O Cisne Branco escrita por anonimen_pisate


Capítulo 22
Capítulo 22




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P.O.V – Hellena  di Fontana

Quando acordei, estava morrendo de frio. Eu estava sem roupa, deitada no chão, só com um cobertor fino por cima de mim, a janela estava aberta, e, sobretudo, Alec estava deitado ao meu lado.

Ele era tão lindo acordado, quanto era dormindo.

A perfeição de seus traços, a elegância do predador, e a sinuosidade de cada músculo a vista. Os cabelos caindo como um véu de seda escura por seu rosto de alabastro, suas pálpebras pareciam finos véus translúcidos, cortinados por seus cílios longos.

Estávamos a distancia de um suspiro, se eu esticasse meu pescoço só mais um pouco, alcançaria seus lábios. Passei meu dedo indicador por sua boca, com um roçar discreto demais para uma humana.

Se houvesse algum deus nesse mundo, com certeza seria ele.

Sua mão enlaçava minhas costas, com um aperto de ferro, mas com facilidade, me desvencilhei.

Cacei minhas roupas pelo cômodo. Consegui achar minhas peças intimas, e fiquei apenas com elas, eu podia procurar por outras roupas entre os armários, mas eu só acharia roupas masculinas, pensei.

Usando minha lingerie branca e rendada, me analisei no espelho do banheiro. Meus cabelos estavam como um bolo de fios misturados. E eu me sentia uma menininha inocente vestida toda de branco, como um verdadeiro cisne. Se bem que depois da noite passada, eu passava longe de uma menininha inocente.

Enrolei-me em um lençol que achei dobrado em uma cama no quarto de hospedes. Voltei para meu ateliê, onde ele ainda dormia nu no chão. Me sentei no banquinho de frente para o cavalete, peguei meus pinceis e tintas, e comecei a pintar o cômodo.

Já havia me esquecido o quanto era boa a sensação de pintar. Lembrava-me tanto minha mãe, como se executar aquele ato trouxesse ela mais para perto de mim.

Pintei as velas derretidas e apagadas, as pinturas espalhadas pelo chão, à janela com vista para as arvores de copas folheadas, as cortinas de seda amarela, e ele deitado no chão.

Deixei seu corpo mais coberto, mas pintei tudo com o máximo de exatidão que consegui.

Ele era um ótimo modelo, se eu não estivesse ouvindo seu coração batendo devagar, diria que ele estava morto.

Balançou a cabeça, e começou a se revirar no chão.

Larguei as tintas. Alec tinha razão, eu não podia descuidar da minha dança, começava assim, e depois eu não conseguiria mais ficar na ponta dos pés.

Sai do quarto dançando, treinando passos de danças diferentes, misturando bales, e ritmos. Fui rodando e rodando, entrei em seu quarto, e continuei a repetir passos.

Não sei por quanto tempo fiquei na inércia da dança, mas só parei quando escutei um pigarro vindo da porta. Olhei nessa direção, e Alec estava parado sorrindo.

-Não pare, por favor. – disse com a voz falsamente lamuriosa.

Revirei os olhos e tropecei para o lado. Ele veio correndo e me segurou com suas mãos geladas, me senti uma Bella desastrada. Sorriu deliciado com a visão de minha falta de equilíbrio.

-Tudo bem? – levantou uma sobrancelha.

-Meu pé só esta doendo um pouquinho. – desdenhei com a mão.

-Aceita um convite? – abriu um sorriso maior ainda, e não tinha vergonha de mostrar suas presas pontudas e naturais.

-Para onde? – me fixei no chão.

-Vamos ao parque, ver alguns pássaros?

-Duvido que nesse parque tenha aves de rapina. – resmunguei.

-Para que quer saber de aves de rapina? - franziu o cenho.

-Vocês viram pássaros predadores, quero conhecer um pouco mais desses pássaros... – sorri convincente. – E depois... – me aproximei dele, colando meu corpo ao seu. – Você poderia me mostrar no que você consegue se transformar...

-Eu peguei um livro na biblioteca publica um tempinho atrás, acho que ainda esta aqui. – tirou uma mecha de meu cabelo da frente do meu rosto. Eu ri.

-É mesmo? Roubando livros? Que feio Alec. – zombei. Apoiei minhas mãos em seu quadril. – Parece ser uma ótima idéia. Vou me vestir.

-Hmm... – ele resmungou. – Ainda é cedo, e alem do mais... – ele me olhou de cima a baixo. – Acho que já esta vestida demais. – sorriu acompanhado de mim, me puxando para um beijo.

Os fracos raios de sol embebedavam o azul anil do céu invernal. Um brilho prateado se estendia por todo canto, cobrindo a relva com a garoa da noite passada.

Eu e Alec andávamos lado a lado, acabei descobrindo que tinha roupas minhas em um armário, e me vesti com elas. A pergunta era porque elas estavam em seu armário.

-No que esta pensando? – ele sussurrou com sua voz rouca.

-Nada... – murmurei.

-Diga logo Hellena. – revirou seus olhos.

Passávamos agora por uma parte mais silenciosa do parque, perto de um lago cristalino, onde grandes salgueiros de ramos longos e pendentes riscavam o espelho liso e perfeito da agua congelada.

A neve começava a derreter depois da nevasca da noite passada.

-Aqui está bom... – paramos na beira do lago, deixando os ramos perfumados da arvore como telhado. Fechei os olhos sentindo o cheiro de umidade e frio em todo canto.

Ele concordou. Sentamo-nos, um ao lado do outro, com o grosso livro sobre meu colo. Cruzei as pernas suspirando e meditando internamente sobre o que diria, ele com certeza ia me pressionar ate eu falar.

-Hell... – ele falou baixinho em meu ouvido, me causando cócegas.

-É que... Eu estou me sentindo... Me sentindo uma vadia suja. – eu tinha o costume de dizer tudo na hora, de estourar, eu não me agüentava quando algo me angustiava, precisava desabafar.

-Como assim? – franziu as sobrancelhas.

-Voltamos, e depois de quatro dias nos transamos. – resfoleguei.

-Ah meu amor... – ele riu afagando minhas costas. – Seus pensamentos são tão... Humanos. – disse como se eu fosse um bichinho fofinho exposto em uma vitrine.

-Sou uma humana... – ele abriu a boca.

-Já conversamos sobre a teoria do não-humanismo.

–Ta... Talvez não por completo, mas eu nasci sendo uma, eu fui criada como uma, nada mais obvio para eu pensar como uma. – bati meus cílios e levantei os olhos para o céu de folhas.

-Hum... – ele levou uma mão ao queixo, uma expressão pensativa atravessava as esmeraldas em seu rosto. Se ajoelhou em minha frente, e pegou uma das minhas mãos. – Hellena di Fontana, aceita ser minha companheira para toda a eternidade?

Sorri.

-Seu bobo. – tirei minhas mãos das suas.

-Estou falando a verdade. – reclamou.

-Do jeito que disse, parecia que me pedia em casamento.

-Quer ser minha namorada? – reformulou.

Levantou galantemente suas sobrancelhas, eu não sabia bem o que dizer, era sim obviamente, mas o choque inundou minhas veias com a força de uma torrente.

-É claro que eu quero. – falei devagar. Meus olhos pesados pela noite mal-dormida. Passei minha mão por sua face intocada pelos séculos que vivera. – É tudo que mais desejo.

Puxou meu pescoço para mais perto de si.

-Sente-se melhor assim? – perguntou com os lábios colados nos meus.

-Ainda transamos quatro dias depois de voltarmos. – choraminguei.

Puxou o ar com força e se afastou o suficiente para nossos olhos se encontrarem, fixou-os em mim, como que tentando me hipnotizar, mesmo eu sabendo que ele não podia. Eu me sentia uma Bella com um Edward tentando me seduzir.

Ultimamente eu estava sendo Bella demais.

-Isso realmente importa?  - seu tom de voz era convicto.

Refleti enquanto fitava seus olhos.

-Não. – afirmei.

Concordou com a cabeça, e deitou-a em meu colo, olhando para as dezenas de folhas esverdeadas em cima de nos. Segurou o livro contra suas pernas, e passou a folhear algumas paginas.

-Não vai perguntar? – ergueu os olhos para mim. – Quando eu vi ele na biblioteca só me lembrei de você. Então pensei “ela provavelmente vai me perguntar mais sobre isso, é melhor eu saber do assunto.”

-Não precisava ter gasto tempo. – acaricie seus cabelos.

-Pergunte. – ele adorava me ordenar isso.

Apontei para o desenho de uma coruja com orelhas pontudas e penas em tons de castanhos. Tinha uma cara bem feia, e parecia com fome ou mesmo de mau humor.

-É uma coruja-diabo, uma ave pequena e de hábitos noturnos, mas um predador de sentidos aguçados, e perigoso. – acrescentou como se aquela coisa pequena fosse perigosa.

-Perigoso para camundongos. – caçoei.

-Ele é uma ave de rapina. – reclamou.

Concordei e virei algumas paginas. Apontei para outra figura.

-Um ogea, um falcão de porte pequeno, assim como o esmerilhão. – me mostrou outro pássaro. Passamos o resto do dia todo observando-os, açores, abutres, harpias, condores, águias, falcões, gaviões, e outras trezenas.

Eu me sentia normal, apesar de estar com um morto-vivo milenar no meu colo, me acariciando e beijando, tirando o fato de eu ter perdido minha virgindade há horas atrás, me senti completamente comum. Como uma garota que passa as tardes com o namorado.

-A primeira tarde normal de um mês. – passei minhas mãos pelos cabelos impecavelmente lisos dele. A coisa que eu mais gostava era de sentir a seda suave deles contra meus dedos.

-Faz um mês? – franziu as sobrancelhas.

-Um mês, uma semana, e três dias. – tirei sua franja de linho da frente de sua testa. Alec começou a alisar minha coxa, e seu toque, por cima do jeans da minha calça, me deixava arrepiada.

Inclinei-me para alcançar sua boca, mas um leve farfalhar interrompeu nosso quase beijo. Ergui os olhos, e vi meu pior pesadelo de cabelos loiros na minha frente.

-Bom dia Alec. – disse com a voz fria e debochada, se não soubesse quem a falava, diria que poderia ser o canto de uma sereia.

-Jane.


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