O Cisne Branco escrita por anonimen_pisate


Capítulo 23
Capítulo 23




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P.O.V – Alec Volturi

Não, não, não. Não agora Jane. Pensei alarmado.

Prensei os lábios, e movi a cabeça imperceptivelmente, Jane nem sequer me olhou. É claro Alec, ela é Jane Volturi, sua irmã, a vampira mais sem coração que você poderá encontrar em séculos.

-Hellena, há quanto tempo. – falou com a mesma zombaria que ela usava com todos. A frieza totalmente visível em sua voz, assim como o desprezo e a superioridade.

-Olá Jane. – ela disse calma.

-O dia não esta magnífico para um passeio no parque? – nos deu as costas abrindo os braços para encarar a paisagem. – E não é uma grande e maravilhosa coincidência nos encontrarmos? – voltou seus olhos malignos na nossa direção.

-Hellena – me apressei a dizer. – Pode me dar licença? Preciso conversar com Jane as sós. – Hellena me fitou com seus olhos amendoados. Sua expressão inteligente se espalhou por todo o seu rosto.

-Claro. – ela se levantou, e foi em direção ao campo onde crianças brincavam com o que restou da neve. Deixando o livro para trás.

Esperei ate que ela estivesse longe o suficiente para não me ouvir, e levantei em velocidade vampira, indo ate minha irmã.

-O que esta fazendo aqui? – segurei seu pulso com agressividade. Jane apenas me olhou longamente.

-Me. Solte. Alec. – sua voz estava pontuada e falsamente calma. Senti uma ardência desconfortável em meus dedos, reconhecendo o indicio de seu poder, retirei minha mão de seu braço.

Sua roupa preta e simples entrava em contraste com o branco translúcido da neve a nossa volta. Seus olhos, diferente das roupas, combinavam totalmente com o clima pré-natal, assim como seus cabelos loiros claros, e seu rosto de querubim.

Ah como as aparências enganam.

-Aro me mandou. – sua voz estava em perfeita sincronia, se tinha alguém que sabia mentir bem, era Jane. Assim como seu tom, seu rosto não expressava nada.

-Mentira. – me voltei para ela.

Minha gêmea me encarou.

-Você esta mentindo Alec. Mentiu para mim! – rosnou.

-Não. Não estou. – neguei me sentindo sujo. Eu só precisava de tempo, um pouco mais de tempo ate Hellena ser vampira e estar segura. Para que o sangue dela não cantasse na minha cabeça.

Não era o melhor cheiro que já senti, mas mesmo assim ainda me dava uma sede sem controle.

-Ah não esta? – ela ergueu uma sobrancelha.

-Não. Tudo que eu disse naquele dia é verdade.

-Mesmo? – concordei. – E o que era isso que eu estava vendo aqui?

-Encenação.

-Não me parecia. Quando eu cheguei você ficou bem irritado. – debochou. – Não vai começar a ficar como Edward, não é irmão? Um amante de humanos?

-Não. – falei o mais convicto que pude, acabei percebendo que encenava tão bem quanto ela. - Você quase estragou meu trabalho de mais de um mês, por isso agi daquela forma.

Analisou-me, como se conseguisse sentir o cheiro da minha mentira no ar.

-Estou de olho em você Alec. – anunciou. – Somos irmãos, temos que estar sempre juntos, e espero que você não me traia. - e depois disso, se transformou em uma pequena águia, e saiu voando.

Passei a mão por meus cabelos – uma mania que eu pegara de Hellena – apertei os olhos, e segurei minha cabeça, como se sentisse uma enxaqueca mortal. Droga, droga.

Voltei-me na direção do lago congelada, que como um espelho natural, refletia o céu azul, e o sol brilhante, aquele mesmo sol desconfortável que aquecia minha pele.

Identifiquei uma menina a alguns metros de mim, dentro do lago. Ela tinha cabelos tão brancos, que parecia que um redemoinho de neve estava sobre sua cabeça. A pele dela chegava a ser rosada, e seus olhos eram do azul mais absurdo que eu já vira.

Vestia uma roupa que parecia de vidro, gelo, um tecido estranho e brilhante. Um vestido. Já começando por ai, mostrando a não humanidade dele.

Durante um longo tempo trocamos olhares desconfiados. A menina, que parecia ter treze anos, desviou o rosto na direção do gramado, onde Hellena estava parada olhando o lado contrario. Voltou a me fitar.

-Quem é você? – perguntei baixinho, sabendo que se tratava de uma figura imortal.

-Sou um demônio do gelo. – sua voz soou dentro da minha cabeça, fria e cortante, como uma lamina gelada.

-O que quer?

-Me respeite vampiro – uma dor fria atravessou minha mente, me dobrei sentindo-a. – Não sou como aquelas bestas que se curvam para vocês, e que são denominadas de demônios.

-Perdão. – disse apertando os dentes para não gritar de dor. Há muito tempo eu não sentia frio, mas naquele momento senti.

-A humana. – falou olhando para Hellena.

-O que tem ela? – perguntei temeroso de ela estar respondendo minha pergunta anterior.

-Ela é poderosa. – voltou-se para mim. – E você mente para ela.

-É para protegê-la. – falei na defensiva.

-Proteger ela, ou você? – sua voz não tinha nem sequer um traço de emoção, e parecia fina como um fio de vidro. – Ela é poderosa. – repetiu. – Poderosa demais. Algumas criaturas podem não gostar de tanto poder dentro de uma criatura só. – falou sumindo em uma bruma.

Achei estranho um demônio se deslocar apenas para falar essas coisas inúteis, ainda mais um demônio elemental. Olhei para Hellena, ela brincava com algumas crianças. Tão pura.

Mas... Porque ela chamara Hellena de criatura? E que poder todo era esse que ela tinha? E que criaturas podem não gostar disso?

Ela estava agachada, e virou a cabeça na minha direção, rindo.

Andei ate lá em passos humanos.

-Tudo bem? – perguntou se levantando.

-Hum... – meneei a cabeça.

-O que ela disse? – perguntou novamente.

-Que eu era um traidor sujo. – menti sem mentir.

-Parece bem típico dela. – falou séria.

-É... – gaguejei.

Hellena segurou minha mão, e voltamos para o lugar que estávamos antes de sermos interrompidos. Ela se sentou, e me puxou, eu ainda estava um pouco atônito por causa do demônio.

-O que houve? – murmurou preocupada.

-Nada. – menti de novo.

Não falou mais nada, respeitando meu momento. O telefone dela apitou, e por um minuto ela se ocupou em olhá-lo.

-Blake já me ligou umas trezentas vezes, e me mandou uma mensagem dizendo que vai chamar a Swat se eu não aparecer. – revirou os olhos ligando para a amiga.

-Hellena, onde você esta?! – ouvi a voz desesperada da companheira dela no outro lado da linha.

-Relaxa Blake, eu to bem... – escutou um pouco do sermão de Blake. Que garota chata, ela se achava mãe de Hellena, ou algo assim? – Não, tudo bem eu já entendi, não vou fazer isso de novo... Não, eu dormi na casa de um amigo... Alguém que quero apresentar a vocês.

-Não tem mais vocês, Georgina e Hoppe já viajaram.

-Tudo bem, pode ser para você e Quenn. – deu de ombros.

-Não demore, e se for dormir na casa desse amigo de novo, ligue. – e desligou sem dizer nem adeus.

-Que possessiva. – falei.

-Blake se sente responsável por mim. Sempre estivermos juntas, ela sabe tudo da minha vida, e eu da dela. – sorriu.

-Tudo? – perguntei.

-Não mais... – disse de olhos baixos.

-Não falei disso. – antes que pudesse fazer algo, puxei a manga da roupa dela, mostrando as cicatrizes.

-Isso... – ela disse suspirando.

-Disse ontem que havia contado tudo da sua vida para mim, mas não é verdade. Não me contou sobre isso. Blake sabe?

-Nunca conversamos sobre isso... mas acho que ela sabe.

-Porque faz isso?

-Quando a dor é grande demais... Eu simplesmente tenho que achar um escape... Eu... tenho que fazer a dor parar, é grande demais, peso demais. – seus olhos brilhavam. – A raiva transborda dentro de mim, e eu tenho que arranjar um jeito de aliviar...

Uma lagrima solitária rolou por seu rosto.

-Hell... – murmurei.

-Eu não quero me matar! Não quero isso! – ela gritava. – Sabe, eu estava me esforçando para parar com isso. Era dês de antes da morte dos meus pais, eu não fazia mais, juro.

Olhou para mim com olhos desesperados.

-Eu estava fazendo um esforço enorme, estava eu juro! Eu achei que podia agüentar, e eu estava conseguindo... mas... eu simplesmente perdi o controle naquele dia – não sabia a que dia se referia, mas deixei de lado. –Eu não ia fazer isso, não ia mesmo. Mas ai pensei que ia explodir... Eu tinha que deixar a dor sair.

Interrompi a histeria que tomava conta dela.

-Esta tudo bem meu amor... – Hellena chorava em meu ombro. Continuei a tentar acalmá-la, ate que o choro cessou.

Ela ergueu os olhos.

-Quero que você conheça-as. – sua voz estava um pouco embargada.

Meu estomago revirou.

-Hã?

-Quero que você as conheça. – repetiu. Analisou minha expressão tensionada. – Não quer?

-Quero é claro... – entrelacei meus dedos nos dela. – Quando?

-Hoje mesmo.

-Precisa ser agora? – gemi.

-Não... – ela riu.

Nos levantamos e voltamos a andar. Fomos em direção a minha casa, um bando de crianças corria e joga neve uma nas outras.

-Fará o que de natal? – perguntou.

-Não comemoro o natal.

-Nunca? – neguei. – Nem quando era humano? – parei, estancando naquele lugar, em meio à neve e ao clima natalino tão humano. – Ah... me desculpe... – murmurou. Ela nunca havia perguntado da minha outra vida.

-Não. Nunca.

Hellena parou e me olhou com ternura.

-Terá seu primeiro natal então. – falou decidida.

-Ok. – falei cético.

Percorremos o resto do caminho ate a minha casa, e a menos de dois passos de distancia do meu gramado, um pássaro caiu no chão. Ele se contorcia debilmente, a beira da morte.

-Ah meu deus. – Hellena me soltou e se agachou ao lado da pequena ave.

-Ele vai morrer. – falei sem emoção, ou mesmo me importando. A criaturinha parou de se mexer, sentenciando minha fala.

-Não... não... – ela murmurou segurando o corpo ainda quente nas mãos em forma de concha. Passou um dedo pelo peito emplumado dele, e como mágica, o pássaro levantou a cabeça e saiu voando.

-O que... – gaguejei encarando ela.

-Não sei o que houve... – sussurrou. – Ele deve ter se recuperado.

Eu queria dizer que não. Dizer que o coração dele havia parado, mas não consegui. E aquele foi a primeira demonstração de verdadeiro poder dela, a primeira de muitas futuras.


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