranquei a porta do quarto e comecei a abrir as embalagens das compras e fui tirando as lingeries das caixinhas, tão delicadas, tão lindas, tão... sexy. Ai meu Deus! Senti um frio na barriga. A raiva foi sendo substituída por uma ansiedade boa, como quando se está prestes a embarcar em um vôo para uma viagem dos sonhos.


Me recostei na cabeceira da cama com o notebook no colo e fiquei mudando de canal enquanto checava meus emails, respondia os mais importantes, passava uns orçamentos para clientes e dava uma espiada no site de fãs do Roger Peterson. Deixei a TV no canal de videoclipes e continuei conferindo as novidades sobre Roger, com uma curiosidade quase indiferente.


Decidi aproveitar que estava forçadamente ‘livre’ e me permitir essa indulgência.


Não havia nenhuma novidade importante. Desde o início do mês ele está no interior da Inglaterra gravando seu novo filme, todas as notícias eram referentes ao set, relatos de colegas de elenco, fotos de gravações, etc.


Inconscientemente senti um orgulho por ele, aquela coisa de fã, estava feliz por vê-lo crescendo em sua carreira. Me bateu uma vontade danada de que esse filme novo ficasse pronto, para vê-lo novamente nas telonas.


Roger estava lindo usando o figurino de época no set, cabelo um pouco mais longo, barba feita, impecavelmente vestido em um fraque.
Olhei páginas e mais páginas e de repente reparei que nas últimas semanas não havia mais notícias sobre aquela Cathy, a noiva de Roger Peterson. Parece mesmo que ele anda muito compenetrado em seu trabalho e não tem tido tempo para farrear com os amigos.


Para mim, tem mais a ver com o tal noivado. Não consigo suportar a idéia de Roger com essa Cathy Seymour. Tudo bem, ela é linda e famosa e tal, mas não parece combinar com o estilo de Roger.


Ele é reservado, ela é exibida. Ele é humilde, ela é metida. Seja lá qual for o motivo pelo qual Roger se apaixonou por ela, só pode ter lhe deixado completamente de quatro, a ponto de não perceber o abismo de diferenças entre os dois.


Uma melodia familiar interrompeu meu raciocínio despertando minha atenção para a TV. Quando levantei a vista dei de cara com um show do Metallica especial em Nîmes, na França. A música que estava tocando era Wherever I May Roam, que eu considerava meu hino particular.


Joguei o notebook de lado sobre a cama, aumentei o volume da TV e fiquei de pé na cama cantando o refrão feito louca, dançando com os braços para cima. Meu momento de catarse.


Ninguém compreendia meu gosto por esse tipo de música, que a primeira impressão que passa é de ser muito agressiva, mas no fundo fala sobre questões tão delicadas, sentimentos tão comuns a todos os seres humanos.
Minhas amigas dizem que não combina com meu jeito delicado, que é coisa de homem, etc. Eu não ligo. Música boa, para mim, é aquela que me toca de alguma maneira, seja com uma melodia ou com uma mensagem. Tem que despertar emoções e reflexões.


Por uns quinze ou vinte minutos fiquei completamente imersa nesse meu mundo mágico de Roger Peterson, Metallica, meu quarto, cantando, dançando e sorrido feito boba. Nem percebi as batidas na porta até que elas fossem tão fortes que parecia que derrubariam a porta e o restante do prédio.


Recuperei o fôlego, desci da cama meio suada e ofegante e caminhei até a porta, me preparando para a bronca da minha mãe.
Não tinha o que argumentar, eu realmente passei da conta. O som estava alto demais. Coloquei a TV no mute e abri a porta já respondendo:


– Tá bem mãe...
Tomei um baita susto quando dei de cara com Davi.
– O que é isso, Alicia, tá ficando louca?


Eu não sabia se o abraçava de alívio por finalmente ter aparecido, ou se lhe passava um sermão, afinal ele sumiu sem dar satisfação e resolve aparecer na minha casa para reclamar do volume alto? Faça-me o favor!
Mal abri a boca para falar, ele já disparou falando coisas que para mim não faziam o menor sentido.


– Que tipo de música é essa? Você está parecendo uma maluca, descabelada ouvindo essas coisas aí do demônio. Isso é música de macho, você não é macho.


Davi caminhava entrando no meu quarto enquanto falava, e observava tudo, a TV, meus porta-retratos, meu violão, meus livros e o notebook em cima da cama, com a uma foto do rosto de Roger ocupando quase toda a tela do aparelho.
Caminhei de costas até esconder o notebook atrás de mim, para que ele não visse a imagem de Roger e começasse uma discussão sem cabimento.


Sua expressão era séria, mas com uma ponta de deboche. Era a expressão que eu mais detestava nele. Davi é um pouco cabeça-dura, teimoso, cheio de si, mas se tem uma coisa que me magoa de verdade, é quando ele me trata como se ele fosse superior, como se todas as coisas que amo e admiro não passassem de uma bobagem inútil de menininha de apartamento.


Me magoava por que no fundo, nunca fui o tipo de pessoa que segue tendências ou que me deixo influenciar pela maioria ou pelo que está na moda. E nesse ponto Davi era oposto a mim, apesar de achar que eu é que era influenciável.


Apesar de contrariada, fiquei quieta esperando ele falar alguma coisa.


– Por que você gosta dessas coisas? É para chamar atenção?
Apertei os olhos observando seu rosto, procurando algum sinal de brincadeira. Ele estava sério.
– Por que eu gosto dessas coisas? Por que eu gosto dessas coisas? Sabe de uma coisa não te interessa.
Davi ficou surpreso, como se não esperasse uma resposta tão ríspida da minha parte.
– Calma, menina... eu só quero entender. Esse seu gosto é muito estranho.

Perdi a paciência, quanto mais ele falava, mais me chateava. Tanto de decepção quanto de indignação por ele me julgar de forma tão superficial e por não se importar com meus sentimentos.


– É isso que você tem para dizer? Que eu sou estranha, que pareço um ‘macho’ e nem o direito de ficar chateada eu tenho? Primeiro de tudo: oi, boa noite, Davi!
– Desculpa, não sabia que você ia ficar tão chateada assim. Boa noite. Você tá de TPM?
– TPM? Você some, me deixa preocupada, depois invade meu quarto falando um monte de grosseria e quer que eu te receba de braços abertos?
– Eu tava aqui jogando com o Max a noite inteira! Você não me ligou, pensei que ainda estava com as meninas no shopping.
– EU não atendi o telefone? Davi, até para a sua casa eu liguei lhe procurando. Inventa outra.

Davi tirou o celular do bolso, checou as ligações e bufou, enfiando o celular novamente na bermuda.


– Merda, descarregou. Foi por isso, então!
– É, e você dentro da minha casa não lembrou de pegar outro telefone e ligar para mim? Olha, eu fiquei preocupada com você!
– Ah é? Não parecia, com a festa do rock pauleira rolando aí no seu quarto.
– NÃO É ROCK PAULEIRA! É Heavy Metal! Quer saber de uma coisa, vai pra sua casa, vai. Não estou com a menor vontade de falar com você.
– Ué, só por causa de uma besteira dessas? – Fez cara de inocente, não acreditando no que eu estava pedindo.
– Se você é incapaz de perceber o quanto está me chateando, é melhor me deixar em paz antes que eu passe de chateada para irada.
– Mas Ally, o que foi que eu fiz? Eu estava aqui com seu irmão. Eu não fiz nada de errado.
– Tchau Davi. A gente se fala amanhã.
– Ally, para com isso, vamos conversar?
– Não. Tchau.

Empurrei gentilmente Davi para fora do meu quarto, fechei a porta, e me joguei na cama, fervendo de raiva.


O Davi não tem jeito mesmo! Será que ele nunca vai mudar? Ou será que é muito cedo ainda para exigir isso dele? Não sei. Só sei que mais uma vez ele me chateou muito. Tudo bem que ele não é muito bom com palavras, mas será que ele não pode pensar um pouquinho antes de abrir a boca? Palavras magoam. E às vezes não tem volta. Ele vai ter que melhorar seus modos. Ou eu terei que me acostumar com seu jeito ogro de ser. Caso contrário, nosso relacionamento vai se transformar em um campo de guerra. E eu não quero isso para nós.


Mesmo contrariada, decidi deixar a chateação de lado e ter uma noite tranqüila, para dormir cedo e acordar bem disposta para a longa segunda-feira que estava por vir. Muito trabalho, reunião com cliente e a fatídica conversa que teria com Davi sobre o pequeno incidente de hoje.


Recostei-me na cabeceira da cama com o laptop no colo e voltei para o site de fãs do Roger.


Como ele estava lindo com o novo visual, cabelo mais comprido, barba por fazer... Pelas fotos dos bastidores do filme, ele parecia bem à vontade, sem muitas pessoas por perto. Eu gostaria de saber o que se passa na cabeça dele. O que ele sente, se é feliz. Ele parece ser bem recluso, uma pessoa comum que, por acaso, trabalha em algo que faz dele uma pessoa conhecida. Mas ele parece não dar a mínima para isso. Acho que é esse o motivo da minha curiosidade. Será que quando está longe dos holofotes e das câmeras ele leva uma vida comum, igual à de qualquer outra pessoa?


Só uma pessoa muito simples e humilde responderia minhas cartas atrevidas com tanto bom humor. As mesmo tempo, talvez por não querer se expor demais, ele tenha decidido cortar relações, antes que nossas correspondências pudessem ter conseqüências maiores. Faz sentido...


Olhei para o lado da cama e vi meu violão encostado no canto da parede. Fazia um bom tempo que não tocava. Levantei da cama, peguei-o e comecei a dedilhar umas músicas dos Beatles baixinho, distraidamente.
Ouvi umas batidas leves na porta do meu quarto seguido de um “posso entrar?” Era a voz de Max.


– Entra Max.
– E aí, mana, tá fazendo o quê?
– O que você acha que estou fazendo com um violão na mão?
– Desculpa aí. Que bicho te mordeu hein?
– Você não ouviu as besteiras que o “bicho que me mordeu” falou?
– Ouvi. Aliás, era sobre isso que eu queria falar com você.
– Fala o que você quer logo, preciso ir dormir.
– Oh, calma aí, eu vim em missão de paz. Você anda muito irritadinha ultimamente, sabia?
– Ah é? – Mesmo tendo ficado irritada por meu irmão ter aparecido para falar sobre minha briga com Davi, no fundo eu reconheci que ele tinha razão. Eu realmente andava meio irritada ultimamente. E só me dei conta disso agora, quando ele chamou atenção para o fato.
– Tá, desculpa. Ainda estou irritada por causa do Davi. Mas você também hein? Ele é seu amigo, mas agora é meu namorado. Ele tem um compromisso comigo agora, não pode ficar agindo como se fosse solteiro e não precisasse dar satisfações a ninguém. Pô, sumiu e nem para me ligar dando uma notícia?
– É por isso que você está com raiva? Pensei que fosse por que ele xingou seu Metallica querido.
– Idiota. Eu estava disposta a perdoar essa falta de consideração do Davi, mas depois ele simplesmente invade meu quarto me criticando, criticando as coisas que amo, quem ele pensa que é? O Davi às vezes é um chato, sei que é o jeito dele, mas mesmo assim, é irritante e me magoa.
– Pois é, por isso eu vim aqui falar com você...
– Ah foi? – Hesitei tentando descobrir onde meu irmão queria chegar.
– Veja bem, maninha... a quanto tempo você conhece o Davi?
– Sei lá Max, a vida inteira...
– Pois é. Você acha que o Davi mudou alguma coisa desde que vocês começaram a namorar?
– Hum, não muito. Ele tem se esforçado para ser mais delicado. Mas nem sempre consegue. Isso me tira do sério.
– Então, é aí onde quero chegar. Você não pode esperar que ele mude seu jeito de ser da noite para o dia. O Davi é muito quadrado, difícil de aceitar qualquer coisa diferente do que ele pensa que é o “certo” ou “normal”. Mas nem por isso é um cara ruim. Dá um crédito para ele, tenha um pouco de paciência.
– É o que tenho feito a vida inteira... – Refleti. – Mas ele tem que aprender a respeitar minhas escolhas e meus gostos. Não estou pedindo para que ele goste também, apenas que respeite.
– Eu sei, você tem razão.
– Pois é. Eu estou disposta a agüentar o Carnaval inteiro com aquelas músicas idiotas de pagode, funk, forró, sei lá o quê, mas não falo nada para não chateá-lo. Mas ele parece que faz questão de provocar para me deixar mal.
– É, o Davi é foda, ele gosta de encher o saco mesmo. Mas releva, ele gosta muito de você. Tudo bem que você é minha irmã e tal, e ele não é nem louco de falar alguma coisa ruim de você para mim, mas ele tá parecendo um idiota apaixonado. Eu já to ficando até meio puto com o jeito meloso dele...
Max caiu na risada, e eu fiquei meio sem graça com a revelação inesperada. Era a primeira vez que alguém comentava algo do tipo. Eu não conseguia imaginar o Davi se comportando como um bobo apaixonado, até por que, quando está comigo ele quer bancar o garotão.
– Bom, era isso. Pega leve com ele, se ele tá errando, é sem intenção. Você sabe que, se ele estivesse sendo sacana eu não deixaria barato né?
– Tá, beleza. Amanhã vou conversar com ele, acertar essa situação. Valeu.
– Às ordens, chefe.


Max deu um sorriso e saiu do quarto, fechando a porta com a mesma cautela de quando a abriu.
Ainda toquei mais umas duas ou três músicas antes de cair no sono.


Era um dia frio e escuro em Londres. Eu caminhava apressadamente pela Bridge Street em direção à ponte Westminster. O vento frio batia contra meu rosto, congelando minhas bochechas, lábios e a ponta do meu nariz, jogando meus cabelos para trás. Mas eu não parava. Continuava caminhando determinada, quase correndo, pois adiante, do outro lado da ponte eu via a figura de Roger vindo em minha direção com um envelope azul na mão. Não tinha certeza que era ele, pois estava muito longe, sua figura era apenas um vulto na manhã enevoada de Londres. Mesmo assim seguia meu caminho, pois sentia no fundo que aquele era Roger e que eu precisava encontrá-lo, não importava quão difícil fosse chegar até lá. O vento era forte, me empurrava para trás e o frio doía no meu rosto, mas aos poucos eu avançava, passo a passo. Já conseguia ver a expressão no rosto dele. Sorria timidamente, ofegante, e estendia o braço para mim, com o envelope azul na mão. Eu já podia sentir seu cheiro que o vento jogava em minha direção. Estendi o braço para alcançar o envelope. Subitamente, senti algo me segurando pelo braço, me puxando para trás. Por mais que eu me esforçasse e lutasse contra essa força, não conseguia alcançar Roger. Só me distanciava cada vez mais, perdendo-o de vista. Virei-me para trás e dei de cara com Davi. Ele tinha uma expressão séria, desesperada, e puxava-me com toda sua força, como se tentasse resgatar alguém que era arrastado por uma correnteza. Olhei em direção à ponte novamente à procura de Roger. Ele não estava mais lá. De repente, a pressão me puxando para trás acabou. O vento parou. Olhei para trás, Davi também não estava mais lá.


Acordei ofegante, sentindo um cansaço como se tivesse corrido em uma maratona. Passei as mãos pelo cabelo, massageando o couro cabeludo, esfreguei os olhos e chequei a hora no relógio. Cinco e meia da manhã. Ainda não era hora de levantar. A reunião com meus clientes estava marcada para as oito e meia, tinha tempo de sobra. Encolhi-me na cama relembrando o sonho. Que angústia, todo aquele esforço para encontrar Roger? Mas por que Roger?

Talvez por que fiquei a noite inteira lendo coisas a seu respeito e vendo fotos dele. Faz sentido. Mas o sonho em si não faz o menos sentido. Será que tinha a ver com minha briga com Davi? O fato de eu ter me chateado por ele não respeitar as coisas que gosto. Roger era uma dessas coisas. Pode ser. Curioso a forma como nosso inconsciente trabalha quando dormimos.


Meu coração desacelerou e me pus de pé, e comecei a me preparar para mais um dia de trabalho.


Encontrei-me com meus clientes na delicatessen Empório Delitalia. Pedi um frapê com mini croissants para beliscar enquanto fechávamos uma parceria na qual eu teria uma coluna semanal sobre literatura no jornal local. Era um negócio muito positivo para mim, pois além de dar visibilidade ao meu trabalho, era uma graninha garantida todo mês. Essa iria para a caixinha de economias para abrir meu futuro escritório. Enquanto acertávamos os detalhes do contrato, meu celular vibrou insistentemente na bolsa. Era Davi. Não podia atender no momento, mas logo que saí da reunião, retornei a ligação.


– Alô, Davi?
– Oi gata, tudo bem?


Eu estava empolgada demais com a novidade da minha coluna no jornal para lembrar da chateação de ontem.


– Tudo ótimo! Desculpa não ter atendido antes, estava com clientes.
– Hum, que bom. Pelo visto deu tudo certo.
– Sim! – Abri um enorme sorriso de satisfação – Ganhei uma coluna no jornal!
– Nossa, isso é coisa grande! Temos que comemorar. Mas antes precisamos conversar.

Só então lembrei que estava – ou deveria estar – chateada com ele. Com um tom um pouco mais solene respondi.


– É, precisamos.
– Amor, você ainda está chateada comigo né? Te devo desculpas.
– Sim e sim. Mas não acho que isso seja algo para se resolver por telefone.
– Então vamos sair para jantar esta noite. Te pego às sete e meia.
– Certo. Nos vemos mais tarde.

À noite Davi me levou para um restaurante super-aconchegante, com um ambiente intimista e romântico, exatamente do jeito que eu gostava. Acertou em cheio. Deve ter andando consultando os especialistas – minha amiga/cunhada Daisy e seu amigo/cunhado Max.


Ele estava lindo e cheiroso, com um sorriso confiante, como uma criança que acabou de preparar uma linda surpresa para os pais. Qualquer vestígio de raiva que eu pudesse ainda estar sentindo até então se desvaneceu como poeira no vento.


Eu simplesmente me derretia completamente quando Davi tentava ser romântico, mesmo sabendo que era uma estratégia que ele usava para se redimir de suas culpas.


Escolhemos uma mesa reservada na área externa do restaurante, a noite estava fresca e sem riscos de chover. Davi puxou sua cadeira para meu lado, beijou minha bochecha e sussurrou em meu ouvido.


– Me perdoa?


Beijou meu pescoço e ficou brincando com uma mecha do meu cabelo, me encarando tentando ler em meus olhos um perdão silencioso.


Eu estava tão envolvida em seus carinhos e hipnotizada por seu charme que mal conseguia raciocinar. Murmurei alguma incoerência e permaneci observando-o sendo lindo.


– Você não respondeu... – Ficou um pouco sério, preocupado. – Eu sei, te devo desculpas duas vezes. Uma por ter sumido, outra por ter sido um babaca na sua casa.
– É, você foi um babaca. – Provoquei.
– É que nem passou pela minha cabeça que você pudesse ficar preocupada. Afinal, eu estava na sua casa com seu irmão.
– Mas eu não sabia né? E só descobri quando você invadiu meu quarto com toda sua delicadeza natural.
– Desculpa. De verdade. Não foi por mal.
– Eu sei que não foi, Davi. Mas às vezes a gente magoa uma pessoa, mesmo sem intenção, por não se importar com o que ela possa pensar ou sentir. Você me magoou.
– É que eu não me conformo! Você é toda princesinha, é isso que eu mais gosto em você. Seu jeitinho delicado, meigo. Não entra na minha cabeça que você possa gostar dessas coisas de troglodita. Quando ouço aquelas músicas horríveis só imagino aqueles caras de preto, com cabelo grande e cara de psicopatas. Não combina com você. Você é mulher!!!

Imediatamente a imagem que veio na minha mente foi de Gustavo, o gato Rock n’ Roll. Nem um pouco troglodita, lindo, educado, gentil. Dei uma risadinha interna, e respondi.


– Isso é preconceito, sabia?
– Que seja, eu simplesmente não entendo como você gosta disso.
– Amor, você não precisa entender. Basta aceitar. Meus gostos pessoais não são contagiosos e nem vão lhe prejudicar, nem machucar. Então deixa quieto. Por favor, não faz mais aquilo. Eu realmente fiquei chateada.
– Tudo bem, desculpa. Vou me controlar daqui para frente.
– Assim espero.


Sorrimos e nos beijamos com carinho, usufruindo da atmosfera super- romântica do local. Davi podia ter seus defeitos, mas por mais orgulhoso que ele fosse, estava se esforçando muito para me agradar e sempre reconhecia quando estava errado. Isso só aumentava ainda mais a admiração que eu sentia por ele.


Na quarta feira, tirei a manhã para providenciar as últimas compras para o Carnaval. Biquine, protetor solar, chapéu, todo meu arsenal anti-sol, algumas comidinhas e produtos de limpeza para levar para o apartamento no Morro Branco. Viajaríamos na sexta-feira à noite, então queria deixar tudo prontinho com bastante antecedência.


Combinei de ir ao supermercado com Davi à noite para ajudá-lo com as compras mais pesadas, carnes para churrasco, bebidas, essas coisas que interessam mais aos homens.


Cheguei em casa bem na hora do almoço, Ísis ainda não havia chegado do trabalho e Max estava assistindo o noticiário enquanto não estavam todos prontos para almoçar.


Coloquei as compras de comida na cozinha e quando seguia para meu quarto com o restante das sacolas, Max me chamou.


– E então, se entendeu com Davi? Como foi lá o jantar romântico? – Perguntou com uma risadinha.
– Foi tranqüilo. Tá tudo bem.

Respondi e segui em direção ao meu quarto quando Max chamou novamente.


– Ah, tem uma correspondência aqui para você. Não tem remetente.


Gelei da cabeça aos pés. Fiquei imóvel no meio do corredor, minha imaginação criando as possibilidades mais loucas, quase todas envolvendo Roger Peterson.


Larguei as sacolas em cima da cama e voltei para a sala com cara de paisagem.


– Nossa, você está pálida, você está bem?
Mordi os lábios para ver se voltava um pouco de cor e respondi estendendo a mão.
– Não é nada. Quer dizer, é sim: fome. Cadê minhas correspondências?


Max retirou o envelope azul do meio da pilha de correspondências em cima da mesa de centro e me entregou.


Segui para meu quarto tentando ao máximo disfarçar a ansiedade e não disparar correndo para abrir logo o envelope.


Meu coração cavalgava dentro do peito, minha visão estava turva. Eu não sabia o que esperar. Senti um desespero somado à ansiedade e curiosidade que me consumiam.


Sentei na cama com a mão tremendo tanto que quase não consegui abrir o envelopo.


Lá estava uma foto do rosto lindo do Roger – ou o que era possível identificar como partes do rosto dele, pois o espaço quase inteiro de seu rosto estava coberto pelo meu envelope azul. Dava para ver minha letra escrita no envelope, o dedo dele cobrindo algumas palavras do meu endereço.


Era ele de verdade! Segurando minha carta! Meu Deus isso está acontecendo mesmo? Roger Peterson em pessoa se correspondendo comigo?! Que felicidade! Seja lá o que ele queira, eu estou disposta a aceitar. De repente ele quer apenas uma pessoa distante para desabafar coisas que não pode ou não quer falar com alguém próximo. Não faço idéia. Mas eu quero, eu aceito!


Fiquei tão excitada por alguns minutos que esqueci de virar a foto para ler o que estava escrito no verso.
Ele dizia:


Olá Ally!
Agora você tem um nome! Isso é bom, pelo menos tenho certeza que não estou escrevendo para um “cara”. Risos.
A quanto tempo não tenho notícias suas. A dois dias descobri o por que, é uma longa história de um amigo boboca, não importa. Desculpa não ter respondido antes. Na verdade respondi, só que minha carta perdeu-se no caminho.
Senti falta de suas cartinhas misteriosas e do seu senso de humor. Correspondência convencional tem esses inconvenientes. Por isso tenho uma proposta para lhe fazer: você aceita se comunicar comigo por email? Ah, fala sério, estamos no século 21!
Estou trabalhando muito, praticamente me mudei para o interior da Inglaterra, quando tenho um tempo livre fico de bobeira na internet. Por favor, você pode me dizer seu email?
Aguardo ansioso sua resposta.
Um beijo,
Peter


Será que eu li direito? Na dúvida, reli a carta umas dez vezes e ainda assim não conseguia acreditar. Roger Peterson queria trocar emails comigo? Se comunicar quase em tempo real? Com mais freqüência. Ai. Meu. Deus. Não sei o que pensar! Por que ele assina como "Peter"?


Minha primeira reação depois de sair do estado de choque foi pegar uma caneta, uma folha de papel e escrever uma resposta. Não me dei ao trabalho nem de bolar algo inteligente ou misterioso, só queria responder para ele imediatamente que eu queria sim, queria muito me comunicar com ele, fosse como fosse, todo dia, toda semana, uma vez por mês ou por ano, não importava, eu simplesmente queria poder fazer parte da vida dele, nem que fosse de uma forma insignificante.


Com a resposta em mãos, coloquei-a em um envelope azul – já tinha virado uma espécie de tradição – e disparei porta afora para enviar logo minha resposta. Passei direto pela sala sem ao menos responder o “Aonde você está indo com toda essa pressa?” de Max.


Paguei a postagem mais cara, que garantia que minha carta chegaria às mãos de Roger dentro de três dias e voltei para casa com o coração leve, em completo estado de graça.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Por favor deixem seus reviews e compartilhem a história. Seu reconhecimento é o combustível para eu continuar escrevendo. Obrigada, beijinho!!